Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/09/1923188-com-retirada-de-diplomatas-trump-sabota-pacto-com-havana.shtml
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
30/09/2017 02h49
Pode levar algum tempo até que se descubra quem foi o autor dos "ataques acústicos" contra diplomatas americanos em Havana, mas uma coisa é certa: foi a maneira mais fácil e rápida de reverter a aproximação entre Cuba e Estados Unidos, legado do governo Obama.
O governo cubano nega ter participação nos ataques contra os diplomatas americanos.
Nesta sexta-feira (29), Josefina Vidal, responsável no ministério das relações exteriores cubano pela negociação do acordo de reaproximação com os EUA, emitiu uma nota: "Enfatizo que o governo de Cuba não tem responsabilidade alguma nos fatos alegados e consideramos a decisão anunciada pelo departamento de Estado precipitada, e vai afetar as relações bilaterais".
O próprio governo americano não disse, em nenhum momento, que Cuba era culpada.
"Reconhecemos os esforços que o governo cubano tem feito para investigar e sua cooperação para facilitar a investigação americana".
Em off, diplomatas afirmam que tudo indica não ter sido o governo cubano o autor dos ataques.
Mas então, quem foi? E quem ganha com os "ataques acústicos" e o distanciamento entre Cuba e EUA?
"Quem quer que esteja fazendo isso obviamente está tentando interromper o processo de normalização de relações entre os EUA e Cuba. Alguém ou algum governo está tentando reverter o processo", disse o senador democrata Patrick Leahy, que apoia o acordo.
Donald Trump fez campanha dizendo que o acordo de reaproximação com Cuba, firmado por seu antecessor, Barack Obama, em dezembro de 2014, era um "mau acordo".
Em junho, Trump havia anunciado um "cancelamento" do acordo. Mas, na realidade, tinha feito bem pouco - aumentou restrições para viagens de americanos a Cuba e proibiu transações comerciais entre empresas americanas e entidades militares cubanas, que controlam grande parte da economia da ilha.
As relações diplomáticas entre os dois países tinham sido mantidas intactas, com as embaixadas em Washington e Havana seguiram abertas. As remessas e viagens de cubano-americanos tampouco foram afetadas.
Conservadores e a bancada anti-Castro ficaram insatisfeitos. O governo afirmou que iria anunciar novas regras restringindo ainda mais as viagens de americanos à ilha, mas não havia feito isso, até agora. Com a ruptura desta sexta-feira, anti-castristas estão comemorando, embora continuem pedindo medidas mais duras.
Alguns analistas políticos apontam para o suspeito usual –a Rússia. Se o governo do país hackeou o sistema eleitoral americano e usou as redes sociais para garantir a derrota de Hillary Clinton, nêmesis do Kremlin, poderia facilmente ter arquitetado os ataques contra diplomatas americanos para minar as relações Cuba-EUA.
Putin tem se dedicado a uma aproximação com alguns países da região, entre eles Venezuela e Cuba.
Nos últimos anos, a Rússia tem amparado Cuba com fornecimento de petróleo, uma vez que a Venezuela em desintegração não supre mais as necessidades cubanas de combustível. E a Rússia também anunciou que vai investir US$ 2 bilhões no sistema ferroviário do país.
Mas dificilmente num Estado policial como Cuba algum estrangeiro teria atuado por tanto tempo contra diplomatas americanos sem ser detectado pelos serviços de inteligência. Portanto, se fosse um outro país por trás dos ataques, provavelmente o regime de Castro saberia.
E, por fim, restam as dúvidas sobre o "ataque acústico". O governo americano divulgou pouquíssimas informações sobre a agressão. Especialistas acreditam que teriam sido usadas armas que emitem frequências não captadas pela audição humana, muito baixas (infrassom) ou muito altas (ultrassom).
Mas para especialistas ouvidos pelo diário britânico Guardian, Para uma arma dessas causar "perda auditiva" nos diplomatas, como foi dito pelo governo dos EUA, ela teria de ser do tamanho de um carro, o que tornaria o ataque um pouco difícil de esconder. Uma arma dessas causar "danos cerebrais", como foi dito pelo departamento de Estado, parece ainda menos crível.
São muitas perguntas sem resposta. A única certeza é que, ao reduzir ao mínimo o pessoal na embaixada em Havana e suspender a concessão de vistos, além de determinar que qualquer negociação ou encontro bilateral terá de se realizar em solo americano, Trump efetivamente sabota o acordo.
Blog focado em Geografia e em fatos e notícias contemporâneas, que compõem as Atualidades.
sábado, 30 de setembro de 2017
Polêmicas 'Queermuseu' e performance no MAM
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/09/1923259-em-video-joao-doria-condena-mostra-queermuseu-e-performance-no-mam.shtml
DE SÃO PAULO
30/09/2017 15h52 - Atualizado às 17h33
O prefeito de São Paulo, João Doria, publicou neste sábado (30) um vídeo condenando performance do artista Wagner Schwartz no MAM (Museu de Arte Moderna), na capital paulista, e a mostra "Queermuseu", realizada pelo Santander Cultural em Porto Alegre.
"Afrontam o direito, a liberdade e, obviamente, a responsabilidade", diz Doria em vídeo publicado numa rede social.
Ele chamou de "libidinosa" e "absolutamente imprópria" a performance artística no MAM. "Peço que aqueles que promovem a arte no Brasil tenham consciência de que é preciso respeitar àqueles que frequentam os espaços públicos."
No caso do MAM, a polêmica surgiu após fotos e vídeos da performance "La Bête", realizada na última terça (26), viralizarem na internet.
As imagens foram captadas durante a apresentação do coreógrafo carioca Wagner Schwartz –nela, seu corpo nu pode ser manipulado pelo público. A performance, apresentada na abertura da exposição "Brasil em Multiplicação", evoca um "Bicho", obra manipulável da artista Lygia Clark (1920-1988).
Num desses vídeos, aparece uma criança, com a mãe, mexendo nas mãos e nos pés do artista nu. As imagens desencadearam uma onda de acusações de incitação à pedofilia. O Ministério Público de São Paulo abriu investigação para apurar se houve crime ou violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por parte da instituição, do artista ou da mãe da menina.
Ainda neste sábado à tarde, um protesto na porta do museu, reunindo cerca de 30 pessoas contrárias à performance, terminou em agressão contra funcionários.
O MAM afirma que, na ocasião em que a performance foi realizada, havia sinalização alertando sobre nudez e diz que "o trabalho não tem conteúdo erótico". O museu ressaltou ainda que a criança estava com a mãe e lamentou "manifestações de ódio e de intimidação".
Procurado pela Folha, o curador do museu, Felipe Chaimovich, disse que a exposição não será fechada e reafirmou que a performance "não tinha nenhum caráter erótico".
OUTROS CASOS
A polêmica em torno da performance no MAM vem na sequência do fechamento da mostra "Queermuseu", pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, após campanha bem-sucedida de boicote à exposição promovida por grupos conservadores.
Em Campo Grande (MS), um delegado da Polícia Civil ordenou o confisco de um quadro em uma mostra.
Em Jundiaí (SP), um juiz proibiu a apresentação de uma peça que tem uma atriz transgênero no papel de Jesus.
Nesta quinta (28), em recomendação endereçada ao Santander Cultural, o Ministério Público Federal do RS afirmou que o fechamento de uma exposição remete a "situações perigosas da história, como o período nazista".
O MPF recomendou "a imediata reabertura da exposição", sob pena de "adoção das medidas judiciais cabíveis".
O Santander reafirmou que a mostra não será reaberta.
DE SÃO PAULO
30/09/2017 15h52 - Atualizado às 17h33
O prefeito de São Paulo, João Doria, publicou neste sábado (30) um vídeo condenando performance do artista Wagner Schwartz no MAM (Museu de Arte Moderna), na capital paulista, e a mostra "Queermuseu", realizada pelo Santander Cultural em Porto Alegre.
"Afrontam o direito, a liberdade e, obviamente, a responsabilidade", diz Doria em vídeo publicado numa rede social.
Ele chamou de "libidinosa" e "absolutamente imprópria" a performance artística no MAM. "Peço que aqueles que promovem a arte no Brasil tenham consciência de que é preciso respeitar àqueles que frequentam os espaços públicos."
No caso do MAM, a polêmica surgiu após fotos e vídeos da performance "La Bête", realizada na última terça (26), viralizarem na internet.
As imagens foram captadas durante a apresentação do coreógrafo carioca Wagner Schwartz –nela, seu corpo nu pode ser manipulado pelo público. A performance, apresentada na abertura da exposição "Brasil em Multiplicação", evoca um "Bicho", obra manipulável da artista Lygia Clark (1920-1988).
Num desses vídeos, aparece uma criança, com a mãe, mexendo nas mãos e nos pés do artista nu. As imagens desencadearam uma onda de acusações de incitação à pedofilia. O Ministério Público de São Paulo abriu investigação para apurar se houve crime ou violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por parte da instituição, do artista ou da mãe da menina.
Ainda neste sábado à tarde, um protesto na porta do museu, reunindo cerca de 30 pessoas contrárias à performance, terminou em agressão contra funcionários.
O MAM afirma que, na ocasião em que a performance foi realizada, havia sinalização alertando sobre nudez e diz que "o trabalho não tem conteúdo erótico". O museu ressaltou ainda que a criança estava com a mãe e lamentou "manifestações de ódio e de intimidação".
Procurado pela Folha, o curador do museu, Felipe Chaimovich, disse que a exposição não será fechada e reafirmou que a performance "não tinha nenhum caráter erótico".
OUTROS CASOS
A polêmica em torno da performance no MAM vem na sequência do fechamento da mostra "Queermuseu", pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, após campanha bem-sucedida de boicote à exposição promovida por grupos conservadores.
Em Campo Grande (MS), um delegado da Polícia Civil ordenou o confisco de um quadro em uma mostra.
Em Jundiaí (SP), um juiz proibiu a apresentação de uma peça que tem uma atriz transgênero no papel de Jesus.
Nesta quinta (28), em recomendação endereçada ao Santander Cultural, o Ministério Público Federal do RS afirmou que o fechamento de uma exposição remete a "situações perigosas da história, como o período nazista".
O MPF recomendou "a imediata reabertura da exposição", sob pena de "adoção das medidas judiciais cabíveis".
O Santander reafirmou que a mostra não será reaberta.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
Leilão de pré-sal 'marca a volta da Exxon', a maior petroleira americana
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/nelsondesa/2017/09/1922737-leilao-de-pre-sal-marca-a-volta-da-exxon-a-maior-petroleira-americana.shtml
Por: Nelson de Sá
29/09/2017 02h00
"New York Times" e "Wall Street Journal" noticiaram a venda de reservas de petróleo com títulos como "atrai interesse" e se torna "o leilão mais bem-sucedido do país".
Para o "WSJ", a venda "marca a volta da Exxon", maior petroleira americana, que se associou à Petrobras para derrotar a chinesa Cnooc e outras, adquirindo blocos do pré-sal por mais de US$ 1 bilhão.
O jornal destacou que o presidente da estatal, Pedro Parente, afirmou que "a Petrobras é a empresa que tem o maior corpo de informação sobre o mar brasileiro, portanto, vocês podem imaginar que não pagaríamos o quanto pagamos se não tivéssemos informação de que valia".
O "NYT" destacou declaração do hoje consultor Adriano Pires, ex-assessor da Agência Nacional de Petróleo, para quem "o significado [do leilão] é o retorno da Exxon".
CHINA QUER OI
A Cnooc perdeu, mas o site de notícias da chinesa "Sina" deu que a China Telecom contratou o Goldman Sachs como consultor para comprar "o controle de todos os negócios" da telefônica brasileira Oi.
BOLSONARO VS. CHINA
O pré-candidato Jair Bolsonaro deu entrevista à Reuters, sob o título de que "pretende ser o Trump do Brasil". Em relações internacionais, sua "prioridade seria estreitar os laços" com os EUA, que voltariam a ser o maior parceiro comercial, no lugar da China, cujas aquisições seriam barradas:
— A China está tomando conta do Brasil.
BATALHA
Na nova "Economist", a "batalha dos conservadores sociais" latino-americanos contra direitos de mulheres e homossexuais. Suas campanhas vêm obtendo vitórias em países como Peru e Colômbia, onde derrubaram as ministras de educação, e no México.
E ameaçam os "avanços incompletos" no Brasil, por exemplo, onde "cresce o assassinato de homossexuais".
NA JUSTIÇA
Ecoou na quinta, via Associated Press, que a "Suprema Corte do Brasil permite ensino religioso em escolas públicas".
Mas a repercussão maior, sobre a batalha na Justiça, ainda é do juiz que quer permitir que psicólogos "tratem" homossexuais, no título do "Le Monde", o que causa "revolta", segundo a "Der Spiegel". O caso é explorado por tabloides como o "New York Post".
Por: Nelson de Sá
29/09/2017 02h00
"New York Times" e "Wall Street Journal" noticiaram a venda de reservas de petróleo com títulos como "atrai interesse" e se torna "o leilão mais bem-sucedido do país".
Para o "WSJ", a venda "marca a volta da Exxon", maior petroleira americana, que se associou à Petrobras para derrotar a chinesa Cnooc e outras, adquirindo blocos do pré-sal por mais de US$ 1 bilhão.
O jornal destacou que o presidente da estatal, Pedro Parente, afirmou que "a Petrobras é a empresa que tem o maior corpo de informação sobre o mar brasileiro, portanto, vocês podem imaginar que não pagaríamos o quanto pagamos se não tivéssemos informação de que valia".
O "NYT" destacou declaração do hoje consultor Adriano Pires, ex-assessor da Agência Nacional de Petróleo, para quem "o significado [do leilão] é o retorno da Exxon".
CHINA QUER OI
A Cnooc perdeu, mas o site de notícias da chinesa "Sina" deu que a China Telecom contratou o Goldman Sachs como consultor para comprar "o controle de todos os negócios" da telefônica brasileira Oi.
BOLSONARO VS. CHINA
O pré-candidato Jair Bolsonaro deu entrevista à Reuters, sob o título de que "pretende ser o Trump do Brasil". Em relações internacionais, sua "prioridade seria estreitar os laços" com os EUA, que voltariam a ser o maior parceiro comercial, no lugar da China, cujas aquisições seriam barradas:
— A China está tomando conta do Brasil.
BATALHA
Na nova "Economist", a "batalha dos conservadores sociais" latino-americanos contra direitos de mulheres e homossexuais. Suas campanhas vêm obtendo vitórias em países como Peru e Colômbia, onde derrubaram as ministras de educação, e no México.
E ameaçam os "avanços incompletos" no Brasil, por exemplo, onde "cresce o assassinato de homossexuais".
NA JUSTIÇA
Ecoou na quinta, via Associated Press, que a "Suprema Corte do Brasil permite ensino religioso em escolas públicas".
Mas a repercussão maior, sobre a batalha na Justiça, ainda é do juiz que quer permitir que psicólogos "tratem" homossexuais, no título do "Le Monde", o que causa "revolta", segundo a "Der Spiegel". O caso é explorado por tabloides como o "New York Post".
Curdos ainda estão longe de realizar o sonho do país próprio
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/2017/09/1922727-curdos-ainda-estao-longe-de-realizar-o-sonho-do-pais-proprio.shtml
Por Patricia Campos Mello
29/09/2017 02h00
Quase cem anos atrás, os curdos chegaram bem perto do sonho do país próprio, com o efêmero Tratado de Sévres.
O povo que hoje se espalha por quatro países —Irã, Turquia, Iraque e Síria— e chega a 30 milhões, na época era parte do Império Otomano.
Os otomanos foram derrotados na Primeira Guerra Mundial e tiveram seu território repartido entre as potências. E um dos acordos firmados na época, o Tratado de Sévres, determinava que os otomanos renunciariam a todos os territórios que não eram originalmente turcos e dava autonomia ao Curdistão, prevendo um plebiscito.
A alegria foi fugaz. A população turca se revoltou contra o tratado, que impunha enorme perda territorial, e esse foi o estopim da guerra da independência turca.
Em 1923, as potências assinaram o Tratado de Lausanne, que nem sequer mencionava a existência dos curdos.
O atual plebiscito de independência do Governo Regional do Curdistão no Iraque também parece um sonho fugaz de país próprio.
A região do norte do Iraque conhecida como GRC, ocupada pelos curdos, conquistou autonomia em 1991, com incentivo dos americanos. Mas os curdos passaram a pleitear independência total de Bagdá e enfrentam oposição não só do governo iraquiano mas também de outros países como Turquia e Irã, onde há minorias curdas e temor de movimentos separatistas.
Para Bagdá, uma secessão curda implicaria perda de território e de boa parte da produção de petróleo do país. Os curdos reivindicam várias áreas que foram conquistadas pelos soldados peshmerga durante o combate ao Estado Islâmico (EI). Entre elas está Kirkuk, cidade produtora de petróleo com população árabe, cristã e turcomena, contrária ao domínio curdo.
O plebiscito não é vinculante, e o presidente do GRC, Massoud Barzani, quer usar o resultado para se cacifar em negociações com o governo central em Bagdá e para conquistar apoio interno.
Mas o governo xiita em Bagdá não vai aceitar pacificamente. O Parlamento iaquiano está pedindo que o primeiro-ministro Haider al-Abadi envie tropas para ocupar os campos de exploração de petróleo no GRC. Bagdá também afirmou que vai fechar os aeroportos do GRC, em Irbil e Sulaimaniya.
Barzani também melou as relações amigáveis —e economicamente convenientes— com o governo turco ao insistir no plebiscito.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o plebiscito é "ilegítimo" e ameaça cortar o cordão umbilical dos curdos iraquianos com o mundo. O GRC exporta seu petróleo através de um oleoduto que passa pela Turquia.
"Vamos ver como o GRC vai transportar seu petróleo e onde vai vendê-lo", disse Erdogan. "Somos os donos da torneira. No momento em que fecharmos a torneira, acabou."
Os EUA deram corda para os curdos, armando e equipando os peshmerga iraquianos e a milícia curda síria YPG na luta contra o Estado Islâmico, mesmo diante de enormes protestos de Erdogan —que acusa a YPG de ser um braço do PKK, o Partido dos Trabalhadores Curdos, considerado terrorista.
E como salvadores da pátria contra os extremistas do EI —o Exército iraquiano protagonizou um vexame épico em 2014 — os curdos não querem abrir mão dos territórios conquistados e acham que merecem apoio ao pleito pela independência como reconhecimento por seu papel na guerra contra a facção terrorista.
Mas, por enquanto, os únicos a declararem apoio formal à independência dos curdos iraquianos foram os israelenses —o que não é exatamente um incentivo para os demais países da região.
Os americanos já disseram estar "profundamente decepcionados" com a decisão de levar adiante o plebiscito, apesar de elogiarem a "relação histórica" com os curdos. Ou seja, amigos, amigos, negócios à parte. Para lutar contra o EI, tudo bem, mas comprar briga com Bagdá e Turquia, aí já é demais.
Por Patricia Campos Mello
29/09/2017 02h00
Quase cem anos atrás, os curdos chegaram bem perto do sonho do país próprio, com o efêmero Tratado de Sévres.
O povo que hoje se espalha por quatro países —Irã, Turquia, Iraque e Síria— e chega a 30 milhões, na época era parte do Império Otomano.
Os otomanos foram derrotados na Primeira Guerra Mundial e tiveram seu território repartido entre as potências. E um dos acordos firmados na época, o Tratado de Sévres, determinava que os otomanos renunciariam a todos os territórios que não eram originalmente turcos e dava autonomia ao Curdistão, prevendo um plebiscito.
A alegria foi fugaz. A população turca se revoltou contra o tratado, que impunha enorme perda territorial, e esse foi o estopim da guerra da independência turca.
Em 1923, as potências assinaram o Tratado de Lausanne, que nem sequer mencionava a existência dos curdos.
O atual plebiscito de independência do Governo Regional do Curdistão no Iraque também parece um sonho fugaz de país próprio.
A região do norte do Iraque conhecida como GRC, ocupada pelos curdos, conquistou autonomia em 1991, com incentivo dos americanos. Mas os curdos passaram a pleitear independência total de Bagdá e enfrentam oposição não só do governo iraquiano mas também de outros países como Turquia e Irã, onde há minorias curdas e temor de movimentos separatistas.
Para Bagdá, uma secessão curda implicaria perda de território e de boa parte da produção de petróleo do país. Os curdos reivindicam várias áreas que foram conquistadas pelos soldados peshmerga durante o combate ao Estado Islâmico (EI). Entre elas está Kirkuk, cidade produtora de petróleo com população árabe, cristã e turcomena, contrária ao domínio curdo.
O plebiscito não é vinculante, e o presidente do GRC, Massoud Barzani, quer usar o resultado para se cacifar em negociações com o governo central em Bagdá e para conquistar apoio interno.
Mas o governo xiita em Bagdá não vai aceitar pacificamente. O Parlamento iaquiano está pedindo que o primeiro-ministro Haider al-Abadi envie tropas para ocupar os campos de exploração de petróleo no GRC. Bagdá também afirmou que vai fechar os aeroportos do GRC, em Irbil e Sulaimaniya.
Barzani também melou as relações amigáveis —e economicamente convenientes— com o governo turco ao insistir no plebiscito.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o plebiscito é "ilegítimo" e ameaça cortar o cordão umbilical dos curdos iraquianos com o mundo. O GRC exporta seu petróleo através de um oleoduto que passa pela Turquia.
"Vamos ver como o GRC vai transportar seu petróleo e onde vai vendê-lo", disse Erdogan. "Somos os donos da torneira. No momento em que fecharmos a torneira, acabou."
Os EUA deram corda para os curdos, armando e equipando os peshmerga iraquianos e a milícia curda síria YPG na luta contra o Estado Islâmico, mesmo diante de enormes protestos de Erdogan —que acusa a YPG de ser um braço do PKK, o Partido dos Trabalhadores Curdos, considerado terrorista.
E como salvadores da pátria contra os extremistas do EI —o Exército iraquiano protagonizou um vexame épico em 2014 — os curdos não querem abrir mão dos territórios conquistados e acham que merecem apoio ao pleito pela independência como reconhecimento por seu papel na guerra contra a facção terrorista.
Mas, por enquanto, os únicos a declararem apoio formal à independência dos curdos iraquianos foram os israelenses —o que não é exatamente um incentivo para os demais países da região.
Os americanos já disseram estar "profundamente decepcionados" com a decisão de levar adiante o plebiscito, apesar de elogiarem a "relação histórica" com os curdos. Ou seja, amigos, amigos, negócios à parte. Para lutar contra o EI, tudo bem, mas comprar briga com Bagdá e Turquia, aí já é demais.
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
Por que o protesto dos jogadores da NFL não chega ao Brasil?
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/2017/09/1922455-por-que-o-protesto-dos-jogadores-da-nfl-nao-chega-ao-brasil.shtml
Por Juca Kfouri
28/09/2017 02h00
As respostas são inúmeras: os atletas brasileiros não protestam contra a situação do país, ou mesmo contra as barbaridades cometidas pela CBF e pelo COB, porque, vítimas do sistema educacional brasileiro, não têm a menor ideia do que seja a cidadania; ou, também, porque vivem voltados para os próprios umbigos, individualistas ao extremo; ou, ainda, porque temem as retaliações da superestrutura do esporte nacional.
Quaisquer que sejam as respostas há um dado que a vida ensina: o de não exigir heroísmo com o pescoço alheio.
Aos americanos que têm dado o exemplo de manter a coluna ereta diante os desmandos do desequilibrado presidente Trump, eleito pela minoria do povo dos Estados Unidos, é muito mais fácil.
Eles sabem quão poderosos são e não se curvam.
Aqui são outros 500.
Não apenas falta coragem como sobram as experiências malsucedidas.
A famosa Democracia Corinthiana no começo dos anos de 1980 triunfou por algum tempo, dois anos, em 1982/83, mas sucumbiu com a derrota das Diretas Já e talvez só tenha sido possível porque com o apoio da direção do clube, experiência única e circunscrita aos limites de uma agremiação.
Além de ter sido fruto da feliz reunião de Três Mosqueteiros raros: o libertário Sócrates, o articulado Wladimir e o revoltado Casagrande.
O quarto, como D'Artagnan, era o dirigente Adilson Monteiro Alves.
Já o movimento mais recente, o Bom Senso FC, também efêmero entre os anos 2013 e 2016, evaporou-se diante das retaliações silenciosas que obrigaram seu líder, Paulo André, a optar entre encerrar a carreira precocemente ou se sujeitar às ordens superiores.
Obrigado a passar uma temporada na China, ao voltar ao Brasil, para jogar no Cruzeiro, ouviu de seu técnico que não poderia escalá-lo caso seguisse como crítico da CBF e das condições impostas aos jogadores pelo país afora.
Fortemente motivado ao nascer pelas manifestações de junho de 2013, o Bom Senso também se esvaiu, como os protestos de então se diluíram.
Hoje o presidente da CBF está obrigado a viver dentro das fronteiras brasileiras, assim como o do COB, e o presidente da República é um nada duas vezes denunciado pela Justiça, com um ministério que mais parece uma quadrilha.
Mas as ruas estão mudas.
Marco Polo Del Nero, Carlos Arthur Nuzman, Michel Miguel Elias Temer Lulia, são três fantasmas a assombrar nosso cenário, alvos do escárnio e da chacota mundiais.
Casagrande criticou na TV a alienação ampla, geral e irrestrita dos futebolistas do Patropi.
Ele até pode, porque pôs o seu pescoço em risco quando jogava.
Mesmo assim, neste país em que apareceu um novo general Aragão para rivalizar com o original –que se autodenominava, nos tristes tempos do golpe de 1964, como "vaca fardada"–, está difícil exigir de quem quer seja algo mais que tratar de seus interesses cotidianos.
Porque estamos infestados por boçais que são capazes até de mandar os dignos atletas da NFL para Coreia do Norte ou para Cuba, ou de chamá-los de comunistas, quando são apenas cidadãos.
Gritar hoje contra a corrupção virou mais hipocrisia que real indignação, Aécio Neves que o diga.
Por Juca Kfouri
28/09/2017 02h00
As respostas são inúmeras: os atletas brasileiros não protestam contra a situação do país, ou mesmo contra as barbaridades cometidas pela CBF e pelo COB, porque, vítimas do sistema educacional brasileiro, não têm a menor ideia do que seja a cidadania; ou, também, porque vivem voltados para os próprios umbigos, individualistas ao extremo; ou, ainda, porque temem as retaliações da superestrutura do esporte nacional.
Quaisquer que sejam as respostas há um dado que a vida ensina: o de não exigir heroísmo com o pescoço alheio.
Aos americanos que têm dado o exemplo de manter a coluna ereta diante os desmandos do desequilibrado presidente Trump, eleito pela minoria do povo dos Estados Unidos, é muito mais fácil.
Eles sabem quão poderosos são e não se curvam.
Aqui são outros 500.
Não apenas falta coragem como sobram as experiências malsucedidas.
A famosa Democracia Corinthiana no começo dos anos de 1980 triunfou por algum tempo, dois anos, em 1982/83, mas sucumbiu com a derrota das Diretas Já e talvez só tenha sido possível porque com o apoio da direção do clube, experiência única e circunscrita aos limites de uma agremiação.
Além de ter sido fruto da feliz reunião de Três Mosqueteiros raros: o libertário Sócrates, o articulado Wladimir e o revoltado Casagrande.
O quarto, como D'Artagnan, era o dirigente Adilson Monteiro Alves.
Já o movimento mais recente, o Bom Senso FC, também efêmero entre os anos 2013 e 2016, evaporou-se diante das retaliações silenciosas que obrigaram seu líder, Paulo André, a optar entre encerrar a carreira precocemente ou se sujeitar às ordens superiores.
Obrigado a passar uma temporada na China, ao voltar ao Brasil, para jogar no Cruzeiro, ouviu de seu técnico que não poderia escalá-lo caso seguisse como crítico da CBF e das condições impostas aos jogadores pelo país afora.
Fortemente motivado ao nascer pelas manifestações de junho de 2013, o Bom Senso também se esvaiu, como os protestos de então se diluíram.
Hoje o presidente da CBF está obrigado a viver dentro das fronteiras brasileiras, assim como o do COB, e o presidente da República é um nada duas vezes denunciado pela Justiça, com um ministério que mais parece uma quadrilha.
Mas as ruas estão mudas.
Marco Polo Del Nero, Carlos Arthur Nuzman, Michel Miguel Elias Temer Lulia, são três fantasmas a assombrar nosso cenário, alvos do escárnio e da chacota mundiais.
Casagrande criticou na TV a alienação ampla, geral e irrestrita dos futebolistas do Patropi.
Ele até pode, porque pôs o seu pescoço em risco quando jogava.
Mesmo assim, neste país em que apareceu um novo general Aragão para rivalizar com o original –que se autodenominava, nos tristes tempos do golpe de 1964, como "vaca fardada"–, está difícil exigir de quem quer seja algo mais que tratar de seus interesses cotidianos.
Porque estamos infestados por boçais que são capazes até de mandar os dignos atletas da NFL para Coreia do Norte ou para Cuba, ou de chamá-los de comunistas, quando são apenas cidadãos.
Gritar hoje contra a corrupção virou mais hipocrisia que real indignação, Aécio Neves que o diga.
O que é o referendo pela independência catalã?
Fonte:http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/09/28/o-que-e-o-referendo-pela-independencia-catala/
POR DIOGO BERCITO
28/09/2017 00:29
Vocês se distraíram nas últimas semanas, entre furacões, terremotos e declarações variegadas de Donald Trump. Mas, sorrateira, a questão catalã chega ao fim de semana como um dos grandes temas noticiosos do momento — sobre o qual é preciso se informar um pouco mais. Quem são os catalães, por que querem a independência e o que vai acontecer? O Orientalíssimo blog explica.
O QUE É A CATALUNHA?
No nordeste do país, essa é uma das 17 regiões espanholas. Vivem ali 7,5 milhões de pessoas, responsáveis por quase 20% do PIB espanhol. Sua capital, Barcelona, foi sede da Olimpíada de 1992 e recebe oito milhões de turistas por ano. A Catalunha está sujeita ao governo central espanhol, mas tem algum nível de autonomia, com uma administração regional e sua própria polícia.

POR QUE QUEREM SER INDEPENDENTES?
É uma luta antiga dessa região, influenciada pelos nacionalismos do século 19. A Catalunha tem uma história e uma língua próprias e quer se separar da Espanha. Um dos argumentos recorrentes é sua pujança econômica, não revertida de maneira proporcional nos investimentos do governo central.
POR QUE AGORA?
A Catalunha é governada por uma coalizão de partidos separatistas desde 2015, e a independência é o ápice de seus programas políticos. O cálculo é que a mobilização vai aumentar sua base eleitoral.
O REFERENDO É LEGAL?
A rigor, não. O governo de Madri já avisou inúmeras vezes que essa consulta viola a Constituição espanhola, que não prevê esse tipo de medida. A lei catalã para a realização do referendo deste domingo foi suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol —algo ignorado pelos separatistas.
COMO MADRI TEM REAGIDO?
O governo espanhol tomou diversas medidas para impedir o referendo. A polícia recolheu 9,8 milhões de cédulas, por exemplo, e as cartas de convocação aos mesários. Madri também deteve membros da organização da consulta e aplicou multas a organismos catalães. Dezenas de sites com informações sobre o voto foram derrubados pelas autoridades durante esta semana.
TODO O MUNDO QUER SER INDEPENDENTE?
Não. Em uma sondagem de 2012, apenas 51% dos catalães disseram aprovar a independência, segundo o Centre d’Estudis d’Opinió. Essa é uma das questões sociais mais urgentes em torno do referendo: o que aconteceria com a metade que prefere continuar sendo espanhola?
É A PRIMEIRA TENTATIVA?
Não. Houve uma consulta em novembro de 2014 em que 80% dos eleitores votaram pela independência —mas apenas 2,2 milhões dos 5,4 milhões de eleitores participou, o que dá pouco sustento à separação. Como o referendo deste domingo, aquele voto foi considerado ilegal.
O QUE ACONTECE SE A INDEPENDÊNCIA FOR APROVADA?
O Parlamento catalão pode, em tese, declarar a independência unilateral em 48 horas, o que não tem efeito legal, na interpretação do governo central. Madri pode, em caráter emergencial, tomar o controle administrativo de toda a região e deter o presidente catalão, Carles Puigdemont.
A SITUAÇÃO PODE SE AGRAVAR?
Sim. Não ao ponto da violência, mas é possível que em termos políticos a Espanha passe por um período de crise. O fervor independentista catalão foi um dos gatilhos para a guerra civil espanhola, que levou à ditadura de Francisco Franco. A língua catalã foi proibida durante o regime.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS?
O primeiro-ministro Mariano Rajoy, do conservador PP (Partido Popular), governa hoje em uma coalizão de minoria. A crise catalã pode levar a pressões insuportáveis em seu gabinete, com a exigência da oposição de que ele renuncie. Ele pode dar a volta por cima, no entanto, convocando eleições antecipadas e se apresentando como o único candidato capaz de governar nesta crise.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS, SE HOUVER INDEPENDÊNCIA?
No curto prazo, haveria impacto negativo tanto na Catalunha quanto no restante da Espanha. Mas o governo catalão espera aproveitar sua forte economia para se consolidar no cenário internacional.
A CATALUNHA SERIA PARTE DA UNIÃO EUROPEIA?
Não imediatamente. Em tese, como era o caso quando a Escócia votou por sua independência e foi derrotada, a Catalunha precisaria entrar no fim da fila para aderir ao bloco. Nem está claro se os independentistas gostariam desse cenário —parte é contrária à moeda comum europeia, o euro.
POR DIOGO BERCITO
28/09/2017 00:29
Vocês se distraíram nas últimas semanas, entre furacões, terremotos e declarações variegadas de Donald Trump. Mas, sorrateira, a questão catalã chega ao fim de semana como um dos grandes temas noticiosos do momento — sobre o qual é preciso se informar um pouco mais. Quem são os catalães, por que querem a independência e o que vai acontecer? O Orientalíssimo blog explica.
O QUE É A CATALUNHA?
No nordeste do país, essa é uma das 17 regiões espanholas. Vivem ali 7,5 milhões de pessoas, responsáveis por quase 20% do PIB espanhol. Sua capital, Barcelona, foi sede da Olimpíada de 1992 e recebe oito milhões de turistas por ano. A Catalunha está sujeita ao governo central espanhol, mas tem algum nível de autonomia, com uma administração regional e sua própria polícia.

POR QUE QUEREM SER INDEPENDENTES?
É uma luta antiga dessa região, influenciada pelos nacionalismos do século 19. A Catalunha tem uma história e uma língua próprias e quer se separar da Espanha. Um dos argumentos recorrentes é sua pujança econômica, não revertida de maneira proporcional nos investimentos do governo central.
POR QUE AGORA?
A Catalunha é governada por uma coalizão de partidos separatistas desde 2015, e a independência é o ápice de seus programas políticos. O cálculo é que a mobilização vai aumentar sua base eleitoral.
O REFERENDO É LEGAL?
A rigor, não. O governo de Madri já avisou inúmeras vezes que essa consulta viola a Constituição espanhola, que não prevê esse tipo de medida. A lei catalã para a realização do referendo deste domingo foi suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol —algo ignorado pelos separatistas.
COMO MADRI TEM REAGIDO?
O governo espanhol tomou diversas medidas para impedir o referendo. A polícia recolheu 9,8 milhões de cédulas, por exemplo, e as cartas de convocação aos mesários. Madri também deteve membros da organização da consulta e aplicou multas a organismos catalães. Dezenas de sites com informações sobre o voto foram derrubados pelas autoridades durante esta semana.
TODO O MUNDO QUER SER INDEPENDENTE?
Não. Em uma sondagem de 2012, apenas 51% dos catalães disseram aprovar a independência, segundo o Centre d’Estudis d’Opinió. Essa é uma das questões sociais mais urgentes em torno do referendo: o que aconteceria com a metade que prefere continuar sendo espanhola?
É A PRIMEIRA TENTATIVA?
Não. Houve uma consulta em novembro de 2014 em que 80% dos eleitores votaram pela independência —mas apenas 2,2 milhões dos 5,4 milhões de eleitores participou, o que dá pouco sustento à separação. Como o referendo deste domingo, aquele voto foi considerado ilegal.
O QUE ACONTECE SE A INDEPENDÊNCIA FOR APROVADA?
O Parlamento catalão pode, em tese, declarar a independência unilateral em 48 horas, o que não tem efeito legal, na interpretação do governo central. Madri pode, em caráter emergencial, tomar o controle administrativo de toda a região e deter o presidente catalão, Carles Puigdemont.
A SITUAÇÃO PODE SE AGRAVAR?
Sim. Não ao ponto da violência, mas é possível que em termos políticos a Espanha passe por um período de crise. O fervor independentista catalão foi um dos gatilhos para a guerra civil espanhola, que levou à ditadura de Francisco Franco. A língua catalã foi proibida durante o regime.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS?
O primeiro-ministro Mariano Rajoy, do conservador PP (Partido Popular), governa hoje em uma coalizão de minoria. A crise catalã pode levar a pressões insuportáveis em seu gabinete, com a exigência da oposição de que ele renuncie. Ele pode dar a volta por cima, no entanto, convocando eleições antecipadas e se apresentando como o único candidato capaz de governar nesta crise.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS, SE HOUVER INDEPENDÊNCIA?
No curto prazo, haveria impacto negativo tanto na Catalunha quanto no restante da Espanha. Mas o governo catalão espera aproveitar sua forte economia para se consolidar no cenário internacional.
A CATALUNHA SERIA PARTE DA UNIÃO EUROPEIA?
Não imediatamente. Em tese, como era o caso quando a Escócia votou por sua independência e foi derrotada, a Catalunha precisaria entrar no fim da fila para aderir ao bloco. Nem está claro se os independentistas gostariam desse cenário —parte é contrária à moeda comum europeia, o euro.
Nosso grande problema é político, diz Piketty em palestra
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1922560-nosso-grande-problema-e-politico-diz-piketty-em-palestra.shtml
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
DE SÃO PAULO
28/09/2017 14h03
Astro entre os economistas por seu trabalho sobre desigualdade publicado em 2014, o pesquisador francês Thomas Piketty está hoje muito mais preocupado com a política.
Mais especificamente, em como criar novas estruturas políticas. "A democracia eleitoral não consegue mais produzir desenvolvimento em que a grande maioria obtenha bem-estar", disse mais de uma vez em conferência no Fronteiras do Pensamento na noite desta quarta (27).
Durante uma hora e dois minutos, para uma plateia cheia e em inglês com forte sotaque e entonação francesa (em que "this" soa como "zis" e "high" soa como "ai"), ele tentou ir além das conclusões centrais de seu trabalho mais famoso, publicado em "O Capital no Século 21".
Resultado de seu doutorado na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais da França e na London School of Economics, a obra analisa dados de vários países do mundo e sustenta que a desigualdade disparou nas últimas décadas principalmente porque os muito ricos se apropriaram de uma parcela ainda maior da riqueza.
E O BRASIL?
Sua pesquisa foi comentada e criticada por economistas de várias linhas, tanto pela metodologia usada (que precisou "uniformizar" dados díspares para poder compará-los) quanto pelas possíveis conclusões a serem tiradas dos resultados.
VERDADES RELATIVAS
Pela ótica econômica, as principais questões do debate têm sido se a desigualdade é um mal em si, capaz de causar males como retardar o crescimento ou atrapalhar a eficiência econômica. Afinal, se os pobres também estiverem enriquecendo, que mal faz se os mais ricos também ficam mais ricos?
Em vez de combater a desigualdade, não seria melhor combater a pobreza?
Tal discussão não preocupa Piketty. "Nós, das ciências humanas, não temos verdade absoluta sobre nada. Todos fazemos recortes das realidades. Para mim, o que importa agora é que sejamos capazes agora de olhar para o que ocorreu antes e tirar lições para evitar novos erros no futuro. E a história deixa claro que o cerne da desigualdade não é técnico, mas político."
Uma das lições enunciadas por ele é a de que a desigualdade não promoveu crescimento no passado, e que o desenvolvimento na Europa Ocidental e nos Estados Unidos só aconteceu depois de graves crises políticas, incluindo guerras, que obviamente não queremos que se repitam.
PANELA DE PRESSÃO
Mas está no fogo uma panela de pressão política e social, afirma o pesquisador: os fluxos de capital amplificados pela globalização impedem que os países resolvam internamente a redistribuição de recursos. Isso abriu a porta para os que prometem proteger os "deixados para trás" impedindo a atuação de outros igualmente pobres: imigrantes, pessoas de outras etnias ou outras regiões.
"Não é determinismo, mas estratégia política. O discurso viável para apelar aos destituídos hoje é o do nacionalismo e o da raça. Precisamos criar novas instituições que permitam redistribuir o acesso a educação de qualidade, que leva a oportunidades e a bem-estar social."
Como toda política pública tem preço, a principal solução defendida por Piketty para financiar um novo modelo tem sido impostos altos sobre os muito-muito-ricos (o 1% mais rico da população) e, mais especificamente, sobre a herança.
Nesse ponto, Piketty se aproxima de intelectuais americanos que vêm promovendo o ideal do Novo Progressismo, como define o professor de Harvard Cass Sustein, um dos conselheiros do ex-presidente americano Barack Obama, que o francês já declarou admirar.
Em termos muito simples, trata-se de discutir uma engenharia social que permita ao mesmo tempo manter a inovação e o vigor econômico e garantir a todos direitos básicos como educação de ponta, trabalho com remuneração decente, acesso a serviços de saúde.
As propostas de Sustein passam também por decisões sobre impostos, mas não só (o artigo em que a apresenta a ideia pode ser lido aqui ).
Na parte de perguntas, o francês mencionou trabalho recém-publicado pelo World Wealth and Income Database —instituto do qual ele é um dos diretores—, que conclui que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis "chocantes".
ELITE BRASILEIRA
O pesquisador ressaltou não ter pretensão de dar lições ao Brasil. "Mas a elite brasileira pode ser mais esperta e aprender com o outras já fizeram". Entre os pontos está "pagar algo mais que ínfimos 4% sobre heranças bilionárias e contribuir para melhores serviços públicos que cheguem ao maior número de pessoas".
"Porque, afinal, o que todos nós queremos é que nossos filhos possam trabalhar e prosperar com saúde e em segurança, que tenham uma vida melhor. Sabotar o desenvolvimento do próprio país não é positivo."
NA ESTANTE
Conhecido por ter incluído em "O Capital" trechos de romancistas que descrevem a sociedade do século 19, como Honoré de Balzac, Piketty encerrou o debate indicando, a pedido do mediador, uma obra literária que ambientasse bem a sociedade atual.
Divulgação
capa de romance sugerido por Piketty
Romance que, segundo Piketty, é relato bem-humorado das contradições do capitalismo atual
Disse que a realidade hoje muda muito mais rapidamente, mas sugeriu o romance "L'invention de la Pauvreté" (a invenção da pobreza, na versão original francesa, sem tradução), de Tancréde Voituriez, em que um grupo de bilionários e economistas que querem fazer a pobreza desaparecer. "É um relato bem-humorado das contradições do capitalismo atual."
Criado há dez anos e realizado com apoio da Folha, o Fronteiras do Pensamento organiza conferências internacionais em Porto Alegre, São Paulo e Salvador.
O objetivo é abordar temas que traduzam o mundo contemporâneo, e o conteúdo gerado, que inclui filmes, vídeos, livros e fascículos, pode ser consultado em www.fronteiras.com.
L'INVENTION DE LA PAUVRETÉ
AUTOR Tancréde Voituriez
EDITORA Grasset
QUANTO 22 euros (edição brochura, 448 págs.)
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
DE SÃO PAULO
28/09/2017 14h03
Astro entre os economistas por seu trabalho sobre desigualdade publicado em 2014, o pesquisador francês Thomas Piketty está hoje muito mais preocupado com a política.
Mais especificamente, em como criar novas estruturas políticas. "A democracia eleitoral não consegue mais produzir desenvolvimento em que a grande maioria obtenha bem-estar", disse mais de uma vez em conferência no Fronteiras do Pensamento na noite desta quarta (27).
Durante uma hora e dois minutos, para uma plateia cheia e em inglês com forte sotaque e entonação francesa (em que "this" soa como "zis" e "high" soa como "ai"), ele tentou ir além das conclusões centrais de seu trabalho mais famoso, publicado em "O Capital no Século 21".
Resultado de seu doutorado na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais da França e na London School of Economics, a obra analisa dados de vários países do mundo e sustenta que a desigualdade disparou nas últimas décadas principalmente porque os muito ricos se apropriaram de uma parcela ainda maior da riqueza.
E O BRASIL?
Sua pesquisa foi comentada e criticada por economistas de várias linhas, tanto pela metodologia usada (que precisou "uniformizar" dados díspares para poder compará-los) quanto pelas possíveis conclusões a serem tiradas dos resultados.
VERDADES RELATIVAS
Pela ótica econômica, as principais questões do debate têm sido se a desigualdade é um mal em si, capaz de causar males como retardar o crescimento ou atrapalhar a eficiência econômica. Afinal, se os pobres também estiverem enriquecendo, que mal faz se os mais ricos também ficam mais ricos?
Em vez de combater a desigualdade, não seria melhor combater a pobreza?
Tal discussão não preocupa Piketty. "Nós, das ciências humanas, não temos verdade absoluta sobre nada. Todos fazemos recortes das realidades. Para mim, o que importa agora é que sejamos capazes agora de olhar para o que ocorreu antes e tirar lições para evitar novos erros no futuro. E a história deixa claro que o cerne da desigualdade não é técnico, mas político."
Uma das lições enunciadas por ele é a de que a desigualdade não promoveu crescimento no passado, e que o desenvolvimento na Europa Ocidental e nos Estados Unidos só aconteceu depois de graves crises políticas, incluindo guerras, que obviamente não queremos que se repitam.
PANELA DE PRESSÃO
Mas está no fogo uma panela de pressão política e social, afirma o pesquisador: os fluxos de capital amplificados pela globalização impedem que os países resolvam internamente a redistribuição de recursos. Isso abriu a porta para os que prometem proteger os "deixados para trás" impedindo a atuação de outros igualmente pobres: imigrantes, pessoas de outras etnias ou outras regiões.
"Não é determinismo, mas estratégia política. O discurso viável para apelar aos destituídos hoje é o do nacionalismo e o da raça. Precisamos criar novas instituições que permitam redistribuir o acesso a educação de qualidade, que leva a oportunidades e a bem-estar social."
Como toda política pública tem preço, a principal solução defendida por Piketty para financiar um novo modelo tem sido impostos altos sobre os muito-muito-ricos (o 1% mais rico da população) e, mais especificamente, sobre a herança.
Nesse ponto, Piketty se aproxima de intelectuais americanos que vêm promovendo o ideal do Novo Progressismo, como define o professor de Harvard Cass Sustein, um dos conselheiros do ex-presidente americano Barack Obama, que o francês já declarou admirar.
Em termos muito simples, trata-se de discutir uma engenharia social que permita ao mesmo tempo manter a inovação e o vigor econômico e garantir a todos direitos básicos como educação de ponta, trabalho com remuneração decente, acesso a serviços de saúde.
As propostas de Sustein passam também por decisões sobre impostos, mas não só (o artigo em que a apresenta a ideia pode ser lido aqui ).
Na parte de perguntas, o francês mencionou trabalho recém-publicado pelo World Wealth and Income Database —instituto do qual ele é um dos diretores—, que conclui que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis "chocantes".
ELITE BRASILEIRA
O pesquisador ressaltou não ter pretensão de dar lições ao Brasil. "Mas a elite brasileira pode ser mais esperta e aprender com o outras já fizeram". Entre os pontos está "pagar algo mais que ínfimos 4% sobre heranças bilionárias e contribuir para melhores serviços públicos que cheguem ao maior número de pessoas".
"Porque, afinal, o que todos nós queremos é que nossos filhos possam trabalhar e prosperar com saúde e em segurança, que tenham uma vida melhor. Sabotar o desenvolvimento do próprio país não é positivo."
NA ESTANTE
Conhecido por ter incluído em "O Capital" trechos de romancistas que descrevem a sociedade do século 19, como Honoré de Balzac, Piketty encerrou o debate indicando, a pedido do mediador, uma obra literária que ambientasse bem a sociedade atual.
Divulgação
capa de romance sugerido por Piketty
Romance que, segundo Piketty, é relato bem-humorado das contradições do capitalismo atual
Disse que a realidade hoje muda muito mais rapidamente, mas sugeriu o romance "L'invention de la Pauvreté" (a invenção da pobreza, na versão original francesa, sem tradução), de Tancréde Voituriez, em que um grupo de bilionários e economistas que querem fazer a pobreza desaparecer. "É um relato bem-humorado das contradições do capitalismo atual."
Criado há dez anos e realizado com apoio da Folha, o Fronteiras do Pensamento organiza conferências internacionais em Porto Alegre, São Paulo e Salvador.
O objetivo é abordar temas que traduzam o mundo contemporâneo, e o conteúdo gerado, que inclui filmes, vídeos, livros e fascículos, pode ser consultado em www.fronteiras.com.
L'INVENTION DE LA PAUVRETÉ
AUTOR Tancréde Voituriez
EDITORA Grasset
QUANTO 22 euros (edição brochura, 448 págs.)
Brasil não cresce se não reduzir sua desigualdade, diz Thomas Piketty
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1922435-brasil-nao-cresce-se-nao-reduzir-sua-desigualdade-diz-thomas-piketty.shtml
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
28/09/2017 02h00
O Brasil não voltará a crescer de forma sustentável enquanto não reduzir sua desigualdade e a extrema concentração da renda no topo da pirâmide social, diz o economista francês Thomas Piketty.
Autor de "O Capital no Século 21", em que apontou um aumento da concentração no topo da pirâmide social nos Estados Unidos e na Europa, Piketty agora se dedica a um grupo de pesquisas que investiga o que ocorreu em países em desenvolvimento como o Brasil, a China e a Índia.
Os primeiros resultados obtidos para o Brasil foram publicados no início do mês pelo irlandês Marc Morgan, estudante de doutorado da Escola de Economia de Paris que tem Piketty como orientador.
O trabalho de Morgan, que incorpora informações de declarações do Imposto de Renda e outras estatísticas, sugere que a desigualdade brasileira é maior do que pesquisas anteriores indicavam e calcula que os 10% mais ricos da população ficam com mais da metade da renda no Brasil.
Defensor de reformas que tornem o sistema tributário mais progressivo, aumentando os impostos cobrados sobre a renda e o patrimônio dos mais ricos, Piketty chegou ao país nesta quarta (27) para conferências do projeto Fronteiras do Pensamento em São Paulo e Porto Alegre.
Leia a entrevista de Piketty à Folha.
*
Folha - O estudo de Morgan mostra que a renda da metade mais pobre aumentou junto com a dos mais ricos. Por que a concentração no topo da pirâmide é tão preocupante?
Thomas Piketty - Porque, apesar dos avanços dos últimos anos, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Em nossa base de dados, só encontramos grau de desigualdade semelhante na África do Sul e em países do Oriente Médio.
Houve um pequeno progresso nos segmentos inferiores da distribuição da renda, beneficiados por programas sociais e pela valorização do salário mínimo. É alguma coisa, mas os pobres ganharam às custas da classe média, não dos mais ricos, e a desigualdade continua muito grande.
Reduzir a desigualdade é só questão de justiça social ou de eficiência econômica também?
Ambos. O grau de desigualdade extrema que encontramos no Brasil não é bom para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável.
A história dos EUA e da Europa mostra que só depois de grandes choques políticos como as duas grandes guerras do século 20 a desigualdade diminuiu e a economia cresceu com vigor, permitindo que fatias maiores da população colhessem os benefícios.
No Brasil, podemos concluir que as elites políticas e os diferentes partidos que governaram o país nos últimos anos foram incapazes de executar políticas que levassem a uma distribuição mais igualitária da renda e da riqueza. Acho que isso é precondição para o crescimento econômico.
Seus dados indicam que a fatia da renda nas mãos dos mais ricos vem se mantendo intacta no Brasil. Por quê?
Parte da explicação pode estar na história do país, o último a abolir a escravidão no século 19, como você sabe. Mas isso não é tudo. Diferentes políticas governamentais poderiam ter feito diferença.
O sistema tributário é pouco progressivo no Brasil. Há isenções para rendas de capital, como os dividendos pagos pelas empresas a seus acionistas. Impostos sobre rendas mais altas e heranças têm alíquotas muito baixas no Brasil, se comparadas com o que se vê em países mais avançados.
Alguns desses países fazem isso há um século, o que contribuiu para reduzir a concentração da riqueza. Se você olhar os Estados Unidos, a Alemanha, a França, o Japão, em todos esses países a alíquota mais alta do Imposto de Renda está entre 35 e 50%. [No Brasil, a alíquota máxima do Imposto de Renda é de 27,5%.]
Qual o risco de uma taxação maior das rendas mais elevadas provocar fuga de investidores para outras jurisdições?
A elite sempre tem um monte de desculpas para não pagar impostos, e isso também ocorre em outras partes do mundo. A questão é saber por que a elite no Brasil tem sido bem-sucedida ao evitar mudanças no sistema tributário.
Em outros países, as elites não aceitaram pacificamente pagar mais impostos. Foi um processo caótico e violento muitas vezes. Espero que o Brasil tenha mais sorte e possa fazer isso sem passar por choques traumáticos como as guerras. É deprimente ver que décadas de democracia no Brasil foram incapazes de promover mudanças nessa área.
Não sei o futuro. Mas posso dizer que é possível ter um sistema tributário mais justo, uma distribuição da renda e da riqueza mais equilibrada, e mais crescimento econômico, ao mesmo tempo. Essa foi a experiência de outros países.
Gastar energia para resolver esse problema não tiraria o foco de políticas sociais que poderiam contribuir mais para a redução da desigualdade?
Você precisa fazer as duas coisas. Morgan mostra que as políticas sociais adotadas nos últimos anos foram boas para os pobres, mas insuficientes. Você precisa melhorar as condições de vida deles e investir em educação e infraestrutura, mas precisa de um sistema tributário mais justo para financiar isso e reduzir a concentração da renda no topo.
Não estou aqui para dar lições a ninguém. Há muita hipocrisia no meu país quando se trata desse assunto. Mas acredito que no fim todos se beneficiam com um sistema tributário mais justo e uma sociedade menos desigual, mais inclusiva e mais estável.
Qual o foco do seu trabalho acadêmico no momento?
Estou procurando ampliar nossa base de dados com ajuda de outros pesquisadores, incluindo informações sobre o Brasil, a China, a Índia e outros países em desenvolvimento. Também quero examinar mais detidamente a evolução das atitudes políticas com relação à desigualdade.
Em países como os EUA e a França, temos visto a ascensão do nacionalismo e da xenofobia, e quero entender melhor o que significa. O maior risco criado pelo aumento da desigualdade é a ascensão do racismo e da xenofobia.
Se não resolvermos o problema da desigualdade de forma pacífica e democrática, vamos sempre ter políticos tentando explorar a frustração causada pela desigualdade, incentivando a xenofobia e pondo a culpa dos nossos problemas sociais em imigrantes e trabalhadores estrangeiros.
É um risco para a globalização e os fluxos de comércio. A eleição de Donald Trump nos EUA e a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia não foram uma coincidência. São os dois países ocidentais em que a desigualdade mais cresceu nos últimos anos.
RAIO-X
Idade
46 anos
Formação
Matemática na Escola Normal Superior de Paris; Ph.D. em Economia na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais
Carreira
Professor da Escola de Economia de Paris desde 2007; professor da Escola de Altos Estudos desde 2000
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
28/09/2017 02h00
O Brasil não voltará a crescer de forma sustentável enquanto não reduzir sua desigualdade e a extrema concentração da renda no topo da pirâmide social, diz o economista francês Thomas Piketty.
Autor de "O Capital no Século 21", em que apontou um aumento da concentração no topo da pirâmide social nos Estados Unidos e na Europa, Piketty agora se dedica a um grupo de pesquisas que investiga o que ocorreu em países em desenvolvimento como o Brasil, a China e a Índia.
Os primeiros resultados obtidos para o Brasil foram publicados no início do mês pelo irlandês Marc Morgan, estudante de doutorado da Escola de Economia de Paris que tem Piketty como orientador.
O trabalho de Morgan, que incorpora informações de declarações do Imposto de Renda e outras estatísticas, sugere que a desigualdade brasileira é maior do que pesquisas anteriores indicavam e calcula que os 10% mais ricos da população ficam com mais da metade da renda no Brasil.
Defensor de reformas que tornem o sistema tributário mais progressivo, aumentando os impostos cobrados sobre a renda e o patrimônio dos mais ricos, Piketty chegou ao país nesta quarta (27) para conferências do projeto Fronteiras do Pensamento em São Paulo e Porto Alegre.
Leia a entrevista de Piketty à Folha.
*
Folha - O estudo de Morgan mostra que a renda da metade mais pobre aumentou junto com a dos mais ricos. Por que a concentração no topo da pirâmide é tão preocupante?
Thomas Piketty - Porque, apesar dos avanços dos últimos anos, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Em nossa base de dados, só encontramos grau de desigualdade semelhante na África do Sul e em países do Oriente Médio.
Houve um pequeno progresso nos segmentos inferiores da distribuição da renda, beneficiados por programas sociais e pela valorização do salário mínimo. É alguma coisa, mas os pobres ganharam às custas da classe média, não dos mais ricos, e a desigualdade continua muito grande.
Reduzir a desigualdade é só questão de justiça social ou de eficiência econômica também?
Ambos. O grau de desigualdade extrema que encontramos no Brasil não é bom para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável.
A história dos EUA e da Europa mostra que só depois de grandes choques políticos como as duas grandes guerras do século 20 a desigualdade diminuiu e a economia cresceu com vigor, permitindo que fatias maiores da população colhessem os benefícios.
No Brasil, podemos concluir que as elites políticas e os diferentes partidos que governaram o país nos últimos anos foram incapazes de executar políticas que levassem a uma distribuição mais igualitária da renda e da riqueza. Acho que isso é precondição para o crescimento econômico.
Seus dados indicam que a fatia da renda nas mãos dos mais ricos vem se mantendo intacta no Brasil. Por quê?
Parte da explicação pode estar na história do país, o último a abolir a escravidão no século 19, como você sabe. Mas isso não é tudo. Diferentes políticas governamentais poderiam ter feito diferença.
O sistema tributário é pouco progressivo no Brasil. Há isenções para rendas de capital, como os dividendos pagos pelas empresas a seus acionistas. Impostos sobre rendas mais altas e heranças têm alíquotas muito baixas no Brasil, se comparadas com o que se vê em países mais avançados.
Alguns desses países fazem isso há um século, o que contribuiu para reduzir a concentração da riqueza. Se você olhar os Estados Unidos, a Alemanha, a França, o Japão, em todos esses países a alíquota mais alta do Imposto de Renda está entre 35 e 50%. [No Brasil, a alíquota máxima do Imposto de Renda é de 27,5%.]
Qual o risco de uma taxação maior das rendas mais elevadas provocar fuga de investidores para outras jurisdições?
A elite sempre tem um monte de desculpas para não pagar impostos, e isso também ocorre em outras partes do mundo. A questão é saber por que a elite no Brasil tem sido bem-sucedida ao evitar mudanças no sistema tributário.
Em outros países, as elites não aceitaram pacificamente pagar mais impostos. Foi um processo caótico e violento muitas vezes. Espero que o Brasil tenha mais sorte e possa fazer isso sem passar por choques traumáticos como as guerras. É deprimente ver que décadas de democracia no Brasil foram incapazes de promover mudanças nessa área.
Não sei o futuro. Mas posso dizer que é possível ter um sistema tributário mais justo, uma distribuição da renda e da riqueza mais equilibrada, e mais crescimento econômico, ao mesmo tempo. Essa foi a experiência de outros países.
Gastar energia para resolver esse problema não tiraria o foco de políticas sociais que poderiam contribuir mais para a redução da desigualdade?
Você precisa fazer as duas coisas. Morgan mostra que as políticas sociais adotadas nos últimos anos foram boas para os pobres, mas insuficientes. Você precisa melhorar as condições de vida deles e investir em educação e infraestrutura, mas precisa de um sistema tributário mais justo para financiar isso e reduzir a concentração da renda no topo.
Não estou aqui para dar lições a ninguém. Há muita hipocrisia no meu país quando se trata desse assunto. Mas acredito que no fim todos se beneficiam com um sistema tributário mais justo e uma sociedade menos desigual, mais inclusiva e mais estável.
Qual o foco do seu trabalho acadêmico no momento?
Estou procurando ampliar nossa base de dados com ajuda de outros pesquisadores, incluindo informações sobre o Brasil, a China, a Índia e outros países em desenvolvimento. Também quero examinar mais detidamente a evolução das atitudes políticas com relação à desigualdade.
Em países como os EUA e a França, temos visto a ascensão do nacionalismo e da xenofobia, e quero entender melhor o que significa. O maior risco criado pelo aumento da desigualdade é a ascensão do racismo e da xenofobia.
Se não resolvermos o problema da desigualdade de forma pacífica e democrática, vamos sempre ter políticos tentando explorar a frustração causada pela desigualdade, incentivando a xenofobia e pondo a culpa dos nossos problemas sociais em imigrantes e trabalhadores estrangeiros.
É um risco para a globalização e os fluxos de comércio. A eleição de Donald Trump nos EUA e a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia não foram uma coincidência. São os dois países ocidentais em que a desigualdade mais cresceu nos últimos anos.
RAIO-X
Idade
46 anos
Formação
Matemática na Escola Normal Superior de Paris; Ph.D. em Economia na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais
Carreira
Professor da Escola de Economia de Paris desde 2007; professor da Escola de Altos Estudos desde 2000
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
EUA avaliam contraproposta brasileira para uso da base de Alcântara
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/09/1922279-eua-avaliam-contraproposta-brasileira-para-uso-da-base-de-alcantara.shtml
ISABEL FLECK
DE WASHINGTON
27/09/2017 18h01
O Departamento de Estado americano está avaliando uma contraproposta brasileira para o uso da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão.
O novo texto, alterado pelo Ministério da Defesa neste ano, foi entregue ao governo americano há cerca de dois meses. A primeira proposta, feita pelos EUA, havia sido redigida há 15 anos.
"Este acordo não passou em nosso Congresso porque, talvez, era um procedimento mais intrusivo do que o justificável para a proteção da propriedade intelectual, da informação e dos equipamentos, que são sensíveis e podem se prestar tanto para fins pacíficos como para fins militares", disse o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, a jornalistas nesta quarta (27).
Sem entrar em detalhes sobre o texto, o embaixador disse que a contraproposta brasileira, que flexibiliza algumas exigências americanas, é "muito razoável". No primeiro texto, a proposta americana era para usar a base com direito a sigilo total de seu equipamento.
"Ninguém questiona a proteção da informação, da tecnologia e dos equipamentos, mas questiona o grau de interferência no processo de lançamento do foguete [com satélites]", disse o embaixador.
A regras acordadas entre os dois países não servirão apenas para o lançamento de foguetes americanos, mas de todo equipamento estrangeiro que tenha algum componente americano.
"Se houver um pouco de flexibilidade dos dois lados, é possível a gente completar isso [o acordo] e isso é bastante importante."
O embaixador dos EUA no Brasil, Michael McKinley, que está em Washington para um evento do Conselho Empresarial Brasil-EUA, confirmou que a contraproposta brasileira está sendo avaliada por especialistas e técnicos de fora do Departamento de Estado, mas disse não ter data para uma resposta.
"Agora é um momento novo e um momento de avaliação das propostas feitas. Temos que esperar a avaliação [dos técnicos]", disse. "Há uma troca de documentos sobre como atualizar o acordo que daria as garantias técnicas para abrir o caminho para a exploração comercial e uma maior cooperação no âmbito espacial."
Ele, contudo, já adiantou que as preocupações dos EUA com segurança da informação e dos equipamentos "continuam as mesmas".
A contraproposta brasileira vem depois de as negociações com a Ucrânia fracassarem. Em 2015, o governo federal cancelou o acordo bilateral para o lançamento de foguetes com satélites ucranianos, depois que os dois governos gastaram aproximadamente R$ 1 bilhão na empreitada fracassada.
Na última semana, o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes, conversou com o homólogo ucraniano, Pavlo Klimkin, em Nova York, sobre a necessidade de liquidar a empresa binacional ACS (Alcântara Cyclone Space), já que a empresa inativa segue com despesas mensais.
ISABEL FLECK
DE WASHINGTON
27/09/2017 18h01
O Departamento de Estado americano está avaliando uma contraproposta brasileira para o uso da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão.
O novo texto, alterado pelo Ministério da Defesa neste ano, foi entregue ao governo americano há cerca de dois meses. A primeira proposta, feita pelos EUA, havia sido redigida há 15 anos.
"Este acordo não passou em nosso Congresso porque, talvez, era um procedimento mais intrusivo do que o justificável para a proteção da propriedade intelectual, da informação e dos equipamentos, que são sensíveis e podem se prestar tanto para fins pacíficos como para fins militares", disse o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, a jornalistas nesta quarta (27).
Sem entrar em detalhes sobre o texto, o embaixador disse que a contraproposta brasileira, que flexibiliza algumas exigências americanas, é "muito razoável". No primeiro texto, a proposta americana era para usar a base com direito a sigilo total de seu equipamento.
"Ninguém questiona a proteção da informação, da tecnologia e dos equipamentos, mas questiona o grau de interferência no processo de lançamento do foguete [com satélites]", disse o embaixador.
A regras acordadas entre os dois países não servirão apenas para o lançamento de foguetes americanos, mas de todo equipamento estrangeiro que tenha algum componente americano.
"Se houver um pouco de flexibilidade dos dois lados, é possível a gente completar isso [o acordo] e isso é bastante importante."
O embaixador dos EUA no Brasil, Michael McKinley, que está em Washington para um evento do Conselho Empresarial Brasil-EUA, confirmou que a contraproposta brasileira está sendo avaliada por especialistas e técnicos de fora do Departamento de Estado, mas disse não ter data para uma resposta.
"Agora é um momento novo e um momento de avaliação das propostas feitas. Temos que esperar a avaliação [dos técnicos]", disse. "Há uma troca de documentos sobre como atualizar o acordo que daria as garantias técnicas para abrir o caminho para a exploração comercial e uma maior cooperação no âmbito espacial."
Ele, contudo, já adiantou que as preocupações dos EUA com segurança da informação e dos equipamentos "continuam as mesmas".
A contraproposta brasileira vem depois de as negociações com a Ucrânia fracassarem. Em 2015, o governo federal cancelou o acordo bilateral para o lançamento de foguetes com satélites ucranianos, depois que os dois governos gastaram aproximadamente R$ 1 bilhão na empreitada fracassada.
Na última semana, o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes, conversou com o homólogo ucraniano, Pavlo Klimkin, em Nova York, sobre a necessidade de liquidar a empresa binacional ACS (Alcântara Cyclone Space), já que a empresa inativa segue com despesas mensais.
A relação China-Brasil é do tipo 'Sul-Sul'?
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2017/09/1922040-a-relacao-china-brasil-e-do-tipo-sul-sul.shtml
Por Marcos Troyjo
27/09/2017 02h00
Conceber e aprimorar tecnologicamente produtos e processos —e levá-los aos mercados globais— é o grande diferencial de poder e riqueza nas sociedades contemporâneas.
Choques de "destruição criativa", nos dizeres de Joseph Schumpeter, fazem países ocupar o "centro" da geometria econômica internacional.
Segundo a famosa "hipótese Singer-Prebisch" e toda a escola estruturalista que se lhe seguiu, deriva deste modelo um padrão "Centro-Periferia" ou, para alguns, "Norte-Sul".
No centro, ou Norte, países que realizam intensiva destruição criativa e agregação de valor. Na periferia, ou Sul, países dependentes da comercialização de matérias-primas.
Quando a liderança central era desempenhada pela Inglaterra no século 19, elites latino-americanas, como a da Argentina, logravam manter elevados padrões de vida com a exportação de carne ou trigo.
Era o mundo ricardiano das vantagens comparativas que permitia a Buenos Aires prosperidade e sofisticação cultural. Há um século a capital argentina contava tantas livrarias como Paris e teatros equivalentes aos de Londres.
Com os EUA (também uma superpotência do comércio agrícola) no papel de economia central, emergiu o desafio da industrialização por "adaptação criativa". Diferenciais teriam de residir em vantagens "competitivas."
A China tem combatido sua condição periférica desde 1978 com industrialização voltada a exportações. O Brasil, com a substituição de importações.
A primeira visa acordos comerciais, PPPs voltadas à estruturação de comércio exterior e baixa remuneração dos fatores. A segunda, protecionismo, alento ao mercado interno e incentivo em compras governamentais ao conteúdo local.
O êxito ou fracasso desses modelos está associado a uma correta compreensão —e necessária adaptação— das estratégias nacionais a um verdadeiro "eclipse" no centro da economia global.
Isso porque a China tornou-se um "outro centro", para além do tradicional "Norte ". É um erro, portanto, saudar o intercâmbio comercial Brasil-China como validação das relações "Sul-Sul".
O modelo industrial chinês de Nação-Comerciante tem sido tão eficiente e portentoso em escala, que sua arrancada gerou, no período de 2003 a 2011, uma retomada da demanda planetária por commodities.
O PIB chinês em dólares correntes foi multiplicado 60 vezes desde 1978. Ultrapassará US$ 12 trilhões ao final deste ano.
Por um lado, a China acelerou sua adaptação criativa e, mediante exuberantes superávits comerciais e sucessivos excedentes orientados estrategicamente à pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D+I), está aproximando-se do centro denso em tecnologias.
Em 2020, a China chegará à marca de 2,5% de seu PIB voltados à P&D+I, superior portanto à media de 2,1% dos países da OCDE. O Brasil continua no patamar de apenas 1% de seu PIB em P&D+I.
Por outro, este renovado sistema internacional em que há uma centralidade da China faz reemergir, para países como o Brasil, lógica semelhante ao padrão Norte-Sul das vantagens comparativas do século 19.
Isso se ilustra por fatos como o da tonelada chinesa exportada ao Brasil a US$ 3.000, enquanto a tonelada brasileira à China vale menos de US$ 170.
Esta gravitação passiva em torno de um novo centro é extremamente temerária para o Brasil. Pode levar a uma sensação de efêmera prosperidade causada por ciclos de alta no preço internacional das matérias-primas.
Minha estimativa é que não estamos distantes de um ciclo dessa natureza, decorrente da transposição do parque industrial chinês para sua vizinhança geoeconômica. O crescimento de Índia, Vietnã, Indonésia e outros pode de fato sustentar valores elevados para bens agrícolas e minerais durante muito tempo.
Se para Brasil e demais latino-americanos os benefícios do comércio em commodities não se traduzirem em investimentos nas áreas de ponta deste cenário global de acirradas rivalidades tecnológicas, estaremos consolidando um novo eixo "centro-periferia".
Desta feita, continuará a nos caber a função de periferia. Já o papel de centro se deslocará cada vez mais de EUA-Europa para a ascendente região da Ásia-Pacífico.
Por Marcos Troyjo
27/09/2017 02h00
Conceber e aprimorar tecnologicamente produtos e processos —e levá-los aos mercados globais— é o grande diferencial de poder e riqueza nas sociedades contemporâneas.
Choques de "destruição criativa", nos dizeres de Joseph Schumpeter, fazem países ocupar o "centro" da geometria econômica internacional.
Segundo a famosa "hipótese Singer-Prebisch" e toda a escola estruturalista que se lhe seguiu, deriva deste modelo um padrão "Centro-Periferia" ou, para alguns, "Norte-Sul".
No centro, ou Norte, países que realizam intensiva destruição criativa e agregação de valor. Na periferia, ou Sul, países dependentes da comercialização de matérias-primas.
Quando a liderança central era desempenhada pela Inglaterra no século 19, elites latino-americanas, como a da Argentina, logravam manter elevados padrões de vida com a exportação de carne ou trigo.
Era o mundo ricardiano das vantagens comparativas que permitia a Buenos Aires prosperidade e sofisticação cultural. Há um século a capital argentina contava tantas livrarias como Paris e teatros equivalentes aos de Londres.
Com os EUA (também uma superpotência do comércio agrícola) no papel de economia central, emergiu o desafio da industrialização por "adaptação criativa". Diferenciais teriam de residir em vantagens "competitivas."
A China tem combatido sua condição periférica desde 1978 com industrialização voltada a exportações. O Brasil, com a substituição de importações.
A primeira visa acordos comerciais, PPPs voltadas à estruturação de comércio exterior e baixa remuneração dos fatores. A segunda, protecionismo, alento ao mercado interno e incentivo em compras governamentais ao conteúdo local.
O êxito ou fracasso desses modelos está associado a uma correta compreensão —e necessária adaptação— das estratégias nacionais a um verdadeiro "eclipse" no centro da economia global.
Isso porque a China tornou-se um "outro centro", para além do tradicional "Norte ". É um erro, portanto, saudar o intercâmbio comercial Brasil-China como validação das relações "Sul-Sul".
O modelo industrial chinês de Nação-Comerciante tem sido tão eficiente e portentoso em escala, que sua arrancada gerou, no período de 2003 a 2011, uma retomada da demanda planetária por commodities.
O PIB chinês em dólares correntes foi multiplicado 60 vezes desde 1978. Ultrapassará US$ 12 trilhões ao final deste ano.
Por um lado, a China acelerou sua adaptação criativa e, mediante exuberantes superávits comerciais e sucessivos excedentes orientados estrategicamente à pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D+I), está aproximando-se do centro denso em tecnologias.
Em 2020, a China chegará à marca de 2,5% de seu PIB voltados à P&D+I, superior portanto à media de 2,1% dos países da OCDE. O Brasil continua no patamar de apenas 1% de seu PIB em P&D+I.
Por outro, este renovado sistema internacional em que há uma centralidade da China faz reemergir, para países como o Brasil, lógica semelhante ao padrão Norte-Sul das vantagens comparativas do século 19.
Isso se ilustra por fatos como o da tonelada chinesa exportada ao Brasil a US$ 3.000, enquanto a tonelada brasileira à China vale menos de US$ 170.
Esta gravitação passiva em torno de um novo centro é extremamente temerária para o Brasil. Pode levar a uma sensação de efêmera prosperidade causada por ciclos de alta no preço internacional das matérias-primas.
Minha estimativa é que não estamos distantes de um ciclo dessa natureza, decorrente da transposição do parque industrial chinês para sua vizinhança geoeconômica. O crescimento de Índia, Vietnã, Indonésia e outros pode de fato sustentar valores elevados para bens agrícolas e minerais durante muito tempo.
Se para Brasil e demais latino-americanos os benefícios do comércio em commodities não se traduzirem em investimentos nas áreas de ponta deste cenário global de acirradas rivalidades tecnológicas, estaremos consolidando um novo eixo "centro-periferia".
Desta feita, continuará a nos caber a função de periferia. Já o papel de centro se deslocará cada vez mais de EUA-Europa para a ascendente região da Ásia-Pacífico.
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Com proprietários e jogadores unidos, NFL se insurge contra Trump
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/09/1921545-nfl-defende-jogadores-criticados-por-trump-apos-protestos-contra-racismo.shtml
DE SÃO PAULO
25/09/2017 11h49
Com 32 times, a NFL, a liga de futebol norte-americano, é uma das competições mais duras, equilibradas e lucrativas do mundo. A partir dos eventos marcantes deste final de semana, esses 32 clubes, liderados por empresários bilionários, com elencos numerosos, têm um oponente em comum: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Os EUA testemunharam no domingo (24) uma onda de protestos em suas gigantescas arenas, espalhadas de Leste a Oeste. Na verdade, até mesmo Londres, onde jogaram Baltimore Ravens e Jacksonville Jaguars, foi palco para o crescente movimento entre os atletas, agora impulsionados também por comentários explosivos de Trump.
Na sexta, durante comício no estado de Alabama, o presidente pediu a demissão de atletas que se manifestassem durante a execução do hino nacional em cerimonial pré-jogo, com linguajar impróprio.
"Quando alguém desrespeita nossa bandeira, vocês não amariam se os proprietários da NFL ordenassem a retirada desse filho da puta de campo?", questionou.
Pois três donos de clube realmente foram a campo neste final de semana. Mas tomaram atitude bem diferente da sugerida. Os ataques de Trump colocaram donos e jogadores lado a lado. Shakid Khan (Jacksonvile Jaguars), Jeffrey Lurie (Philadelphia Eagles) e Daniel Snyder (Washington Redskins) perfilaram com seus atletas, num raro ato de unidade na liga.
Mesmo antigos aliados agora se veem contrariados. Sua campanha contou com doações de dez proprietários da NFL. Entre eles, estavam justamente Shakid (US$ 1 milhão) e Snyder (US$ 100 mil).
Segundo a revista "Forbes", o valor médio de uma franquia da NFL é de US$ 2,5 bilhões (R$ 7,8 bilhões).
Tom Brady, um dos jogadores mais populares da NFL e quem Trump já chamou de um "amigo" e entusiasta de sua candidatura, disse discordar da visão do presidente.
"Foi algo que procurou separar as pessoas", afirmou o marido da modelo brasileira Gisele Bündchen. "Qualquer um tem o direito de fazer o que quiser. Se você não concorda, tudo bem. Pode manifestar sua discórdia. Mas de modo pacífico, respeitoso."
A liga, como instituição, também saiu em ofensiva. O porta-voz da NFL, Joe Lockhart, disse nesta segunda (25) que nenhum atleta será punido. Nem mesmo aqueles que tenham ferido as regras da liga, como os jogadores de Pittsburgh Steelers, Seattle Seahawks e Tennessee Titans, que se recusaram a ir a campo para escutar o hino.
"Os atletas têm o direito de se expressarem. Foi um dia importante para a liga", disse Lockhart, que já foi o secretário de imprensa da presidência de Bill Clinton (1993-2001).
PROTESTOS
Diversos clubes da NFL deram demonstração de solidariedade antes dos jogos de domingo a jogadores têm realizado protestos. Eles têm se ajoelhado em campo, juntando os braços ou mesmo ficando fora de campo durante o hino, em desafio ao apelo do presidente dos EUA..
Repetindo um gesto iniciado na temporada passada por Colin Kaepernick, à época quarterback do San Francisco 49ers, vários jogadores da NFL passaram a se apoiar em um joelho durante a execução do hino, uma forma de chamar atenção ao que os esportistas veem como um padrão de racismo no tratamento dado pela polícia dos EUA a norte-americanos negros.
Em Detroit, vários integrantes do Lions se ajoelharam e o cantor Rico Lavelle se apoiou em um joelho e ergueu um punho fechado no final de sua interpretação do hino nacional dos EUA.
Na Filadélfia, policiais se uniram aos jogadores do Eagles e do New York Giants e ao proprietário do Eagles, Jeffrey Lurie, juntando os braços durante o hino como sinal de solidariedade.
Embora alguns norte-americanos simpatizem com os manifestantes, outros veem a recusa em permanecer de pé como um desrespeito pela bandeira e pelos membros das Forças Armadas que se sacrificaram ou morreram na defesa do país.
A controvérsia pode agradar a base conservadora de Trump no momento em que o presidente republicano se vê às voltas com as ameaças nucleares da Coreia do Norte, uma investigação sobre a suposta interferência da Rússia na eleição de 2016 e uma batalha para aprovar um reforma de saúde no Congresso.
Mas a postura de Trump pareceu ter convencido jogadores, times e a liga a afirmarem o que veem como um direito de expressar suas convicções políticas livremente.
A NBA TAMBÉM
Trump tirou o final de semana para entrar em controvérsia com atletas americanos em geral: além da ofensa a membros da NFL, usou suas redes sociais para também bater de frente com o armador Stephen Curry, um dos astros da NBA, a liga de basquete norte-americana.
Durante coletiva de reapresentação na sexta-feira, Curry, eleito o melhor jogador da liga em 2014 e 2015, afirmou que se recusaria a visitar à Casa Branca durante o mandato de Trump.
Uma das tradições da liga de basquete é que seu campeão vá à sede do governo para uma celebração e foto oficial. Em resposta, o presidente disse que visitar a Casa Branca deveria ser uma "honra" e que teria cancelado o convite aos Warriors.
Rival de Curry em quadra, contra quem jogou as últimas três finais da liga, o ala LeBron James, do Cleveland Cavaliers, rebateu o presidente. Nesta segunda, na reapresentação de sua equipe, manteve a linha ofensiva, classificando o presidente como um "vagabundo".
James também falou sobre a importância de os atletas se pronunciarem politicamente: "É o povo que manda no país, e, não, um indivíduo. Muito menos ele".
Técnico do San Antonio Spurs e da seleção norte-americana, Gregg Popovich afirmou que hoje os "Estados Unidos passam vergonha no mundo".
DE SÃO PAULO
25/09/2017 11h49
Com 32 times, a NFL, a liga de futebol norte-americano, é uma das competições mais duras, equilibradas e lucrativas do mundo. A partir dos eventos marcantes deste final de semana, esses 32 clubes, liderados por empresários bilionários, com elencos numerosos, têm um oponente em comum: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Os EUA testemunharam no domingo (24) uma onda de protestos em suas gigantescas arenas, espalhadas de Leste a Oeste. Na verdade, até mesmo Londres, onde jogaram Baltimore Ravens e Jacksonville Jaguars, foi palco para o crescente movimento entre os atletas, agora impulsionados também por comentários explosivos de Trump.
Na sexta, durante comício no estado de Alabama, o presidente pediu a demissão de atletas que se manifestassem durante a execução do hino nacional em cerimonial pré-jogo, com linguajar impróprio.
"Quando alguém desrespeita nossa bandeira, vocês não amariam se os proprietários da NFL ordenassem a retirada desse filho da puta de campo?", questionou.
Pois três donos de clube realmente foram a campo neste final de semana. Mas tomaram atitude bem diferente da sugerida. Os ataques de Trump colocaram donos e jogadores lado a lado. Shakid Khan (Jacksonvile Jaguars), Jeffrey Lurie (Philadelphia Eagles) e Daniel Snyder (Washington Redskins) perfilaram com seus atletas, num raro ato de unidade na liga.
Mesmo antigos aliados agora se veem contrariados. Sua campanha contou com doações de dez proprietários da NFL. Entre eles, estavam justamente Shakid (US$ 1 milhão) e Snyder (US$ 100 mil).
Segundo a revista "Forbes", o valor médio de uma franquia da NFL é de US$ 2,5 bilhões (R$ 7,8 bilhões).
Tom Brady, um dos jogadores mais populares da NFL e quem Trump já chamou de um "amigo" e entusiasta de sua candidatura, disse discordar da visão do presidente.
"Foi algo que procurou separar as pessoas", afirmou o marido da modelo brasileira Gisele Bündchen. "Qualquer um tem o direito de fazer o que quiser. Se você não concorda, tudo bem. Pode manifestar sua discórdia. Mas de modo pacífico, respeitoso."
A liga, como instituição, também saiu em ofensiva. O porta-voz da NFL, Joe Lockhart, disse nesta segunda (25) que nenhum atleta será punido. Nem mesmo aqueles que tenham ferido as regras da liga, como os jogadores de Pittsburgh Steelers, Seattle Seahawks e Tennessee Titans, que se recusaram a ir a campo para escutar o hino.
"Os atletas têm o direito de se expressarem. Foi um dia importante para a liga", disse Lockhart, que já foi o secretário de imprensa da presidência de Bill Clinton (1993-2001).
PROTESTOS
Diversos clubes da NFL deram demonstração de solidariedade antes dos jogos de domingo a jogadores têm realizado protestos. Eles têm se ajoelhado em campo, juntando os braços ou mesmo ficando fora de campo durante o hino, em desafio ao apelo do presidente dos EUA..
Repetindo um gesto iniciado na temporada passada por Colin Kaepernick, à época quarterback do San Francisco 49ers, vários jogadores da NFL passaram a se apoiar em um joelho durante a execução do hino, uma forma de chamar atenção ao que os esportistas veem como um padrão de racismo no tratamento dado pela polícia dos EUA a norte-americanos negros.
Em Detroit, vários integrantes do Lions se ajoelharam e o cantor Rico Lavelle se apoiou em um joelho e ergueu um punho fechado no final de sua interpretação do hino nacional dos EUA.
Na Filadélfia, policiais se uniram aos jogadores do Eagles e do New York Giants e ao proprietário do Eagles, Jeffrey Lurie, juntando os braços durante o hino como sinal de solidariedade.
Embora alguns norte-americanos simpatizem com os manifestantes, outros veem a recusa em permanecer de pé como um desrespeito pela bandeira e pelos membros das Forças Armadas que se sacrificaram ou morreram na defesa do país.
A controvérsia pode agradar a base conservadora de Trump no momento em que o presidente republicano se vê às voltas com as ameaças nucleares da Coreia do Norte, uma investigação sobre a suposta interferência da Rússia na eleição de 2016 e uma batalha para aprovar um reforma de saúde no Congresso.
Mas a postura de Trump pareceu ter convencido jogadores, times e a liga a afirmarem o que veem como um direito de expressar suas convicções políticas livremente.
A NBA TAMBÉM
Trump tirou o final de semana para entrar em controvérsia com atletas americanos em geral: além da ofensa a membros da NFL, usou suas redes sociais para também bater de frente com o armador Stephen Curry, um dos astros da NBA, a liga de basquete norte-americana.
Durante coletiva de reapresentação na sexta-feira, Curry, eleito o melhor jogador da liga em 2014 e 2015, afirmou que se recusaria a visitar à Casa Branca durante o mandato de Trump.
Uma das tradições da liga de basquete é que seu campeão vá à sede do governo para uma celebração e foto oficial. Em resposta, o presidente disse que visitar a Casa Branca deveria ser uma "honra" e que teria cancelado o convite aos Warriors.
Rival de Curry em quadra, contra quem jogou as últimas três finais da liga, o ala LeBron James, do Cleveland Cavaliers, rebateu o presidente. Nesta segunda, na reapresentação de sua equipe, manteve a linha ofensiva, classificando o presidente como um "vagabundo".
James também falou sobre a importância de os atletas se pronunciarem politicamente: "É o povo que manda no país, e, não, um indivíduo. Muito menos ele".
Técnico do San Antonio Spurs e da seleção norte-americana, Gregg Popovich afirmou que hoje os "Estados Unidos passam vergonha no mundo".
Só reforma tributária pode reduzir desigualdade, aponta estudo
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1921418-so-reforma-tributaria-pode-reduzir-desigualdade-aponta-estudo.shtml
FERNANDA MENA
DE SÃO PAULO
25/09/2017 02h00 - Atualizado às 17h03
Em 2016, o empresário Joesley Batista, pivô de um dos maiores escândalos de corrupção do país, pagou em impostos menos de 1% do que recebeu como administrador (R$ 2,2 milhões) e acionista (R$ 103 milhões) de suas empresas.
O dado consta da declaração de Imposto de Renda, vazada meses atrás, entregue por Batista à Procuradoria-Geral da República no âmbito do acordo de delação premiada. Mas, ao contrário de outras de suas atividades, o caso não envolve ilegalidade.
É que no sistema tributário do país, sob vários aspectos, quanto mais se ganha, menos se paga em impostos proporcionalmente, o que tende a perpetuar os altos índices de desigualdade do Brasil, onde seis pessoas detêm a mesma riqueza dos 100 milhões de brasileiros mais pobres.
"Sempre que se fala em reforma tributária, surge a discussão sobre quem vai pagar a conta. Acontece que 99% dos brasileiros é que pagam o pato, e precisamos dividir essa conta com o 1% restante, que paga proporcionalmente muito menos", avalia Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, ONG britânica que lança, nesta segunda (25), o relatório "A Distância que Nos Une - Um Retrato das Desigualdades Brasileiras".
O documento destrincha vários aspectos das inequidades do país, seja entre ricos e pobres, mulheres e homens ou negros e brancos. Aponta, por exemplo, que, se mantidas as tendências dos últimos 20 anos, mulheres só terão seus salários equiparados aos dos homens em 2047. E negros terão isonomia salarial em relação aos brancos apenas em 2089.
O relatório mostra ainda que os 5% que estão no topo da pirâmide econômica do Brasil concentram a mesma renda dos 95% restantes. E que um trabalhador que receba um salário mínimo mensal levará 19 anos para ganhar o mesmo que aqueles que integram o 0,1% mais rico do país recebem em apenas um mês.
Segundo o relatório, o combate a essas desigualdades passa necessariamente pela revisão da forma como o Estado arrecada e distribui recursos.
"O problema não são os ricos, mas o sistema tributário, que faz com que quem tem mais tenha cada vez mais", afirma Maia. "Algum nível de desigualdade é inevitável, mas precisamos reduzir os extremos. Nossa tributação hoje não é excessiva, mas é injusta."
LUCROS E DIVIDENDOS
De acordo com o economista Rodrigo Orair, um dos organizadores do livro "Tributação e Desigualdade" (ed. Letramento), a ser lançado em outubro próximo, nosso sistema pode ser classificado como "regressivo", isto é, ele incide proporcionalmente mais sobre quem tem menos renda. "Isso amplifica a desigualdade", diz.
Segundo dados compilados pela Oxfam, quem tem rendimento de 80 salários mínimos tem isenção de cerca de 66% em impostos enquanto para quem recebe de 3 a 20 salários mínimos essa isenção é de cerca de 17%. E na faixa mais baixa, entre 1 e 3 salários mínimos, ela é de apenas 9%.
O relatório chama esse aspecto de reversão e o credita tanto à limitação nas alíquotas do imposto de renda quanto à isenção de impostos sobre lucros e dividendos, a principal fonte de renda dos super-ricos. Foi esta combinação que permitiu a Joesley Batista pagar tão pouco imposto para tamanha renda total.
Atualmente, entre os países membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), apenas a Estônia isenta lucros e dividendos.
Até 1995, o Brasil aplicava uma alíquota de 15% sobre o lucro distribuído. Desde então, isentou esse dinheiro com base no argumento de que a empresa já paga impostos e que, portanto, tributar o lucro e os dividendos é abocanhar pela segunda vez fatia do mesmo dinheiro.
"A maior parte dos países que isentaram o lucro de impostos reverteram esse processo e hoje ele é tributado em duas etapas", explica Sérgio Gobetti, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Países como o México e a Grécia retomaram essa prática no contexto de crises fiscais. Outros países, como os EUA, ampliaram essas alíquotas após a crise de 2008.
Para Gobetti, o Brasil ainda não reverteu esse quadro por dois motivos básicos. "Há muito desconhecimento sobre a matéria por aqui, e o poder público é mais capturado pelas elites, o que faz com que os interesses do poder econômico impeçam essa mudança", diz. "Não se trata de questão ideológica, mas de cobrar daqueles que ganham mais, o que representa menor impacto negativo na economia."
PROPRIEDADE
Segundo Orair, "o Brasil está na contramão da tendência mundial, que é diminuir a carga tributária sobre pessoas jurídicas e aumentar seu peso sobre pessoas físicas de maneira que os mais ricos paguem mais impostos."
Por aqui, tributa-se menos renda e propriedade e mais bens e serviços.
De acordo com José Roberto Afonso, professor do Instituto de Direito Público e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia na FGV-Rio, isso "acaba penalizando aqueles que proporcionalmente mais consomem, ou seja, as famílias mais pobres. Pior: isso é feito de forma invisível e inevitável, com tributos embutidos nos preços".
Com isso, os 10% mais pobres do país gastam 32% de sua renda em tributos, a maior parte deles indiretos (sobre bens e serviços), os 10% mais ricos gastam 21%.
No quesito propriedade, há outras distorções: enquanto o imposto sobre carros é alto em relação a outros países, aquele que incide sobre heranças e imóveis é mais baixo. Nesta chave, proprietários de carros pagam imposto (IPVA), mas ele não incide sobre a propriedade de helicópteros, jatos, iates e lanchas, privilegiando os mais ricos. "Esses outros meios de transporte não são interpretados como veículos automotores pelo nosso sistema. Para isso, bastaria reformar a lei, mas há muita resistência jurídica e política em relação a isso", avalia Orair.
Soma-se a isso as módicas alíquotas de imposto sobre herança, que no Brasil chegam no máximo a 8%, quanto no Reino Unido podem atingir 40%, e o fato de um imposto sobre grandes fortunas, previsto na Constituição, nunca ter sido implementado por falta de regulamentação.
"É preciso construir um novo sistema tributário em que haja preocupação com a equidade", avalia Afonso, da FGV-Rio. "Essa agenda continua sendo adiada porque, resumidamente, faltam coragem política e competência técnica."
FERNANDA MENA
DE SÃO PAULO
25/09/2017 02h00 - Atualizado às 17h03
Em 2016, o empresário Joesley Batista, pivô de um dos maiores escândalos de corrupção do país, pagou em impostos menos de 1% do que recebeu como administrador (R$ 2,2 milhões) e acionista (R$ 103 milhões) de suas empresas.
O dado consta da declaração de Imposto de Renda, vazada meses atrás, entregue por Batista à Procuradoria-Geral da República no âmbito do acordo de delação premiada. Mas, ao contrário de outras de suas atividades, o caso não envolve ilegalidade.
É que no sistema tributário do país, sob vários aspectos, quanto mais se ganha, menos se paga em impostos proporcionalmente, o que tende a perpetuar os altos índices de desigualdade do Brasil, onde seis pessoas detêm a mesma riqueza dos 100 milhões de brasileiros mais pobres.
"Sempre que se fala em reforma tributária, surge a discussão sobre quem vai pagar a conta. Acontece que 99% dos brasileiros é que pagam o pato, e precisamos dividir essa conta com o 1% restante, que paga proporcionalmente muito menos", avalia Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, ONG britânica que lança, nesta segunda (25), o relatório "A Distância que Nos Une - Um Retrato das Desigualdades Brasileiras".
O documento destrincha vários aspectos das inequidades do país, seja entre ricos e pobres, mulheres e homens ou negros e brancos. Aponta, por exemplo, que, se mantidas as tendências dos últimos 20 anos, mulheres só terão seus salários equiparados aos dos homens em 2047. E negros terão isonomia salarial em relação aos brancos apenas em 2089.
O relatório mostra ainda que os 5% que estão no topo da pirâmide econômica do Brasil concentram a mesma renda dos 95% restantes. E que um trabalhador que receba um salário mínimo mensal levará 19 anos para ganhar o mesmo que aqueles que integram o 0,1% mais rico do país recebem em apenas um mês.
Segundo o relatório, o combate a essas desigualdades passa necessariamente pela revisão da forma como o Estado arrecada e distribui recursos.
"O problema não são os ricos, mas o sistema tributário, que faz com que quem tem mais tenha cada vez mais", afirma Maia. "Algum nível de desigualdade é inevitável, mas precisamos reduzir os extremos. Nossa tributação hoje não é excessiva, mas é injusta."
LUCROS E DIVIDENDOS
De acordo com o economista Rodrigo Orair, um dos organizadores do livro "Tributação e Desigualdade" (ed. Letramento), a ser lançado em outubro próximo, nosso sistema pode ser classificado como "regressivo", isto é, ele incide proporcionalmente mais sobre quem tem menos renda. "Isso amplifica a desigualdade", diz.
Segundo dados compilados pela Oxfam, quem tem rendimento de 80 salários mínimos tem isenção de cerca de 66% em impostos enquanto para quem recebe de 3 a 20 salários mínimos essa isenção é de cerca de 17%. E na faixa mais baixa, entre 1 e 3 salários mínimos, ela é de apenas 9%.
O relatório chama esse aspecto de reversão e o credita tanto à limitação nas alíquotas do imposto de renda quanto à isenção de impostos sobre lucros e dividendos, a principal fonte de renda dos super-ricos. Foi esta combinação que permitiu a Joesley Batista pagar tão pouco imposto para tamanha renda total.
Atualmente, entre os países membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), apenas a Estônia isenta lucros e dividendos.
Até 1995, o Brasil aplicava uma alíquota de 15% sobre o lucro distribuído. Desde então, isentou esse dinheiro com base no argumento de que a empresa já paga impostos e que, portanto, tributar o lucro e os dividendos é abocanhar pela segunda vez fatia do mesmo dinheiro.
"A maior parte dos países que isentaram o lucro de impostos reverteram esse processo e hoje ele é tributado em duas etapas", explica Sérgio Gobetti, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Países como o México e a Grécia retomaram essa prática no contexto de crises fiscais. Outros países, como os EUA, ampliaram essas alíquotas após a crise de 2008.
Para Gobetti, o Brasil ainda não reverteu esse quadro por dois motivos básicos. "Há muito desconhecimento sobre a matéria por aqui, e o poder público é mais capturado pelas elites, o que faz com que os interesses do poder econômico impeçam essa mudança", diz. "Não se trata de questão ideológica, mas de cobrar daqueles que ganham mais, o que representa menor impacto negativo na economia."
PROPRIEDADE
Segundo Orair, "o Brasil está na contramão da tendência mundial, que é diminuir a carga tributária sobre pessoas jurídicas e aumentar seu peso sobre pessoas físicas de maneira que os mais ricos paguem mais impostos."
Por aqui, tributa-se menos renda e propriedade e mais bens e serviços.
De acordo com José Roberto Afonso, professor do Instituto de Direito Público e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia na FGV-Rio, isso "acaba penalizando aqueles que proporcionalmente mais consomem, ou seja, as famílias mais pobres. Pior: isso é feito de forma invisível e inevitável, com tributos embutidos nos preços".
Com isso, os 10% mais pobres do país gastam 32% de sua renda em tributos, a maior parte deles indiretos (sobre bens e serviços), os 10% mais ricos gastam 21%.
No quesito propriedade, há outras distorções: enquanto o imposto sobre carros é alto em relação a outros países, aquele que incide sobre heranças e imóveis é mais baixo. Nesta chave, proprietários de carros pagam imposto (IPVA), mas ele não incide sobre a propriedade de helicópteros, jatos, iates e lanchas, privilegiando os mais ricos. "Esses outros meios de transporte não são interpretados como veículos automotores pelo nosso sistema. Para isso, bastaria reformar a lei, mas há muita resistência jurídica e política em relação a isso", avalia Orair.
Soma-se a isso as módicas alíquotas de imposto sobre herança, que no Brasil chegam no máximo a 8%, quanto no Reino Unido podem atingir 40%, e o fato de um imposto sobre grandes fortunas, previsto na Constituição, nunca ter sido implementado por falta de regulamentação.
"É preciso construir um novo sistema tributário em que haja preocupação com a equidade", avalia Afonso, da FGV-Rio. "Essa agenda continua sendo adiada porque, resumidamente, faltam coragem política e competência técnica."

domingo, 24 de setembro de 2017
'Desigualdade no Brasil é escolha política', diz economista
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1921236-desigualdade-no-brasil-e-escolha-politica-diz-economista.shtml
MARIANA CARNEIRO
FLAVIA LIMA
DE BRASÍLIA
24/09/2017 02h00
As medidas de ajuste fiscal do governo do presidente Michel Temer tendem a elevar ainda mais a desigualdade no Brasil, diz o economista irlandês Marc Morgan Milá, 26.
Em entrevista à Folha na última segunda-feira (18), ele afirma que a contenção dos gastos públicos afetará especialmente os mais pobres.
As novas conclusões do economista estão provocando um debate sobre a realidade dos últimos 15 anos: a desigualdade no Brasil não caiu como se pensava até então.
Para ele, os sucessivos governantes brasileiros optaram por não enfrentar o problema, evitando políticas que poderiam limitar a renda do topo da pirâmide, como um sistema tributário mais justo.
"A história recente do Brasil nos leva a dizer que houve uma escolha política pela desigualdade."
Morgan está no Brasil, onde participa de estudos com economistas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O grupo pretende lançar, ainda neste ano, uma série da desigualdade brasileira com início em 1926.
*
Folha - Os críticos dos governos do PT partem da sua pesquisa para questionar a leitura de que a desigualdade caiu. O que aconteceu de fato?
Marc Morgan Milá - Análise mais minuciosa mostra que, na verdade, não é que a desigualdade não caiu entre 2001 e 2015, ela não caiu tanto quanto se imaginava. Meu estudo mostra que a queda da desigualdade é bem menor.
A interpretação anterior estava errada?
É apenas equivocada, não representa a sociedade corretamente. Houve declínio da desigualdade de renda no mercado de trabalho, como mostra a Pnad [pesquisa por domicílio realizada pelo IBGE]. Mas os mais ricos não respondem a pesquisa ou escondem fontes de riqueza. Então, não há representação acurada do topo.
Quem são os ricos no Brasil?
O grupo dos 1% mais ricos tem cerca de 1,4 milhão de pessoas, com renda anual a partir de R$ 287 mil. O 0,1% mais rico reúne 140 mil pessoas com renda mínima de R$ 1,4 milhão. Enquanto isso, a renda média anual de toda a população é de R$ 35 mil. É uma discrepância muito grande. Esse é o ponto importante no caso brasileiro: a concentração do capital é muito alta.
O Brasil é um caso extremo?
O Brasil é um animal diferente. É o país mais desigual do mundo, com exceção do Oriente Médio e, talvez, da África do Sul. Um ponto importante é que todos os governos brasileiros das últimas décadas têm responsabilidade por isso.
Em que sentido?
A história recente indica que houve uma escolha política pela desigualdade e dois fatores ilustram isso: a ausência de uma reforma agrária e um sistema que tributa mais os pobres. Para nós, estrangeiros, impressiona que alíquotas de impostos sobre herança sejam de 2% a 4%. Em outros países chega a 30%. A tributação de fortunas fica em torno de 5%. Enquanto isso, os mais pobres pagam ao menos 30% de sua renda via impostos indiretos sobre luz e alimentação.
Que papel têm os programas de transferência de renda na redução da desigualdade?
As transferências chegam aos mais pobres, mas o sistema tributário injusto faz com que o ganho líquido se torne menor. Como esses programas representam cerca de 1,5% da renda nacional, o nível de redistribuição que se pode obter com eles é limitado. Fora que as transferências são financiadas por impostos que incidem sobre o consumo. E como o consumo pesa mais no orçamento dos mais pobres, é possível dizer que os mais pobres estão pagando por parte das transferência que recebem.
O Brasil falhou ao não resolver o problema durante o boom de commodities?
A alta das commodities poderia ter sido usada para melhorar o quadro, mas não é preciso um boom de commodities para reorganizar o sistema tributário. Tributação mais justa é muito mais importante dos que as transferências de renda e algo que todos os governos brasileiros nas últimas décadas falharam em fazer.
O ajuste fiscal pode impactar a desigualdade?
O congelamento das despesas públicas por 20 anos pode ter impacto negativo sobre a desigualdade porque são os mais pobres que dependem mais dessas despesas. Também pesam na conta a legislação sobre terras e a política fiscal, seja na criação de uma tributação mais justa, seja na retirada de renúncias que beneficiam os mais ricos.
Quais renúncias?
A principal é a taxação de lucros e dividendos. O Brasil é um dos únicos que não taxam dividendos distribuídos à pessoa física. Obviamente, isso favorece as pessoas de renda mais elevada.
Por que é tão difícil reduzir a desigualdade no Brasil?
É uma escolha política. O conflito distributivo vem de longa data, o país foi o último do Ocidente a abolir a escravidão. Outra explicação para o nível alto de desigualdade está na natureza do Estado: grande historicamente. Isso não é necessariamente ruim, mas sim a forma como ele se organiza e transfere recursos. Acredito que tenha relação com a estrutura herdada de regimes passados.
Que tipo de estrutura?
Por exemplo, as evidências do período da ditadura são de que a desigualdade era maior, em especial no fim do regime militar. O crescimento econômico podia ser maior, mas a desigualdade era também elevada. Não há evidências de que o país esteja voltando àqueles níveis, mas é uma possibilidade.
Melhor combater a pobreza em vez da desigualdade?
Pobreza e desigualdade estão relacionadas. Há políticas que podem atacar ambas, não devemos restringir o foco em apenas uma delas.
Nos últimos 15 anos, a pobreza foi reduzida, é inquestionável. Ao mesmo tempo, a desigualdade melhorou um pouco porque muitas pessoas pobres ascenderam.
Mas os pobres ainda são muito pobres e a diferença de renda entre os dois extremos é muito elevada. Ao se excluir os 20% mais ricos, a renda dos 80% restantes no Brasil é equivalente à dos 20% mais pobres na França. A desigualdade é semelhante à da França do final do século 19.
Daí, é possível ver a jornada que se tem pela frente. Talvez não sejam necessários cem anos, afinal Brasília foi construída em cinco.
Não fizemos novamente o bolo crescer sem distribuí-lo?
Não devemos enxergar crescimento e desigualdade como opostos, como se para ser mais igualitário fosse necessário reduzir o crescimento. A economia acelera quando as pessoas que estão na base passam a consumir ou poupar mais.
Será que os que estão no topo da pirâmide vão parar de consumir ou investir menos se pagarem um pouco mais de impostos? Não é o que parece.
Qual o impacto da recessão sobre a desigualdade?
Políticas de austeridade costumam afetar mais os pobres. É plausível pensar que os níveis desigualdade vão parar de melhorar nos próximos anos se essas políticas forem implementadas. As expectativas não são favoráveis para a continuidade da queda da desigualdade de renda.
MARIANA CARNEIRO
FLAVIA LIMA
DE BRASÍLIA
24/09/2017 02h00
As medidas de ajuste fiscal do governo do presidente Michel Temer tendem a elevar ainda mais a desigualdade no Brasil, diz o economista irlandês Marc Morgan Milá, 26.
Em entrevista à Folha na última segunda-feira (18), ele afirma que a contenção dos gastos públicos afetará especialmente os mais pobres.
As novas conclusões do economista estão provocando um debate sobre a realidade dos últimos 15 anos: a desigualdade no Brasil não caiu como se pensava até então.
Para ele, os sucessivos governantes brasileiros optaram por não enfrentar o problema, evitando políticas que poderiam limitar a renda do topo da pirâmide, como um sistema tributário mais justo.
"A história recente do Brasil nos leva a dizer que houve uma escolha política pela desigualdade."
Morgan está no Brasil, onde participa de estudos com economistas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O grupo pretende lançar, ainda neste ano, uma série da desigualdade brasileira com início em 1926.
*
Folha - Os críticos dos governos do PT partem da sua pesquisa para questionar a leitura de que a desigualdade caiu. O que aconteceu de fato?
Marc Morgan Milá - Análise mais minuciosa mostra que, na verdade, não é que a desigualdade não caiu entre 2001 e 2015, ela não caiu tanto quanto se imaginava. Meu estudo mostra que a queda da desigualdade é bem menor.
A interpretação anterior estava errada?
É apenas equivocada, não representa a sociedade corretamente. Houve declínio da desigualdade de renda no mercado de trabalho, como mostra a Pnad [pesquisa por domicílio realizada pelo IBGE]. Mas os mais ricos não respondem a pesquisa ou escondem fontes de riqueza. Então, não há representação acurada do topo.
Quem são os ricos no Brasil?
O grupo dos 1% mais ricos tem cerca de 1,4 milhão de pessoas, com renda anual a partir de R$ 287 mil. O 0,1% mais rico reúne 140 mil pessoas com renda mínima de R$ 1,4 milhão. Enquanto isso, a renda média anual de toda a população é de R$ 35 mil. É uma discrepância muito grande. Esse é o ponto importante no caso brasileiro: a concentração do capital é muito alta.
O Brasil é um caso extremo?
O Brasil é um animal diferente. É o país mais desigual do mundo, com exceção do Oriente Médio e, talvez, da África do Sul. Um ponto importante é que todos os governos brasileiros das últimas décadas têm responsabilidade por isso.
Em que sentido?
A história recente indica que houve uma escolha política pela desigualdade e dois fatores ilustram isso: a ausência de uma reforma agrária e um sistema que tributa mais os pobres. Para nós, estrangeiros, impressiona que alíquotas de impostos sobre herança sejam de 2% a 4%. Em outros países chega a 30%. A tributação de fortunas fica em torno de 5%. Enquanto isso, os mais pobres pagam ao menos 30% de sua renda via impostos indiretos sobre luz e alimentação.
Que papel têm os programas de transferência de renda na redução da desigualdade?
As transferências chegam aos mais pobres, mas o sistema tributário injusto faz com que o ganho líquido se torne menor. Como esses programas representam cerca de 1,5% da renda nacional, o nível de redistribuição que se pode obter com eles é limitado. Fora que as transferências são financiadas por impostos que incidem sobre o consumo. E como o consumo pesa mais no orçamento dos mais pobres, é possível dizer que os mais pobres estão pagando por parte das transferência que recebem.
O Brasil falhou ao não resolver o problema durante o boom de commodities?
A alta das commodities poderia ter sido usada para melhorar o quadro, mas não é preciso um boom de commodities para reorganizar o sistema tributário. Tributação mais justa é muito mais importante dos que as transferências de renda e algo que todos os governos brasileiros nas últimas décadas falharam em fazer.
O ajuste fiscal pode impactar a desigualdade?
O congelamento das despesas públicas por 20 anos pode ter impacto negativo sobre a desigualdade porque são os mais pobres que dependem mais dessas despesas. Também pesam na conta a legislação sobre terras e a política fiscal, seja na criação de uma tributação mais justa, seja na retirada de renúncias que beneficiam os mais ricos.
Quais renúncias?
A principal é a taxação de lucros e dividendos. O Brasil é um dos únicos que não taxam dividendos distribuídos à pessoa física. Obviamente, isso favorece as pessoas de renda mais elevada.
Por que é tão difícil reduzir a desigualdade no Brasil?
É uma escolha política. O conflito distributivo vem de longa data, o país foi o último do Ocidente a abolir a escravidão. Outra explicação para o nível alto de desigualdade está na natureza do Estado: grande historicamente. Isso não é necessariamente ruim, mas sim a forma como ele se organiza e transfere recursos. Acredito que tenha relação com a estrutura herdada de regimes passados.
Que tipo de estrutura?
Por exemplo, as evidências do período da ditadura são de que a desigualdade era maior, em especial no fim do regime militar. O crescimento econômico podia ser maior, mas a desigualdade era também elevada. Não há evidências de que o país esteja voltando àqueles níveis, mas é uma possibilidade.
Melhor combater a pobreza em vez da desigualdade?
Pobreza e desigualdade estão relacionadas. Há políticas que podem atacar ambas, não devemos restringir o foco em apenas uma delas.
Nos últimos 15 anos, a pobreza foi reduzida, é inquestionável. Ao mesmo tempo, a desigualdade melhorou um pouco porque muitas pessoas pobres ascenderam.
Mas os pobres ainda são muito pobres e a diferença de renda entre os dois extremos é muito elevada. Ao se excluir os 20% mais ricos, a renda dos 80% restantes no Brasil é equivalente à dos 20% mais pobres na França. A desigualdade é semelhante à da França do final do século 19.
Daí, é possível ver a jornada que se tem pela frente. Talvez não sejam necessários cem anos, afinal Brasília foi construída em cinco.
Não fizemos novamente o bolo crescer sem distribuí-lo?
Não devemos enxergar crescimento e desigualdade como opostos, como se para ser mais igualitário fosse necessário reduzir o crescimento. A economia acelera quando as pessoas que estão na base passam a consumir ou poupar mais.
Será que os que estão no topo da pirâmide vão parar de consumir ou investir menos se pagarem um pouco mais de impostos? Não é o que parece.
Qual o impacto da recessão sobre a desigualdade?
Políticas de austeridade costumam afetar mais os pobres. É plausível pensar que os níveis desigualdade vão parar de melhorar nos próximos anos se essas políticas forem implementadas. As expectativas não são favoráveis para a continuidade da queda da desigualdade de renda.
sábado, 23 de setembro de 2017
Depois de polêmica, Donald Trump se recusa a receber campeões da NBA
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2017/09/1921289-depois-de-polemica-donald-trump-se-recusa-a-receber-campoes-da-nba.shtml
DE SÃO PAULO
23/09/2017 18h01
Em um tweet publicado na manhã deste sábado (23), o presidente americano Donald Trump retirou o tradicional convite para que o mais recente campeão da NBA –no caso, o Golden State Warriors–, visitasse a Casa Branca.
Os Warriors não haviam decidido se aceitariam o convite, e na sexta-feira (22), o diretor-geral da equipe, Bob Myers, disse que o assunto estava sendo discutido com a Casa Branca.
A recusa de Trump foi motivada por uma declaração do principal jogador do time, o armador Stephen Curry, que na sexta-feira disse que não ir à Casa Branca porque "poderia inspirar alguma mudança sobre o que nós toleramos neste país, sobre o que é aceitável e o que nós nos recusamos a ver".
Em resposta, Trump tuitou que "ir à Casa Branca é considerado uma grande honra para um time. Stephen Curry está hesitando, então o convite está retirado".
O gesto de Trump rendeu críticas de jogadores da NBA e também da NFL, liga profissional de futebol americano.
LeBron James, do Cleveland Cavaliers, tuitou "ir à Casa Branca era uma honra antes de você aparecer", e Lesean McCoy, do Buffalo Bills, escreveu na rede social que "é realmente triste, nosso presidente é um idiota".
A visita do campeão de alguma das ligas esportivas do país começou em 1963, com John Kennedy, e se tornou tradição no mandato de Ronald Reagan (1981 a 1989).
O Golden State Warriors afirmou, em comunicado, que acreditam que "não há nada mais americano do que o direito dos cidadãos de se expressarem livremente sobre os assuntos que são importantes para eles", e que em vez da visita à Casa Branca, vão aproveitar uma viagem para Washington em fevereiro para "celebrar a igualdade, diversidade e inclusão –valores que abraçamos como organização".
NFL
Foi a segunda briga de Trump com esportistas em 24 horas. Na noite de sexta-feira (22), em um discurso no Alabama, ele criticou jogadores da NFL que ficam sentados, ajoelhados ou com os punhos erguidos durante a execução do hino nacional americano em partidas do campeonato.
A prática é um protesto contra a discriminação racial no país, e começou em 2016 com Colin Kaepernick, ex-jogador do San Francisco 49ers.
"Vocês não gostariam de ver um dos donos da NFL dizer 'tirem esse desgraçado do campo agora mesmo, ele está demitido!', quando alguém desrespeita nossa bandeira?", disse o presidente americano durante seu discurso.
DE SÃO PAULO
23/09/2017 18h01
Em um tweet publicado na manhã deste sábado (23), o presidente americano Donald Trump retirou o tradicional convite para que o mais recente campeão da NBA –no caso, o Golden State Warriors–, visitasse a Casa Branca.
Os Warriors não haviam decidido se aceitariam o convite, e na sexta-feira (22), o diretor-geral da equipe, Bob Myers, disse que o assunto estava sendo discutido com a Casa Branca.
A recusa de Trump foi motivada por uma declaração do principal jogador do time, o armador Stephen Curry, que na sexta-feira disse que não ir à Casa Branca porque "poderia inspirar alguma mudança sobre o que nós toleramos neste país, sobre o que é aceitável e o que nós nos recusamos a ver".
Em resposta, Trump tuitou que "ir à Casa Branca é considerado uma grande honra para um time. Stephen Curry está hesitando, então o convite está retirado".
O gesto de Trump rendeu críticas de jogadores da NBA e também da NFL, liga profissional de futebol americano.
LeBron James, do Cleveland Cavaliers, tuitou "ir à Casa Branca era uma honra antes de você aparecer", e Lesean McCoy, do Buffalo Bills, escreveu na rede social que "é realmente triste, nosso presidente é um idiota".
A visita do campeão de alguma das ligas esportivas do país começou em 1963, com John Kennedy, e se tornou tradição no mandato de Ronald Reagan (1981 a 1989).
O Golden State Warriors afirmou, em comunicado, que acreditam que "não há nada mais americano do que o direito dos cidadãos de se expressarem livremente sobre os assuntos que são importantes para eles", e que em vez da visita à Casa Branca, vão aproveitar uma viagem para Washington em fevereiro para "celebrar a igualdade, diversidade e inclusão –valores que abraçamos como organização".
NFL
Foi a segunda briga de Trump com esportistas em 24 horas. Na noite de sexta-feira (22), em um discurso no Alabama, ele criticou jogadores da NFL que ficam sentados, ajoelhados ou com os punhos erguidos durante a execução do hino nacional americano em partidas do campeonato.
A prática é um protesto contra a discriminação racial no país, e começou em 2016 com Colin Kaepernick, ex-jogador do San Francisco 49ers.
"Vocês não gostariam de ver um dos donos da NFL dizer 'tirem esse desgraçado do campo agora mesmo, ele está demitido!', quando alguém desrespeita nossa bandeira?", disse o presidente americano durante seu discurso.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
As Forças Armadas não agem contra o 'caos', mas são parte fundamental dele
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2017/09/1920752-as-forcas-armadas-nao-agem-contra-o-caos-mas-sao-parte-fundamental-dele.shtml
Por Vladimir Safatle
22/09/2017 02h00
Talvez não exista momento mais propício do que este para se lembrar da frase de Adorno e Horkheimer, para quem há horas em que não há nada mais estúpido do que ser inteligente. A frase se referia à incapacidade de setores da sociedade alemã de encararem claramente os signos de ascensão do nazismo no começo dos anos 1930 e pararem de procurar explicações sutis e inteligentes sobre a impossibilidade de o pior ocorrer. Dificilmente raciocínio dessa natureza não se aplicaria ao Brasil atual.
De fato, nosso país tem ao menos a virtude da clareza. E foi com a clareza a guiar seus olhos redentores que o general Antonio Hamilton Mourão revelou aos brasileiros que as Forças Armadas têm um golpe militar preparado, que há uma conspiração em marcha a fim de destituir o poder civil. Para mostrar que não se tratava de uma bravata que mereceria a mais dura das punições, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas descartou qualquer medida e ainda foi à televisão tecer loas a ditaduras e lembrar que, sim, as Forças Armadas podem intervir se o "caos" for iminente.
O "caos" em questão não é a instauração de um governo ilegal e brutalizado saído dos porões das casernas. Ao que parece, "caos" seria a situação atual de corrupção generalizada. Só que alguém poderia explicar à população de qual delírio saiu a crença de que as Forças Armadas brasileiras têm alguma moral para prometer redenção moral do país?
Que se saiba, quando seus pares tomaram de assalto o Palácio do Planalto, cresceram à sua sombra grandezas morais do quilate de José Sarney, Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães: todos pilares da ditadura. Enquanto eles estavam a atirar e censurar descontentes, o Brasil foi assolado por casos de corrupção como Capemi, Coroa Brastel, Brasilinvest, Paulipetro, grupo Delfin, projeto Jari, entre vários outros. Isso mesmo em um ambiente marcado pela censura e pela violência arbitrária.
De toda forma, como esperar moralidade de uma instituição que nunca viu maiores problemas em abrigar torturadores, estupradores, ocultadores de cadáveres, operadores de terrorismo de Estado, entre tantas outras grandes ações morais? As Forças Armadas brasileiras nunca tomaram distância dessas pessoas, expondo à nação um mea-culpa franco.
Ao contrário, elas os defenderam, os protegeram, até hoje. Que, ao menos, elas não venham oferecer ao país o espetáculo patético de aparecerem à cena da vida pública como defensoras de um renascimento moral feito, exatamente, pelas mãos de imoralistas. As Forças Armadas nunca foram uma garantia contra o "caos". Elas foram parte fundamental do caos.
É verdade que setores da sociedade civil sonham com mais um golpe como forma de esconder o desgoverno que eles mesmos produziram. Há setores do empresariado nacional que articulam abertamente nesse sentido, sonhando como isto não terem que se confrontar mais com uma população que luta pelos seus interesses. Para tanto, eles apelam ao artigo 142 da Constituição de 1988.
Este artigo fora, desde o início, uma aberração legislativa imposta pelos próprios militares. Ele legalizava golpes de Estado, da mesma forma que o artigo 41 da República de Weimar, que versava sobre o estado de emergência, permitiu a ascensão da estrutura institucional do nazismo. Segundo o artigo, se qualquer poder chamar as Forças Armadas para garantirem a ordem, se digamos o sr. Rodrigo Maia fizer um apelo às Forças Armadas porque há "caos" em demasia, o golpe está legalizado. Ou seja, é verdade, nossa Constituição tinha uma bomba-relógio no seu seio. Bomba pronta a explodi-la, como agora se percebe.
Contra essa marcha da insanidade, há de se lembrar que, se chegamos ao ponto no qual um general na ativa pode expor abertamente que conspira contra o poder civil, então cabe àqueles que entendem não terem nascido para serem subjugados pela tirania, que não estão dispostos a abrir mão do resto de liberdade que ainda têm para se submeter a mais uma das infindáveis juntas latino-americanas, prepararem-se para exercer seu mais profundo direito: o direito de resistência armada contra a tirania.
Que os liberais se lembrem de John Locke e de seu "Segundo Tratado sobre o Governo". Que os protestantes se lembrem de Calvino e de sua "Instituição da Religião Cristã". E que o resto se lembre que a liberdade se defende de forma incondicional.
Por Vladimir Safatle
22/09/2017 02h00
Talvez não exista momento mais propício do que este para se lembrar da frase de Adorno e Horkheimer, para quem há horas em que não há nada mais estúpido do que ser inteligente. A frase se referia à incapacidade de setores da sociedade alemã de encararem claramente os signos de ascensão do nazismo no começo dos anos 1930 e pararem de procurar explicações sutis e inteligentes sobre a impossibilidade de o pior ocorrer. Dificilmente raciocínio dessa natureza não se aplicaria ao Brasil atual.
De fato, nosso país tem ao menos a virtude da clareza. E foi com a clareza a guiar seus olhos redentores que o general Antonio Hamilton Mourão revelou aos brasileiros que as Forças Armadas têm um golpe militar preparado, que há uma conspiração em marcha a fim de destituir o poder civil. Para mostrar que não se tratava de uma bravata que mereceria a mais dura das punições, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas descartou qualquer medida e ainda foi à televisão tecer loas a ditaduras e lembrar que, sim, as Forças Armadas podem intervir se o "caos" for iminente.
O "caos" em questão não é a instauração de um governo ilegal e brutalizado saído dos porões das casernas. Ao que parece, "caos" seria a situação atual de corrupção generalizada. Só que alguém poderia explicar à população de qual delírio saiu a crença de que as Forças Armadas brasileiras têm alguma moral para prometer redenção moral do país?
Que se saiba, quando seus pares tomaram de assalto o Palácio do Planalto, cresceram à sua sombra grandezas morais do quilate de José Sarney, Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães: todos pilares da ditadura. Enquanto eles estavam a atirar e censurar descontentes, o Brasil foi assolado por casos de corrupção como Capemi, Coroa Brastel, Brasilinvest, Paulipetro, grupo Delfin, projeto Jari, entre vários outros. Isso mesmo em um ambiente marcado pela censura e pela violência arbitrária.
De toda forma, como esperar moralidade de uma instituição que nunca viu maiores problemas em abrigar torturadores, estupradores, ocultadores de cadáveres, operadores de terrorismo de Estado, entre tantas outras grandes ações morais? As Forças Armadas brasileiras nunca tomaram distância dessas pessoas, expondo à nação um mea-culpa franco.
Ao contrário, elas os defenderam, os protegeram, até hoje. Que, ao menos, elas não venham oferecer ao país o espetáculo patético de aparecerem à cena da vida pública como defensoras de um renascimento moral feito, exatamente, pelas mãos de imoralistas. As Forças Armadas nunca foram uma garantia contra o "caos". Elas foram parte fundamental do caos.
É verdade que setores da sociedade civil sonham com mais um golpe como forma de esconder o desgoverno que eles mesmos produziram. Há setores do empresariado nacional que articulam abertamente nesse sentido, sonhando como isto não terem que se confrontar mais com uma população que luta pelos seus interesses. Para tanto, eles apelam ao artigo 142 da Constituição de 1988.
Este artigo fora, desde o início, uma aberração legislativa imposta pelos próprios militares. Ele legalizava golpes de Estado, da mesma forma que o artigo 41 da República de Weimar, que versava sobre o estado de emergência, permitiu a ascensão da estrutura institucional do nazismo. Segundo o artigo, se qualquer poder chamar as Forças Armadas para garantirem a ordem, se digamos o sr. Rodrigo Maia fizer um apelo às Forças Armadas porque há "caos" em demasia, o golpe está legalizado. Ou seja, é verdade, nossa Constituição tinha uma bomba-relógio no seu seio. Bomba pronta a explodi-la, como agora se percebe.
Contra essa marcha da insanidade, há de se lembrar que, se chegamos ao ponto no qual um general na ativa pode expor abertamente que conspira contra o poder civil, então cabe àqueles que entendem não terem nascido para serem subjugados pela tirania, que não estão dispostos a abrir mão do resto de liberdade que ainda têm para se submeter a mais uma das infindáveis juntas latino-americanas, prepararem-se para exercer seu mais profundo direito: o direito de resistência armada contra a tirania.
Que os liberais se lembrem de John Locke e de seu "Segundo Tratado sobre o Governo". Que os protestantes se lembrem de Calvino e de sua "Instituição da Religião Cristã". E que o resto se lembre que a liberdade se defende de forma incondicional.
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Brasileiros, mais um esforço para sermos liberais
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2017/09/1920356-brasileiros-mais-um-esforco-para-sermos-liberais.shtml
Por: Contardo Calligaris
21/09/2017 02h00
Domingo, 10 de setembro, em Porto Alegre, o Santander Cultural encerrou a exposição "Queermuseu". O banco se apavorou diante das ameaças de boicote por clientes indignados com algumas das obras expostas –as quais ofenderiam a moral e instigariam pensamentos e atos impuros.
Uma parte, ao menos, dos protestos veio de pessoas que se declaram "liberais". Mamma mia. Liberal é quem defende, antes de mais nada, a liberdade do indivíduo (limitada apenas pelo Código Penal). Um liberal que não gostasse das obras expostas visitaria outra exposição. Ponto. Pretender boicotar o banco se a exposição não for fechada, essa é a conduta de grupos confessionais ou totalitários (fascistas ou comunistas).
Enquanto isso, os verdadeiros liberais, de esquerda ou de centro, tanto faz, escrevem colunas nos jornais, como eu agora, mas não agem. O que seria agir? Simples. Por sorte, sou cliente Itaú. Se eu fosse cliente Santander, acho que, nesta altura, fecharia minhas contas. Não aceitaria ser cliente de um banco que não corta nem sequer os pelos da orelha em nome da arte, mas chama seu serviço VIP de Van Gogh.
No dia 14, em Campo Grande, deputados registraram boletim de ocorrência alegando que um quadro exposto no Museu de Arte Contemporânea local faria apologia da pedofilia (de fato, a obra é uma denúncia).
Fora que a Constituição do Brasil é assim ludibriada, constato que, depois de milhares de abusos sexuais de crianças por parte de padres católicos (acobertados pela Igreja durante anos), ninguém denunciou inúmeras imagens que a Igreja propõe a seus fiéis e que alimentam a paixão pedofílica de seus ministros. Conheci padres atormentados, tentados e perseguidos pelas vinhetas do santo abraçando "com amor" as criancinhas que tanto gostavam dele. Se eu fosse procurador, é aí que procuraria a apologia do crime de pedofilia.
Poderia continuar com o caso da peça cancelada por decisão judicial no dia 15, em Jundiaí.
Mas o que me importa hoje é que o moralismo mais grosseiro exerce sua força política em chantagens eleitorais (ou comerciais, como com o Santander). Enquanto isso, os liberais se indignam e não agem –provavelmente pela antipatia que eles sentem por toda forma de ação coletiva. Mas como resistir a um obscurantismo no qual não gostaríamos de viver?
Um candidato que se diz liberal procura apoio nos fundamentalistas religiosos? Fora da nossa lista.
Um deputado promove uma lei para "curar" os gays ou, em geral, as pessoas que gozam de uma forma diferente da dele? Vamos pensar em como inserir, no próximo manual diagnóstico estatístico, o fundamentalismo religioso e moral como patologia?
Três anos atrás, em Veneza, entrei na igreja de San Zanipolo (João e Paulo). O guarda exigiu que a namorada de meu filho, que estava de shorts, escondesse suas pernas com uma manta.
"Quem instaurou essa regra?". Ele respondeu: "O papa". Perguntei se o papa tinha telefonado pessoalmente para o pároco. "Você não acha que o papa tem mais o que fazer?". Ele, consciente do ridículo, admitiu que não tinha sido o papa pessoalmente.
Perguntei se eu poderia entrar sem camisa. "Não!". Apontei para um crucifixo: "Ele estava nu". Ele respondeu que "Ele pode"... porque é Jesus". Concordei e continuei: "E os outros? Os mártires que aparecem nus nos quadros que decoram as igrejas do mundo inteiro?". Ele: "Também podem, porque foram supliciados". Minha vez: "Alguém que tivesse a cicatriz de uma cirurgia torácica ou cardíaca ou então as marcas do açoite por ter sido batido quando criança por pais sádicos, ele poderia? Você consideraria que ele foi supliciado?". "Não", ele respondeu, "os mártires morreram". "Então", resumi, "os mortos podem comparecer nus na igreja, os vivos, não. É isso?".
O homem ficou calado e irritado. Eu: "Sabe, eu sou terapeuta de adolescentes. Se seu problema for evitar que as pessoas se excitem sexualmente, você tem um problema: conheci dezenas de meninas que se masturbaram durante anos olhando para uma representação do momento em que arrancam os seios de santa Águeda mártir. E conheci dezenas de meninos que passaram anos se masturbando olhando para são Sebastião amarrado e transfixado de flechas. Os mártires são uma tremenda inspiração erótica...".
Os incendiários, às vezes, se fazem de bombeiros.
Por: Contardo Calligaris
21/09/2017 02h00
Domingo, 10 de setembro, em Porto Alegre, o Santander Cultural encerrou a exposição "Queermuseu". O banco se apavorou diante das ameaças de boicote por clientes indignados com algumas das obras expostas –as quais ofenderiam a moral e instigariam pensamentos e atos impuros.
Uma parte, ao menos, dos protestos veio de pessoas que se declaram "liberais". Mamma mia. Liberal é quem defende, antes de mais nada, a liberdade do indivíduo (limitada apenas pelo Código Penal). Um liberal que não gostasse das obras expostas visitaria outra exposição. Ponto. Pretender boicotar o banco se a exposição não for fechada, essa é a conduta de grupos confessionais ou totalitários (fascistas ou comunistas).
Enquanto isso, os verdadeiros liberais, de esquerda ou de centro, tanto faz, escrevem colunas nos jornais, como eu agora, mas não agem. O que seria agir? Simples. Por sorte, sou cliente Itaú. Se eu fosse cliente Santander, acho que, nesta altura, fecharia minhas contas. Não aceitaria ser cliente de um banco que não corta nem sequer os pelos da orelha em nome da arte, mas chama seu serviço VIP de Van Gogh.
No dia 14, em Campo Grande, deputados registraram boletim de ocorrência alegando que um quadro exposto no Museu de Arte Contemporânea local faria apologia da pedofilia (de fato, a obra é uma denúncia).
Fora que a Constituição do Brasil é assim ludibriada, constato que, depois de milhares de abusos sexuais de crianças por parte de padres católicos (acobertados pela Igreja durante anos), ninguém denunciou inúmeras imagens que a Igreja propõe a seus fiéis e que alimentam a paixão pedofílica de seus ministros. Conheci padres atormentados, tentados e perseguidos pelas vinhetas do santo abraçando "com amor" as criancinhas que tanto gostavam dele. Se eu fosse procurador, é aí que procuraria a apologia do crime de pedofilia.
Poderia continuar com o caso da peça cancelada por decisão judicial no dia 15, em Jundiaí.
Mas o que me importa hoje é que o moralismo mais grosseiro exerce sua força política em chantagens eleitorais (ou comerciais, como com o Santander). Enquanto isso, os liberais se indignam e não agem –provavelmente pela antipatia que eles sentem por toda forma de ação coletiva. Mas como resistir a um obscurantismo no qual não gostaríamos de viver?
Um candidato que se diz liberal procura apoio nos fundamentalistas religiosos? Fora da nossa lista.
Um deputado promove uma lei para "curar" os gays ou, em geral, as pessoas que gozam de uma forma diferente da dele? Vamos pensar em como inserir, no próximo manual diagnóstico estatístico, o fundamentalismo religioso e moral como patologia?
Três anos atrás, em Veneza, entrei na igreja de San Zanipolo (João e Paulo). O guarda exigiu que a namorada de meu filho, que estava de shorts, escondesse suas pernas com uma manta.
"Quem instaurou essa regra?". Ele respondeu: "O papa". Perguntei se o papa tinha telefonado pessoalmente para o pároco. "Você não acha que o papa tem mais o que fazer?". Ele, consciente do ridículo, admitiu que não tinha sido o papa pessoalmente.
Perguntei se eu poderia entrar sem camisa. "Não!". Apontei para um crucifixo: "Ele estava nu". Ele respondeu que "Ele pode"... porque é Jesus". Concordei e continuei: "E os outros? Os mártires que aparecem nus nos quadros que decoram as igrejas do mundo inteiro?". Ele: "Também podem, porque foram supliciados". Minha vez: "Alguém que tivesse a cicatriz de uma cirurgia torácica ou cardíaca ou então as marcas do açoite por ter sido batido quando criança por pais sádicos, ele poderia? Você consideraria que ele foi supliciado?". "Não", ele respondeu, "os mártires morreram". "Então", resumi, "os mortos podem comparecer nus na igreja, os vivos, não. É isso?".
O homem ficou calado e irritado. Eu: "Sabe, eu sou terapeuta de adolescentes. Se seu problema for evitar que as pessoas se excitem sexualmente, você tem um problema: conheci dezenas de meninas que se masturbaram durante anos olhando para uma representação do momento em que arrancam os seios de santa Águeda mártir. E conheci dezenas de meninos que passaram anos se masturbando olhando para são Sebastião amarrado e transfixado de flechas. Os mártires são uma tremenda inspiração erótica...".
Os incendiários, às vezes, se fazem de bombeiros.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Como lidar com Bolsonaro?
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pablo-ortellado/2017/09/1919744-como-lidar-com-bolsonaro.shtml
Por Pablo Ortellado
19/09/2017 07h31
A ascensão de Jair Bolsonaro em todas as últimas pesquisas eleitorais, nas quais sempre aparece como segundo colocado atrás apenas do ex-presidente Lula, deveria ser motivo de preocupação para qualquer democrata. Há bons motivos para esperar que sua inconsistência programática, o pouco tempo de TV e a baixa capacidade de construir alianças partidárias vai minar a sua candidatura, mas os contra-exemplos das candidaturas de Donald Trump, nos Estados Unidos, e Marine Le Pen, na França, assim como o sucesso da campanha do Brexit, no Reino Unido, mostram que soluções radicais em momentos de crise política aguda podem ter sucesso.
A candidatura de Bolsonaro é uma aventura de grandes proporções. Ele não tem, nem vagamente, um programa de governo e, com a exceção de um certo corporativismo semi-sindical em defesa do setor militar, se fez como figura pública apenas menosprezando a democracia, os direitos humanos e qualquer forma de desvio da velha norma social.
Em entrevistas, sempre que foi colocado à prova o conteúdo programático da sua candidatura, sua profunda ignorância sobre as políticas públicas prevaleceu. No entanto, quando fala sobre direitos humanos, tortura, feminismo, racismo e anticomunismo, é capaz de despertar grandes paixões —nos seus adversários, mas também nos seus seguidores.
Nenhum dos principais candidatos a presidente para as eleições de 2018 encarna tão bem o papel de antiestablishment como Bolsonaro. O ex-capitão do Exército não tem partido político tradicional (apesar da intenção de voto alta, teve que se contentar com o nanico PEN), não tem a simpatia dos meios de comunicação, não tem apoio relevante entre o empresariado e definitivamente não tem nenhum apoio dos movimentos sociais e sindicatos.
Sua campanha foi construída inteiramente pela base e nas redes sociais, lutando contra tudo e contra todos. Em suas viagens pelo Brasil, Bolsonaro é recebido nos aeroportos por grandes multidões e suas palestras despertam paixões como não se vê em política há muito tempo. Entre os seus jovens seguidores, é chamado de "mito".
Os analistas se dividem ao tentar explicar a natureza do fenômeno Bolsonaro. A intenção de voto nele parece ser um voto de protesto, profundamente antissistêmico —e o ódio do establishment ao seu radicalismo antidireitos humanos só contribuiria para a ampliação do fenômeno. Outros analistas ressaltam o papel no seu discurso do punitivismo militarista, uma corrente de opinião muito difundida na sociedade brasileira e da qual ele seria uma espécie de porta-voz. Finalmente, parece contribuir para o seu sucesso, a reputação que conseguiu forjar como pessoa honesta, o que, em tempos de Lava Jato, vale ouro.
Seja como for, a não ser que algum imprevisto sobrevenha, a sociedade brasileira precisa começar a pensar em como lidar com o crescimento da sua candidatura.
Num relatório muito influente sobre a ascensão global do populismo ("The Populist Explosion", da Columbia Global Reports) publicado em 2016, o jornalista John Judis dá alguns elementos para pensar.
Ao tratar dos "populistas de direita", um fenômeno que em alguns aspectos lembra Bolsonaro, Judis chama a atenção para o abuso conceitual que é tratar essas candidaturas como se fossem "fascistas". Judis argumenta que, ao contrário do fascismo histórico, que era antidemocrático e expansionista, os novos populistas de direita não tem mostrado qualquer pendor expansionista, têm respeitado a alternância de poder no jogo da democracia liberal e seu racismo tem ficado razoavelmente circunscrito às políticas antimigratórias.
Devemos esperar o mesmo de Bolsonaro? Devemos "normalizar" a sua candidatura? Está mais do que na hora de levantar essas incômodas questões, agora que um em cada cinco brasileiros diz que pretende votar nele. Estamos contando demais que sua incapacidade intelectual, sua deficiência programática, seu isolamento político e que as regras do jogo eleitoral vão dar conta de enterrar sua candidatura a presidente.
Por Pablo Ortellado
19/09/2017 07h31
A ascensão de Jair Bolsonaro em todas as últimas pesquisas eleitorais, nas quais sempre aparece como segundo colocado atrás apenas do ex-presidente Lula, deveria ser motivo de preocupação para qualquer democrata. Há bons motivos para esperar que sua inconsistência programática, o pouco tempo de TV e a baixa capacidade de construir alianças partidárias vai minar a sua candidatura, mas os contra-exemplos das candidaturas de Donald Trump, nos Estados Unidos, e Marine Le Pen, na França, assim como o sucesso da campanha do Brexit, no Reino Unido, mostram que soluções radicais em momentos de crise política aguda podem ter sucesso.
A candidatura de Bolsonaro é uma aventura de grandes proporções. Ele não tem, nem vagamente, um programa de governo e, com a exceção de um certo corporativismo semi-sindical em defesa do setor militar, se fez como figura pública apenas menosprezando a democracia, os direitos humanos e qualquer forma de desvio da velha norma social.
Em entrevistas, sempre que foi colocado à prova o conteúdo programático da sua candidatura, sua profunda ignorância sobre as políticas públicas prevaleceu. No entanto, quando fala sobre direitos humanos, tortura, feminismo, racismo e anticomunismo, é capaz de despertar grandes paixões —nos seus adversários, mas também nos seus seguidores.
Nenhum dos principais candidatos a presidente para as eleições de 2018 encarna tão bem o papel de antiestablishment como Bolsonaro. O ex-capitão do Exército não tem partido político tradicional (apesar da intenção de voto alta, teve que se contentar com o nanico PEN), não tem a simpatia dos meios de comunicação, não tem apoio relevante entre o empresariado e definitivamente não tem nenhum apoio dos movimentos sociais e sindicatos.
Sua campanha foi construída inteiramente pela base e nas redes sociais, lutando contra tudo e contra todos. Em suas viagens pelo Brasil, Bolsonaro é recebido nos aeroportos por grandes multidões e suas palestras despertam paixões como não se vê em política há muito tempo. Entre os seus jovens seguidores, é chamado de "mito".
Os analistas se dividem ao tentar explicar a natureza do fenômeno Bolsonaro. A intenção de voto nele parece ser um voto de protesto, profundamente antissistêmico —e o ódio do establishment ao seu radicalismo antidireitos humanos só contribuiria para a ampliação do fenômeno. Outros analistas ressaltam o papel no seu discurso do punitivismo militarista, uma corrente de opinião muito difundida na sociedade brasileira e da qual ele seria uma espécie de porta-voz. Finalmente, parece contribuir para o seu sucesso, a reputação que conseguiu forjar como pessoa honesta, o que, em tempos de Lava Jato, vale ouro.
Seja como for, a não ser que algum imprevisto sobrevenha, a sociedade brasileira precisa começar a pensar em como lidar com o crescimento da sua candidatura.
Num relatório muito influente sobre a ascensão global do populismo ("The Populist Explosion", da Columbia Global Reports) publicado em 2016, o jornalista John Judis dá alguns elementos para pensar.
Ao tratar dos "populistas de direita", um fenômeno que em alguns aspectos lembra Bolsonaro, Judis chama a atenção para o abuso conceitual que é tratar essas candidaturas como se fossem "fascistas". Judis argumenta que, ao contrário do fascismo histórico, que era antidemocrático e expansionista, os novos populistas de direita não tem mostrado qualquer pendor expansionista, têm respeitado a alternância de poder no jogo da democracia liberal e seu racismo tem ficado razoavelmente circunscrito às políticas antimigratórias.
Devemos esperar o mesmo de Bolsonaro? Devemos "normalizar" a sua candidatura? Está mais do que na hora de levantar essas incômodas questões, agora que um em cada cinco brasileiros diz que pretende votar nele. Estamos contando demais que sua incapacidade intelectual, sua deficiência programática, seu isolamento político e que as regras do jogo eleitoral vão dar conta de enterrar sua candidatura a presidente.
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
Primeiro discurso de Trump na ONU mira Irã, Coreia do Norte e Venezuela
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/09/1919546-primeiro-discurso-de-trump-na-onu-mira-ira-coreia-do-norte-e-venezuela.shtml
SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK
18/09/2017 22h00
Quando todos os olhos do mundo se voltarem para Donald Trump na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas, suas palavras terão a Coreia do Norte, o Irã e a Venezuela como o maior alvo.
No momento em que o regime de Kim Jong-un se torna a principal ameaça à paz mundial, com repetidos testes de mísseis indiferentes às duas rodadas de sanções contra Pyongyang aprovadas na ONU, o presidente americano quer usar sua estreia no órgão internacional para denunciar os abusos do ditador que apelidou de "homem do foguete" em tuítes recentes.
Também deve reservar espaço para atacar o Irã de Hassan Rouhani. Trump é crítico ferrenho do acordo nuclear costurado por Barack Obama e ameaça abandonar a medida que relaxou sanções econômicas contra Teerã em troca da desistência do país de construir um arsenal nuclear.
Brendan Smialowski/AFP
Donald Trump durante encontro com o francês Emmanuel Macron antes da Assembleia da ONU
Donald Trump durante encontro com o francês Emmanuel Macron antes da Assembleia da ONU
Mais nova integrante do eixo de ditaduras que desagrada o presidente americano, a Venezuela, assunto de um encontro entre Trump, o presidente Michel Temer e o colombiano Juan Manuel Santos, será outro assunto do discurso.
Trump, no caso, pretende usar sua aguardada estreia na ONU nesta terça como a maior vitrine para sua doutrina "America First", ou América em primeiro lugar, tema de sua campanha à Casa Branca.
"O que o presidente vai fazer é explicar como esse princípio é consistente com a ideia de cooperação internacional", disse Stephen Miller, um dos mais influentes conselheiros de Trump, a jornalistas. "É racional para qualquer nação. Países soberanos põem seus cidadãos em primeiro lugar."
Miller disse ainda que o discurso do chefe na ONU "apresenta sua visão para o mundo, mostrando como a América funciona e quais são seus valores". Será, nas palavras do assessor, "um discurso profundamente filosófico".
O líder americano deu até um nome a sua linha de pensamento. Trump costuma embasar suas estratégias de relações exteriores no que chama de "realismo de princípios", ações ancoradas "não em processos, mas em resultados", ecoando manuais de autoajuda e guias para empresários em busca de lucro.
Sua visão de mundo, aliás, parte do mesmo pragmatismo. Longe da ambição de construir e sustentar democracias pelo uso da força militar ao redor do mundo, Trump, pelo menos na visão de seu assessor, insiste na ideia de soberania, incentivando cada país a defender seus próprios interesses.
"Ele quer países mais sólidos e seguros, que possam dividir o fardo de ações internacionais", disse Miller. "É um modelo de baixo para cima, das pessoas para as nações, uma visão inclusiva pensada para que cada país faça a sua parte e reforce a defesa de nossa civilização."
SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK
18/09/2017 22h00
Quando todos os olhos do mundo se voltarem para Donald Trump na tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas, suas palavras terão a Coreia do Norte, o Irã e a Venezuela como o maior alvo.
No momento em que o regime de Kim Jong-un se torna a principal ameaça à paz mundial, com repetidos testes de mísseis indiferentes às duas rodadas de sanções contra Pyongyang aprovadas na ONU, o presidente americano quer usar sua estreia no órgão internacional para denunciar os abusos do ditador que apelidou de "homem do foguete" em tuítes recentes.
Também deve reservar espaço para atacar o Irã de Hassan Rouhani. Trump é crítico ferrenho do acordo nuclear costurado por Barack Obama e ameaça abandonar a medida que relaxou sanções econômicas contra Teerã em troca da desistência do país de construir um arsenal nuclear.
Brendan Smialowski/AFP
Donald Trump durante encontro com o francês Emmanuel Macron antes da Assembleia da ONU
Donald Trump durante encontro com o francês Emmanuel Macron antes da Assembleia da ONU
Mais nova integrante do eixo de ditaduras que desagrada o presidente americano, a Venezuela, assunto de um encontro entre Trump, o presidente Michel Temer e o colombiano Juan Manuel Santos, será outro assunto do discurso.
Trump, no caso, pretende usar sua aguardada estreia na ONU nesta terça como a maior vitrine para sua doutrina "America First", ou América em primeiro lugar, tema de sua campanha à Casa Branca.
"O que o presidente vai fazer é explicar como esse princípio é consistente com a ideia de cooperação internacional", disse Stephen Miller, um dos mais influentes conselheiros de Trump, a jornalistas. "É racional para qualquer nação. Países soberanos põem seus cidadãos em primeiro lugar."
Miller disse ainda que o discurso do chefe na ONU "apresenta sua visão para o mundo, mostrando como a América funciona e quais são seus valores". Será, nas palavras do assessor, "um discurso profundamente filosófico".
O líder americano deu até um nome a sua linha de pensamento. Trump costuma embasar suas estratégias de relações exteriores no que chama de "realismo de princípios", ações ancoradas "não em processos, mas em resultados", ecoando manuais de autoajuda e guias para empresários em busca de lucro.
Sua visão de mundo, aliás, parte do mesmo pragmatismo. Longe da ambição de construir e sustentar democracias pelo uso da força militar ao redor do mundo, Trump, pelo menos na visão de seu assessor, insiste na ideia de soberania, incentivando cada país a defender seus próprios interesses.
"Ele quer países mais sólidos e seguros, que possam dividir o fardo de ações internacionais", disse Miller. "É um modelo de baixo para cima, das pessoas para as nações, uma visão inclusiva pensada para que cada país faça a sua parte e reforce a defesa de nossa civilização."

terça-feira, 12 de setembro de 2017
Pierre Bergé não foi mecenas de Saint Laurent, mas de todo o negócio da moda
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pedrodiniz/2017/09/1916859-pierre-berge-nao-foi-so-mecenas-de-yves-saint-laurent-mas-de-todo-o-negocio-de-moda-moderno.shtml
08/09/2017 15h11
Por Pedro Diniz
A moda foi injusta com Pierre Bergé, morto nesta sexta-feira (8), na França, aos 86, em decorrência de uma miopatia (doença muscular). Diferentemente do propagado em filmes e livros, o empresário não foi apenas marido e mecenas de Yves Saint Laurent (1936-2008), mas o homem que fundou as bases do negócio de moda moderno, a união entre a aura exclusivista da alta-costura e o popular mercado de perfumes e, mais tarde, os ideais de fomento à cultura e deselitização das artes.
Grupos de moda como LVMH e Kering talvez não existissem se, no final dos anos 1950, Bergé não tivesse acreditado no experimentalismo como negócio. Anda em desuso sua crença de que deixar a mente criativa voar sem amarras comerciais é a única alternativa para a criação de moda genuína e que o dinheiro é apenas consequência disso. Segue como norte da indústria, porém, seu entendimento sobre a importância de criar um universo de estilo em torno de uma marca.
Foi ele quem expandiu a loucura estética de Saint Laurent para fora da França, levando o tal "empoderamento" de hoje às vitrines dos Estados Unidos e do resto da Europa. As mulheres passaram a usar roupas de alfaiataria –o smoking feminino da marca– não só porque lhes foi criado um conjunto específico, mas porque Bergé fez ele chegar mais barato do que os vestidos nos corpos das mulheres.
Ao lado do então companheiro, de quem se separou nos anos 1980, mas manteve a parceria até a morte do estilista, transformou a moda "pronto a vestir" em produto exportação da França, ao mesmo tempo em que, em 1973, organizou o calendário de desfiles de Paris, cuja realização era desordenada e desconectada das datas de lançamentos do varejo.
Empresário sagaz, soube vender e recomprar fatias da companhia, lucrando com investidas pontuais nos negócios de perfumaria, acessórios e roupas. Em 1989, ele fez da Yves Saint Laurent a primeira "maison" de moda listada na Bolsa de Valores, risco decisivo para a continuidade dos projetos de expansão do mercado de moda global. Transformando a roupa em ativo financeiro, Bergé lançou luz sobre toda a máquina da economia francesa.
Em uma leitura histórica, a mentalidade de Bergé se diferenciou da usada pelo empresário comum a partir da noção de que a moda deveria entregar de volta ao mundo a beleza roubada por ela e assumir a responsabilidade de aproximar culturas, combater o preconceito e promover a igualdade.
O amor de Saint Laurent por Marrocos virou coleção, a lendária "saharienne" (1969), mas também um museu dedicado à arte islâmica gerido e capitaneado por Bergé em Marrakech; a moda plastificou as artes visuais, como no icônico vestido Mondrian, inspirado na obra do artista holandês homônimo, mas abriu as portas para jovens artistas e investimentos em teatros e museus.
Bergé leiloou, um ano após a morte de Saint Laurent, toda a coleção de arte que juntou ao longo da vida ao lado do marido. Comenta-se bastante sobre as cifras milionárias do "leilão do século", como o evento ficou conhecido em 2009, mas pouco sobre o fato de os 367 milhões de euros arrecadados com os legados de Picasso, Henri Matisse e Marcel Duchamp terem virado pesquisas de vacinas contra a Aids, fundos para instituições de combate ao racismo e a preservação do legado da moda.
Em 2010, após o leilão, ele fez parte de um grupo de empresários que salvou da bancarrota o jornal "Le Monde". Entre seus negócios, também havia investimentos em semanários e na revista de cultura LGBT "Têtu".
Autodeclarado de esquerda, Bergé causou regozijo no meio político com doações milionárias e envolvimento nas campanhas das últimas quadro décadas. "Uma parte da nossa memória literária e artística morre com Pierre Bergé" disse o presidente francês Emmanuel Macron. "Um homem excepcional que defendeu a ideia de direitos iguais para todos", escreveu o ex-presidente François Hollande.
O instinto filantropo, aliás, durou até o fim da vida. Nos próximos meses, ele veria a abertura de dois museus, um em Marrakech e outro em Paris, que a Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent criou como acervo permanente da grife e de toda a produção de moda global.
A moda nunca compreendeu exatamente os motivos da generosidade de Bergé em financiar a produção artística. Em entrevista a um jornal português, há três anos, ele tentou se fazer entender, e só provou como seu pensamento se distancia do sistema da moda contemporâneo.
"Os homens de negócios vão, mais uma vez, ficar contra mim ao lerem isso, mas é preciso admitir que, se me implico em tantas causas e em tantos apoios a projetos artísticos, é para me fazer perdoar ou para explicar o que é que se deve fazer com o dinheiro. O dinheiro não pode servir apenas para gerar mais dinheiro", disse.
08/09/2017 15h11
Por Pedro Diniz
A moda foi injusta com Pierre Bergé, morto nesta sexta-feira (8), na França, aos 86, em decorrência de uma miopatia (doença muscular). Diferentemente do propagado em filmes e livros, o empresário não foi apenas marido e mecenas de Yves Saint Laurent (1936-2008), mas o homem que fundou as bases do negócio de moda moderno, a união entre a aura exclusivista da alta-costura e o popular mercado de perfumes e, mais tarde, os ideais de fomento à cultura e deselitização das artes.
Grupos de moda como LVMH e Kering talvez não existissem se, no final dos anos 1950, Bergé não tivesse acreditado no experimentalismo como negócio. Anda em desuso sua crença de que deixar a mente criativa voar sem amarras comerciais é a única alternativa para a criação de moda genuína e que o dinheiro é apenas consequência disso. Segue como norte da indústria, porém, seu entendimento sobre a importância de criar um universo de estilo em torno de uma marca.
Foi ele quem expandiu a loucura estética de Saint Laurent para fora da França, levando o tal "empoderamento" de hoje às vitrines dos Estados Unidos e do resto da Europa. As mulheres passaram a usar roupas de alfaiataria –o smoking feminino da marca– não só porque lhes foi criado um conjunto específico, mas porque Bergé fez ele chegar mais barato do que os vestidos nos corpos das mulheres.
Ao lado do então companheiro, de quem se separou nos anos 1980, mas manteve a parceria até a morte do estilista, transformou a moda "pronto a vestir" em produto exportação da França, ao mesmo tempo em que, em 1973, organizou o calendário de desfiles de Paris, cuja realização era desordenada e desconectada das datas de lançamentos do varejo.
Empresário sagaz, soube vender e recomprar fatias da companhia, lucrando com investidas pontuais nos negócios de perfumaria, acessórios e roupas. Em 1989, ele fez da Yves Saint Laurent a primeira "maison" de moda listada na Bolsa de Valores, risco decisivo para a continuidade dos projetos de expansão do mercado de moda global. Transformando a roupa em ativo financeiro, Bergé lançou luz sobre toda a máquina da economia francesa.
Em uma leitura histórica, a mentalidade de Bergé se diferenciou da usada pelo empresário comum a partir da noção de que a moda deveria entregar de volta ao mundo a beleza roubada por ela e assumir a responsabilidade de aproximar culturas, combater o preconceito e promover a igualdade.
O amor de Saint Laurent por Marrocos virou coleção, a lendária "saharienne" (1969), mas também um museu dedicado à arte islâmica gerido e capitaneado por Bergé em Marrakech; a moda plastificou as artes visuais, como no icônico vestido Mondrian, inspirado na obra do artista holandês homônimo, mas abriu as portas para jovens artistas e investimentos em teatros e museus.
Bergé leiloou, um ano após a morte de Saint Laurent, toda a coleção de arte que juntou ao longo da vida ao lado do marido. Comenta-se bastante sobre as cifras milionárias do "leilão do século", como o evento ficou conhecido em 2009, mas pouco sobre o fato de os 367 milhões de euros arrecadados com os legados de Picasso, Henri Matisse e Marcel Duchamp terem virado pesquisas de vacinas contra a Aids, fundos para instituições de combate ao racismo e a preservação do legado da moda.
Em 2010, após o leilão, ele fez parte de um grupo de empresários que salvou da bancarrota o jornal "Le Monde". Entre seus negócios, também havia investimentos em semanários e na revista de cultura LGBT "Têtu".
Autodeclarado de esquerda, Bergé causou regozijo no meio político com doações milionárias e envolvimento nas campanhas das últimas quadro décadas. "Uma parte da nossa memória literária e artística morre com Pierre Bergé" disse o presidente francês Emmanuel Macron. "Um homem excepcional que defendeu a ideia de direitos iguais para todos", escreveu o ex-presidente François Hollande.
O instinto filantropo, aliás, durou até o fim da vida. Nos próximos meses, ele veria a abertura de dois museus, um em Marrakech e outro em Paris, que a Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent criou como acervo permanente da grife e de toda a produção de moda global.
A moda nunca compreendeu exatamente os motivos da generosidade de Bergé em financiar a produção artística. Em entrevista a um jornal português, há três anos, ele tentou se fazer entender, e só provou como seu pensamento se distancia do sistema da moda contemporâneo.
"Os homens de negócios vão, mais uma vez, ficar contra mim ao lerem isso, mas é preciso admitir que, se me implico em tantas causas e em tantos apoios a projetos artísticos, é para me fazer perdoar ou para explicar o que é que se deve fazer com o dinheiro. O dinheiro não pode servir apenas para gerar mais dinheiro", disse.
sábado, 9 de setembro de 2017
MPF investiga massacre de índios isolados na Amazônia
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/09/1917116-mpf-investiga-massacre-de-indios-isolados-na-amazonia.shtml
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
09/09/2017 12h14
O Ministério Público Federal na Amazônia, em conjunto com a Polícia Federal, investiga um suposto massacre de uma tribo indígena isolada na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, ocorrido no mês passado.
O órgão confirmou a investigação, instaurada na última terça (29), a pedido da Funai (Fundação Nacional do Índio). A suspeita é que um grupo de garimpeiros ilegais tenha assassinado pelo menos dez pessoas –a Procuradoria não confirma o número nem a etnia dos índios.
A área sob investigação fica nas proximidades dos rios Jandiatuba e Jutaí, próximo à fronteira com o Peru, a cerca de 1.000 km de Manaus.
Dois garimpeiros foram presos em flagrante por porte ilegal de armas, durante a investigação. Eles e outras pessoas estão sendo ouvidas sobre a suspeita do crime.
A denúncia surgiu depois que garimpeiros foram vistos no município de São Paulo de Olivença, no oeste do Amazonas, exibindo "troféus" das mortes, segundo a ONG Survival International –ou seja, objetos que teriam sido recolhidos das vítimas, como flechas e um remo.
Mulheres e crianças estariam entre os mortos, segundo comunicado da ONG divulgado nesta sexta (8).
Uma foto de satélite que mostra ocas queimadas na região, datada de dezembro de 2016, também foi divulgada pela organização. Sobre a imagem, o Ministério Público Federal informou que não tem informações a respeito e que o local exato do massacre ainda está sendo apurado.
CONTEXTO
No início do ano, pressionada por cortes orçamentários, a Funai suspendeu as atividades de cinco bases de proteção a índios isolados na Amazônia.
"O corte no orçamento da Funai deixou dezenas de tribos isoladas sem defesa contra milhares de invasores, garimpeiros, fazendeiros e madeireiros, que estão desesperados para roubar e pilhar suas terras", declarou o diretor da Survival, Stephen Corry, em comunicado.
Autoridades têm tentado coibir o garimpo e outras atividades ilegais na região. Na semana passada, o MPF deflagrou uma operação na mesma área do suposto massacre indígena. Em ação conjunta com o Ibama e o Exército, 16 dragas de mineração foram identificadas ao longo do rio Jandiatuba, e cinco foram destruídas.
Cada draga custa cerca de R$ 1 milhão. "Nenhuma delas possuía documentação que justificasse a atividade garimpeira nas margens, igarapés ou calha do rio Jandiatuba", informou a Procuradoria.
"Nenhuma [draga] possuía documentação que justificasse a atividade garimpeira nas margens, igarapés ou calha do rio Jandiatuba", informou a Procuradoria.
Segundo o procurador da República Alexandre Aparizi, além dos danos ambientais, o garimpo ilegal na região está fortemente associado à prostituição, ao tráfico de drogas, a crimes violentos e a condições precárias de trabalho.
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
09/09/2017 12h14
O Ministério Público Federal na Amazônia, em conjunto com a Polícia Federal, investiga um suposto massacre de uma tribo indígena isolada na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, ocorrido no mês passado.
O órgão confirmou a investigação, instaurada na última terça (29), a pedido da Funai (Fundação Nacional do Índio). A suspeita é que um grupo de garimpeiros ilegais tenha assassinado pelo menos dez pessoas –a Procuradoria não confirma o número nem a etnia dos índios.
A área sob investigação fica nas proximidades dos rios Jandiatuba e Jutaí, próximo à fronteira com o Peru, a cerca de 1.000 km de Manaus.
Dois garimpeiros foram presos em flagrante por porte ilegal de armas, durante a investigação. Eles e outras pessoas estão sendo ouvidas sobre a suspeita do crime.
A denúncia surgiu depois que garimpeiros foram vistos no município de São Paulo de Olivença, no oeste do Amazonas, exibindo "troféus" das mortes, segundo a ONG Survival International –ou seja, objetos que teriam sido recolhidos das vítimas, como flechas e um remo.
Mulheres e crianças estariam entre os mortos, segundo comunicado da ONG divulgado nesta sexta (8).
Uma foto de satélite que mostra ocas queimadas na região, datada de dezembro de 2016, também foi divulgada pela organização. Sobre a imagem, o Ministério Público Federal informou que não tem informações a respeito e que o local exato do massacre ainda está sendo apurado.
CONTEXTO
No início do ano, pressionada por cortes orçamentários, a Funai suspendeu as atividades de cinco bases de proteção a índios isolados na Amazônia.
"O corte no orçamento da Funai deixou dezenas de tribos isoladas sem defesa contra milhares de invasores, garimpeiros, fazendeiros e madeireiros, que estão desesperados para roubar e pilhar suas terras", declarou o diretor da Survival, Stephen Corry, em comunicado.
Autoridades têm tentado coibir o garimpo e outras atividades ilegais na região. Na semana passada, o MPF deflagrou uma operação na mesma área do suposto massacre indígena. Em ação conjunta com o Ibama e o Exército, 16 dragas de mineração foram identificadas ao longo do rio Jandiatuba, e cinco foram destruídas.
Cada draga custa cerca de R$ 1 milhão. "Nenhuma delas possuía documentação que justificasse a atividade garimpeira nas margens, igarapés ou calha do rio Jandiatuba", informou a Procuradoria.
"Nenhuma [draga] possuía documentação que justificasse a atividade garimpeira nas margens, igarapés ou calha do rio Jandiatuba", informou a Procuradoria.
Segundo o procurador da República Alexandre Aparizi, além dos danos ambientais, o garimpo ilegal na região está fortemente associado à prostituição, ao tráfico de drogas, a crimes violentos e a condições precárias de trabalho.
Desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015, aponta estudo
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1916858-desigualdade-no-brasil-nao-caiu-desde-2001-aponta-estudo.shtml
FERNANDA PERRIN
NATÁLIA PORTINARI
DE SÃO PAULO
08/09/2017 14h58 - Atualizado às 21h31
A desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis "chocantes", de acordo com um estudo feito pelo World Wealth and Income Database, instituto de pesquisa codirigido pelo economista Thomas Piketty, conhecido por seus estudos sobre desigualdade com a obra "O Capital no Século 21".
Segundo a pesquisa, os 10% mais ricos da população aumentaram sua fatia na renda nacional de 54% para 55%, enquanto os 50% mais pobres ampliaram sua participação de 11% para 12% no período. Esse crescimento foi feito às custas de uma queda da participação de dois pontos percentuais dos 40% que estão entre os dois extremos (de 34% para 32%).
O crescimento econômico observado no Brasil no período teve pouco impacto na redução da desigualdade porque foi capturado principalmente pelos 10% mais ricos, que ficaram com 61% da expansão observada no período. Já a metade mais pobre da população foi beneficiada com apenas 18% desses ganhos.
"Em resumo, a desigualdade total de renda no Brasil parece ser muito resiliente à mudança, ao menos no médio prazo, principalmente em razão da extrema concentração de capital e seus fluxos de renda", conclui o estudo.
O estudo do World Wealth and Income Database, assinado pelo economista Marc Morgan, vai na contramão de indicadores como o índice de Gini, que mostra a desigualdade, o qual indicou que houve uma melhora do cenário no Brasil, atribuída às políticas de redistribuição de renda dos governos do PT, como o Bolsa Família, e à política de valorização do salário mínimo, cujo valor real aumentou cerca de 50% no período.
Com base nesses indicadores, os governos Lula e Dilma defenderam que houve redução na desigualdade durante suas gestões –o que o estudo questiona.
Os resultados mais recentes estão em linha com os observados pelos pesquisadores Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fábio de Castro, da Universidade de Brasília, que identificaram uma estabilidade no nível de desigualdade entre 2006 e 2012.
"A redistribuição que houve nos anos 2000 foi sobretudo na base da pirâmide, pelo aumento do salário dos trabalhadores menos qualificado por meio da valorização do salário mínimo e demanda maior por esses trabalhadores nos setores de serviços e construção naqueles anos", diz a economista da USP e colunista da Folha Laura Carvalho.
"Os mais ricos continuaram se apropriando de uma parcela muitíssimo elevada da renda, que pode ser explicada pela alta concentração de riqueza financeira e não financeira no Brasil, além dos juros altos", completa.
Segundo o estudo, a participação do Bolsa Família e do Benefício da Prestação Continuada (BPC) na renda total nacional foi de 1%, em média, nesses 15 anos. Apesar da contribuição total pequena, esses programas elevaram a taxa de crescimento da fatia dos 50% mais pobres de 9% para 21%.
QUESTÃO DE MÉTODO
Uma das explicações para a discrepância é a metodologia adotada. O estudo do World Wealth and Income Database leva em conta dados da Receita Federal e das contas nacionais no cálculo, o que minimiza o problema de pesquisas com base em declarações de entrevistados, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad, do IBGE), nas quais os mais ricos tendem a omitir sua renda.
Esther Dweck, assessora econômica do Ministério do Planejamento entre 2011 e 2016, afirma que não é possível medir se a situação de quem estava abaixo da linha da pobreza melhorou pelo estudo. "A renda dos mais miseráveis não é medida pelo Imposto de Renda, porque eles não declaram. Esse é um estudo que capta bem a situação do 1%, que não ganha com trabalho."
"De fato, pela Pnad, os números pareciam melhores. O estudo mostra que, no Brasil, não conseguimos fazer uma política de redistribuição na riqueza de forma mais estruturante", diz Dweck.
Assim, o levantamento chegou a uma média de renda anual de US$ 541 mil (R$ 1,6 milhão) entre o 1% mais rico da população (cerca de 1,4 milhão de pessoas) em 2015 —superior à renda média do top 1% francês (US$ 450 mil a US$ 500 mil). Ao mesmo tempo, a renda média dos 90% mais pobres no Brasil equivale à média dos 20% mais pobres da França.
Os mais ricos no Brasil têm, então, uma renda superior aos mais ricos da França, enquanto a maioria dos brasileiros têm renda equivalente aos franceses mais pobres.
Para Carvalho, são os dados comparativos com outros países os resultados mais chocantes da pesquisa.
Outra diferença é que a renda considerada no estudo é aquela antes da incidência do Imposto de Renda. Em geral, estudos sobre desigualdade consideram a renda efetivamente disponível, portanto aquela após ser tributada. A justificativa de Morgan pela renda antes da incidência de impostos é que ela captaria melhor recursos de capital e propriedades recebidos.
Um exemplo são os lucros não distribuídos de empresas fechadas, que cresceram a uma taxa três vezes superior à remuneração de empregados entre 2000 e 2015 (231% vs. 74%). Isso mostra que embora tenha ocorrido uma melhora na igualdade salarial, os recursos concentrados entre a população mais rica expandiram-se a uma velocidade muito maior.
"Nossos resultados levam a uma revisão acentuada para cima das estimativas oficiais de desigualdade no Brasil, ao mesmo tempo em que as tendências de queda na desigualdade são revertidas de acordo com a nossa série de dados", afirma Morgan no estudo.
PT
Na avaliação do PT, legenda que esteve no comando do país durante a maior parte do período coberto pelo levantamento, o estudo subestima a redistribuição de renda durante o período.
Isso porque os cálculos foram feitos com base no IR, que, na avaliação do secretário de comunicação nacional do partido, Carlos Henrique Árabe, não é um bom indicador da renda da população mais pobre, pois boa parte da população pobre nem sequer declara.
Na resposta, Árabe diz que o sistema tributário "espelha uma dinâmica de desigualdade".
"O sistema tributário espelha uma dinâmica de desigualdade em grande medida alimentada pelo próprio sistema tributário".
FERNANDA PERRIN
NATÁLIA PORTINARI
DE SÃO PAULO
08/09/2017 14h58 - Atualizado às 21h31
A desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015 e permanece em níveis "chocantes", de acordo com um estudo feito pelo World Wealth and Income Database, instituto de pesquisa codirigido pelo economista Thomas Piketty, conhecido por seus estudos sobre desigualdade com a obra "O Capital no Século 21".
Segundo a pesquisa, os 10% mais ricos da população aumentaram sua fatia na renda nacional de 54% para 55%, enquanto os 50% mais pobres ampliaram sua participação de 11% para 12% no período. Esse crescimento foi feito às custas de uma queda da participação de dois pontos percentuais dos 40% que estão entre os dois extremos (de 34% para 32%).
O crescimento econômico observado no Brasil no período teve pouco impacto na redução da desigualdade porque foi capturado principalmente pelos 10% mais ricos, que ficaram com 61% da expansão observada no período. Já a metade mais pobre da população foi beneficiada com apenas 18% desses ganhos.
"Em resumo, a desigualdade total de renda no Brasil parece ser muito resiliente à mudança, ao menos no médio prazo, principalmente em razão da extrema concentração de capital e seus fluxos de renda", conclui o estudo.
O estudo do World Wealth and Income Database, assinado pelo economista Marc Morgan, vai na contramão de indicadores como o índice de Gini, que mostra a desigualdade, o qual indicou que houve uma melhora do cenário no Brasil, atribuída às políticas de redistribuição de renda dos governos do PT, como o Bolsa Família, e à política de valorização do salário mínimo, cujo valor real aumentou cerca de 50% no período.
Com base nesses indicadores, os governos Lula e Dilma defenderam que houve redução na desigualdade durante suas gestões –o que o estudo questiona.
Os resultados mais recentes estão em linha com os observados pelos pesquisadores Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fábio de Castro, da Universidade de Brasília, que identificaram uma estabilidade no nível de desigualdade entre 2006 e 2012.
"A redistribuição que houve nos anos 2000 foi sobretudo na base da pirâmide, pelo aumento do salário dos trabalhadores menos qualificado por meio da valorização do salário mínimo e demanda maior por esses trabalhadores nos setores de serviços e construção naqueles anos", diz a economista da USP e colunista da Folha Laura Carvalho.
"Os mais ricos continuaram se apropriando de uma parcela muitíssimo elevada da renda, que pode ser explicada pela alta concentração de riqueza financeira e não financeira no Brasil, além dos juros altos", completa.
Segundo o estudo, a participação do Bolsa Família e do Benefício da Prestação Continuada (BPC) na renda total nacional foi de 1%, em média, nesses 15 anos. Apesar da contribuição total pequena, esses programas elevaram a taxa de crescimento da fatia dos 50% mais pobres de 9% para 21%.
QUESTÃO DE MÉTODO
Uma das explicações para a discrepância é a metodologia adotada. O estudo do World Wealth and Income Database leva em conta dados da Receita Federal e das contas nacionais no cálculo, o que minimiza o problema de pesquisas com base em declarações de entrevistados, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad, do IBGE), nas quais os mais ricos tendem a omitir sua renda.
Esther Dweck, assessora econômica do Ministério do Planejamento entre 2011 e 2016, afirma que não é possível medir se a situação de quem estava abaixo da linha da pobreza melhorou pelo estudo. "A renda dos mais miseráveis não é medida pelo Imposto de Renda, porque eles não declaram. Esse é um estudo que capta bem a situação do 1%, que não ganha com trabalho."
"De fato, pela Pnad, os números pareciam melhores. O estudo mostra que, no Brasil, não conseguimos fazer uma política de redistribuição na riqueza de forma mais estruturante", diz Dweck.
Assim, o levantamento chegou a uma média de renda anual de US$ 541 mil (R$ 1,6 milhão) entre o 1% mais rico da população (cerca de 1,4 milhão de pessoas) em 2015 —superior à renda média do top 1% francês (US$ 450 mil a US$ 500 mil). Ao mesmo tempo, a renda média dos 90% mais pobres no Brasil equivale à média dos 20% mais pobres da França.
Os mais ricos no Brasil têm, então, uma renda superior aos mais ricos da França, enquanto a maioria dos brasileiros têm renda equivalente aos franceses mais pobres.
Para Carvalho, são os dados comparativos com outros países os resultados mais chocantes da pesquisa.
Outra diferença é que a renda considerada no estudo é aquela antes da incidência do Imposto de Renda. Em geral, estudos sobre desigualdade consideram a renda efetivamente disponível, portanto aquela após ser tributada. A justificativa de Morgan pela renda antes da incidência de impostos é que ela captaria melhor recursos de capital e propriedades recebidos.
Um exemplo são os lucros não distribuídos de empresas fechadas, que cresceram a uma taxa três vezes superior à remuneração de empregados entre 2000 e 2015 (231% vs. 74%). Isso mostra que embora tenha ocorrido uma melhora na igualdade salarial, os recursos concentrados entre a população mais rica expandiram-se a uma velocidade muito maior.
"Nossos resultados levam a uma revisão acentuada para cima das estimativas oficiais de desigualdade no Brasil, ao mesmo tempo em que as tendências de queda na desigualdade são revertidas de acordo com a nossa série de dados", afirma Morgan no estudo.
PT
Na avaliação do PT, legenda que esteve no comando do país durante a maior parte do período coberto pelo levantamento, o estudo subestima a redistribuição de renda durante o período.
Isso porque os cálculos foram feitos com base no IR, que, na avaliação do secretário de comunicação nacional do partido, Carlos Henrique Árabe, não é um bom indicador da renda da população mais pobre, pois boa parte da população pobre nem sequer declara.
Na resposta, Árabe diz que o sistema tributário "espelha uma dinâmica de desigualdade".
"O sistema tributário espelha uma dinâmica de desigualdade em grande medida alimentada pelo próprio sistema tributário".
Furacão Irma atinge Cuba com ventos de 250 km/h e se aproxima da Flórida
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/09/1917106-furacao-irma-atinge-cuba-com-ventos-de-250-kmh-e-perde-forca.shtml#
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
09/09/2017 08h32 - Atualizado às 15h09
O furacão Irma, atualmente classificado como categoria três, atingiu a costa norte de Cuba nas primeiras horas deste sábado (9) e deve chegar à Florida até a manhã de domingo (10).
A tempestade chegou a ter ventos de até 250 km/h ao atingir a ilha, de acordo com o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC), que em seu último boletim, às 12h de Brasília, anunciou queda da categoria quatro para três.
"Acontecerão flutuações de intensidade nos próximos dois dias, mas acreditamos que o Irma continuará sendo um furacão poderoso enquanto se aproxima da Flórida", advertiu o órgão americano.
As cenas de destruição ao longo da costa norte de Cuba são similares às que ocorreram em outras ilhas do Caribe ao longo dos últimos dias. A tempestade atingiu a província de Ciego de Avila por volta de meia-noite. Às 6h locais (7h no horário de Brasília), o furacão estava sobre Cayo Santa Maria e 50 km ao leste de Caibarién, Villa Clara.
O Irma é o furacão mais poderoso cujo olho afetou diretamente a ilha desde 1932.
Mar agitado, céu escuro, rajadas de chuva, palmeiras encurvadas, ondas de cinco a sete metros de altura quebrando em muros na praia e fornecimento de energia suspenso foram noticiados pela TV estatal em Cuba. Até o momento, nenhuma morte foi registrada.
Meteorologistas alertam que o furação deve deixar uma grande devastação na costa do país conforme se move no sentido oeste. Depois, a previsão é que ele mude de direção e siga para o norte, rumo aos EUA, quando deve ganhar força.
Mais de um milhão de pessoas deixaram suas casas em Cuba. Nas áreas turísticas da costa norte da ilha, mais de 10.000 turistas estrangeiros e milhares de cubanos foram levados para locais seguros.
De acordo com o último boletim do NHC, Irma está a 395 km da Flórida, onde o governo local ordenou que mais de 5,6 milhões de habitantes deixem suas casas.
DESTRUIÇÃO
No Caribe, o Irma destruiu casas, lojas, estradas e escolas, além de causar pelo menos 25 mortes.
Em St. Martin e St. Barts, foram anunciadas nove mortes. Autoridades, porém, dizem que o número pode aumentar, já as equipes de resgate ainda não tiveram uma visão total dos estragos. O Itamaraty recebeu um pedido de ajuda de brasileiros na ilha.
No lado holandês da ilha, o governo relatou saques em lojas. Policiais foram deslocados para a área.
Quatro pessoas morreram nas Ilhas Virgens dos EUA, onde as autoridades descrevem os danos como catastróficos.
Um bebê de dois anos cuja família tentava deixar a residência durante a passagem do furacão morreu em Antígua e Barbuda.
JOSÉ
O furacão José, que subiu para a categoria quatro, deve passar 100 km ao norte de St. Martin neste sábado (9) à noite.
Equipes de resgate que atuam na ilha e em St. Barts podem ter seu trabalho prejudicado. São esperadas ondas de seis a oito metros, chuva intermitente e rajadas de vento de até 150 km/h, segundo agência de meteorologia francesa.
As duas ilhas estão sob alerta de ciclone.
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
09/09/2017 08h32 - Atualizado às 15h09
O furacão Irma, atualmente classificado como categoria três, atingiu a costa norte de Cuba nas primeiras horas deste sábado (9) e deve chegar à Florida até a manhã de domingo (10).
A tempestade chegou a ter ventos de até 250 km/h ao atingir a ilha, de acordo com o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC), que em seu último boletim, às 12h de Brasília, anunciou queda da categoria quatro para três.
"Acontecerão flutuações de intensidade nos próximos dois dias, mas acreditamos que o Irma continuará sendo um furacão poderoso enquanto se aproxima da Flórida", advertiu o órgão americano.
As cenas de destruição ao longo da costa norte de Cuba são similares às que ocorreram em outras ilhas do Caribe ao longo dos últimos dias. A tempestade atingiu a província de Ciego de Avila por volta de meia-noite. Às 6h locais (7h no horário de Brasília), o furacão estava sobre Cayo Santa Maria e 50 km ao leste de Caibarién, Villa Clara.
O Irma é o furacão mais poderoso cujo olho afetou diretamente a ilha desde 1932.
Mar agitado, céu escuro, rajadas de chuva, palmeiras encurvadas, ondas de cinco a sete metros de altura quebrando em muros na praia e fornecimento de energia suspenso foram noticiados pela TV estatal em Cuba. Até o momento, nenhuma morte foi registrada.
Meteorologistas alertam que o furação deve deixar uma grande devastação na costa do país conforme se move no sentido oeste. Depois, a previsão é que ele mude de direção e siga para o norte, rumo aos EUA, quando deve ganhar força.
Mais de um milhão de pessoas deixaram suas casas em Cuba. Nas áreas turísticas da costa norte da ilha, mais de 10.000 turistas estrangeiros e milhares de cubanos foram levados para locais seguros.
De acordo com o último boletim do NHC, Irma está a 395 km da Flórida, onde o governo local ordenou que mais de 5,6 milhões de habitantes deixem suas casas.
DESTRUIÇÃO
No Caribe, o Irma destruiu casas, lojas, estradas e escolas, além de causar pelo menos 25 mortes.
Em St. Martin e St. Barts, foram anunciadas nove mortes. Autoridades, porém, dizem que o número pode aumentar, já as equipes de resgate ainda não tiveram uma visão total dos estragos. O Itamaraty recebeu um pedido de ajuda de brasileiros na ilha.
No lado holandês da ilha, o governo relatou saques em lojas. Policiais foram deslocados para a área.
Quatro pessoas morreram nas Ilhas Virgens dos EUA, onde as autoridades descrevem os danos como catastróficos.
Um bebê de dois anos cuja família tentava deixar a residência durante a passagem do furacão morreu em Antígua e Barbuda.
JOSÉ
O furacão José, que subiu para a categoria quatro, deve passar 100 km ao norte de St. Martin neste sábado (9) à noite.
Equipes de resgate que atuam na ilha e em St. Barts podem ter seu trabalho prejudicado. São esperadas ondas de seis a oito metros, chuva intermitente e rajadas de vento de até 150 km/h, segundo agência de meteorologia francesa.
As duas ilhas estão sob alerta de ciclone.
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