segunda-feira, 24 de julho de 2017

Investida do PSG sobre Neymar é jogada diplomática do Qatar

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mathias-alencastro/2017/07/1903739-investida-do-psg-sobre-neymar-e-jogada-diplomatica-do-qatar.shtml

24/07/2017  02h00

Por Mathias Alencastro

Ainda não se conhece o desfecho das negociações do Paris Saint Germain (PSG) pelo astro do Barcelona Neymar. Mas já dá para saber que o impacto da sua transferência irá muito além do campo de futebol.

Mais conhecido pelo glamour do que por títulos, o PSG foi elevado a potência do futebol depois da sua aquisição pelo Fundo de Investimentos do Emirado do Qatar, em 2011. Para o Qatar, o investimento tinha um intuito: ampliar sua influência na Europa, no âmbito da sua ambiciosa estratégia de autonomia regional e projeção internacional.

Quando o atual príncipe xeque Hamad bin Khalifa al-Thani chegou ao poder em 1995, o Qatar, que ascendeu à independência em 1971, tinha meio milhão de habitantes, o equivalente à população do centro expandido de São Paulo, e dependia da Arábia Saudita para sobreviver. Tudo mudou quando uma revolução tecnológica viabilizou as suas fabulosas reservas de gás. Em 20 anos, a economia expandiu de R$ 20 bilhões para R$ 500 bilhões, e um oásis de prédios luxuosos prosperou na pequena península.

Durante esse tempo, o Qatar foi aos poucos se afirmando enquanto peça central da geopolítica do Oriente Médio. Adepto do multilateralismo, o país hospeda uma base militar americana, mantém relações diplomáticas com o Irã, recusa o embargo contra Israel, e abriga embaixadas informais de movimentos tão diversos como o Hizbollah, a Irmandade Muçulmana e o Taleban.

Por meio da Al Jazeera, a TV estatal que ganhou notoriedade durante a Primavera Árabe; da sua companhia aérea, a Qatar Airways; e do prestigioso PSG, o Qatar busca consolidar a sua imagem além do mundo árabe. A organização da Copa do Mundo em 2022 há de ser o ponto culminante desse processo.

Porém, a superexposição também revelou os lados mais sombrios do pais. O Qatar é acusado de recorrer a redes de tráfico humano. A Anistia Internacional diz que os canteiros dos estádios da Copa são verdadeiros campos de trabalho forçado.

No ano passado, dois jornalistas revelaram que políticos franceses como o ex-presidente Nicolas Sarkozy e o ex-ministro Dominique de Villepin receberam favores do Qatar. O caso ganhou tanta proporção que um candidato a presidente prometeu nacionalizar o PSG.

A negociação por Neymar acontece num momento em que o Qatar e o PSG enfrentam uma encruzilhada. Humilhado pelo Barcelona na Liga dos Campeões e derrotado pelo Mônaco no campeonato francês, o PSG atingiu o seu teto competitivo na última temporada.

No mês passado, o Qatar teve seus acessos interditados pela Arábia Saudita, os Emirados Árabes e o Egito, sob a acusação de financiar o terrorismo. Na realidade, o Qatar está sendo hostilizado pelos seus vizinhos por causa do seu dinamismo econômico e crescente reconhecimento internacional.

Nesse contexto, a chegada de Neymar seria uma grande jogada diplomática e esportiva. Em plena crise de credibilidade, o Qatar enviaria um sinal à comunidade internacional que não vai recuar perante os obstáculos, e o PSG teria em sua posse um jogador do top 5 mundial, condição indispensável para conquistar a Liga dos Campeões, o seu objetivo máximo até a Copa de 2022. Quando o futebol se mistura com geopolítica, o valor da multa contratual do Neymar, cerca de R$ 800 milhões, vira uma pechincha.

domingo, 2 de julho de 2017

Putin era agente medíocre da KGB, diz antigo superior

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/07/1897752-putin-era-agente-mediocre-da-kgb-diz-antigo-superior.shtml

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

02/07/2017  02h00

O todo-poderoso presidente russo, Vladimir Putin, é um ex-oficial da KGB, forjado nos perigos e ardis da Guerra Fria. Sempre que pode, a imprensa ocidental lembra dessa qualificação de forma ora atemorizada, ora derrogatória, e Putin pouco faz para desfazer a aura.

"Vamos ser honestos, essa é uma imagem errada. Putin nunca passou de um agente medíocre", afirma um de seus antigos superiores, o general aposentado Nikolai Leonov, 88.

Ele tem autoridade no assunto: ficou na KGB de 1956 a 1991 e era o número dois do temido serviço secreto soviético no período em que Putin serviu na Alemanha Oriental, entre 1985 e 1990.

"Quando nós tínhamos um cadete fluente em alemão, como era o caso de Putin, se ele fosse bom iria para a Alemanha Ocidental ou para a Áustria, para a linha de frente", conta Leonov.

"Mas ele foi para o lado oriental, que era comunista. Bom, então se fosse importante iria para Berlim, que era o ponto de contato com o lado ocidental, e estaria em coordenação com a Stasi –a polícia secreta do regime socialista alemão."

Putin foi colocado em Dresden, no interior alemão-oriental. "Não havia nada para fazer lá, só os de segunda classe iam para lá. Quando alguém voltava, de todo modo, se fosse bom iria para Moscou para se preparar para um próximo posto", continua.

O hoje presidente voltou para sua terra natal, Leningrado, a atual São Petersburgo. "O círculo se fecha. Ele foi colocado na universidade local para espionar alunos estrangeiros, que em sua maioria eram comunistas leais mesmo", diz o general.

Para ele, que ocupou a chefia adjunta da Primeira Diretoria da KGB entre 1983 e 1991, Putin não pode dizer que "foi forjado" na agência.

"Há até um sinal típico disso. Ele está sempre atrasado para compromissos. Isso é estranho, escandaloso para um oficial de inteligência. Nós pecamos pela pontualidade excessiva, porque a vida de nossos comandados dependia disso."

Leonov é citado aqui e ali na internet como "amigo e mentor" de Putin, mas nega ter conhecido diretamente o então oficial subalterno, até pelo que qualifica de insignificância dele na estrutura –o presidente chegou à patente de tenente-coronel.

Em seu favor, ressalte-se que Putin nunca se gabou de ser alguém importante na KGB. No livro-depoimento "Primeira Pessoa", publicado logo após assumir pela primeira vez o Kremlin em 2000, o presidente é econômico em falar sobre seu recrutamento ao fim do curso de direito, em 1975, e sua melhor lembrança sobre os tempos de Dresden foi ter ganhado peso por causa da boa cerveja local.

Era, admite, "uma posição menor". Ainda assim, a mídia ocidental insiste em reforçar esse passado como uma prova do quão sinistro Putin pode ser: basta ver como ele é retratado na imprensa liberal dos EUA ou, em particular, no Reino Unido.

Não que isso não o favoreça. "O mistério reforça a imagem de homem misterioso, forte, conhecedor de segredos. E o Ocidente morre de saudade da Guerra Fria", diz o cientista político Konstantin Frolov, de Moscou.

Até a linguagem corporal do presidente, que costuma andar com o braço direito junto ao corpo, como se estivesse a ponto de sacar uma arma, é vista como herança de seu treinamento na KGB.

OPORTUNISMO

Leonov aponta o que chama de oportunismo de Putin. "Ele viu que tudo ruía quando voltou a Leningrado, e logo virou amigo dos opositores", referindo-se a Anatoli Sobtchak, o liberal prefeito da cidade que trouxe Putin para cuidar de investimentos estrangeiros em seu gabinete em 1990, dando início à sua carreira política.

Ex-deputado por um partido nacionalista, Nikolai Leonov afirma que Putin não é tão poderoso quanto parece. "O sistema econômico da Rússia, que nem de longe pode ser chamado de capitalista, é dominado por oligarquias públicas e privadas. Por isso, querem que tudo fique como está", afirma.

Para ele, o presidente é dominado pelas oligarquias. "Todas as leis são de interesse da grande burguesia, a gasolina é cara enquanto o petróleo tem preço internacional baixo, mas acho que o povo está começando a se dar conta disso", diz, citando os recentes protestos anti-Putin.

Ele é pessimista sobre o futuro da Rússia. "Somos um barco parado. Muitos países vão passando à nossa frente, como Brasil ou México, e não temos mapa do caminho. Onde estaremos em 5, 10 ou 15 anos?", afirma, rechaçando que a volta do comunismo seja hoje uma opção, apesar de sua clara simpatia ao regime.

AMIZADE COM RAÚL E FIDEL CASTRO

As discussões sobre a nova Constituição cubana giram em torno de propostas colocadas na mesa em 2011 pelo ditador Raúl Castro: mandato presidencial de cinco anos com direito a uma reeleição, limite de idade de 60 anos para assumir cargos do Comitê Central, manutenção do unipartidarismo e de eleições indiretas –que irão confirmar o número dois do regime como novo presidente.

Esse é o resumo dado por Nikolai Leonov após passar seis meses em Havana. A mensagem foi transmitida pelo próprio Castro, de quem é amigo desde 1953, quando ambos se encontraram durante uma viagem de navio após um congresso de jovens comunistas na Romênia.

Leonov esteve na ilha comunista do Caribe cuidando dos detalhes de uma biografia do amigo ditador que ele está finalizando –e a quem defende ferreamente.

"A transição está completa. O número dois já está pronto, é o Miguel Díaz-Canel, que é uma pessoa que não tem nada a ver com a origem da revolução. Mas o Partido Comunista continuará no poder", afirma o general aposentado.

Díaz-Canel, 57, foi elevado ao cargo de primeiro vice-presidente do Conselho de Estado de Cuba, e deverá superar desconfianças do Exército para ser eleito para o lugar de Raúl ao fim do mandato autoconcedido pelo ditador de 86 anos, que expira no ano que vem.

Em espanhol límpido e lúcido, apesar de ter tido a visão algo comprometida por um derrame recente, Leonov afirma que a aproximação iniciada com Cuba no final de 2014 pelo então presidente dos Estados Unidos Barack Obama "significa uma vitória da revolução".

Para ele, as ameaças de rompimento por parte do atual mandatário americano, Donald Trump, "são bobagem, não se pode deter agora o processo", ressaltando que o republicano falou grosso, mas não cortou laços diplomáticos com a ilha.

A carreira do general russo se mistura com a história da Revolução Cubana, ocorrida em 1959.

Dois anos depois de conhecer Raúl, travou contato com Fidel Castro e Che Guevara, e apresentou o trio ao Kremlin –levando a revolução, na época sob pressão americana, a cair no colo de Moscou, apesar de não ter nada de comunista em sua origem.

Leonov serviu de intérprete do ditador Fidel Castro durante sua famosa visita a Moscou em 1963, depois de a crise dos mísseis que a União Soviética tentou instalar na ilha quase ter levado o mundo a uma guerra nuclear um ano antes.

De 1956 até sua aposentadoria, em 1991, Leonov foi o principal especialista em América Latina da KGB e chegou a número dois do serviço secreto –sua história foi objeto de reportagem da Folha há quase dez anos.

China se irrita com plano dos EUA de vender armamentos para Taiwan

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/06/1897344-china-se-irrita-com-plano-dos-eua-de-vender-armamentos-para-taiwan.shtml

DE SÃO PAULO

30/06/2017  10h17

A China expressou nesta sexta-feira (30) sua irritação com o plano do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de vender a Taiwan cerca de US$ 1,4 bilhão em armas.

A China considera Taiwan parte de seu território e a classifica como uma província rebelde. Nacionalistas chineses fugiram para a ilha em 1949 após perder a guerra civil para os comunistas.

"O gesto errado do lado americano vai de encontro ao consenso alcançado entre os dois presidentes e o momento positivo de desenvolvimento das relações China-EUA", disse a embaixada da China em Washington. "O governo chinês e o povo chinês têm toda o direito de ficar irritados."

Ao anunciar o pacote de venda de armas a Taiwan, o Departamento de Estado disse na quinta-feira (29) que se trata de um apoio à "capacidade de autodefesa" da ilha, mas ressaltou que o plano não implica mudança na política de "uma única China", exigida por Pequim e apoiada pelos EUA.

O Ministério da Defesa da China afirmou que Taiwan é a "questão mais importante e sensível das relações sino-americanas" e exigiu que Washington evite provocar novas instabilidades na região.

Os Estados Unidos deixaram de reconhecer Taiwan em 1979, passando a manter relações formais apenas com a China continental, governada pelo Partido Comunista.

ESTRATÉGIA ERRÁTICA

Até agora, o governo Trump tem sido marcado por uma estratégia errática para a China.

Durante a campanha presidencial, no ano passado, o republicano adotou uma retórica hostil contra Pequim, acusando os chineses de roubarem empregos dos americanos e de realizar manipulação monetária. Em dezembro, Trump irritou o governo chinês ao sugerir uma reaproximação com Taiwan e conversar por telefone com a líder da ilha, Tsai Ing-wen, rompendo o protocolo.

Após tomar posse, em janeiro, o presidente adotou um tom mais comedido e reiterou o apoio à política de "uma única China". Os dois países se aproximaram ainda mais após a visita do presidente Xi Jinping aos EUA, em abril –a partir daí, Trump passou a expressar confiança na China.

O pacote de venda de armas a Taiwan representa um novo tensionamento entre os dois países. Analistas divergem em sua avaliação sobre as idas e vindas de Trump na política externa: enquanto uns interpretam isso como uma tática para obter melhores condições de negociação, outros veem uma falta de experiência e de estratégia.

Crise democrática é fruto da indústria cultural, diz escritor Amós Oz

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/06/1895944-crise-democratica-e-fruto-da-industria-cultural-diz-escritor-amos-oz.shtml

MAURÍCIO MEIRELES
DE SÃO PAULO

26/06/2017  02h00

Hitler e Stálin não esperavam, é claro, mas deram um presente à humanidade: o medo do fanatismo e da violência. Por mais de 50 anos, o mundo viveu com tal medo. Agora, a data de validade desse "presente" chegou.

Quem diz é Amós Oz, uma das principais vozes da literatura israelense. Contundente analista político, ele fala nesta segunda-feira (26), em São Paulo, no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento.

O autor, que neste ano chegou à final do Man Booker International Prize, um dos principais prêmios literários do mundo, também lança no país "Mais de uma Luz", volume com três ensaios. Em um deles, Oz revê e amplia "Como Curar um Fanático", um de seus textos clássicos.

"Há muitas diferenças [desde a publicação do texto original]. Vivemos uma crise muito profunda do sistema democrático. As características que alguém precisa ter para ser eleito são quase o oposto daquelas necessárias para se liderar uma nação", diz o autor israelense.

O problema, argumenta, é que a política misturou-se às concepções da indústria do entretenimento. Esse seria o motivo da ascensão de candidatos extremistas –eles são os "mais divertidos", diz Oz.

"Há uma geração inteira de jovens, no mundo todo, que veem mais programas satíricos na TV do que o noticiário. E esse é o único contato direto deles com a política."

O escritor vê, no século 21, uma confirmação do pensamento do filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969), que via na indústria cultural uma ameaça à democracia.

"Em certo sentido, ele foi um profeta. Adorno viu crises que só se materializaram agora", afirma Oz.

O resultado, então, seria o crescimento do fanatismo –forma de pensamento dedicada não só a exterminar o outro fisicamente, mas em matar a diferença entre pessoas.

Para ele, a série de manifestações que começaram com a Primavera Árabe e se espalharam pelo mundo –gerando a crença no surgimento de uma nova democracia, em especial nos países árabes– foi interpretada de forma errada:

"Não houve Primavera Árabe. Foi um inverno islâmico. Muitos achavam que ia se repetir no mundo árabe o que houve nos países do bloco socialista. A história não se repete. Nesses locais, há um tipo de opressão totalmente diferente."

Mas de onde surge o fanatismo? Para Oz, quanto mais complexas se tornam os dilemas da sociedade, mais haverá quem queira respostas fáceis. O fanático, nesse sentido, é aquele que oferece a redenção em duas frases.

Por isso, afirma, a curiosidade e a imaginação podem ser um antídoto: as duas, afinal, alimentam-se da diferença entre os humanos.

Para ele, a degradação causada pela indústria do entretenimento também afeta a produção artística. As pessoas estariam mais interessadas em formas baratas de diversão do que na "arte séria".

"É uma infantilização da raça humana. Adultos sofrem lavagem cerebral da indústria cultural para virar criancinhas, porque as criancinhas são melhores consumidores."

Seria a hora de uma literatura política, então?

"Não escrevo ficção para enviar mensagens ideológicas. Seria um desperdício. Quando quero fazer isso, por exemplo, escrevo um artigo dizendo para o governo [israelense] ir para o diabo que o carregue. Mas eles leem e, por algum motivo que não entendo, não vão."

MAIS DE UMA LUZ

AUTOR Amos Oz

TRADUÇÃO Paulo Geiger

EDITORA Companhia das Letras

QUANTO R$ 34,90 (136 págs.)

FRONTEIRAS DO PENSAMENTO

QUANDO Nesta segunda (26), 20h30, no Teatro Santander, Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041, tel. (11) 4003-1022

QUANTO R$ 2.886, na plateia, e R$ 1.688, no balcão. Os valores se referem ao pacote completo para oito conferências, mas os ingressos estão esgotados. É possível entrar em uma lista de espera, ligando para o tel. (11) 4020-2050 (não são vendidos ingressos para conferências individuais).

Ucrânia reage a ciberataque com GIF de cachorro bebendo chá; antes, país usou Simpsons e Friends

Fonte: http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/06/28/ucrania-reage-a-ciberataque-com-gif-de-cachorro-bebendo-cha-antes-pais-usou-simpsons-e-friends/

28/06/2017  08:08

POR DIOGO BERCITO

A Ucrânia foi a principal afetada pelo ciberataque de terça-feira (27). O vírus Petya afligiu o metrô, a rede elétrica, o sistema bancário e o monitoramento da radiação em Tchernóbil. O vice-premiê, Pavlo Rozenko, afirmou que toda a administração pública havia sido desligada. Então a conta oficial da Ucrânia no Twitter publicou uma importante mensagem: um GIF retratando um cachorro despreocupado, bebendo chá em uma sala tomada pelas chamas. “Tá tudo bem.”
A legenda diz que “algumas das nossas agências governamentais e empresas foram atingidas por um vírus. Não há razão para pânico. Estamos nos esforçando ao máximo para resolver essa questão”. Como explica o site americano Vox.com, o GIF do cachorro tranquilão é um clássico da internet. O divertido canino surgiu em uma ilustração de K.C. Green com a atitude descrita pelo “New York Times” como o meio-termo entre dar de ombros de negar a realidade.
Segundo o Vox.Com, a solução do governo ucraniano não é ortodoxa, mas
O GIF do cachorro dizendo “This Is Fine” pode provar ser uma maneira criativa de tentar acalmar o temor público durante uma situação caótica e assustadora. Em outras palavras, essa pode não ser a última vez em que esse GIF faz uma aparição.
Tampouco é a primeira vez em que o governo ucraniano usa esse tipo de imagem animada para reagir a crises. A conta oficial do país no Twitter é especialmente bem-humorada. Há alguns dias eles publicaram seus parabéns ao governo sueco, incluindo um GIF da série americana “Friends” e a menção a um “bromance” histórico entre a Ucrânia e a Suécia. Um “bromance” é uma relação próxima — e não sexual — entre dois homens. “Bromanceando desde Karl XII e Ivan Mazepa.”
É engraçadinho, mas não tanto quanto o caso de 30 de maio, quando a Ucrânia usou um GIF dos Simpsons para trolar a Rússia. Os dois países estavam disputando as origens históricas de Anna Yaroslavna, que foi rainha da França no século 11. A conta oficial do governo ucraniano respondeu a Moscou com uma imagem da série americana em que um oficial russo ri enquanto a plaquinha de “Rússia” se transforma em “União Soviética”. O tuíte diz: “Você realmente não muda, né?”

Busca por um Curdistão independente ingressa em nova fase

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/06/1895049-busca-por-um-curdistao-independente-ingressa-em-nova-fase.shtml

ISHAAN THAROOR
DO "WASHINGTON POST"

22/06/2017  11h13

Para muitos curdos iraquianos, chegou a hora. No começo do mês, Masoud Barzani, presidente do Governo Regional do Curdistão (GRC), no norte do Iraque, anunciou que um referendo de aplicação não compulsória sobre a independência da região será realizado em 25 de setembro.

As autoridades regionais dizem que desejam que os habitantes da área administrada pelo GRC, moradores de territórios há muito disputados (e ricos em petróleo) hoje ocupados por combatentes curdos, e até mesmo membros da diáspora curda espalhados pelo planeta votem sobre a criação de um Curdistão independente.

Para Barzani e seus aliados, é a culminação de décadas tanto de luta quanto de acomodação política. Para o governo central iraquiano em Bagdá, é uma jogada incômoda que pode solapar ainda mais o país, já frágil. E para os vizinhos do Iraque e os Estados Unidos, o referendo só aumenta as dores de cabeça geopolíticas em uma parte do mundo já repleta de conflitos complicados.

Mas a liderança em Irbil, a capital curda no Iraque, insiste em que suas aspirações à independência sejam reconhecidas. Em reunião com um grupo de jornalistas de Washington, Bayan Sami Abdul Rahman, representante especial do GRC nos Estados Unidos, enquadrou a causa curda em termos históricos grandiosos.

"Há mudanças varrendo o Oriente Médio", disse, em referência ao tumulto causado pela guerra civil na Síria, às tensões cada vez mais sérias entre sunitas e xiitas, e à luta regional contra o Estado Islâmico.

Ela apontou que, depois da Primeira Guerra Mundial, em meio à desordem política e à redefinição do mapa do Oriente Médio, os curdos ficaram sem país.

"Também aconteceram mudanças cem anos atrás, e os curdos foram espectadores passivos. Não seremos só espectadores agora", afirmou.

Há quase 30 milhões de pessoas de etnia curda vivendo na Turquia, Iraque, Irã e Síria. Só no Iraque os sonhos da etnia quanto à criação de um Estado autônomo estão baseados em poder político real, bem como em uma onda forte de simpatia, se não de apoio claro, vinda do exterior.

Os Estados Unidos e outras potências ocidentais têm elos antigos com o GRC na área de segurança; as unidades de combatentes curdos, conhecidos como "peshmergas", são aliadas vitais do Ocidente nos combates terrestres contra o Estado Islâmico.

Abdul Rahman não demorou a acrescentar que o resultado do referendo não afetaria os movimentos pela independência dos curdos em outros países.

A liderança curda no Iraque não forçou a questão da independência depois da invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003. Em 2005, os curdos aceitaram a nova constituição iraquiana, que declarava o país uma república federalista democrática na qual as diferentes comunidades étnicas e religiosas teriam posições iguais no governo.

Mas as crises dos anos subsequentes destruíram qualquer fé que os curdos pudessem ter no projeto federal iraquiano, disse Abdul Rahman.

Ainda assim, mesmo depois que os partidários da independência vencerem o referendo –um resultado amplamente esperado–, ela disse que Irbil não planejava "decretar independência no dia seguinte". Em lugar disso, as autoridades curdas querem iniciar negociações com Bagdá armadas de um mandato eleitoral.

"O objetivo final é um acordo negociado com o governo do Iraque", disse Abdul Rahman.

O governo iraquiano, liderado pelo primeiro-ministro Haider al-Abadi, não está ansioso por debater a ideia.

Abadi insiste em que o momento escolhido para o referendo é inoportuno. Ele disse que tentativas de aplicar o resultado do referendo a territórios disputados, como a cidade de Kirkuk, seriam ilegais –e não está sozinho nessa postura. O segundo maior partido político do Curdistão iraquiano continua até agora se opondo ao referendo, uma posição que reflete a crise política mais ampla na região.

Os aliados dos curdos na região tampouco estão entusiasmados. A União Europeia acautelou contra "medidas unilaterais" da parte de Irbil, e as Nações Unidas se distanciaram de qualquer envolvimento com o referendo. O Departamento de Estado norte-americano declarou que apoiava um "Iraque unido, federativo, estável e democrático", e alertou que o referendo poderia desviar a atenção de "prioridades mais urgentes", como combater o Estado Islâmico.

"Essas atitudes eram esperadas. Queríamos, claro, uma resposta mais positiva", disse Abdul Rahman. "Mas o padrão de outros movimentos de independência demonstra que é isso que podemos esperar. Ninguém quer que fronteiras mudem. Ninguém quer que as coisas mudem".

CURDOS CONTRA O EI

CURDOS CONTRA O EI

Mas, argumentam Abdul Rahman e seus colegas, mudança é inevitável. Na situação atual, o poder do governo iraquiano não se estende muito ao norte de Mossul, cidade na qual uma sangrenta ofensiva do governo contra o Estado Islâmico continua, com apoio dos peshmergas.

O GRC, abençoado com riqueza petroleira e muitos amigos no exterior, tem posição mais forte que a de outros movimentos de independência. E a história que tem a contar é envolvente: a de um Estado independente que será parceiro forte de Bagdá, aliado da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Oriente Médio, e um pilar de estabilidade em uma região instável. Abdul Rahman disse que o Curdistão adotaria uma forma própria de pluralismo étnico.

"Em lugares como Kirkuk, você pode ser cidadão do Curdistão e ao mesmo tempo assírio, turco ou mesmo árabe", disse Abdul Rahman. "Nem todos são curdos, no Curdistão".

Ela também acredita que seja hora de forçar a independência. O Iraque provavelmente realizará eleições no ano que vem e Abdul Rahman aponta para a ameaça de uma maioria xiita intolerante de volta ao poder em Bagdá. Ela também expressou preocupação sobre a predominância de milícias xiitas com apoio iraniano nas partes do norte do Iraque reivindicadas pelos curdos.

"Reconhecemos que realizar o referendo tem seus riscos", ela disse. "Mas não realizá-lo também tem riscos".

Pode ser que o Oriente Médio não esteja a ponto de receber um novo país, mas Abdul Rahman sugere que o caos do momento representa uma oportunidade de secessão. "Não estamos falando de Quebec. Não estamos falando da Escócia", ela disse, sobre movimentos de secessão derrotados em países ocidentais estáveis. "Estamos falando do Iraque".

Tradução de PAULO MIGLIACCI