Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/cultura/e-se-o-governo-imprimisse-mais-dinheiro-para-dar-aos-pobres/
Não, essa não seria a solução
Por Thais Sant'Ana access_time 18 maio 2017, 12h54 - Publicado em 22 jul 2015, 13h09
PERGUNTA André, Maceió, AL
Haveria uma falsa sensação de melhora na economia seguida por inflação desenfreada. É isso que acontece quando a impressão de dinheiro não acompanha um aumento na produção de bens e serviços: com mais grana no bolso, as pessoas compram demais e os produtos faltam, ficando mais caros. E, não, isso não é uma suposição – a história comprova. Quando Juscelino Kubitschek presidiu o país, entre 1956 e 1961, notinhas extras foram impressas para pagar as dívidas criadas pelo seu projeto de expansão. O processo de inflação que veio em seguida foi tão grande que só começou a diminuir décadas depois, com a implantação do plano real em 1994. Para ter uma ideia, em 1993 a inflação anual chegou a 2.477%. É por isso que imprimir dinheiro não é solução para a miséria: no final, os pobres continuariam pobres, mas com um monte de notas desvalorizadas no bolso.
DINHEIRO NA SARJETA
Pior caso de hiperinflação da história rolou na Hungria após a 2a Guerra. Em julho de 1946, os preços dobravam a cada 15 horas. Tudo porque, para financiar a guerra, o governo imprimiu notas sem controle
Nasce em árvore
Imprimir dinheiro e distribuir só traria alívio momentâneo – em seguida, viria o caos
1. Quem tem o poder de mandar imprimir dinheiro é o Banco Central, que daria essa ordem à Casa da Moeda. Os órgãos responsáveis por fiscalizar o Banco são o Conselho Monetário Nacional e a Comissão de Valores Mobiliários, mas ambos possuem pessoas ligadas ao governo em suas equipes. Ou seja: a fiscalização seria facilmente driblada
2. A melhor forma de repassar o dinheiro aos pobres seria diminuir as taxas de juros (leia Como os bancos ganham dinheiro?, em bit.ly/bancosgrana). Só isso já faria com que as famílias preferissem manter seu dinheiro em circulação em vez de investido. Nos EUA, por exemplo, após a crise de 2008, o FED (banco central) cortou sua taxa básica de juros a zero
3. Imprimindo grana, inicialmente haveria otimismo. As pessoas gastariam mais em bens e serviços como alimentos, eletrodomésticos, restaurantes etc. Isso impulsionaria a economia em todos os setores, desde os profissionais liberais (advogados, jornalistas etc.) até o comércio e a indústria. Haveria um aumento geral de vendas e de lucros
4. Mais dinheiro circulando significaria maior demanda pelos bens e serviços produzidos – que são o valor real da economia, e não o dinheiro, que é só um meio de troca. E não dá para aumentar a produção tão facilmente. Com o tempo, as empresas atingiriam seu limite e as pessoas, com dinheiro sobrando, continuariam querendo comprar. Os bens começariam a faltar
5. O resultado inevitável seria aumentar os preços como forma de tentar reequilibrar o poder de compra com o que a sociedade pode produzir no curto prazo. A inflação generalizada tornaria todo o ambiente da economia incerto e descontrolado, e os empresários passariam a não investir ou a investir muito pouco. O crescimento da economia cairia, gerando uma crise
6. O Banco Central conhece bem a tragédia que descrevemos e, por isso, não imprime dinheiro à toa. Se a inflação aumenta, a forma de tentar controlá-la é subir os juros e reduzir a quantidade de moeda em circulação. Há outras maneiras mais “criativas”, como tabelar ou congelar preços e confiscar a renda da população, mas costumam fracassar
Fábrica de tutu
Saiba de onde vêm as verdinhas
Se o governo não fica imprimindo mais dinheiro, o que faz a Casa da Moeda? Ela queima as notas velhas e imprime novas para substituí-las! O custo de produção era de cerca de R$ 0,17 por nota, mas as cédulas novas, que vêm sendo instituídas gradualmente desde 2010, custam um pouco mais: R$ 0,24. A duração varia de 14 meses para as cédulas de 2 e 5 e até um ano e meio para as de 10, 20, 50 e 100. A Casa da Moeda fica no Rio de Janeiro e pode ser visitada.
FONTES Banco Central consultoria Marcelo Moura, professor de macroeconomia e finanças do Insper, e Carlos Mello, economista da UFRGS
Blog focado em Geografia e em fatos e notícias contemporâneas, que compõem as Atualidades.
sábado, 24 de junho de 2017
Como era a vida no Brasil da hiperinflação?
Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/cotidiano/como-era-a-vida-no-brasil-da-hiperinflacao/
Caótica! Entre a década de 80 e 90 os preços de produtos e serviços brasileiros subiram absurdamente.
Por Renata Marins access_time 24 fev 2017, 17h13 - Publicado em 5 ago 2014, 18h40

ILUSTRA Romolo
PERGUNTA Rafael Fontenelle, Belo Horizonte, MG
Caótica! Entre a década de 80 e 90 os preços de produtos e serviços brasileiros subiram absurdamente. Para viver nessa época, além de gastarem todo seu salário rapidamente, as pessoas criaram hábitos que perduram até os dias de hoje, como o de fazer compras do mês. Foi nessa época que se consagrou o dragão como símbolo da inflação, por ser um monstro enorme, que solta fogo e representa perigo iminente.
1) FURA-FILA
Ao primeiro anúncio de alta de preços, todos temiam que tudo pudesse subir e, então, saíam correndo para as compras. Isso, é claro, causava filas gigantescas em diversos estabelecimentos, de mercados a postos de combustíveis.
2) AI, QUE LOUCURA!
Jornais da época registravam “Deu a louca nos preços”. De acordo com o livroSaga Brasileira, de Miriam Leitão, um fogão de brinquedo poderia custar maisdo que um fogão de verdade. Você poderia comprar um blazer de linho ou uma geladeira pelo mesmo valor. Ou escolher entre um carro zero ou 42 conjuntos de calcinha e sutiã!
3) A CONTA GOTAS
O corre-corre para comprar tudo que era possível trazia alguns efeitos imediatos: o primeiro era o desaparecimento rápido de alguns produtos das prateleiras. A venda racionada também era frequente entre os comerciantes: para dar conta de atender a todos, cada um só podia levar uma garrafa de leite, por exemplo.Preços eram congelados por determinação do governo e os supermercados escondiam alguns itens para forçar o descongelamento.
4) PASSA A RÉGUA
Havia muita insegurança: não se sabia se o dinheiro seria desvalorizado com o passar dos dias. Por isso, muitas pessoas, principalmente as mais pobres, assim que recebiam o salário do mês, corriam para os supermercados para comprar tudo que pudessem. Enchiam os carrinhos e esvaziavam os bolsos em um único dia.
5) TEM, MAS ACABOU
Supermercados remarcavam diariamente os preços dos produtos. Era comum, ao pegar algo na prateleira, notar que havia etiquetas e etiquetas de remarcação de preços, umas sobre as outras – apontando para a oscilação do dia. Por muito tempo essa tarefa era feita “na mão”, visto que o código de barras como conhecemos hoje só foi adotado no Brasil em 1983.
6) PÕE NA DISPENSA
Fazer a compra do mês é um hábito criado pela inflação exacerbada. Como as pessoas temiam não poder comprar tudo o que precisavam se deixassem para o dia ou a semana seguinte, faziam estoques de alimentos em casa. Havia quem comprasse, por exemplo, 20 latas de óleo de uma vez (suficiente para abastecer uma família de quatro pessoas por dez meses!)Entre novembro de 1989 e janeiro de 1990, se alguém tivesse estocado alimentos teria um patrimônio 43% maior do que se tivesse investido em ouro!
7) PRO MOÇÃO E PRA MOCINHA
Se hoje as pessoas são seduzidas por promoções e compram coisas das quais não precisam, imagine nos tempos de caos econômico! De vassouras a freezers, o que fosse anunciado como oferta era comprado, pois não se podia perder esse tipo de oportunidade.Segundo o livro de Miriam Leitão, um garoto perguntou para a mãe se todos estavam virando bruxos ao ver pessoas saindo com vassouras do mercado.
8) UNS PERDEM, OUTROS GANHAM
Em toda crise, alguém sempre lucra. Assim foi com a hiperinflação. Fazer contas era tão necessário que as vendas de calculadoras da empresa brasileira Dismac dobraram em apenas um ano! Os bancos também se aproveitavam da hiperinflação, pois possuíam incentivos econômicos para abrir agências em municípios com poucos habitantes. Entre 1985 e 1994, 1.078 novas agências bancárias foram abertas!
Como surge a inflação?
A inflação nada mais é que o aumento contínuo de preços de bens, produtos e serviços em uma determinada região durante um período. Nela, ao mesmo tempo que os produtos se tornam mais caros, o poder de compra da moeda nacional diminui. Ela pode surgir quando o governo imprime mais dinheiro do que possui em bens (muito dinheiro disponível para poucos produtos), causando um desequilíbrio econômico, ou porque, por insegurança, comerciantes ajustam os preços ao verem outros aumentarem. A falta de harmonia entre a oferta e a demanda, ou seja muito dinheiro disponível e poucos produtos ou serviços à venda, também pode causar inflação.
FONTES
LivrosSaga Brasileira, de Miriam Leitão, e Macroeconomia Aplicada à Análise da Economia Brasileira, de Carlos José Caetano Bacha; IBGE e Banco Central e sites G1 e Portal Brasil
CONSULTORIA Luis Carlos Berbel, economista formado e pós-graduado pela USP, Pedro Linhares Rossi, professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp, Bárbara Caballero de Andrade, mestre em economia pela PUC-RJ, e assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Automação
Caótica! Entre a década de 80 e 90 os preços de produtos e serviços brasileiros subiram absurdamente.
Por Renata Marins access_time 24 fev 2017, 17h13 - Publicado em 5 ago 2014, 18h40

ILUSTRA Romolo
PERGUNTA Rafael Fontenelle, Belo Horizonte, MG
Caótica! Entre a década de 80 e 90 os preços de produtos e serviços brasileiros subiram absurdamente. Para viver nessa época, além de gastarem todo seu salário rapidamente, as pessoas criaram hábitos que perduram até os dias de hoje, como o de fazer compras do mês. Foi nessa época que se consagrou o dragão como símbolo da inflação, por ser um monstro enorme, que solta fogo e representa perigo iminente.
1) FURA-FILA
Ao primeiro anúncio de alta de preços, todos temiam que tudo pudesse subir e, então, saíam correndo para as compras. Isso, é claro, causava filas gigantescas em diversos estabelecimentos, de mercados a postos de combustíveis.
2) AI, QUE LOUCURA!
Jornais da época registravam “Deu a louca nos preços”. De acordo com o livroSaga Brasileira, de Miriam Leitão, um fogão de brinquedo poderia custar maisdo que um fogão de verdade. Você poderia comprar um blazer de linho ou uma geladeira pelo mesmo valor. Ou escolher entre um carro zero ou 42 conjuntos de calcinha e sutiã!
3) A CONTA GOTAS
O corre-corre para comprar tudo que era possível trazia alguns efeitos imediatos: o primeiro era o desaparecimento rápido de alguns produtos das prateleiras. A venda racionada também era frequente entre os comerciantes: para dar conta de atender a todos, cada um só podia levar uma garrafa de leite, por exemplo.Preços eram congelados por determinação do governo e os supermercados escondiam alguns itens para forçar o descongelamento.
4) PASSA A RÉGUA
Havia muita insegurança: não se sabia se o dinheiro seria desvalorizado com o passar dos dias. Por isso, muitas pessoas, principalmente as mais pobres, assim que recebiam o salário do mês, corriam para os supermercados para comprar tudo que pudessem. Enchiam os carrinhos e esvaziavam os bolsos em um único dia.
5) TEM, MAS ACABOU
Supermercados remarcavam diariamente os preços dos produtos. Era comum, ao pegar algo na prateleira, notar que havia etiquetas e etiquetas de remarcação de preços, umas sobre as outras – apontando para a oscilação do dia. Por muito tempo essa tarefa era feita “na mão”, visto que o código de barras como conhecemos hoje só foi adotado no Brasil em 1983.
6) PÕE NA DISPENSA
Fazer a compra do mês é um hábito criado pela inflação exacerbada. Como as pessoas temiam não poder comprar tudo o que precisavam se deixassem para o dia ou a semana seguinte, faziam estoques de alimentos em casa. Havia quem comprasse, por exemplo, 20 latas de óleo de uma vez (suficiente para abastecer uma família de quatro pessoas por dez meses!)Entre novembro de 1989 e janeiro de 1990, se alguém tivesse estocado alimentos teria um patrimônio 43% maior do que se tivesse investido em ouro!
7) PRO MOÇÃO E PRA MOCINHA
Se hoje as pessoas são seduzidas por promoções e compram coisas das quais não precisam, imagine nos tempos de caos econômico! De vassouras a freezers, o que fosse anunciado como oferta era comprado, pois não se podia perder esse tipo de oportunidade.Segundo o livro de Miriam Leitão, um garoto perguntou para a mãe se todos estavam virando bruxos ao ver pessoas saindo com vassouras do mercado.
8) UNS PERDEM, OUTROS GANHAM
Em toda crise, alguém sempre lucra. Assim foi com a hiperinflação. Fazer contas era tão necessário que as vendas de calculadoras da empresa brasileira Dismac dobraram em apenas um ano! Os bancos também se aproveitavam da hiperinflação, pois possuíam incentivos econômicos para abrir agências em municípios com poucos habitantes. Entre 1985 e 1994, 1.078 novas agências bancárias foram abertas!
Como surge a inflação?
A inflação nada mais é que o aumento contínuo de preços de bens, produtos e serviços em uma determinada região durante um período. Nela, ao mesmo tempo que os produtos se tornam mais caros, o poder de compra da moeda nacional diminui. Ela pode surgir quando o governo imprime mais dinheiro do que possui em bens (muito dinheiro disponível para poucos produtos), causando um desequilíbrio econômico, ou porque, por insegurança, comerciantes ajustam os preços ao verem outros aumentarem. A falta de harmonia entre a oferta e a demanda, ou seja muito dinheiro disponível e poucos produtos ou serviços à venda, também pode causar inflação.
FONTES
LivrosSaga Brasileira, de Miriam Leitão, e Macroeconomia Aplicada à Análise da Economia Brasileira, de Carlos José Caetano Bacha; IBGE e Banco Central e sites G1 e Portal Brasil
CONSULTORIA Luis Carlos Berbel, economista formado e pós-graduado pela USP, Pedro Linhares Rossi, professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp, Bárbara Caballero de Andrade, mestre em economia pela PUC-RJ, e assessoria de imprensa da Associação Brasileira de Automação
quinta-feira, 15 de junho de 2017
Números da economia desmentem Temer
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/laura-carvalho/2017/06/1891033-numeros-da-economia-desmentem-temer.shtml
08/06/2017 02h00
Por Laura Carvalho
A divulgação dos números do PIB na quinta-feira passada (1º) apontou um crescimento de 1% da economia brasileira no primeiro trimestre de 2017 em relação ao último trimestre do ano passado.
Após oito trimestres consecutivos de queda, o resultado positivo foi suficiente para lançar o presidente Michel Temer em mais uma incursão ao país das maravilhas.
"Acabou a recessão! Isso é resultado das medidas que estamos tomando. O Brasil voltou a crescer. E com as reformas vai crescer mais ainda", celebrou Temer nas redes sociais.
A pílula de sobriedade foi ministrada pelo "Financial Times" ao comentar sobre os mesmos dados: "Brasil rasteja da recessão após supersafra de soja", acalmou o jornal. E o crescimento de 13,4% no setor agropecuário, que explica o resultado agregado positivo do trimestre, dificilmente poderia ser atribuído a medidas tomadas pelo governo. A não ser que o tal grande acordo nacional também tenha envolvido são Pedro e os grandes mercados mundiais.
Os números que expressam a situação da demanda interna do país frustraram todas as projeções.
Após oito trimestres de queda, os economistas esperavam uma retomada do consumo das famílias de 0,4%, mas o IBGE indicou nova retração, de 0,1%. Os investimentos decepcionaram ainda mais: caíram 1,6%, enquanto as projeções giravam em torno de uma redução muito menor —de 0,3%.
Embora o governo tenha seguido à risca o programa econômico desejado pelos analistas do mercado financeiro, a economia real tratou de mostrar que funciona de forma diferente.
Os erros de projeção chegam a ser chocantes: após o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência, a média das expectativas de crescimento do PIB de 2017 reunidas no Boletim Focus subiu de 0,24% em abril de 2016 para 1,34% em setembro.
Hoje, gira em torno de 0,5%, e muitos analistas já descartam qualquer crescimento para este ano. Isso com a ajuda de são Pedro e da alta no mercado internacional dos preços das commodities que exportamos durante os primeiros meses do ano.
Os números de abril da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE sinalizam que a situação não melhorou após o fim do primeiro trimestre: houve retração de 4,5% em relação a abril de 2016.
A queda maior se deu nos setores de bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção caiu 9,8% -a contração mais acentuada desde maio de 2015-, e de bens de capital, que recuou 5,5% e interrompeu cinco meses de taxas positivas.
Não sabemos ainda o impacto sobre a economia real da incerteza gerada pelas delações da JBS e a perda de governabilidade de Michel Temer. Mas o fato de o presidente tentar segurar-se nos péssimos números da economia para angariar apoio só desnuda o que já sabíamos: que a tragédia é ainda maior em outros âmbitos.
Infelizmente, os setores que apoiaram a derrubada de Dilma Rousseff ainda oscilam entre empurrar o governo com a barriga até 2018 ou substituir Michel Temer por outro Michel Temer.
Dão para a estratégia a mesma justificativa que cansamos de ouvir em 2016: seriam esses os melhores caminhos para a estabilidade econômica e política. Vai ficando cada dia mais difícil convencer alguém disso.
08/06/2017 02h00
Por Laura Carvalho
A divulgação dos números do PIB na quinta-feira passada (1º) apontou um crescimento de 1% da economia brasileira no primeiro trimestre de 2017 em relação ao último trimestre do ano passado.
Após oito trimestres consecutivos de queda, o resultado positivo foi suficiente para lançar o presidente Michel Temer em mais uma incursão ao país das maravilhas.
"Acabou a recessão! Isso é resultado das medidas que estamos tomando. O Brasil voltou a crescer. E com as reformas vai crescer mais ainda", celebrou Temer nas redes sociais.
A pílula de sobriedade foi ministrada pelo "Financial Times" ao comentar sobre os mesmos dados: "Brasil rasteja da recessão após supersafra de soja", acalmou o jornal. E o crescimento de 13,4% no setor agropecuário, que explica o resultado agregado positivo do trimestre, dificilmente poderia ser atribuído a medidas tomadas pelo governo. A não ser que o tal grande acordo nacional também tenha envolvido são Pedro e os grandes mercados mundiais.
Os números que expressam a situação da demanda interna do país frustraram todas as projeções.
Após oito trimestres de queda, os economistas esperavam uma retomada do consumo das famílias de 0,4%, mas o IBGE indicou nova retração, de 0,1%. Os investimentos decepcionaram ainda mais: caíram 1,6%, enquanto as projeções giravam em torno de uma redução muito menor —de 0,3%.
Embora o governo tenha seguido à risca o programa econômico desejado pelos analistas do mercado financeiro, a economia real tratou de mostrar que funciona de forma diferente.
Os erros de projeção chegam a ser chocantes: após o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência, a média das expectativas de crescimento do PIB de 2017 reunidas no Boletim Focus subiu de 0,24% em abril de 2016 para 1,34% em setembro.
Hoje, gira em torno de 0,5%, e muitos analistas já descartam qualquer crescimento para este ano. Isso com a ajuda de são Pedro e da alta no mercado internacional dos preços das commodities que exportamos durante os primeiros meses do ano.
Os números de abril da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE sinalizam que a situação não melhorou após o fim do primeiro trimestre: houve retração de 4,5% em relação a abril de 2016.
A queda maior se deu nos setores de bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção caiu 9,8% -a contração mais acentuada desde maio de 2015-, e de bens de capital, que recuou 5,5% e interrompeu cinco meses de taxas positivas.
Não sabemos ainda o impacto sobre a economia real da incerteza gerada pelas delações da JBS e a perda de governabilidade de Michel Temer. Mas o fato de o presidente tentar segurar-se nos péssimos números da economia para angariar apoio só desnuda o que já sabíamos: que a tragédia é ainda maior em outros âmbitos.
Infelizmente, os setores que apoiaram a derrubada de Dilma Rousseff ainda oscilam entre empurrar o governo com a barriga até 2018 ou substituir Michel Temer por outro Michel Temer.
Dão para a estratégia a mesma justificativa que cansamos de ouvir em 2016: seriam esses os melhores caminhos para a estabilidade econômica e política. Vai ficando cada dia mais difícil convencer alguém disso.
Qatar financia o terrorismo em um 'nível muito alto', diz Trump
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/06/1891681-qatar-financia-o-terrorismo-em-um-nivel-muito-alto-diz-trump.shtml
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
09/06/2017 16h40 - Atualizado às 16h55
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, endureceu nesta sexta-feira (9) as críticas ao Qatar e disse que o país "financia o terrorismo em um nível muito alto".
"Eles devem acabar com esse financiamento", disse Trump em relação ao país que teve seus laços rompidos com países do Oriente Médio após ser acusado de financiar terroristas e de apoiar o Irã.
"Nenhuma nação civilizada pode tolerar esta violência ou permitir que esta ideologia perversa se espalhe nas suas margens", afirmou o presidente norte-americano.
A declaração de Trump aconteceu após o secretário de Estados dos EUA, Rex Tillerson, pedir que os países do Golfo aliviem o bloqueio imposto ao Qatar.
Segundo Tillerson, o bloqueio prejudica o combate à facção terrorista Estado Islâmico (EI). Os EUA mantêm no Qatar a sua maior base aérea no Oriente Médio, usada nos bombardeios contra o EI na Síria e no Iraque.
De acordo com o secretário, a crise traz ainda a escassez de alimentos, a separação forçada de famílias e a retirada de crianças das escolas.
"Nós acreditamos que estas são consequências não desejadas, especialmente durante o mês sagrado do Ramadã", disse o secretário Tillerson. "A expectativa é que esses países tomem medidas imediatas para desenvolver esforços de boa fé e resolver as queixas que eles têm um com o outro ", afirmou.
Trump viaja ao exterior
CRISE NO ORIENTE MÉDIO
Na semana passada, o Qatar teve suas relações diplomáticas com países do Oriente Médio rompidas após ser acusado de financiar terroristas e de apoiar o Irã.
O Qatar nega veementemente que oferece tal apoio e afirma que o objetivo da medida é "colocar o Estado [do Qatar] sob tutela" e asfixiá-lo economicamente.
A ruptura das relações da Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, além de Egito e Iêmen com o Qatar aconteceu duas semanas após uma visita a Riad do presidente dos EUA, Donald Trump, que pediu aos árabes e muçulmanos uma mobilização contra o extremismo. As Maldivas, um arquipélago localizado no oceano Índico, e o governo da Líbia sediado no leste do país –que não é reconhecido internacionalmente– também se uniram no boicote ao Qatar.
Esta é a crise mais grave desde a criação em 1981 do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo), formado por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuait, Omã e Qatar.
O Qatar sempre ocupou um lugar à parte no CCG, com sua própria política regional e afirmando sua influência por meio do esporte, em especial com a organização da Copa do Mundo de 2022.
-
INTERESSES CRUZADOS
O que está em jogo na crise com o Qatar

Editoria de Arte/Folhapress
ARÁBIA SAUDITA
> Acusa o Qatar de apoiar o terrorismo através de vínculos secretos com o Irã, maior rival dos sauditas, que tentam isolar Teerã
> Cerca de 90% da população saudita segue o ramo sunita do islã, ao contrário dos iranianos, majoritariamente xiitas
QATAR
> São aliados da Arábia Saudita na guerra da Síria, contra Bashar al-Assad, e no Iêmen, contra a milícia houthi (xiita)
> Na Líbia, porém, estão em lados opostos: Doha apoia o governo reconhecido pela ONU, enquanto Riad defende o general Heftar, não reconhecido internacionalmente
EUA
> Aliado do Qatar, mantém no país sua maior base aérea no Oriente Médio, usada nos bombardeios contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque
> Nesta terça (6), Trump insinuou que a ação diplomática foi resultado de sua visita à Arábia Saudita em maio, quando pediu a líderes que cortem o apoio a terroristas
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
09/06/2017 16h40 - Atualizado às 16h55
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, endureceu nesta sexta-feira (9) as críticas ao Qatar e disse que o país "financia o terrorismo em um nível muito alto".
"Eles devem acabar com esse financiamento", disse Trump em relação ao país que teve seus laços rompidos com países do Oriente Médio após ser acusado de financiar terroristas e de apoiar o Irã.
"Nenhuma nação civilizada pode tolerar esta violência ou permitir que esta ideologia perversa se espalhe nas suas margens", afirmou o presidente norte-americano.
A declaração de Trump aconteceu após o secretário de Estados dos EUA, Rex Tillerson, pedir que os países do Golfo aliviem o bloqueio imposto ao Qatar.
Segundo Tillerson, o bloqueio prejudica o combate à facção terrorista Estado Islâmico (EI). Os EUA mantêm no Qatar a sua maior base aérea no Oriente Médio, usada nos bombardeios contra o EI na Síria e no Iraque.
De acordo com o secretário, a crise traz ainda a escassez de alimentos, a separação forçada de famílias e a retirada de crianças das escolas.
"Nós acreditamos que estas são consequências não desejadas, especialmente durante o mês sagrado do Ramadã", disse o secretário Tillerson. "A expectativa é que esses países tomem medidas imediatas para desenvolver esforços de boa fé e resolver as queixas que eles têm um com o outro ", afirmou.
Trump viaja ao exterior
CRISE NO ORIENTE MÉDIO
Na semana passada, o Qatar teve suas relações diplomáticas com países do Oriente Médio rompidas após ser acusado de financiar terroristas e de apoiar o Irã.
O Qatar nega veementemente que oferece tal apoio e afirma que o objetivo da medida é "colocar o Estado [do Qatar] sob tutela" e asfixiá-lo economicamente.
A ruptura das relações da Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, além de Egito e Iêmen com o Qatar aconteceu duas semanas após uma visita a Riad do presidente dos EUA, Donald Trump, que pediu aos árabes e muçulmanos uma mobilização contra o extremismo. As Maldivas, um arquipélago localizado no oceano Índico, e o governo da Líbia sediado no leste do país –que não é reconhecido internacionalmente– também se uniram no boicote ao Qatar.
Esta é a crise mais grave desde a criação em 1981 do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo), formado por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuait, Omã e Qatar.
O Qatar sempre ocupou um lugar à parte no CCG, com sua própria política regional e afirmando sua influência por meio do esporte, em especial com a organização da Copa do Mundo de 2022.
-
INTERESSES CRUZADOS
O que está em jogo na crise com o Qatar

Editoria de Arte/Folhapress
ARÁBIA SAUDITA
> Acusa o Qatar de apoiar o terrorismo através de vínculos secretos com o Irã, maior rival dos sauditas, que tentam isolar Teerã
> Cerca de 90% da população saudita segue o ramo sunita do islã, ao contrário dos iranianos, majoritariamente xiitas
QATAR
> São aliados da Arábia Saudita na guerra da Síria, contra Bashar al-Assad, e no Iêmen, contra a milícia houthi (xiita)
> Na Líbia, porém, estão em lados opostos: Doha apoia o governo reconhecido pela ONU, enquanto Riad defende o general Heftar, não reconhecido internacionalmente
EUA
> Aliado do Qatar, mantém no país sua maior base aérea no Oriente Médio, usada nos bombardeios contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque
> Nesta terça (6), Trump insinuou que a ação diplomática foi resultado de sua visita à Arábia Saudita em maio, quando pediu a líderes que cortem o apoio a terroristas
quarta-feira, 14 de junho de 2017
No Brasil não há justiça, há berço, manobra e vingança
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/alessandra-orofino/2017/06/1892184-no-brasil-nao-ha-justica-ha-berco-manobra-e-vinganca.shtml
12/06/2017 02h00
Por: Alessandra Orofino
Segunda, dia 05 de Junho: a internet pega fogo diante de fotos de uma festa em escola particular intitulada "Se Nada Der Certo". Nelas, adolescentes brancos sorriem para as câmeras vestidos de babás, faxineiras caixas e ambulantes.
Terça, dia 06 de Junho: começa o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE, que, como sabemos, culminaria com a absolvição da dupla.
Sexta, dia 09 de Junho: começa a circular no Whatsapp um vídeo no qual dois homens tatuam a frase "Eu sou ladrão e vacilão" na testa de um jovem.
O que mais choca na história da escola em Nova Hamburgo não é tanto os alunos acharem que ser faxineira ou porteiro seria uma tragédia em suas vidas. O que choca é os alunos acharem que ser faxineira ou porteiro é, de fato, uma possibilidade que se desenha para eles. Como se apenas o mérito os separasse de quem exerce essas profissões. A ilusão de que vivemos num país meritocrático é tamanha que a própria escola afirmou que "atividades como essa auxiliam na sensibilização dos alunos quanto à conscientização da importância de pensar alternativas no caso de não sucesso no vestibular". Que lindo seria se virar caixa fosse alternativa para filhos de família rica que não estudaram o suficiente. Mas a alternativa não é essa. A alternativa é continuar dependendo dos pais, ou conseguir um emprego através dos contatos da família. No Brasil, não existe justiça, existe berço.
O que mais choca na história do TSE é saber que o voto de minerva foi dado por Gilmar Mendes, o mesmo que, em abril, tirou férias logo depois da defesa de Dilma pedir vistas no processo. Coincidentemente, a decisão da defesa da ex-presidenta e as férias de Gilmar aconteceram logo quando dois ministros do TSE terminaram seus mandatos. Assim, Temer teve tempo de nomear dois dentre os sete juízes responsáveis por julgá-lo -ambos votaram pela absolvição. No Brasil, não existe justiça, existem manobras —e contatos.
O que mais choca na história da tatuagem é saber que os dois torturadores, quando identificados pela polícia, justificaram-se alegando estarem "revoltados" com o jovem, que supostamente roubara uma bicicleta. E com muita gente, a desculpa colou: a campanha de doações para a família do jovem tatuado -que sofre de transtornos psiquiátricos- está sendo alvo da atividade de falsos doadores anônimos. No Brasil, não existe justiça, existe vingança.
Os três eventos, aparentemente isolados, apontam para a falência completa de nosso pacto social: a ideia de que é possível crescer na vida apenas com esforço. A ideia de que nossos representantes nos representam -e que se lançarem mão de meios ilegais para ocupar seus cargos, as instituições se encarregarão de corrigir os abusos. A ideia de que a melhor forma de lidar com quem infringe a lei e a ordem é confiando na polícia, na Justiça, e acreditando na possibilidade de recuperação de cada ser humano.
A descrença na Igualdade, na Democracia e na Justiça só pode levar ao individualismo, ao autoritarismo, ao fascismo. Já está acontecendo. No Brasil do cada um por si, é bom cuidar para que "tudo dê certo" para você e para a sua família -e dane-se o resto. É bom só cometer crimes se a relação com o juiz for muito boa. E é bom adotar a política do olho por olho, dente por dente -porque se a impunidade atinge até o presidente, o que podemos dizer de um ladrão de bicicletas?
12/06/2017 02h00
Por: Alessandra Orofino
Segunda, dia 05 de Junho: a internet pega fogo diante de fotos de uma festa em escola particular intitulada "Se Nada Der Certo". Nelas, adolescentes brancos sorriem para as câmeras vestidos de babás, faxineiras caixas e ambulantes.
Terça, dia 06 de Junho: começa o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo TSE, que, como sabemos, culminaria com a absolvição da dupla.
Sexta, dia 09 de Junho: começa a circular no Whatsapp um vídeo no qual dois homens tatuam a frase "Eu sou ladrão e vacilão" na testa de um jovem.
O que mais choca na história da escola em Nova Hamburgo não é tanto os alunos acharem que ser faxineira ou porteiro seria uma tragédia em suas vidas. O que choca é os alunos acharem que ser faxineira ou porteiro é, de fato, uma possibilidade que se desenha para eles. Como se apenas o mérito os separasse de quem exerce essas profissões. A ilusão de que vivemos num país meritocrático é tamanha que a própria escola afirmou que "atividades como essa auxiliam na sensibilização dos alunos quanto à conscientização da importância de pensar alternativas no caso de não sucesso no vestibular". Que lindo seria se virar caixa fosse alternativa para filhos de família rica que não estudaram o suficiente. Mas a alternativa não é essa. A alternativa é continuar dependendo dos pais, ou conseguir um emprego através dos contatos da família. No Brasil, não existe justiça, existe berço.
O que mais choca na história do TSE é saber que o voto de minerva foi dado por Gilmar Mendes, o mesmo que, em abril, tirou férias logo depois da defesa de Dilma pedir vistas no processo. Coincidentemente, a decisão da defesa da ex-presidenta e as férias de Gilmar aconteceram logo quando dois ministros do TSE terminaram seus mandatos. Assim, Temer teve tempo de nomear dois dentre os sete juízes responsáveis por julgá-lo -ambos votaram pela absolvição. No Brasil, não existe justiça, existem manobras —e contatos.
O que mais choca na história da tatuagem é saber que os dois torturadores, quando identificados pela polícia, justificaram-se alegando estarem "revoltados" com o jovem, que supostamente roubara uma bicicleta. E com muita gente, a desculpa colou: a campanha de doações para a família do jovem tatuado -que sofre de transtornos psiquiátricos- está sendo alvo da atividade de falsos doadores anônimos. No Brasil, não existe justiça, existe vingança.
Os três eventos, aparentemente isolados, apontam para a falência completa de nosso pacto social: a ideia de que é possível crescer na vida apenas com esforço. A ideia de que nossos representantes nos representam -e que se lançarem mão de meios ilegais para ocupar seus cargos, as instituições se encarregarão de corrigir os abusos. A ideia de que a melhor forma de lidar com quem infringe a lei e a ordem é confiando na polícia, na Justiça, e acreditando na possibilidade de recuperação de cada ser humano.
A descrença na Igualdade, na Democracia e na Justiça só pode levar ao individualismo, ao autoritarismo, ao fascismo. Já está acontecendo. No Brasil do cada um por si, é bom cuidar para que "tudo dê certo" para você e para a sua família -e dane-se o resto. É bom só cometer crimes se a relação com o juiz for muito boa. E é bom adotar a política do olho por olho, dente por dente -porque se a impunidade atinge até o presidente, o que podemos dizer de um ladrão de bicicletas?
Já podemos admitir que Trump é tão ruim quanto seus críticos previam?
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/2017/06/1892277-ja-podemos-admitir-que-trump-e-tao-ruim-quanto-seus-criticos-previam.shtml
12/06/2017 12h43
Por Paul Krugman
Depois da surpreendente vitória eleitoral de Donald Trump, muita gente na direita, e até mesmo no centro, tentou defender o argumento de que as coisas não seriam tão ruins. A cada vez que ele demonstrava um mínimo de autocontrole —mesmo que a demonstração se resumisse a ler um discurso sem acrescentar improvisos ou a deixar o Twitter em paz por um ou dois dias—, os sabichões se apressavam a declarar que Trump havia por fim "se tornado presidente".
Será que já podemos admitir que ele é tão ruim quanto —ou mesmo pior que— até mesmo seus mais severos críticos previam? E não estamos falando apenas de seu desprezo pelo Estado de Direito, demonstrado com tamanha clareza no depoimento de James Comey. Nas palavras do estudioso de questões jurídicas Jeffrey Toobin, se isso não é obstrução da Justiça, o que seria? E além disso temos a forma pela qual o caráter de Trump, sua combinação de revanchismo mesquinho e pura preguiça, o torna claramente incapaz de fazer o trabalho que cabe a um presidente.
E isso é um imenso problema. Pense no imenso estrago que este homem causou em apenas cinco meses, e em múltiplas frentes.
Um exemplo é a saúde. Ainda não está claro que os republicanos serão capazes de aprovar um substituto para o Obamacare (ainda que já esteja claro que eles privarão dezenas de milhões de americanos de sua cobertura de saúde). Mas o que quer que aconteça na frente legislativa, há imensos problemas crescendo a cada dia nos mercados de planos de saúde —muitas empresas os estão abandonando, o que deixa algumas regiões do país sem cobertura, enquanto outras operadoras impuseram aumentos pesados nas mensalidades.
Por quê? Isso não acontece, pouco importa o que digam os republicanos, porque o sistema do Obamacare é inoperável. No fim do ano passado, os mercados de planos de saúde estavam claramente se estabilizando. Em vez disso, como explicam as empresas do setor, o problema é a incerteza criada por Trump & companhia, especialmente pelo fato de que eles se recusam a esclarecer se os cruciais subsídios serão mantidos. A operadora de planos de saúde Blue Cross Blue Shield anunciou aumento de 23% nas mensalidades de seus planos, mas declarou que o aumento seria de apenas de 9% se estivesse certa de que os subsídios do governo aos compradores de planos de saúde continuariam.
E por que as empresas não receberam a garantia que procuram? Será porque Trump acredita em suas afirmações de que ele pode causar o colapso do Obamacare e convencer o povo a culpar os democratas? Ou será porque ele está ocupado demais expressando raiva no Twitter e jogando golfe, e não tem tempo para tratar da questão? Difícil dizer, mas nenhuma das duas respostas é a maneira certa de fazer política.
Ou veja a notável decisão de apoiar a Arábia Saudita em sua disputa com o Qatar, um pequeno país que abriga uma imensa base militar americana. Ninguém é bonzinho nessa briga, e por isso mesmo os Estados Unidos têm todo motivo para ficar fora dela.
O que Trump está fazendo, então? Não há sinal de visão estratégica. Algumas pessoas sugerem que é possível que ele não soubesse da grande base dos Estados Unidos no Qatar e de seu papel crucial.
A explicação mais provável de suas ações, que provocaram uma crise na região (e levaram o Qatar aos braços do Irã) é que os sauditas o lisonjearam —o hotel Ritz-Carlton de Riad projetou uma imagem do rosto de Trump com cinco andares de altura—, e os lobistas do país gastaram muito dinheiro no hotel de Trump em Washington.
Normalmente, consideraríamos ridículo sugerir que um presidente americano é ignorante quanto a questões dessa importância e que ele pode ser levado a tomar decisões de política externa tão perigosas por meio de lisonjas tão cruas. Mas será que podemos aceitar que isso é verdade quando estamos falando de um homem que se recusa a aceitar os fatos sobre o número de espectadores em sua posse e se vangloria de sua vitória eleitoral nas circunstâncias menos apropriadas? Sim.
E considere sua recusa de endossar o princípio central da Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte), a obrigação de ação mútua em defesa dos aliados —uma recusa que causou choque e surpresa até mesmo à equipe de política externa de Trump. Qual foi o motivo disso? Ninguém sabe, mas vale considerar que Trump aparentemente resmungou para os líderes da União Europeia sobre a dificuldade de criar clubes de golfe em seus países. Portanto, a declaração talvez tenha sido causada por simples petulância.
O ponto, uma vez mais, é que tudo sugere que Trump não está à altura do posto de presidente e nem está disposto a se pôr de lado e permitir que outros façam o trabalho da maneira certa. E isso já está começando a ter consequências reais, do desordenamento na cobertura de saúde a alianças arruinadas, passando por uma perda de credibilidade no cenário mundial.
Você pode argumentar que, já que as ações estão em alta, qual é o mal? E é verdade que, embora Wall Street tenha perdido um pouco de seu entusiasmo inicial pela visão econômica de Trump —o dólar caiu à cotação que tinha antes da eleição—, investidores e empresas não parecem estar incorporando às suas estimativas quanto ao valor das ações o risco de uma política realmente desastrosa.
Mas esse risco é muito real há que suspeitar que o dinheiro grosso, que tende a equiparar riqueza e virtude, será o último a perceber o quanto o risco é grande. A presidência dos Estados Unidos é, de muitas maneiras, uma espécie de monarquia eletiva, e um líder desqualificado por seu intelecto e experiência para o posto pode causar grandes estragos ao ocupá-lo.
É isso que está acontecendo agora. E mal passamos a marca dos 10% de duração do primeiro mandato de Trump. O pior ainda está por vir, quase certamente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
12/06/2017 12h43
Por Paul Krugman
Depois da surpreendente vitória eleitoral de Donald Trump, muita gente na direita, e até mesmo no centro, tentou defender o argumento de que as coisas não seriam tão ruins. A cada vez que ele demonstrava um mínimo de autocontrole —mesmo que a demonstração se resumisse a ler um discurso sem acrescentar improvisos ou a deixar o Twitter em paz por um ou dois dias—, os sabichões se apressavam a declarar que Trump havia por fim "se tornado presidente".
Será que já podemos admitir que ele é tão ruim quanto —ou mesmo pior que— até mesmo seus mais severos críticos previam? E não estamos falando apenas de seu desprezo pelo Estado de Direito, demonstrado com tamanha clareza no depoimento de James Comey. Nas palavras do estudioso de questões jurídicas Jeffrey Toobin, se isso não é obstrução da Justiça, o que seria? E além disso temos a forma pela qual o caráter de Trump, sua combinação de revanchismo mesquinho e pura preguiça, o torna claramente incapaz de fazer o trabalho que cabe a um presidente.
E isso é um imenso problema. Pense no imenso estrago que este homem causou em apenas cinco meses, e em múltiplas frentes.
Um exemplo é a saúde. Ainda não está claro que os republicanos serão capazes de aprovar um substituto para o Obamacare (ainda que já esteja claro que eles privarão dezenas de milhões de americanos de sua cobertura de saúde). Mas o que quer que aconteça na frente legislativa, há imensos problemas crescendo a cada dia nos mercados de planos de saúde —muitas empresas os estão abandonando, o que deixa algumas regiões do país sem cobertura, enquanto outras operadoras impuseram aumentos pesados nas mensalidades.
Por quê? Isso não acontece, pouco importa o que digam os republicanos, porque o sistema do Obamacare é inoperável. No fim do ano passado, os mercados de planos de saúde estavam claramente se estabilizando. Em vez disso, como explicam as empresas do setor, o problema é a incerteza criada por Trump & companhia, especialmente pelo fato de que eles se recusam a esclarecer se os cruciais subsídios serão mantidos. A operadora de planos de saúde Blue Cross Blue Shield anunciou aumento de 23% nas mensalidades de seus planos, mas declarou que o aumento seria de apenas de 9% se estivesse certa de que os subsídios do governo aos compradores de planos de saúde continuariam.
E por que as empresas não receberam a garantia que procuram? Será porque Trump acredita em suas afirmações de que ele pode causar o colapso do Obamacare e convencer o povo a culpar os democratas? Ou será porque ele está ocupado demais expressando raiva no Twitter e jogando golfe, e não tem tempo para tratar da questão? Difícil dizer, mas nenhuma das duas respostas é a maneira certa de fazer política.
Ou veja a notável decisão de apoiar a Arábia Saudita em sua disputa com o Qatar, um pequeno país que abriga uma imensa base militar americana. Ninguém é bonzinho nessa briga, e por isso mesmo os Estados Unidos têm todo motivo para ficar fora dela.
O que Trump está fazendo, então? Não há sinal de visão estratégica. Algumas pessoas sugerem que é possível que ele não soubesse da grande base dos Estados Unidos no Qatar e de seu papel crucial.
A explicação mais provável de suas ações, que provocaram uma crise na região (e levaram o Qatar aos braços do Irã) é que os sauditas o lisonjearam —o hotel Ritz-Carlton de Riad projetou uma imagem do rosto de Trump com cinco andares de altura—, e os lobistas do país gastaram muito dinheiro no hotel de Trump em Washington.
Normalmente, consideraríamos ridículo sugerir que um presidente americano é ignorante quanto a questões dessa importância e que ele pode ser levado a tomar decisões de política externa tão perigosas por meio de lisonjas tão cruas. Mas será que podemos aceitar que isso é verdade quando estamos falando de um homem que se recusa a aceitar os fatos sobre o número de espectadores em sua posse e se vangloria de sua vitória eleitoral nas circunstâncias menos apropriadas? Sim.
E considere sua recusa de endossar o princípio central da Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte), a obrigação de ação mútua em defesa dos aliados —uma recusa que causou choque e surpresa até mesmo à equipe de política externa de Trump. Qual foi o motivo disso? Ninguém sabe, mas vale considerar que Trump aparentemente resmungou para os líderes da União Europeia sobre a dificuldade de criar clubes de golfe em seus países. Portanto, a declaração talvez tenha sido causada por simples petulância.
O ponto, uma vez mais, é que tudo sugere que Trump não está à altura do posto de presidente e nem está disposto a se pôr de lado e permitir que outros façam o trabalho da maneira certa. E isso já está começando a ter consequências reais, do desordenamento na cobertura de saúde a alianças arruinadas, passando por uma perda de credibilidade no cenário mundial.
Você pode argumentar que, já que as ações estão em alta, qual é o mal? E é verdade que, embora Wall Street tenha perdido um pouco de seu entusiasmo inicial pela visão econômica de Trump —o dólar caiu à cotação que tinha antes da eleição—, investidores e empresas não parecem estar incorporando às suas estimativas quanto ao valor das ações o risco de uma política realmente desastrosa.
Mas esse risco é muito real há que suspeitar que o dinheiro grosso, que tende a equiparar riqueza e virtude, será o último a perceber o quanto o risco é grande. A presidência dos Estados Unidos é, de muitas maneiras, uma espécie de monarquia eletiva, e um líder desqualificado por seu intelecto e experiência para o posto pode causar grandes estragos ao ocupá-lo.
É isso que está acontecendo agora. E mal passamos a marca dos 10% de duração do primeiro mandato de Trump. O pior ainda está por vir, quase certamente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
quarta-feira, 7 de junho de 2017
Primeiro EUA: Trump empurra seu homólogo de Montenegro para sair bem na foto
Fonte: https://br.sputniknews.com/mundo_insolito/201705268491024-trump-empurra-homologo-montenegro-video-otan/
10:34 26.05.2017(atualizado 17:32 26.05.2017)
Na reunião de chefes de Estado e de Governo da OTAN, realizada em Bruxelas em 25 de maio, o presidente dos EUA, Donald Trump, empurrou com força o premiê de Montenegro, Dusko Markovic, para aparecer na primeira fila na foto de grupo.
O periodista norte-americano Steve Kopack publicou um vídeo deste incidente em seu Twitter.
https://twitter.com/SteveKopack/status/867758571882258432/video/1
"Trump empurra outro membro da OTAN para ficar na frente do grupo?"
Em 19 de maio, o Montenegro se tornou o 19º país membro da OTAN, tendo esta cúpula sido a primeira para Dusko Markovic.
O ato de Trump causou indignação nos Bálcãs e suscitou agitação nas redes sociais. A mídia da região colocou os títulos como "A América primeiro" e "Aonde é que ele está indo?", mas o próprio Markovic não se mostrou ofendido.
"Não me dei conta disso, só vi a reação nas redes sociais, foi simplesmente uma situação inofensiva", disse o representante montenegrino aos jornalistas após a cúpula.
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, comunicou que o presidente norte-americano havia seguido o esquema acordado de posição dos líderes dos estados-membros da OTAN na foto de grupo e não tinha intenção de ocupar um lugar que não lhe pertencia. Porém, reconheceu não ter visto a gravação.
10:34 26.05.2017(atualizado 17:32 26.05.2017)
Na reunião de chefes de Estado e de Governo da OTAN, realizada em Bruxelas em 25 de maio, o presidente dos EUA, Donald Trump, empurrou com força o premiê de Montenegro, Dusko Markovic, para aparecer na primeira fila na foto de grupo.
O periodista norte-americano Steve Kopack publicou um vídeo deste incidente em seu Twitter.
https://twitter.com/SteveKopack/status/867758571882258432/video/1
"Trump empurra outro membro da OTAN para ficar na frente do grupo?"
Em 19 de maio, o Montenegro se tornou o 19º país membro da OTAN, tendo esta cúpula sido a primeira para Dusko Markovic.
O ato de Trump causou indignação nos Bálcãs e suscitou agitação nas redes sociais. A mídia da região colocou os títulos como "A América primeiro" e "Aonde é que ele está indo?", mas o próprio Markovic não se mostrou ofendido.
"Não me dei conta disso, só vi a reação nas redes sociais, foi simplesmente uma situação inofensiva", disse o representante montenegrino aos jornalistas após a cúpula.
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, comunicou que o presidente norte-americano havia seguido o esquema acordado de posição dos líderes dos estados-membros da OTAN na foto de grupo e não tinha intenção de ocupar um lugar que não lhe pertencia. Porém, reconheceu não ter visto a gravação.
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