segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Desde que PT caiu, reveses do combate à corrupção se acumulam

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/celso-rocha-de-barros/2017/10/1931328-desde-que-pt-caiu-revezes-do-combate-a-corrupcao-se-acumulam.shtml

Por Celso Rocha de Barros
30/10/2017  02h00

Neste exato momento, as evidências contra Michel Temer são o que PT e PSDB sempre sonharam encontrar um sobre o outro. Quando Dilma caiu, não havia contra ela delação que fosse nem sequer comparável à de Lúcio Funaro contra Temer. Se FHC tivesse sido gravado naquela conversa com Joesley, cairia antes do raiar do dia seguinte.

E, no entanto, Temer acaba de sobreviver a mais uma denúncia. Além da gambiarra de Gilmar Mendes no TSE, já são duas fugas pelo porão do Congresso.

E isso tudo enquanto o Brasil ainda vive sob os efeitos da Lava Jato, a maior investigação de corrupção da história.

Todos os quadros importantes do governo Temer são pesadamente envolvidos nos escândalos. E o que é pior: os escândalos parecem ter destroçado PT e PSDB, que se alternavam no poder, mas deram a Presidência ao PMDB, que foi parceiro de todos os partidos em todos os escândalos.

Ninguém nunca achou que a Lava Jato conseguiria pegar todos os corruptos. Se Temer fosse um caso isolado de picareta que conseguiu fugir, menos mal. Mas há razões para ter medo de que não seja só isso.

Precisamos lidar com a possibilidade de que a janela em que os governantes brasileiros estiveram submetidos à lei, aberta quando o PT chegou ao poder, esteja se fechando.

Os governos petistas eram claramente mais fracos que seus antecessores de centro-direita: eram francamente minoritários no Congresso, nunca tiveram um único veículo de grande mídia que os apoiasse, e estavam sempre sob suspeita do empresariado. A opinião pública teria destroçado o PT se Lula tivesse indicado para o Supremo alguém tão partidário quanto Gilmar Mendes.

Nesse contexto, o jornalismo de denúncia teve uma era de ouro, Joaquim Barbosa prendeu os acusados do mensalão enquanto o grupo deles ainda estava no poder, e a Lava Jato começou seu trabalho.

Desde que o PT caiu, os reveses do combate à corrupção se acumulam. A boa notícia é que a melhor imprensa não deixou de denunciar os escândalos contra Temer; mas o apoio de todos os grandes veículos às reformas acaba colocando um limite no tom e na ênfase. O empresariado provavelmente preferia um governo liberal e honesto, mas, já que não há nenhum em oferta, acaba aceitando um liberal e corrupto. E a esquerda na oposição simplesmente não é forte o suficiente para sustentar politicamente quem enfrentar o novo grupo no poder.

Veja que o problema não é que o PT fosse inocente. É que ele era mais fraco. Sergio Moro nunca correu risco nenhum de ser escrachado pela opinião pública enquanto processava Lula, mas Rodrigo Janot foi massacrado por desmascarar Temer. Não há como comparar o poder de fogo dos blogs petistas anti-Moro com o da atual turma chapa branca.

Na última quarta-feira, após a vitória de Temer, o deputado Cunha Boy Carlos Marun (PMDB-MS) dançou para as câmeras cantando "Tudo está no seu lugar", de Benito di Paula.

As coisas não estão onde deveriam estar, Marun, mas, ao que parece, estão voltando para onde estavam antes. A janela de transparência de 2003-2016 parece estar se fechando sob governos mais fortes que os petistas. Resta torcer para que Justiça e imprensa tenham acumulado forças suficientes nesse período para sobreviver na nova fase.

Até agora, só perderam.

domingo, 29 de outubro de 2017

Estupros e agressões de mulheres indicam limpeza étnica em Mianmar

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1931141-estupros-e-agressoes-de-mulheres-indicam-limpeza-etnica-em-mianmar.shtml

CAROLINA VILA-NOVA
DE SÃO PAULO

29/10/2017  02h00

O Exército birmanês chegou ao vilarejo rohingya onde Amina (nome fictício) morava, em Mianmar. Cercou as casas; separou de um lado os homens, de outro, as mulheres e as crianças.

Os homens foram espancados e torturados. As mulheres, estupradas. Amina viu o marido e o pai serem mortos.

Ela tinha dado à luz cinco dias antes, mas foi estuprada, assim como sua mãe e irmã. As casas foram queimadas. Quando os militares foram embora, ela e outros sobreviventes reuniram forças e correram até outro vilarejo.

Alguns dias depois, os militares chegaram lá também. Seguiu-se o mesmo procedimento: vilarejo cercado; homens, mulheres e crianças separados. Amina foi novamente estuprada. Desta vez, a mãe dela morreu.

Após dois estupros e sendo uma parturiente, não sentia ter forças para fugir de novo. Disseram-lhe que tinha de deixar o filho se quisesse chegar a Bangladesh. Ela então deixou o bebê para trás.

O relato acima foi coletado pela obstetriz brasileira Andrêza Trajano, 31, que trabalhava na clínica da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) onde Amina foi atendida, no campo de Kutupalong, em Cox's Bazar, Bangladesh.

A ONU e diversas ONGs de direitos humanos e de ajuda humanitária apontam que a violência sexual se tornou uma arma sistemática e premeditada do Exército na campanha de limpeza étnica contra a minoria étnica rohingya em Mianmar, país de maioria budista no Sudeste Asiático.

"É bem claro que o estupro é usado como arma de limpeza étnica. É como o Exército birmanês opera", afirma Skye Wheeler, especialista em direitos da mulher da ONG Human Rights Watch. "É uma campanha de medo. Uma das maneiras como eles criam terror e forçam as pessoas a fugir é pela violência sexual."

CRIANÇAS

Relatório da Comissão de Direitos Humanos da ONU de setembro aponta que mulheres e meninas de até cinco anos têm sido alvo de estupro e estupro coletivo, normalmente por homens de uniforme e diante da família.
O texto também cita o "desaparecimento das mais bonitas das vilas" —possíveis vítimas de tráfico sexual.

"Como obstetriz, trabalhava com a parte sexual e reprodutiva da clínica. O que vi muito e atendi foram casos de violência sexual, durante o período em que aumentou a quantidade de pessoas vindo de Mianmar", conta Trajano, que atuou em Cox's Bazar até o fim de agosto.

"Quando cheguei, tive quase dois meses de calmaria. Casos de violência sexual eram de um a três por mês. Claro que sempre tem aquele viés de que as pessoas não buscam [ajuda]. Mas quando saí, a média era 15 por mês."

Trajano deixou Bangladesh momentos antes de a última onda de refugiados começar —no fim de agosto, um ataque de rebeldes do Exército da Salvação Rohingya Arakan no Estado de Rakhine, onde essa etnia se concentra em Mianmar, detonou a "operação limpeza" do Exército. Desde então, mais de 600 mil rohingyas chegaram a Bangladesh.

"O que está acontecendo hoje é muito maior em comparação com o que vi em dez meses", diz ela. O atendimento na clínica aumentou de uma média de 300 pessoas para mais de 1.000 por dia.

Outro caso que marcou Trajano foi o de Shofika (nome fictício), uma rohingya de 17 anos que estava grávida pela segunda vez.

Segundo o relato de Shofika, os militares chegaram à vila e seguiram o protocolo: cercaram e queimaram casas, puseram homens de um lado e mulheres e crianças de outro. Shofika disse que estava grávida, mas ainda assim foi estuprada por sete homens.

Com o marido, que fora espancado, fugiu para Bangladesh pela fronteira de Teknaf. Sem conseguir atendimento médico, seguiu para Kutupalong. "A queixa principal dela era um prolapso de colo de útero. O colo do útero dela estava para fora. Ela ainda estava grávida, havia batimento cardíaco", conta Trajano.

"Esse foi um caso de sucesso, digamos, porque demos os cuidados iniciais, fizemos profilaxia para doenças, foi feita uma correção [para o prolapso] e ela fez acompanhamento de pré-natal. E ela pariu com a gente em julho. O medo dela era perder o bebê, que ela queria muito."

Desde agosto, a clínica do MSF atendeu 56 mulheres e meninas vítimas de violência sexual. Mais de 75% eram rohingya que haviam fugido de Mianmar e cerca de 50% tinham 18 anos ou menos. Mas a organização pensa que esses números representam apenas uma fração dos casos reais de abusos de rohingyas.

"As mulheres muitas vezes relutam em buscar serviços devido a vários fatores, incluindo a vergonha e o estigma associados ao ataque sexual, à falta de conhecimento sobre o apoio médico e psicológico disponível e à incerteza sobre o que poderia acontecer se elas procurassem ajuda", diz o MSF.

A líder de fato de Mianmar, Aung San Suu Kyi, nunca comentou as denúncias. Mas ela falou sobre o uso do estupro em conflitos no país antes de subir ao poder. "É usado como arma pelas Forças Armadas para intimidar as nacionalidades étnicas e dividir nosso país", afirmava em um vídeo de 2011.

Seu porta-voz, Zaw Htay, disse que o governo investigaria as alegações. "Essas vítimas de estupros deveriam vir até nós. Vamos dar a elas total segurança. Vamos investigar e adotar ações."

Já o coronel Phone Tint, responsável pela fronteira norte de Mianmar, ironizou. "Cadê a prova? Olhe para essas mulheres. Quem iria querer estuprá-las?"

"O governo não vai fazer a coisa certa. O que precisamos é de pressão internacional, embargo de armas, sanções individuais, proibições de viagens, congelamentos de bens —ações que mostrem que estamos do lado dos rohingya", disse Wheeler.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sem debate, governo cria norma para multar pedestres e ciclistas a partir de 2018

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1930759-governo-cria-norma-para-multar-pedestres-e-ciclistas-a-partir-de-2018.shtml

DE SÃO PAULO

27/10/2017  11h32

Pedestres e ciclistas flagrados cometendo alguma infração de trânsito no país serão multados. É o que estipula uma nova resolução regulamentada pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), órgão do Ministério das Cidades, nesta sexta-feira (27).

O governo informou que a fiscalização entrará em vigor nos próximos 180 dias, a partir da data de publicação da nova norma.

O pedestre que permanecer nas vias por onde passam os carros ou aquele que cruzar pistas em viadutos, pontes ou túneis serão autuados. Também ficou proibido atravessar pistas dentro das áreas de cruzamento.

A autuação para pedestres e ciclistas já estava prevista no Código de Trânsito Brasileiro, mas ainda não havia sido regulamentada.

A regulamentação 706/2017 ainda prevê punição para quem andar fora de faixas próprias, como ciclovias, e de passarelas de passagem. A punição ao pedestre, de R$ 44,19, é o equivalente a 50% do valor da infração considerada leve.

O ciclista que for flagrado pilotando uma bicicleta em local proibido ou que estiver guiando o veículo de forma agressiva será multado em até R$ 130,16 (infração média). Ele terá ainda a bicicleta recolhida pelos agentes de trânsito.

"Ainda que o pedestre seja a parte mais frágil, ele também pode causar um acidente quando não cumpre as regras do trânsito e coloca todos os outros em situação de risco", disse Elmer Vicenzi, diretor do Denatran.

Segundo Meli Malatesta,especialista em mobilidade a pé, a medida traz uma injustiça ao trânsito brasileiro. "Ainda que as infrações a pedestres e ciclistas estejam previstas no Código Brasileiro de Trânsito, não há infraestrutura nas ruas e avenidas brasileiras para que essas categorias trafeguem. Quem anda a pé muitas vezes não tem a escolha de atravessar na faixa, pois a faixa não existe, ou não está no seu trajeto", analisa ela. "O pedestre está hoje entre as maiores vítimas do trânsito e não é assim que iremos diminuir este cenário. Hoje o pedestre não tem nem os seus direitos garantidos".

Meli ainda critica a medida que diz ter sido tomada sem o esperado debate público.

MULTA

De acordo com o Denatran, o agente de trânsito que verificar a infração terá que preencher um documento chamado "auto de infração", que poderá ser eletrônico, com todos os dados pessoais do infrator. O órgão não informou como será feita a cobrança nos casos em que o ciclista ou o pedestre se negar a fornecer sua identificação.

A nova resolução ainda diz que todos os órgãos envolvidos na fiscalização do trânsito, como Dnit, polícia rodoviária e prefeituras, ficarão responsáveis por implementar seus modelos de auto de infração.

'Não vamos desistir', diz Sindipetro sobre suspensão de leilão do pré-sal

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1930773-nao-vamos-desistir-diz-sindipetro-sobre-suspensao-de-leilao-do-pre-sal.shtml

CÁTIA SEABRA
DE SÃO PAULO

27/10/2017  13h03 - Atualizado às 13h54

O coordenador-geral do Sindipetro (Sindicato dos Petroleiros) do Amazonas, Acácio Carneiro, afirmou, nesta sexta-feira (27), que a entidade recorrerá para suspender novamente o leilão do pré-sal, iniciado há pouco mais de uma hora.

Segundo Carneiro, todos os sindicatos filiados à federação entraram na Justiça contra o leilão. "Não vamos desistir", disse ele, afirmando que o governo joga fora anos de investimento em tecnologia.

Na manhã desta sexta-feira, o juiz Ricardo Sales, da 3ª Vara Cível da Justiça Federal de Manaus, concedeu uma liminar suspendendo o leilão. Ele argumentou que os valores cobrados pelas áreas são baixos e que a lei que pôs fim à exclusividade da Petrobras no pré-sal apresenta "vício constitucional".

A suspensão foi obtida em ação conjunta entre o PT, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e sindicatos, que entraram com pedidos em diversos Estados.

"A derrubada da liminar atende interesses dos entreguistas, do mercado internacional, de quem não pensa no Brasil. É um acinte e isso só acontece porque estamos vivendo um período tenebroso de desrespeito ao Estado de direito", disse Vagner Freitas, presidente Nacional da CUT.

A AGU (Advocacia Geral da União) recorreu e obteve vitória no TRF1. Ironizando a rapidez da Justiça no atendimento à AGU, Carneiro afirmou que o sindicato vai recorrer.

"Ao invés de ser investigado e punido por seus crimes de corrupção, o ilegitimo continua livre para vender as nossas riquezas naturais a preço de banana, prejudicando a classe trabalhadora e os mais pobres, que seriam os mais beneficiados com melhorias na saúde e na educação com milhões de reais dos royalties", afirmou Freitas.

Ao abrir o leilão, o diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e biocombustíveis), Décio Oddone, agradeceu à procuradoria geral da agência pelo esforço para derrubar a liminar, "mostrando que não há insegurança jurídica no Brasil."

O leilão é encarado pelo governo como um reforço à agenda positiva após a vitória na votação sobre a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na última quarta-feira (25).

"Estamos abrindo a porta, não só do ponto de vista moral, mas também do ponto de vista econômico e social, para recuperar o tempo perdido", disse em seu discurso o ministro da secretaria geral da Presidência da República, Moreira Franco.

"Estarmos aqui é um sucesso não só para o nosso governo. É um sucesso para o Brasil", afirmou o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.

Governo arrecada R$ 6,15 bilhões com leilões do pré-sal

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1930790-governo-arrecada-r-615-bilhoes-com-leiloes-do-pre-sal.shtml

NICOLA PAMPLONA
DO RIO

27/10/2017  14h21 - Atualizado às 15h28

Com a venda de seis das oito áreas ofertadas, o governo arrecadou R$ 6,15 bilhões com as duas rodadas de licitação do pré-sal realizadas nesta sexta (27). O valor representa 79% da receita total esperada inicialmente.

Governo e ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) classificaram o resultado como "estrondoso sucesso", alegando que os ganhos para o país com a exploração das áreas será maior do que o estimado.

Isso porque houve grande competição por alguns dos blocos -nesses leilões, venceram os consórcios que se comprometeram a entregar o maior volume do petróleo produzido à União, depois de descorados os gastos nos projetos.

Na segunda rodada de licitações, o percentual mínimo médio ficou em 52,8% e na terceira, em 58,5%. São valores maiores do que os 41,65% do primeiro leilão do pré-sal, em 2013, quando foi vendida a área de Libra.

"O bônus é importante sim, mas o ganho que virá com o petróleo no futuro é muito mais", disse o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.

"O aumento dos percentuais mínimos terá impacto brutal na arrecadação futura", reforçou o diretor-geral da ANP, Décio Oddone.

O dinheiro dos bônus será depositado em dezembro, ajudando o governo a reduzir o deficit fiscal de 2017.

O maior ágio foi pago por consórcio liderado pela Petrobras para a área Entorno de Sapinhoá: 873,89%. Ao lado de Shell e Repsol Sinopec, a estatal se dispôs a entregar 80% do óleo excedente ao governo.

O segundo maior ágio, de 454,07%, também foi dado por consórcio liderado pela Petrobras, com a chinesa CNPC e a britânica BP, para a área de Peroba, a mais disputada do leilão.

As empresas já detém a concessão de Sapinhoá, hoje o segundo maior campo de petróleo do país, e apostaram alto para não perderem a parte da jazida que foi oferecida neste leilão.

Nas duas áreas com ágio recorde, a Petrobras havia exercido o direito de preferência previsto em lei e, mesmo se perdesse as disputas, poderia optar por ter 30% do consórcio vencedor.

"Não podíamos nos dar ao luxo de perder as áreas", disse o presidente da estatal, Pedro Parente, em entrevista após o leilão. "Como vimos grandes empresas participando, fomos ao limite do que considerávamos rentável".

Segundo ele, a empresa precisa assegurar novas reservas para manter, no futuro, sua relação entre reservas e produção.

Parente disse que os recursos gastos com os bônus e os investimentos previstos nas áreas não terão impacto relevante sobre o plano de negócios das companhias.

A empresa que teve maior participação foi a Shell, que disputou as seis das oito áreas que tiveram ofertas, a maior parte delas, porém, com percentuais de óleo baixos.

Levou três, uma em parceria com a Petrobras, uma com a Total e outra com as chinesas CNOOC e a Qatar Petroleum.

A Shell é hoje a maior petroleira privada com operações no país. "É lógico que queríamos ter levado todas, mas estamos felizes com o que ganhamos", disse o presidente da companhia no Brasil, André Araújo.

Pela primeira vez, a companhia vai operar área do pré-sal no país, destacou Araújo, o que era um dos objetivos para este leilão.

Com a Total, a Shell levou a área de Sul de Gato do Mato, parte de uma descoberta que as empresas já detém na Bacia de Campos e que estava com investimentos congelados à espera do leilão. "Agora, vamos retirar o projeto do freezer", comentou o executivo.

VAIVÉM

O leilão foi marcado por incertezas sobre sua realização.

Logo pela manhã, o juiz Ricardo Sales, da 3ª Vara Cível da Justiça Federal de Manaus, concedeu uma liminar suspendendo o leilão.

Ele argumentou que os valores cobrados pelas áreas são baixos e que a lei que pôs fim à exclusividade da Petrobras no pré-sal apresenta "vício constitucional".

A suspensão foi obtida em ação conjunta entre o PT, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e sindicatos, que entraram com pedidos em diversos Estados.

A AGU (Advocacia Geral da União) recorreu e obteve vitória no TRF1.

"A derrubada da liminar atende interesses dos entreguistas, do mercado internacional, de quem não pensa no Brasil. É um acinte e isso só acontece porque estamos vivendo um período tenebroso de desrespeito ao Estado de direito", disse Vagner Freitas, presidente Nacional da CUT.

O coordenador-geral do Sindipetro (Sindicato dos Petroleiros) do Amazonas, Acácio Carneiro, afirmou que a entidade recorrerá para suspender novamente o leilão. "Não vamos desistir", disse ele, afirmando que o governo joga fora anos de investimento em tecnologia.

Garimpeiros queimam escritórios do Ibama, ICMBio e Incra no sul do AM

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1931052-garimpeiros-queimam-escritorios-do-ibama-icmbio-e-incra-no-sul-do-am.shtml

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO (AC)

27/10/2017  21h48

Em retaliação a uma operação contra garimpo, homens armados invadiram e queimaram os escritórios do Ibama, do Incra e do ICMBio em Humaitá, no sul do Amazonas, segundo relatos de servidores. O Ministério do Meio Ambiente já acionou o Ministério da Defesa.

Fotos da tarde desta sexta-feira (27) mostram os escritórios do três órgãos federais em chamas, assim como duas camionetes do Ibama. Ameaçados, os servidores fugiram de suas casas para se abrigar no quartel do Exército, segundo relatos obtidos pela Folha.

Ao longo da semana, uma grande operação contra balsas de ouro no rio Madeira, que cruza a cidade, mobilizou agentes do Exército, do Ibama, da Marinha, do ICMBio e da Força Nacional.

Este é o segundo protesto de garimpeiros contra ações do Ibama. Em Ourilândia do Norte (PA), eles bloqueiam há três dias uma rodovia estadual em protesto contra a destruição de maquinário dentro da Terra Indígena Kayapó.

Em dezembro de 2013, moradores de Humaitá queimaram a sede da Funai do assassinato de três homens que atravessavam a Terra Indígena Tenharim, na rodovia Transamazônica.

Falhas disparam em linhas novas, e metrô de SP tem pane a cada 3 dias

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1930692-falhas-disparam-em-linhas-novas-e-metro-de-sp-tem-pane-a-cada-3-dias.shtml

FABRÍCIO LOBEL
THIAGO AMÂNCIO
DE SÃO PAULO

27/10/2017  02h00

Duas das três linhas mais novas e modernas do metrô paulista tiveram disparada de falhas neste ano e ajudaram a rede a atingir a maior marca de panes desta década.

Os problemas nas linhas 5-lilás (Capão Redondo-Brooklin), administrada pelo governo estadual, e 4-amarela (Butantã-Luz), a cargo da iniciativa privada, ocorrem às vésperas de elas receberem uma nova avalanche de passageiros devido à entrega de estações final do mandato de Geraldo Alckmin (PSDB).

Na linha 5, ocorreram entre janeiro e setembro deste ano 21 falhas graves, contra 3 em igual período de 2016, de acordo com informações obtidas pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.

Esses dados são chamados internamente de "incidentes notáveis" e incluem apenas as panes que geram transtornos aos passageiros e que duram mais de cinco minutos.

A gestão Alckmin, que pretende conceder a operação da linha 5 à iniciativa privada, atribui a disparada de falhas à implantação de um sistema de modernização –que deveria melhorar os serviços.

Esse sistema, que controla a circulação dos trens, é batizado de CBTC e foi comprado em 2008 pelo governo do Estado. Deveria estar totalmente implantado desde 2010.

Em tese, a nova tecnologia deveria permitir acompanhar a posição dos trens com maior precisão, levando à redução do tempo de espera pelos passageiros do metrô.

Alckmin planeja entregar mais sete estações da linha 5 até 2018, elevando a quantidade de passageiros nos próximos anos da casa de 260 mil para mais de 800 mil por dia.

O tucano tentará disputar a Presidência da República pelo PSDB no ano que vem –para isso, trava embate dentro do partido com João Doria, prefeito de São Paulo.

NOVOS TRENS

Na linha 4, que é operada pela concessionária ViaQuatro, as panes significativas saltaram de 8, em 2016, para 15, em 2017 –sempre na comparação entre os primeiros nove meses de cada ano.

Neste caso, a empresa inclui os casos em que há interrupção do serviço por tempo acima de três intervalos entre trens (que costuma ser de até três minutos em dias úteis e pode passar de cinco minutos aos domingos e feriados).

A ViaQuatro culpa os testes com novos trens. A linha deve receber três novas estações entre dezembro deste ano e julho de 2018: Oscar Freire, Higienópolis-Mackenzie e São Paulo-Morumbi.

CONTAGEM

As linhas 4 e 5 foram inauguradas neste século (2010 e 2002, respectivamente), enquanto as mais antigas, 1-azul e 3-vermelha, foram entregues na década de 1970.

Além dessas falhas classificadas como "incidentes notáveis", existem outras de menor impacto, que afetam os usuários diariamente, mas que não entram nesses critério da contagem oficial.

Em 2017, as panes graves nas seis linhas da rede do metrô chegaram a 93 até setembro –praticamente uma a cada três dias. No ano anterior, foram 80 no mesmo período.

A quantidade de problemas nos primeiros nove meses deste ano é recorde pelo menos desde 2010 –período em que começa a série histórica fornecida pelo Metrô.

Naquele ano, por exemplo, houve 13 falhas do tipo, mas havia só quatro linhas em funcionamento integral –a 4 havia acabado de ser entregue, e a linha 15-prata, de monotrilho, foi aberta em 2014.

Ano em que as linhas começaram a operar
'ALTA TEMPORÁRIA'

O Metrô, ligado à gestão Geraldo Alckmin (PSDB), e a ViaQuatro, concessionária da linha 4-amarela, afirmam que a alta neste ano do número de falhas graves –chamadas internamente de "incidentes notáveis"– se deve à implantação de novos sistemas de controle de trens e de novos trens em suas linhas.

Por isso, alegam que esse fenômeno era esperado e que as falhas devem diminuir quando as novas estações forem entregues, atraindo maior demanda de passageiros.

"Quando a gente coloca o sistema novo, o número de falhas é um pouco maior até ele se estabilizar", afirma o diretor de operações do Metrô paulista, Milton Gioia.

Ele se refere à implantação do sistema eletrônico CBTC (Controle de Trens Baseado em Comunicação) na linha 5-lilás, com a intenção de acompanhar a posição dos trens com maior precisão e reduzir os tempos de espera.

O Metrô está iniciando a troca do atual sistema de controle de trens nas linhas 1-azul e 3-vermelha, o que deve se prolongar respectivamente até 2020 e 2021.

MANUTENÇÃO

O pico das falhas na linha 5 ocorreu entre maio e julho.

O diretor do Metrô nega que a situação possa piorar diante do aumento do fluxo de passageiros com as novas estações que serão entregues.

Diz que, assim como em outras inaugurações, haverá uma etapa de testes com usuários –chamada de "operação assistida"– antes do funcionamento pleno da linha.

"Tudo isso é feito de maneira planejada pelo metrô de São Paulo para garantir segurança para os usuários."

Segundo Gioia, a maior parte da manutenção da linha 5 é feita pela própria estatal –com exceção de serviços como pintura. No entanto, quando ela for concedida à iniciativa privada, isso será responsabilidade da empresa que assumir a operação.

Enfrentando grave crise orçamentária, a estatal da gestão Alckmin teve no ano passado uma queda significativa de investimentos em operação e modernização.

O diretor do Metrô diz que a quantidade de falhas da rede tem padrão similar ao de outros metrôs do mundo, como Nova York e Londres, que são mais antigos e extensos.

"Os números de incidentes que temos hoje são compatíveis com os números dos maiores metrôs do mundo, todos aceitam até este valor, até um pouquinho mais do que isso."

NOVOS TRENS

Mauricio Dimitrov, diretor da ViaQuatro, diz que a alta do índice de falhas na linha 4-amarela se deve à introdução de novos trens no ramal.

Comprados em 2013, os trens estavam parados aguardando a abertura das estações da fase 2 da linha 4 (Oscar Freire e Higienópolis-Mackenzie, por exemplo).

Diante da perspectiva de inaugurar essas paradas no ano que vem, a concessionária diz que começou a colocar novos trens para rodar.

Segundo Dimitrov, nas primeiras viagens dos novos trens é normal constatar falhas. Essa nova remessa apresentou falhas principalmente no controle de abertura e fechamento de portas.

Dimitrov afirma que isso não resulta necessariamente em desconforto ao usuário, já que muitas das ocorrências são contornadas sem que passageiros percebam.

Segundo a concessionária, todos os problemas com os novos trens estão solucionados e não serão um entrave à operação quando as novas estações forem inauguradas.

'LÍDER'

Com a disparada das falhas de 2016 para cá, a linha 5-lilás se tornou a mais problemática proporcionalmente ao número de passageiros –e não só devido aos trens.

Em média, de janeiro a setembro, foram 8,4 panes graves a cada cem mil usuários. Em segundo lugar nesta conta está a linha 1-azul, a mais antiga do metrô, com 2,3 falhas por cem mil passageiros. Já a linha 4-amarela teve índice de 2,2 –muito acima da marca de 1,2 no ano anterior.

A linha 5 também teve outros problemas além das panes, mesmo após a entrega de três novas estações em setembro: Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin, que adicionaram 2,8 km.

Isso porque as inaugurações foram feitas sem que as obras de acabamento tivessem sido finalizadas.

Infiltrações, vazamentos, vidros estilhaçados e elevadores em manutenção ou quebrados foram falhas encontradas nas paradas.

EMERGÊNCIA

No trecho entre as estações Capão Redondo e Adolfo Pinheiro, houve falhas no sistema de controle uma semana depois de inaugurado, e a empresa teve de acionar um plano de emergência, que deu auxílio com 30 ônibus.

A linha apresentou também problemas nos sistemas de tração, pneus e sinalização e controle de portas, segundo um outro relatório obtido pela reportagem, que mostra a quantidade de vezes em que as equipes de manutenção foram acionadas para resolver problemas na rede metroviária.

Segundo esse relatório, as estações do sistema que mais apresentaram falhas desde 2012 são Sacomã (linha 2-verde), Santana (1-azul) e Luz (1-azul, 4-amarela e CPTM).

A Boceta de Pandora

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/fernandatorres/2017/10/1930470-a-boceta-de-pandora.shtml

Por Fernanda Torres
27/10/2017  02h00

Minha mãe e eu entramos no Facebook quase que por obrigação. Depois de dar com dezenas de perfis falsos de nós duas, a rede nos aconselhou a criar dois faces oficiais, para evitar a multiplicação de clones.

Neste mês, impressionadas com o levante contra exibições de arte, postamos dois vídeos, em apoio à educação e à cultura. O enxovalho foi geral, postagens virulentas, que ultrapassavam os limites da razão.

Já recebi manifestações contrárias, sem nunca barrar internautas. Notei, no entanto, um crescimento impressionante do poder de "haters", nos últimos dez anos. Dessa vez, a ferocidade se concretizou em ameaças de morte e linchamento, em xingamentos de puta, velha, babaca e gagá, culminando com um aviso de que o revoltado aceleraria o carro para cima de dona Fernanda, caso a visse cruzar a esquina.

Se o indignado se sente impune para manifestar, em público, o delírio de passar com as quatro rodas sobre o corpo de minha mãe, quem garante que ele não o realizará?

O receio nos fez, pela primeira vez, reportar ao Facebook as intimidações mais assombrosas. E essa foi a resposta dada pelo Big Brother a todos os posts enviados:

"Examinamos o comentário e, embora ele não vá contra nenhum dos nossos Padrões da Comunidade específico, você fez a coisa certa ao nos informar."

Se a ameaça de morte e linchamento não desrespeita os padrões, o que o desrespeitaria? Conheço gente banida do Face por ter postado fotos nuas, mas o corpo nu, hoje, provoca mais repúdio do que cano de uma metralhadora.

Reportagem recente, no "Guardian", esclarece a nova ordem das moralidades e responsabiliza, em parte, a indústria tecnológica pela escalada da agressividade.

A crítica não parte de nenhum santo avesso às redes, pelo contrário, o mea culpa vem deles, dos reis do Silicon Valley que, hoje, passados dos 30 anos, acreditam terem aberto uma boceta de Pandora.

Justin Rosenstein, o criador do like do Facebook, e seus pares, e são muitos na reportagem, explicam que todos os dispositivos psicológicos de adição foram usados para manter o internauta ligado ao smartphone.

A maneira como deslizamos os dedos para ler o próximo post é semelhante ao das máquinas de caça-níqueis que rodam ícones na frente do jogador. Avisos em vermelho pedem para serem apagados; os likes proporcionam satisfação momentânea, que logo quer ser renovada.

Não é mais possível resistir ao aparelho, assistir um filme inteiro sem checá-lo, jantar com os filhos sem responder à demanda, ou dormir sem o celular na cabeceira.

Compulsão similar ao da dependência da nicotina, do jogo e da droga, que desperta no adito frustração, raiva, rancor, solidão, ódio e irracionalidade. Comportamento exacerbado, visível em insultos e certezas cegas das redes; bem como na ascensão de lideranças afinadas com a ofensa e a radicalidade.

Tristan Harris, ex-empregado do Google, dedica-se ao estudo da manipulação mental da nova indústria. É um dos que, cientes do estrago, reflete sobre a possibilidade de, com a mesma ciência que criou o monstro, redefinir uma ética que influencie outros padrões na comunidade.

PS. O Teatro Oficina será emparedado por espigões de cem andares. Lina Bo Bardi, Dionísio, a história do teatro e de José Celso Martinez Corrêa foram vencidos pela especulação imobiliária. Que exemplo triste da ignorância que nos rege agora.

Polícia e Forças Armadas cercam favelas no Rio após morte de coronel

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1930726-apos-morte-de-coronel-megaoperacao-policial-cerca-morros-no-centro-do-rio.shtml

LUCAS VETTORAZZO
DO RIO

27/10/2017  07h50 - Atualizado às 19h49

As forças policiais do Estado do Rio de Janeiro deflagraram, por volta das 3h desta sexta-feira (27), uma operação nos morros do São Carlos, Zinco, Querosene e Mineira, no centro da capital fluminense.

A ação tem apoio das Forças Armadas, que estão desde o final de julho no Rio para reforço na segurança pública.

Segundo a assessoria do CML (Comando Militar do Leste), 1.700 militares e dez carros blindados das Forças Armadas participam da operação, com cerco aos principais acessos –sem contar os efetivos das polícias Civil e Militar.

Ruas da região estão interditadas e o espaço aéreo está controlado, com restrições para aeronaves civis. A ação não está influenciando o tráfego nos aeroportos.

As forças de segurança fazem duas grandes operações –uma no centro e outra na zona norte– um dia após o assassinato do coronel Luiz Gustavo de Lima Teixeira, 48.

O cerco em favelas do centro, contudo, não tem relação com a morte: o objetivo é capturar criminosos que teriam participado da tentativa de invasão da favela da Rocinha no mês passado. Os militares foram recebidos a tiros já na madrugada, ainda que não tenha havido registro de feridos dos dois lados. Ao menos 20 pessoas foram presas, todos supostos criminosos.

Há a suspeita de que quatro dos presos faziam parte do grupo de Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, que está preso em Rondônia, mas ainda dá as cartas na facção ADA (Amigos dos Amigos), que controla o tráfico na comunidade. Um racha na facção gerou conflitos que duram 40 dias na favela.

Às 15h, os militares deixaram as comunidades, sem previsão de continuidade da ação nos próximos dias.

Além dos presos, as autoridades apreenderam quatro pistolas, um revólver, 111 munições, uma granada e quantidade ainda não contabilizada de drogas.

Uma segunda operação com 300 homens da PM está em curso desde a noite de quinta-feira (26) no Complexo do Lins, região do Méier (zona norte), para tentar capturar homens envolvidos na morte do coronel, comandante do 3º Batalhão e que deixou mulher e dois filhos.

Ao todo, doze pessoas foram presas na ação que continua em curso –a polícia busca cumprir 14 mandados de prisão na região. Foram apreendidas dez motos, um carro, um carregador de pistola, 19 galões de cheirinho da loló. Também foram encontradas 681 trouxinhas de maconha, 244 capsulas de cocaína, 181 pedras de crack e seis lanças perfumes. Não há informações, até as 17h40, de vítimas ou feridos. A PM não informou se a operação continuará nos próximos dias.

AULAS

Devido às duas operações 8.452 alunos da rede municipal estão sem aulas. De acordo com a secretaria de Educação do município, 30 unidades, entre escolas primárias, creches e espaços de desenvolvimento infantil não funcionaram nesta sexta.

Somente no Lins de Vasconcelos, bairro da zona norte onde o coronel foi morto, 1.773 alunos estão sem aula.

Na região central da cidade, onde ocorre a operação com apoio das Forças Armadas, 4.216 alunos estão sem aula.

112 MORTES

Com o assassinato do coronel Teixeira, subiu para 112 o número de policiais militares assassinados somente este ano no Estado do Rio. Nos últimos três dias, ao menos dois outros policiais foram mortos.

Na noite de terça (24), um soldado da PM de folga foi morto a tiros por dois homens armados também em Guadalupe. Ele deixava um shopping no bairro quando teria sido abordado em uma tentativa de assalto. Ele chegou a ser levado com vida ao hospital.

Na manhã daquele mesmo dia, em Queimados, município da Baixada Fluminense, um policial também foi assassinado. O carro em que ele estava teve os vidros dianteiros atingidos por pelo menos 13 tiros.

Há a suspeita de que ele integrasse um grupo de milicianos na região. O Rio atingiu a marca de 100 policiais mortos em agosto deste ano. O centésimo morto foi um sargento que teria sido vítima de um latrocínio. Ele teria reagido a um assalto em São João de Meriti, na Baixada.

As circunstâncias em que o sargento foi baleado parecem ser típicas dos PMs mortos no Estado: fora de serviço, no final de semana e na Baixada, região que concentra muitas dessas mortes.

O Rio enfrenta uma grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e está perto de um colapso na segurança pública.

Um outro efeito dessa crise tem sido o aumento dos índices de criminalidade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base policiais em comunidades controladas pelo tráfico, perderam parte de seu efetivo.

Nos últimos meses, têm sido rotina mortos e feridos por bala perdida, além de motoristas obrigados a descer de seus carros para se proteger dos tiros.

A situação de insegurança também levou o presidente Michel Temer a autorizar o uso das Forças Armadas para fazer a segurança pública do Rio até o final do ano que vem.

Quais foram os episódios-chave da crise Catalã?

Fonte: http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/10/27/quais-foram-os-episodios-chave-da-crise-catala/

POR DIOGO BERCITO
27/10/2017

A crise espanhola chegou a um novo ápice nesta sexta-feira (27), com a decisão do Parlamento catalão de formar uma constituinte para declarar sua república. Em resposta, o Senado espanhol aprovou o Artigo 155, que permite a destituição do presidente catalão, Carles Puigdemont.

São episódios de importância à Espanha e à União Europeia, mas os detalhes são algo difíceis de digerir, entre debates constitucionais e notícias falsas. Se você estiver despistado, caro leitor, não se preocupe: este Mundialíssimo blog lista abaixo os cinco principais episódios dessa crise.

O PLEBISCITO DE 1º DE OUTUBRO
Catalães votaram em um plebiscito separatista em 1º de outubro, chegando a 90% dos votos no “sim”. Mas apenas 43% do eleitorado participou dessa consulta, ou seja, menos de metade. O Tribunal Constitucional espanhol considerou que o voto era ilegal e, portanto, sem nenhum valor.

A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA (E SUA SUSPENSÃO)
Um dos episódios já clássicos da crise. O presidente catalão, Carles Puigdemont, compareceu ao Parlamento regional em 10 de outubro e declarou a independência do território. Em seguida, suspendeu os efeitos de sua proclamação e, por fim, assinou um documento pedindo a separação.

A TROCA DE CARTAS
Tamanha foi a dúvida em relação às consequências do discurso de Puigdemont em 10 de outubro que o premiê espanhol, Mariano Rajoy, lhe exigiu no dia seguinte uma resposta: você declarou ou não a independência? Os dois líderes trocaram cartas durante a semana, sem chegar a um acordo.

A EVOCAÇÃO DO ARTIGO 155
O governo espanhol decidiu em 21 de outubro acionar o Artigo 155 da Constituição, que permite uma intervenção pontual na Catalunha, removendo Puigdemont do poder e antecipando as eleições.

A RECUSA EM CONVOCAR ELEIÇÕES
Desde a manhã de 26 de outubro circulavam os rumores de que Puigdemont anteciparia as eleições. Alguns veículos, como a agência americana AP, chegaram a noticiar o pleito. O presidente catalão atrasou o discurso, depois o cancelou, e por fim compareceu ao Parlamento: não convocou eleições.



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Política mundial fica mais emparedada entre direita e extrema direita

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2017/10/1930311-politica-mundial-fica-mais-emparedada-entre-direita-e-extrema-direita.shtml

Por Clovis Rossi
26/10/2017  02h00

O mais inquietante sinal de que o mundo político adernou à direita é o início de conversações na Áustria entre Sebastian Kurz, líder do ÖVP (o conservador Partido Popular), vencedor das recentes eleições , e o FPÖ (Partido da Liberdade), de extrema direita, xenófobo e islamofóbico (era também antissemita, mas abrandou pelo menos essa faceta horrível). A Áustria ensaia, portanto, uma coligação apenas entre direita e extrema direita.

Há 17 anos, o FPÖ já havia entrado em uma coligação governista, e a Europa reagiu impondo uma quarentena à Áustria. Agora, silêncio. Silêncio compreensível, embora não justificável, pelo menos do meu ponto de vista: em muitos lugares, o palco eleitoral tem sido açambarcado pela direita e pela extrema direita.

Exemplo igualmente recente: na eleição de sexta-feira (20) na República Tcheca, ganhou o bilionário Andrej Babis , apelidado de "Trump tcheco", o que mostra quão à direita está. A outra sensação do pleito foi o Partido Liberdade e Democracia Direta, de extrema direita, que ficou com 22 das 200 cadeiras do Parlamento e teve seu melhor resultado desde sempre.

Fora da Europa, nos EUA, o candidato do presidente Donald Trump às primárias do Partido Republicano para a eleição senatorial do Alabama perdeu. Mas perdeu para um candidato ainda mais radicalmente à direita, Roy Moore, que acha a homossexualidade ilegal e propõe banir muçulmanos do Congresso, entre outras barbaridades.

Ou seja, a disputa ficou limitada ao extremismo, consequência inevitável da forte guinada para a direita do Partido Republicano desde o surgimento do Tea Party.

Tudo somado, tem-se que, em todas as cinco eleições do ano nos países europeus mais relevantes, a extrema direita avançou. O lado positivo é que, mesmo avançando, não consegue chegar ao poder. Sua votação ficou em pouco mais de 10% na República Tcheca (10,6%), na Alemanha (12,6%) e na Holanda (13%). Vai a 26% na Áustria e chega aos 33% na França (segundo turno das presidenciais, depois de ter feito 21% no primeiro).

Mas, se não chega ao poder, acaba condicionando a agenda da direita civilizada, que se sente compelida a incorporar temas caros aos radicais para atrair eleitores.

O espelho da ascensão da direita é o encolhimento da esquerda. O Partido Socialista francês quase sumiu nas urnas; a social-democracia alemã teve seu pior resultado ; a social-democracia austríaca, que governava em coalizão com os conservadores do ÖVP, perdeu para o seu sócio de governo.

Um microexemplo do encolhimento da esquerda: Avi Gabbay, novo líder do Partido Trabalhista israelense, pretende mudar o nome do partido. O "Labor" conduziu a consolidação do Estado de Israel nas suas primeiras duas décadas, com nomes do calibre de Levi Eshkol, Golda Meir, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Agora, não consegue derrotar a direita e a extrema direita, coligadas no governo.

Pode-se gostar ou não da direita ou da esquerda, mas é inegável que o emagrecimento de uma ou da outra empobrece demais o debate público –e, por extensão, as políticas adotadas. Vide o caso do Brasil.

O 7 a 1 é a mais viva das metáforas apocalípticas que assolam o Brasil

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergio-rodrigues/2017/10/1930208-o-7-a-1-e-a-mais-viva-das-metaforas-apocalipticas-que-assolam-o-brasil.shtml

26/10/2017  02h00

Fundo do poço. Beco sem saída. Beira do abismo. Atoleiro. Hospício. Raposas no galinheiro. Vacas no brejo. Fim da picada. Nau sem rumo. Queda livre. Queda em parafuso. Trem descarrilado. Fim do mundo. 7 a 1.

Duvido que a história do Brasil registre outro momento em que as metáforas catastróficas tenham sido mais requisitadas do que hoje a dar conta de uma realidade indigesta.

Não vou dizer que estamos exagerando. Se o catastrofismo tende a ofuscar possibilidades de solução que de uma forma ou de outra precisam ser encontradas, seu valor de desafogo emocional é evidente.

O fim do mundo nunca é o fim do mundo, garanto –mesmo porque, no dia em que for, quero ver alguém me cobrar pelo erro dessa frase. No entanto, a catarse de apregoá-lo nas ruas como o louco do megafone pode ser o fim de um nó no peito, de uma dor sem nome, e isso não é pouco.

Experiências recentes com voluntários mostraram que, ao gritar palavrões, as pessoas suportam a dor por intervalos consideravelmente mais longos do que ficando em silêncio. Tudo indica que metáforas do fim do mundo têm poder anestésico semelhante.

O único problema que vejo em nossa atual revoada de expressões apocalípticas é o risco de gastá-las pelo excesso de uso. Reparando bem, vamos constatar que quase todas naquela lista do primeiro parágrafo já morreram, viraram clichês, tiques verbais.

É isso que ocorre com metáforas que fazem sucesso demais e entram na corrente principal da língua: o que havia nelas de mais sugestivo desbota, automatiza-se. Suponho que um dia "fundo do poço" tenha sido uma expressão espirituosa, mas hoje é banal.

O processo de transformação de uma metáfora viva em clichê é conhecido e inevitável, mas prejudicial à eficácia terapêutica de espinafrar a realidade a fim de melhor suportá-la.

Da lista ali de cima, só o 7 a 1 conserva seu frescor. Catástrofe recente e mal digerida, trauma tragicômico que até hoje não submetemos ao luto para ensaiar uma superação, a goleada humilhante sofrida em casa é nossa metáfora mais viva de fundo do poço, queda em parafuso, fim da picada.

Tem a vantagem adicional de aderir com perfeição ao contexto de um país fissurado em futebol. Essa adequação é uma marca das melhores e mais surpreendentes metáforas literárias.

Ao tratar da rainha das figuras de linguagem em seu livro "Como Funciona a Ficção", o crítico inglês James Wood elogia um símile do escritor italiano Cesare Pavese no romance "A Lua e as Fogueiras", ambientado numa aldeia pobre e atrasada de seu país: lua amarela "como polenta". Pouco romântico? Era o que os personagens comiam em toda refeição.

Embora seja possível que algum dia o 7 a 1 também vire uma metáfora morta, esse dia não está no horizonte. Melhor aproveitar.

*

Boa notícia. O leitor Adilson Roberto Gonçalves avisa que a mais recente edição do "Pequeno Dicionário Houaiss", destinada ao público escolar e lançada em 2016, já trata "poeta" como substantivo de dois gêneros. O "Houaiss" propriamente dito, atualizado pela última vez em 2009, ainda não chegou lá, como apontei na semana passada. Mas parece ser questão de tempo.

Braço da ONU nega parceria com empresa que produz farinata de Doria

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1929947-braco-da-onu-nega-parceria-com-empresa-que-produz-farinata-de-doria.shtml?utm_source=folha

REGIANE SOARES
DO "AGORA"

25/10/2017  02h00

A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) negou que possua parceria com a Plataforma Sinergia para desenvolver ou produzir a farinata –farinha feita com alimentos perto da data do vencimento e que pode ser distribuída pela gestão João Doria (PSDB) para pessoas em vulnerabilidade social.

A Plataforma Sinergia divulgava, em seu site, a logomarca da FAO e de outras 16 instituições, apontadas como suas colaboradoras. Nesta terça-feira (24), no entanto, nenhuma delas estava mais na página do instituto.

No lugar das marcas, a entidade colocou uma mensagem. "Vamos proteger a confidencialidade de todos os parceiros para que possam dar continuidade aos trabalhos sem perder o foco no combate à fome", dizia.

A Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores) e o Consea-SP (Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional), que também tinham logo na página da empresa, disseram que não têm parceria com o instituto.

A Plataforma Sinergia disse, em nota sobre o tema na semana passada, que tem o "reconhecimento internacional" da FAO, que "apoia essa iniciativa", referindo-se ao projeto da farinata.

A FAO negou que apoie projeto da Plataforma Sinergia. Diz que apoia o Save Food (projeto de combate às perdas e aos desperdícios de alimento). A Plataforma Sinergia também disse que apoia o Save Food.

A empresária Rosana Perrotti, proprietária da Plataforma Sinergia, não respondeu a perguntas da reportagem por e-mail.

Por aplicativo de celular, enviou link da FAO no qual a empresa aparece como parceira da entidade na campanha Save Food.

Após críticas a zeladoria, Doria demite secretário responsável pela área

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1930646-apos-criticas-a-zeladoria-doria-demite-secretario-responsavel-pela-area.shtml

ARTUR RODRIGUES
GIBA BERGAMIM JR.
THAIS BILENKY
DE SÃO PAULO

26/10/2017  21h22

Em meio a críticas relacionadas à zeladoria da cidade, o prefeito João Doria (PSDB) resolveu demitir o responsável por essa área na administração municipal.

Fabio Lepique é o secretário-adjunto das Prefeituras Regionais, subordinado direto do tucano Bruno Covas, titular da pasta e vice-prefeito –que, nesta semana, retornou de uma viagem de 11 dias à França. Além da questão da limpeza da cidade, Lepique também se desgastou após atritos com homens de confiança do prefeito.

Conforme revelou a Folha, a atual gestão recolheu 6% menos toneladas de sujeira em São Paulo nos primeiros seis meses do ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", outras sete ações de zeladoria, como reparos de calçadas e limpeza de pichações também pioraram.

Os problemas relacionados à limpeza da cidade têm sido usados para atacar as pretensões eleitorais de Doria.

A questão acabou virando munição para rivais de Doria, como o ex-governador Alberto Goldman (PSDB). "Os jornais mostram que a situação é calamitosa em todos os bairros de São Paulo. Enquanto isso, o prefeito é candidato a presidente, só viaja, recebendo homenagens de cidades com as quais não tem nenhuma relação, pelas quais nunca fez nada", afirmou.

Logo após queda de nove pontos em sua aprovação mostrada pelo Datafolha no dia 10, Doria se reuniu a equipe de regionais para apresentar um novo modelo, em que haverá seis microrregiões e 'supersecretários' que terão poder para fiscalizar os demais.

DESGASTE

Lepique deve sair até o próximo domingo, quando Doria terá uma reunião com o vice-prefeito, Bruno Covas, em que será discutido o nome do substituto.

A Folha apurou que atritos com secretários e outros integrantes da gestão, alguns deles, na frente de Doria, contribuíram para o desgaste.

Uma discussões ocorreu porque Lepique defende que o shopping 25 seja mantido fechado. O centro de compras foi lacrado numa operação contra a pirataria que teve o subsecretário como um dos comandantes. Um secretário de Doria tem pedido a reabertura do local.

Em outro embate, Lepique se irritou quando outro chefe de uma pasta deu sugestões sobre mudanças no sistema de zeladoria, com a implementação de um software para detectar quais as áreas que sofrem mais reclamações nas áreas de limpeza, varrição e conservação de praças.

Descoberta do nome de Alá em artefatos vikings intriga cientistas

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/geral-41596516

DA BBC BRASIL

12/10/2017  16h18

Arqueólogos suecos anunciaram a descoberta de caracteres da escrita árabe em mantas mortuárias encontradas em cerimônias funerárias vikings.

A descoberta pode levar a novas informações sobre a influência do Islã na Escandinávia.

Curiosamente, os fragmentos estavam esquecidos em um arquivo, onde permaneceram por mais de cem anos, classificados como material genérico.

Mas uma nova análise dos tecidos, encontrados em túmulos dos séculos 9 e 10 agora revela detalhes desconhecidos sobre o contato entre os mundos viking e muçulmano.

E o exemplo mais gritante são os bordados em prata e seda que escrevem as palavras "Alá" e "Ali".

PADRÕES DIFERENTES

A descoberta foi feita por Annika Larsson, da Universidade de Uppsala. A arqueóloga, especializada em tecidos, ficou intrigada ao constatar que as amostras, recuperadas em escavações ao longo dos últimos dois séculos, tinham procedência da Ásia Central, Pérsia e China.

Larsson explica que os padrões geométricos encontrados nos tecidos eram diferentes de tudo o que ela tinha visto na Escandinávia.

"Lembrei-me que tinha visto os desenhos em tecidos da época da ocupação árabe da Península Ibérica", conta ela.

BBC Brasil   
Vikings eram enterrados em barcos de madeira, pela crença na necessidade de transporte para o paraíso
Vikings eram enterrados em barcos de madeira, para transporte para o paraíso
Foi quando a arqueóloga percebeu que estava analisando caracteres de uma forma arcaica de escrita árabe, a kufic.

Duas palavras apareciam com frequência. Um delas, com auxílio de um colega do Irã, Larsson identificou como "Ali", o nome do quarto califa do Império Islâmico, que viveu no século 7.

A outra deu mais trabalho. Foi como desvendar um quebra-cabeças: após ampliar as letras e examiná-las em diversos ângulos, a especialista descobriu tratar-se de um mosaico formado pelo nome "Alá" (Deus, em árabe).

Larsson encontrou as duas palavras em pelo menos dez dos mais de cem fragmentos que está analisando. E elas sempre aparecem juntas.

QUEM ERAM?

A descoberta também desperta perguntas fascinantes sobre os ocupantes das tumbas.

"Não podemos descartar que as pessoas enterradas eram muçulmanas. Análises de DNA em outras escavações de túmulos vikings revelaram que seus ocupantes eram originários de locais distantes, como a Pérsia, em que o Islã já era dominante."

No entanto, a arqueóloga acredita que o mais provável é que a descoberta mostre a influência de ideias islâmicas em rituais fúnebres vikings –noções, por exemplo, de vida eterna no paraíso após a morte.

A equipe da arqueóloga agora tenta, junto ao Departamento de Genética da universidade, estabelecer as origens geográficas dos corpos envoltos nos tecidos.

Gabriel Hildebrand/The Swedish History Museum   
Anel viking com inscrição "para Alá", encontrado em um túmulo do século 9
Anel viking com inscrição "para Alá", encontrado em um túmulo do século 9
CONTATO

Historiadores há tempos já aceitam que houve contato entre os mundos viking e muçulmano, com base em evidências históricas que incluem a descoberta de moedas árabes na Suécia, em abril de 2008.

Há dois anos, arqueólogos examinaram um anel de prata retirado de uma tumba no sítio arqueológico de Birka, no mesmo país, e encontraram a inscrição "para Alá" na peça.

O texto novamente estava em kufic, uma escrita desenvolvida na cidade iraquiana de Kufah, no século 7. Foi uma das primeiras formas usadas para escrever o Alcorão, livro sagrado muçulmano.

A descoberta de Larsson é ainda mais interessante porque é o primeiro registro histórico de uma menção ao califa Ali encontrado da Escandinávia.

"O nome de Ali é repetido diversas vezes ao lado de Alá", explica. "Sabemos que ele é altamente reverenciado pelos xiitas, o maior secto muçulmano. Pergunto-me se não há uma conexão."

Ali era primo de Maomé –e genro, pois casou-se com uma de suas filhas, Fátima. Tornou-se o quarto líder da comunidade depois da morte do profeta.

Sunitas –o outro grupo majoritário muçulmano– também têm Ali como um nome importante de sua fé. Mas seu status é mais elevado com os xiitas, que o consideram o herdeiro espiritual de Maomé.

BBC Brasil   
Os nomes Alá, Maomé e Ali estão escritos em árabe na direita, mas ligados em um padrão na esquerda
Os nomes Alá, Maomé e Ali estão escritos em árabe na direita, mas ligados em um padrão na esquerda
"O uso de Ali sugere uma conexão xiita", diz Amir De Martino, especialista do Islamic College –uma universidade de estudos islâmicos com base em Londres.

"Mas sem a frase 'waly Alá', que significa 'amigo de Alá', acompanhando o nome, não seria algo vindo da cultura Shia. Pode ter sido copiado erroneamente", acrescenta De Martino.

O especialista diz que o padrão sugere que Ali está sendo igualado a Alá, o que pode sugerir a possibilidade de existência de um grupo mais radical que acreditava na divinificação do califa.

"O mais provável é um padrão copiado incorretamente", pondera.

Os nomes de Alá e Ali frequentemente aparecem em padrões enigmáticos no interior de túmulos e livros de ramos xiitas como os alevis e bektashis. Mas estão sempre acompanhados pelo nome Maomé.

Larsson acredita que sua descoberta ofereça possibilidades promissoras.

"Agora que podemos examinar padrões vikings de forma diferente, estou convencida de que encontraremos mais inscrições islâmicas em outros tecidos. Quiçá até em diferentes artefatos."

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Brasil é o sétimo país do mundo em número de jornalistas assassinados

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/-brasil-e-o-setimo-pais-do-mundo-em-numero-de-jornalistas-assassinados.shtml

DIANA LOTT
DE SÃO PAULO

25/10/2017  17h34

Em 2016, cinco jornalistas foram mortos no país por exercerem sua profissão, alçando o Brasil ao sétimo país do mundo em número de jornalistas assassinados.

O levantamento faz parte de um estudo da Unesco chamado "World Trends in Freedom of Expression and Media Development" ("Tendências mundiais em liberdade de expressão e desenvolvimento de mídia", em tradução livre) a ser publicado nas próximas semanas.

Ele revela que, em média, um jornalista é assassinado a cada quatro dias em todo o mundo. Nos últimos 11 anos, foram 930 jornalistas mortos exercendo seu trabalho.

A impunidade nesse tipo de crime também é alta: a cada dez casos, apenas um é resolvido.

O índice alarmante motivou em 2013 as Nações Unidas a declararem o dia 2 de novembro como o "Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas".

Para a Unesco, a impunidade encoraja o assassinato de jornalistas e os intimida, criando um ciclo vicioso de cerceamento da liberdade de imprensa.

À frente do Brasil no ranking estão a Guatemala, com sete jornalistas mortos; a Síria, que há seis anos vive uma guerra civil, com oito mortes; e o Iraque, envolvido na guerra contra a milícia terrorista Estado Islâmico, com nove.

O terceiro lugar é do Iêmen, que está em guerra civil desde 2015 e sofre uma grave crise de segurança alimentar. Onze jornalistas morreram no país.

Em primeiro e segundo lugar estão o México e o Afeganistão; esse último completou em 2017 16 anos de conflito armado. Ambos tiveram 13 jornalistas mortos em 2016.

A SIP ("Sociedade Interamericana de Imprensa", na sigla em espanhol) considera o México o país mais perigoso para o exercício do jornalismo na região. Em 23 de agosto deste ano, registrou-se o décimo assassinato de um jornalista mexicano.

O repórter Candido Ríos, 55, foi morto em Covarrubias, no Estado de Veracruz. Ele fazia parte de um programa de proteção a jornalistas ameaçados.

Desde 2016, Ríos vinha publicando reportagens sobre o envolvimento de autoridades locais com o narcotráfico no jornal "Diario de Acayucan".

A Unesco, no exercício de seu mandato de defesa da liberdade de expressão e de imprensa, dedica em seu site uma página a condenações públicas de assassinatos de jornalistas em todo o mundo.

Entre os casos ocorridos no Brasil e condenados pela agência, destaca-se o assassinato de Maurício Campos Rosa, 64, que era dono do jornal "O Grito", distribuído gratuitamente em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte.

No dia sete de setembro deste ano, Roseli Ferreira Pimentel (PSB), prefeita de Santa Luzia, foi presa por suspeita de envolvimento no assassinato de Rosa.

Investigações da Polícia Civil concluíram que ela teria desviado R$ 20 mil da Secretaria de Saúde municipal para pagar pelo crime.

Emissão de gases estufa do Brasil tem maior crescimento em 13 anos

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/10/1930070-cresce-emissao-de-gases-estufa-do-brasil-mesmo-com-queda-do-desmate.shtml

PHILLIPPE WATANABE
DE SÃO PAULO

25/10/2017  14h29 - Atualizado às 21h11

As emissões brasileiras de gases do efeito estufa aumentaram 8,9% de 2015 a 2016. É o segundo ano consecutivo de crescimento -o maior desde 2004- e, mais uma vez, desmatamento e agropecuária pesaram na conta.

Os dados fazem parte do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) e foram divulgados nesta quarta (25) pela ONG Observatório do Clima.

O Brasil emitiu 2,3 bilhões de toneladas de gás carbônico em 2016. Em 2015 havia liberado 2,1 bilhões. O aumento é o maior dos últimos 13 anos e representa a emissão mais alta desde 2008.

A elevação se deu principalmente pelo aumento do desmatamento em 2016. Em 2017, entretanto, dados recentes do governo apontam redução da destruição de florestas.

A protagonista nas emissões continua sendo a agropecuária, responsável por 74% dos gases-estufa liberados. O setor apresentou crescimento de 1,7% de 2015 a 2016.

A emissão agropecuária é dividida em direta (22%) e por "mudança de uso da terra" -o que geralmente significa desmatamento- (51%).

Todas as outras fontes de emissão analisadas pelo Seeg (energia, processos industriais e resíduos) apresentaram redução. Uma das explicações apontadas para o crescimento das emissões da agropecuária é a crise econômica.

Segundo Cirino Costa Junior, da ONG Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), as dificuldades econômicas levaram as pessoas a consumir mais carne suína e de frango e menos carne bovina.

Com a queda nos abates, mais animais ficam mais tempo nos pastos produzindo gases-estufa durante a digestão. Em 2016, o Brasil contava com um rebanho de gado bovino de cerca de 200 milhões de cabeças.

FERTILIZANTES

Outro fator importante foi o crescimento do consumo de fertilizantes nitrogenados, que resultam na produção de um gás-estufa quase 300 vezes mais potente que o CO2.

Para facilitar a análise de emissões, os pesquisadores "leem" outros gases estufa como um valor convertido em CO2 -conhecido como CO2 equivalente.

"Já foram investidos R$ 20 bilhões no programa de agricultura de baixo carbono, só que não sabemos o impacto disso. Se monitorássemos esses produtores, poderíamos abrir mercados para eles [como produtos diferenciados]", afirma Costa Junior.

"Se zerássemos as emissões da agropecuária, teríamos emissões líquidas zero no Brasil", afirma Tasso Azevedo, coordenador do Seeg.

Outro ponto analisado foram os solos degradados, pois eles também emitem CO2. No país, há 175 milhões de hectares de pastagens, dos quais 45 milhões estão degradados -área equivalente à da Espanha, segundo Costa Junior.

O especialista afirma que os produtores perdem oportunidades econômicas ao não cuidarem dessas áreas.

Ele afirma que o custo para recuperação e manutenção é de cerca de R$ 2 mil anuais por hectare e que isso possibilitaria a triplicação da produção de carne, o que compensaria os gastos.

Além disso, há chance de utilização dessas áreas para outras atividades, como florestas plantadas -voltadas para celulose, por exemplo.
Contudo, ainda há dificuldades para acompanhamento dessas possibilidades.

"Na área agrícola há algumas metas, por exemplo, recuperar 15 milhões de hectares de pastagem degradada. Nós não temos quanto era, temos apenas uma estimativa, e também não temos o quanto está sendo recuperado. Nós não temos os sistemas implementados para monitorar", afirma Azevedo.

"Nós temos a tecnologia já desenvolvida na Embrapa e outros centros de pesquisa. Não tem que inventar nada. É só juntar as pecinhas. Para isso é preciso um tomador de decisões consciente e, infelizmente, no momento atual, estamos vivendo uma política de favores. Então não tem lógica nenhuma, é toma lá dá cá", diz André Ferretti, coordenador do Observatório do Clima.

Outro ponto é que o aumento das emissões foi verificado em momento de crise, no qual, normalmente, se espera diminuição de emissões.
No setor de energia houve diminuição de 7,3% nas emissões -o que também poderia ser explicado pela crise econômica. Essa queda no setor também se relaciona com o aumento do uso de energias renováveis.

"A energia eólica, apesar da recessão, gerou milhares de empregos no Brasil. Quem investiu, está ganhando dinheiro. A saída do vermelho está no verde", diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Jovem tem 17 vezes mais chances de morrer no Brás que na Vila Matilde

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1929620-morador-dos-jardins-vive-24-anos-a-mais-que-o-do-jardim-angela.shtml

JÚLIA BARBON
DE SÃO PAULO

24/10/2017  10h00 - Atualizado às 15h22

Um jovem de 15 a 29 anos tem 16,6 vezes mais chances de ser assassinado no Brás, distrito do centro de São Paulo, do que na Vila Matilde, na zona leste. Neste último, a taxa de homicídios juvenil é de 8,03 por 100 mil habitantes, enquanto no bairro central ela é de 133,45.

Outras 14 regiões da cidade têm taxa igual a zero, como Itaim Bibi, Moema, Lapa, Vila Guilherme, Consolação e Marsilac. Os dados são de 2015.

Esse é um dos índices que mais influenciam a média de idade ao morrer dos moradores em cada região. Na Vila Matilde, essa média é de 70,8 anos; no Brás, cai para 66,6 anos.

As diferenças gritantes entre os bairros paulistanos estão no Mapa da Desigualdade 2017, estudo lançado nesta terça-feira (24) pela Rede Nossa São Paulo, organização da sociedade civil. A grande maioria dos dados é de 2016 e foi fornecida por órgãos municipais.

O levantamento leva em conta a desigualdade no acesso a serviços públicos e qualidade de vida entre os 96 distritos da cidade, por meio de 38 indicadores de diversas áreas, como cultura, educação, saúde e violência.

Apesar de poder haver uma distorção por causa da população flutuante no Brás (com poucos moradores de fato), para Américo Sampaio, gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, faz sentido que o distrito seja o pior nas taxas de violência.

"O Brás é a periferia do centro. É uma região bastante perigosa e com grande deficit de serviços públicos. Tem muitos cortiços e favelas próximas, além da questão da migração", afirma. "É um distrito marcado pelo tráfico de drogas, próximo de entrepostos comerciais, da marginal, do trem, de terminal de ônibus."

No índice de idade ao morrer, o pior é o Jardim Ângela, bairro periférico da zona sul (com a 8ª maior taxa de homicídio juvenil), e o melhor é o Jardim Paulista, região nobre na zona oeste (com taxa zero de assassinato de jovens). Os habitantes do distrito mais rico morrem em média com 79,4 anos, enquanto no distrito mais pobre esse número despenca para 55,7 anos –uma diferença de 24 anos de vida.

Para se ter uma ideia, a melhor taxa da cidade é comparável à expectativa de vida da Dinamarca, e a pior, à da Nigéria, que tem um dos indicadores mais baixos do mundo, segundo a CIA (agência de inteligência americana) –embora a metodologia para calcular a expectativa de vida seja diferente da usada em São Paulo.

"Se fossem três ou cinco anos de vida, você poderia até pensar que é uma variação normal, mas 24 anos não é uma diferença nada aceitável. É uma geração inteira", diz Sampaio, que acompanha a realização do estudo anualmente, desde o seu início, em 2012.

Segundo o levantamento, esse indicador também tem relação com fatores como taxa de homicídios em geral, mortalidade infantil e óbitos por câncer. "Um dos grandes achados da pesquisa é mostrar, por A+B, que quanto mais acesso à cidade, mais as pessoas vivem", diz. "Isso reforça a importância que os governos e as políticas públicas têm na vida delas."

Desigualdades em SP - mapa da média da idade ao morrer
O abismo que separa os bairros ricos dos pobres variou pouco desde o ano passado, quando o indicador de idade ao morrer foi medido pela primeira vez.

Alto de Pinheiros (zona oeste), que tinha o melhor índice, registrava uma idade média de óbito aos 79,67 anos, enquanto em Cidade Tiradentes (leste) esse número era de 53,85 –uma discrepância, portanto, de pouco mais de 25 anos.

"Tem um movimento que é a perpetuação da desigualdade, você só está trocando os distritos pobres e ricos, mas a desigualdade continua a mesma", afirma Sampaio.

O maior objetivo do levantamento, diz ele, é mostrar que, apesar de ser a cidade mais rica da América Latina, São Paulo é extremamente desigual. "Mesmo tendo essa riqueza, ela não consegue distribui-la igualmente para os seus moradores."


Abaixo, veja outros oito dados da pesquisa que demonstram as disparidades que existem na capital paulista.

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1. Bairros com 'menor tempo' de vida têm maior taxa de homicídios

Treze dos 20 distritos com menor média de idade ao morrer também estão entre os 20 distritos com maiores taxas de homicídio, o que demonstra uma relação entre os dois índices.





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2. Só 11 bairros da capital não têm favelas

Desde 2013, o número de distritos sem comunidades é o mesmo. Como mostra o gráfico abaixo, um terço dos bairros tem mais de 10% de seus domicílios em áreas de favelas.



Desigualdades em sp - % de domicílios que ficam em favelas
3. Morador do Campo Belo ganha quase 8 vezes mais que o de Marsilac





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4. Mais da metade dos bairros não têm cinema, museu, casa de cultura ou local para show




5. Centro é foco de mortes por Aids

Os seis distritos com maior taxa de óbitos decorrentes da doença sexualmente transmissível ficam na região central da cidade: República, Pari, Brás, Sé, Bela Vista e Santa Cecília.


6. Morador da Vila Andrade leva 17 vezes mais dias para conseguir vaga em creche





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7. Cultura é o tema com maior desigualdade na cidade

Sete dos 10 indicadores com maiores índices de desigualdade são da área de cultura. O estudo considera como "desigualtômetro" a diferença entre o pior indicador da cidade e o melhor. Por exemplo: o número de livros infanto-juvenis disponíveis em bibliotecas municipais por criança –indicador que tem a maior taxa de desigualdade medida pelo levantamento– é 2.575 vezes maior na Consolação (5,3) do que no Capão Redondo (0,002). Isso sem considerar os distritos em que o índice é zero.



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8. Brás, Marsilac e São Rafael são considerados os piores distritos

O Campo Belo –considerado um bairro rico– também aparece como um dos cinco piores. Para Américo Sampaio, da Rede Nossa São Paulo, faz sentido: "Isso mostra exatamente o que queremos, a desigualdade na oferta de serviços públicos. No Campo Belo majoritariamente não tem essa oferta, porque a população é mais rica e usa escolas particulares, hospitais particulares etc."

Documentário dá voz a militares torturados pela própria ditadura

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1929619-documentario-da-voz-a-militares-torturados-pela-propria-ditadura.shtml

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

24/10/2017  02h00

Histórias sobre as torturas cometidas pela ditadura militar costumam vir de quem se opôs a elas. O documentário "Soldados do Araguaia", de Belisário Franca, joga luz nos sofrimentos infligidos pelo Estado a quem lutou em nome do regime –mais precisamente, cabos cooptados para desbaratar militantes.

O filme, em cartaz na Mostra de SP, traz depoimentos contundentes de ex-soldados recrutados entre adolescentes do sul do Pará, que conheciam as matas onde haviam se embrenhado os guerrilheiros de inspiração comunista.

Era gente comum, que vivia do extrativismo da pele de onças e que, de uma hora para a outra, foi surpreendida por helicópteros. Mais tarde, descobririam, "aquilo não era manobra, era guerra."

Antes de partir para a ação, os sujeitos eram sistematicamente humilhados e torturados pelos militares: forçados a beber sangue coagulado de vaca, comer cobra, suportar a picada de insetos após terem sido lambuzados de açúcar. Um deles detalha como perdeu parte dos testículos.

"O terror do Estado não tem lado, acaba atingindo o próprio Estado", afirma o diretor, que tomou conhecimento do caso a partir de uma indicação do jornalista paraense Ismael Machado.

Os depoimentos dos soldados só vieram à tona após as comissões da Verdade receberem pedidos de atendimento psiquiátrico de ex-combatentes militares. "Antes, eram só as vítimas 'convencionais'. Depois vieram ex-soldados, que sofreram tanto quanto as outras vítimas do Estado", afirma o diretor.

"Soldados do Araguaia" mostra como as torturas foram uma forma de preparar aqueles jovens locais para o extermínio que seriam obrigados a cometer. "Era uma política praticada para tornar o soldado submisso a uma luta irrefletida", diz o diretor.

É o momento em que o filme começa a dar espaço a relatos de guerrilheiros atirados de helicópteros e das cabeças dos militantes empilhadas em sacos "como cocos".

"A política de amnésia praticada pelas Forças Armadas fez com que não soubéssemos dessa história", diz o documentarista, que tem na ideia do silenciamento uma constante cinematográfica.

Em "Menino 23", seu documentário anterior, Belisário Franca se debruçava sobre os garotos que, nos anos 1930, foram escravizados por uma família simpatizante do nazismo no interior de São Paulo. Também ali havia uma cortina de silêncio a ocultar tudo.

"É sempre um choque como o Brasil escolhe a negação do que passou. E não há justiça sem memória da injustiça", afirma o diretor.

Em sua opinião, o fato de o Brasil ter optado pela via conciliatória é o que provoca a atual onda de gente pedindo a volta dos militares ao poder.

"Na Argentina e no Chile, a sociedade civil debateu suas ditaduras. Aqui não foi o suficiente. Esse é mais um dos silenciamentos que a ditadura foi capaz de produzir."

Deputados aprovam projeto de lei que proíbe nudez em exposições no ES

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1929877-deputados-aprovam-projeto-de-lei-que-proibe-nudez-em-exposicoes-no-es.shtml

DE SÃO PAULO

24/10/2017  20h41

Um projeto de lei que proíbe exposições com nudez e obras de "teor pornográfico" em espaços públicos do Espírito Santo foi aprovado, nesta segunda-feira (23), na Assembleia Legislativa.

A proposta do deputado Euclério Sampaio (PDT) foi votada em regime de urgência em reunião com as comissões de Justiça, de Cultura e de Finanças. Agora, segue para sanção ou veto do Governo do Estado.

Sampaio justifica no texto do projeto que a medida promove o "bem-estar das famílias do Espírito Santo", e que a nudez representada em exposições artísticas ou culturais causa "constrangimento aos cidadãos de diversas idades, crenças e costumes".

O deputado cita a interação de uma criança com artista nu durante a performance "La Bête", no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), e a exposição"Queermuseu", e afirma que se "torna inegável a necessidade da atuação do Poder Público para evitar que as manifestações artísticas de cunho sexual sejam promovidas em espaços públicos".

A proposta define como "teor pornográfico" as "expressões artísticas ou culturais que contenham fotografias, textos, desenhos, pinturas, filmes e vídeos que exponham o ato sexual e a nudez humana."

"Considero esse tipo de exposição um ataque à família. Se querem fazer arte deste tipo, temos que proibir isso no Espírito Santo", afirmou Sampaio em debate no último dia 10.

Caso a lei seja aprovada, quem descumpri-la poderá pagar multa de cerca de R$ 3 mil. O valor é dobrado em caso de reincidência.

A proibição, segundo o texto, não se aplica a locais cuja exposição tenha fins estritamente pedagógicos.

A medida também torna obrigatória a fixação de cartazes em locais visíveis com a classificação de público para maiores de 18 anos.

CPI ouve envolvidos no caso do MAM e ameaça condução coercitiva de artista

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1929927-cpi-ouve-envolvidos-no-caso-no-mam-e-ameaca-conducao-coercitiva-de-artista.shtml#

ISABELLA MENON
DE SÃO PAULO

24/10/2017  22h23

Após receber denúncias de incitação à pedofilia e violações ao ECA, a CPI dos Maus-Tratos realizou uma oitiva, nesta terça (24), sobre a interação de uma criança com um coreógrafo nu durante uma apresentação da performance de "La Bête" no MAM, em setembro.

Segundo o presidente da CPI, Magno Malta (PR-ES), Luiz Camillo Osório, curador da exposição 35º Panorama da Arte Brasileira, e o coreógrafo, Wagner Schwartz, serão levados para depor na próxima sessão da CPI, ainda sem data definida.

Alvo de críticas por permitir que a filha interagisse com o coreógrafo, a mãe da menina foi à sessão, mas preferiu ficar em silêncio.

Já Felipe Chaimovich, curador do MAM-SP, se defendeu das acusações de responsabilidade por não ter impedido a entrada da criança ao museu.

"Entendo que naquela performance não havia nenhum conteúdo erótico", disse.

Magno Malta afirmou que aquilo que o curador considera "arte, eu considero artimanha."

Em entrevista à Folha, o senador afirmou que a conclusão da CPI pode "fazer com que eles [curadores, coreógrafo e mãe] sejam indiciados" pelo relator, José Medeiros (PSD-MT).

"Aquilo tem caráter de violência emocional e psíquica contra a criança", afirma o senador.

Durante a sessão, ele afirmou ainda que a exposição "Queermuseu" —fechada em Porto Alegre— tinha caráter "cristofóbico" ao, por exemplo, retratar Jesus Cristo de forma satirizada.

"Sou rotulado como reacionário porque defendo a vida e sou contra o aborto", disse.

O relator José Medeiros afirmou que a CPI não visa apenas investigar o caso do MAM: "é para que possamos dizer se precisamos melhorar a lei de classificação indicativa".

Birmaneses negam limpeza étnica e ódio aos rohingyas

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1929863-birmaneses-negam-limpeza-etnica-e-odio-aos-rohingyas.shtml

HANNAH BEECH
Do "The New York Times", em Sittwe (Mianmar)

24/10/2017  19h21

O sacerdote budista recolheu as pernas para baixo da túnica e começou a explicar.

Os muçulmanos rohingya não pertencem a Mianmar, e nunca pertenceram, segundo ele. Sua fertilidade permitiu que eles superassem a população budista local. Mas agora, de alguma maneira, os rohingyas parecem ter desaparecido.

"Agradecemos ao senhor Buda por isso", disse Thu Min Gala, o abade de 57 anos do mosteiro Damarama em Sittwe, capital do Estado de Rakhine, no oeste de Mianmar. "Eles roubaram nossa terra, nossa comida e nossa água. Nunca os aceitaremos de volta."

Um corpo avassalador de relatos publicados explicou em detalhe a campanha do Exército de Mianmar de assassinatos, estupros e sequestros em Rakhine, que levou mais de 600 mil rohingyas a deixar o país desde o final de agosto, no que a ONU considera o mais rápido deslocamento de um povo desde o genocídio em Ruanda.

Mas em Mianmar, e no próprio Rakhine, nega-se com firmeza a ocorrência de limpeza étnica.

A divergência entre como Mianmar e grande parte do mundo exterior veem os rohingyas não se limita a um segmento da sociedade local. Tampouco o ódio em Mianmar pelo grupo muçulmano geralmente sem Estado pode ser considerado uma atitude marginal.

Autoridades do governo, políticos de oposição, líderes religiosos e até ativistas locais dos direitos humanos se uniram por trás dessa narrativa: os rohingyas não são cidadãos por direito de Mianmar, país de maioria budista, e agora, por meio do poder de um islamismo ressurgente no mundo, a minoria tenta falsamente capturar a simpatia do mundo.

Postagens nas redes sociais ampliaram a mensagem, afirmando que trabalhadores de ajuda internacionais defendem abertamente os rohingyas. Por isso, o governo de Mianmar bloqueou o acesso de agências de ajuda aos rohingyas ainda presos em Mianmar –cerca de 120 mil confinados em acampamentos no centro de Rakhine e dezenas de milhares em condições desesperadas no norte.

A resposta oficial aos relatos da ONU sobre o incêndio de aldeias inteiras pelos militares e o ataque contra civis foi insistir que os rohingyas estão fazendo isso contra si próprios.

"Não há casos de militares matando civis muçulmanos", disse o doutor Win Myat Aye, ministro do bem-estar social do país e chefe em Rakhine do partido Liga Nacional pela Democracia. "Os muçulmanos mataram seu próprio povo muçulmano."

Quando questionado sobre as evidências contra os militares, o ministro comentou que o governo de Mianmar não enviou investigadores a Bangladesh para censurar o depoimento dos rohingyas em fuga, mas que ele levantaria a possibilidade de fazer isso em uma futura reunião.

"Obrigado por nos aconselhar sobre essa ideia", disse ele.

Mianmar

Os rohingyas, que falam um dialeto bengali e tendem a parecer diferentes da maioria dos outros grupos étnicos de Mianmar, têm raízes em Rakhine há várias gerações. As tensões comunitárias entre os rohingyas e os budistas étnicos de Rakhine explodiram na Segunda Guerra Mundial, quando Rakhine se aliou aos japoneses, enquanto os rohingyas preferiram os britânicos.

Apesar de muitos rohingyas serem considerados cidadãos quando a Birmânia se tornou independente, em 1948, a junta militar que assumiu o poder em 1962 começou a privá-los de seus direitos. Depois que uma lei de cidadania restritiva foi aprovada em 1982, a maioria dos rohingyas ficou sem Estado.

Até o nome rohingya, com o qual o grupo étnico se identificou mais nos últimos anos, foi retirado deles. O governo de Mianmar costuma se referir aos rohingyas como bengalis, implicando que eles pertencem a Bangladesh. O público tende a chamá-los por um epíteto usado para todos os muçulmanos em Mianmar: "kalar".

A nomenclatura é tão delicada que, em um discurso neste mês, Aung San Suu Kyi, o Prêmio Nobel da Paz e líder de fato do governo, referiu-se somente a "os que cruzaram a fronteira para Bangladesh".

Alguns político da etnia rakhine estão saudando o êxodo rohingya como algo positivo.

"Tudo o que os bengalis aprendem em suas escolas religiosas é atacar e matar brutalmente", disse Khin Saw Wai, um deputado rakhine da cidade de Rathedaung. "É impossível vivermos juntos no futuro."

Os monges budistas, árbitros da moral em uma terra piedosa, estiveram na vanguarda de uma campanha para desumanizar os rohingyas. Em vídeos populares, monges extremistas se referem aos rohingyas como "cobras" ou "piores que cães".

Diante do mosteiro de Thu Min Gala em Sittwe, algumas placas refletiam um senso de realidade diferente. Uma dizia que o mosteiro, que abriga rakhines étnicos que fugiram da zona de conflito, não aceitaria doações de qualquer agência internacional. A outra advertia que grupos ecumênicos não são bem-vindos.

O abade afirmou que as autoridades de Rakhine avistaram um carro da Cruz Vermelha cheio de armas destinadas a militantes rohingya que realizaram ataques contra as forças de segurança em agosto. Thu Min Gala afirmou que bastões de dinamite estavam embrulhados em papel com o logotipo da Cruz Vermelha. Esta negou as acusações.

"Não confiamos na sociedade internacional", disse o abade. "Eles estão só do lado dos terroristas."

Em outro mosteiro em Sittwe, um abade idoso, Baddanta Thaw Ma, interrompeu minha conversa com um jovem monge batendo no ar diante do meu rosto. "Vá! Vá! Vá!", gritou ele em inglês, antes de mudar para o dialeto rakhine. "Vá embora, estrangeiro! Vá embora, amante de kalar."

O sentimento público contra os muçulmanos –que são cerca de 4% da população de Mianmar, abrangendo vários grupos étnicos, entre os quais os rohingyas– se espalhou além de Rakhine. Nas eleições de 2015, nenhum partido político importante elegeu um candidato muçulmano. Hoje não há muçulmanos no Parlamento, pela primeira vez desde a independência.

As mensagens nas redes sociais conduziram grande parte do ódio em Mianmar. Apesar de o acesso generalizado aos telefones celulares só ter começado há alguns anos, sua penetração hoje é de aproximadamente 90%.

Para muitas pessoas, o Facebook é a única fonte de notícias, e eles têm pouca experiência em separar notícias falsas de reportagens verossímeis.

Uma mensagem amplamente divulgada no Facebook, de um porta-voz do gabinete de Suu Kyi, enfatizou que biscoitos do Programa Mundial de Alimentos da ONU foram encontrados em um campo de treinamento de militantes rohingya. A ONU chamou a postagem de "irresponsável".

Mesmo entre autoridades que poderiam defender os direitos humanos, a frustração se voltou para os críticos estrangeiros. Silenciosamente, alguns defendem o fracasso de Suu Kyi em convocar os militares para proteger os rohingyas, dizendo que seria um suicídio político em um país onde o ódio pelos rohingyas é tão generalizado. Eles veem a recente pressão internacional, no máximo, como ignorante das complexidades domésticas e, no mínimo, como uma tentativa de prejudicar o desenvolvimento de Mianmar.

"Pedimos à comunidade internacional que reconheça que esses muçulmanos são imigrantes ilegais de Bangladesh e que esta crise é uma infração à nossa soberania", disse Nyan Win, um porta-voz da Liga Nacional pela Democracia, que divide o poder com os militares em Mianmar. "Essa é a coisa mais importante na questão de Rakhine."

Ko Ko Gyi, um defensor da democracia que passou 17 anos preso pelos militares que governaram Mianmar, também citou o interesse nacional.

"Fomos defensores dos direitos humanos por muitos anos e sofremos durante muito tempo, mas estamos juntos sobre essa questão porque precisamos apoiar nossa segurança nacional", disse ele.

"Somos um país pequeno que fica entre a Índia e a China, e o DNA de nossos ancestrais está lutando pela sobrevivência", disse Ko Ko Gyi. "Se vocês no Ocidente nos criticarem muito, nos empurrarão para os braços da China e da Rússia."

TRADUÇÃO: LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

China inclui ideias de Xi Jinping na Constituição e o iguala a Mao e Deng

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/10/1929681-china-inclui-ideias-de-xi-jinping-na-constituicao-e-o-iguala-a-mao-e-deng.shtml

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

24/10/2017  09h18 - Atualizado às 21h36

O Partido Comunista da China incluiu o pensamento político do presidente Xi Jinping em sua Constituição nesta terça-feira (24), colocando-o ao lado do fundador da China moderna, Mao Tsé-tung, e de Deng Xiaoping, cujas reformas iniciadas no fim dos anos 1970 transformaram o país em uma potência.

O partido aprovou por unanimidade uma emenda para incluir o "Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era" como um de seus princípios.

A medida consolida o poder do atual líder antes do início de um segundo mandato de cinco anos à frente da ditadura de partido único.

As novas emendas à Constituição determinam que a luta contra a corrupção que caracteriza o governo Xi, e que já puniu mais de 1,3 milhão de funcionários, continuará.

Uma surpresa foi a inclusão da iniciativa Cinturão e Estrada, de autoria de Xi. Também chamada de Nova Rota da Seda , trata-se de um ambicioso plano de construção de infraestrutura para ligar a China a mais de 60 países.

Também entrou para a Carta um compromisso com reformas industriais voltadas à cadeia de suprimentos e a menção ao "papel decisivo" das forças de mercado na alocação de recursos, promessa feita por Xi no início de seu primeiro mandato.

"O partido exerce a liderança geral em todas as áreas de empreendimento em cada parte do país", afirma a legenda em um comunicado, refletindo os esforços de Xi para fortalecer os comunistas.

A Constituição da sigla, que é diferente da Constituição chinesa, estabelece as regras da agremiação e apresenta o pensamento dos principais líderes de sua história. As novidades no documento também servirão como guia para a doutrinação partidária nas escolas, na mídia e no governo.

SUCESSÃO

O partido anunciará nesta quarta (25) os novos integrantes do Comitê Permanente, seu órgão mais importante. Ele atualmente tem sete membros e é presidido por Xi, que permanecerá no posto.

Muitos analistas preveem que Xi siga no comando do país após o fim de seu segundo mandato, em 2022, com o que quebraria uma tradição de 25 anos.

Desde a aposentadoria de Deng, em 1993, o responsável por comandar o país é escolhido pela cúpula do partido e permanece no cargo por cerca de dez anos, passando o poder para um sucessor. Foi assim com Jiang Zemin (1992-2003) e Hu Jintao (2003-13).

Mesmo que não consiga permanecer no poder após 2022, o atual dirigente pode manter seu prestígio caso consiga emplacar um aliado como sucessor, algo que os dois antecessores não puderam fazer. Neste caso, o mais cotado é Chen Min'er, secretário-geral do partido em Chongqing.

Nesta terça, Chen foi um dos 204 nomes escolhidos para o novo Comitê Central do partido, um pré-requisito para entrar no Comitê Permanente.

Um nome que parece descartado da disputa é o de Wang Qishan, aliado de Xi que comandou as iniciativas de combate à corrupção e que ficou de fora do Comitê Central por ter ultrapassado a idade de aposentadoria costumeira de 69 anos.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Slogan de propaganda de Xi Jinping revela os rumos da China

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/jaimespitzcovsky/2017/10/1929356-slogan-de-propaganda-de-xi-jinping-revela-os-rumos-da-china.shtml

Por Jaimes Pitzcovsky
23/10/2017  02h00

Ao anunciar "o socialismo com características chinesas para uma nova era", o dirigente chinês Xi Jinping sinaliza entender que seu período no poder é o principal momento para reformas após a etapa capitaneada por Deng Xiaoping (1977-1997), patriarca das mudanças.

Xi também desenha mais um slogan, na tradição milenar da China e fortalecida pelo Partido Comunista, de recorrer a expressões curtas, para indicar rumos políticos e criar ferramentas propagandísticas.

Na ortodoxia vermelha de Mao Tse-tung (1949-1976) ou na alquimia mercadológica de Deng, o regime recorreu fartamente à propaganda (xuanchuan, em chinês) e a motes sintéticos, observados, por exemplo, na fórmula de "mobilizar apenas quatro caracteres chineses".

Na Revolução Cultural (1966-76), anos de radicalização do maoísmo, o governo impunha ondas de terror ao brandir slogans como "esmagar quatro coisas velhas", referência genérica a "ideias, cultura, costumes e hábitos" condenados pelo regime.

Deng Xiaoping, no poder, esvaziou o maoísmo, reformou a abordagem ideológica e, para colocar a China em rumo distinto, cunhou a expressão "socialismo com características chinesas", rótulo da manutenção do monopólio do poder do Partido Comunista com as injeções cavalares de capitalismo na esfera econômica.

Sucessores de Deng seguiram a cartilha partidária e desenharam slogans. Jiang Zemin (1989-2002) sustentava a "teoria das três representações", responsável por mudança cardinal nos manuais do partido. Empresários, engrenagem relevante para a decolagem econômica, deixaram de ser descritos como "exploradores do proletariado" e passaram a integrar "as forças produtivas da sociedade chinesa".

Jiang Zemin, cultivando a incipiente e próspera iniciativa privada, deixou para o sucessor, Hu Jintao, crescente desigualdade na distribuição de renda, apesar de avanços no combate à pobreza. Tensões sociais levaram Hu Jintao a eleger a "construção de uma sociedade harmoniosa" como slogan de estimação.

Em política externa, Hu Jintao (2002-2012) cravou a expressão "ascensão pacífica", resposta às alarmistas teorias da "ameaça chinesa", apoiadas na tese da inviabilidade de diálogo de Pequim, por exemplo, com Washington.

Xi Jinping recebeu o cetro de Hu Jintao, cinco anos atrás, e desenhou como slogan inicial "o sonho chinês", alusão ao "american dream". No primeiro mandato, porém, Xi priorizou consolidar seu poder, ao afastar adversários e apertar a repressão.

O mandarim, nomeado o homem mais poderoso do mundo pela revista britânica "The Economist", discursou semana passada no Congresso do Partido Comunista e prometeu uma China assertiva no cenário global, mas comprometida com "a cooperação internacional e integração econômica".

Comparou seu segundo mandato a uma renovação da trajetória de Deng. Falou em nova era para o "socialismo com características chinesas", baseada em inovação e consumo doméstico. Apegado às tradições, Xi Jinping abusou de slogans.

Só não explicou como, no médio e longo prazo, conseguirá manter a mão pesada do Partido Comunista sobre uma sociedade civil cada vez mais complexa.

Nova modalidade de mensalão virtual, 'bitCunhas' devem livrar Temer

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/celso-rocha-de-barros/2017/10/1929310-nova-modalidade-de-mensalao-virtual-bitcunhas-devem-livrar-temer.shtml

Por Celso Rocha de Barros
23/10/2017  02h00

Na próxima quarta-feira (25) o Congresso Nacional deve votar a segunda denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer. Não passa pela cabeça de ninguém que o presidente da República seja inocente, mas isso nunca impediu ninguém de continuar no poder.

Temer virou presidente com conchavos no Congresso, sobreviveu à primeira denúncia com conchavos no Congresso, e quem já fez dois conchavos no Congresso pode muito bem fazer três. A expectativa geral é que na sexta-feira (27) o presidente da República ainda seja esta belezura que está aí.

Mas é preciso registrar que Temer chega nesse julgamento mais fraco do que chegou no último, porque acabou o dinheiro para comprar apoios dos parlamentares.

A falta de dinheiro fica clara no número de vantagens oferecidas pelo governo que não envolvem gastar dinheiro à vista. São várias novas modalidades de mensalão virtual –proponho chamá-las "bitCunhas"– todas com o objetivo de garantir votos para livrar Temer da cana dura.

Por exemplo, todo dia agora o Congresso aprova uma nova anistia de impostos, multas e outras coisas que deveriam ter sido pagas ao governo. Alguns dos deputados estão entre os devedores, mas mesmo os que não estão esperam receber contribuições de campanha dos empresários beneficiados com as anistias.

Temer também está entregando a regulação de áreas importantes da vida brasileira em troca de votos. Os planos de saúde contribuem muito para campanhas eleitorais (por exemplo, a do ministro da Saúde). Pensando nisso, os temeristas querem deixar que planos de saúde cobrem mais de idosos.

Dessa forma, mesmo que o governo não esteja dando dinheiro para os parlamentares, eles certamente serão recompensados pelos planos de saúde na próxima campanha por terem conseguido esses favores.

O mesmo se dá com a regulação do trabalho escravo. Havia gente razoável dizendo que era preciso tornar alguns critérios de definição de "trabalho análogo à escravidão" mais precisos. Mas nem mesmo o mais exaltado ruralista esperava que o critério novo fosse "só é trabalho escravo se o sujeito for obrigado a cantar o tema de 'Escrava Isaura' enquanto o executa", como parece ser o caso sob a nova lei. Isso também é compra de votos: em vez de dar dinheiro para os parlamentares, o governo aumenta as contribuições de campanha que eles receberão no futuro dos beneficiados pela lei.

Não se sabe bem se "bitCunhas" terão tanta aceitação na compra de votos quanto moedas mais tradicionais, como dinheiro ou cargos que podem ser convertidos em dinheiro.

Por exemplo, tem quem diga que o governo revisará as normas de fiscalização de trabalho escravo assim que escapar na quarta. Se os deputados ruralistas acreditarem nisso, vão salvar Temer do mesmo jeito?

Além dos problemas de liquidez das "bitCunhas", é preciso levar em conta que o tempo voa quando você está se divertindo, e qualquer hora dessas o mandato de Temer acaba. Cada salvação de Temer se dá mais perto da eleição de 2018 e tem mais chance de ainda estar na lembrança no dia do voto.

Enfim, somando tudo, ainda é provável que não caia. Mas, se bobear, cai. A única certeza é que na sexta-feira o Brasil deve ter um presidente tão qualificado para o cargo quanto o desta segunda.

Doria faz propaganda de empresas doadoras que devem à prefeitura

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1929335-doria-faz-propaganda-de-empresas-doadoras-que-devem-a-prefeitura.shtml

ROGÉRIO GENTILE
ARTUR RODRIGUES
DE SÃO PAULO

23/10/2017  02h00

Em decorrência da política de doações, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), tem feito propaganda para empresas devedoras de impostos para a cidade.

A Siemens, por exemplo, ganhou longos minutos de exposição de sua marca em um vídeo feito pela prefeitura no qual é divulgado o empréstimo, feito em parceria com a Truckvan, de uma carreta equipada com um tomógrafo "de última geração".

O empréstimo, afirma a publicação, é válido por quatro meses e equivale a R$ 800 mil. A Siemens, segundo o cadastro da dívida ativa da cidade, deve R$ 79,5 milhões em ISS (Imposto Sobre Serviços), valor que, como comparação, seria suficiente para 33 anos de uso da carreta.

"Olá pessoal, hoje mais um conjunto de doações por empresas de alta tecnologia", diz Doria, em um segundo vídeo, enquanto o símbolo da Siemens aparece na tela.

Após a doação, a Siemens foi capa da revista Lide, uma publicação do Grupo Doria -antes de assumir, o prefeito deixou o controle das empresas nas mãos de familiares.

Outra marca beneficiada pelo prefeito foi a Ultrafarma, que ganhou um vídeo bastante espirituoso na internet no qual o tucano exibe vários produtos da empresa.

"Pessoal, hoje temos a nossa quarta reunião do secretariado. Estou dando uma boa dose de vitaminas para eles", diz o tucano. "Tudo isso para aguentar o tranco." Apenas no Facebook, Doria tem 2,9 milhões de seguidores.

Ao mesmo tempo em que figura como parte de processo por dívida com a prefeitura de R$ 71.122 em impostos, a Ultrafarma comprou, a título de doação, painéis publicitários em partidas da Seleção Brasileira de Futebol.

Os painéis, avaliados em R$ 325 mil, foram usados pela prefeitura para exibir em transmissão nacional marcas publicitárias da gestão João Doria.

O prefeito é pré-candidato a presidente e já usou a expressão "empresas do bem" para se referir àquelas que se dispõem a fazer doações para a cidade de São Paulo.

GANHO ENORME

Benjamin Rosenthal, professor da FGV e especialista em mídias sociais, diz que os vídeos publicados por Doria trazem um ganho enorme para a marca das empresas.

"Em marketing comercial é sempre melhor alguém falar bem de você do que você mesmo", afirma.

Rosenthal considera que a empresa se beneficia não apenas em razão do grande número de seguidores de Doria nas redes sociais, mas, sobretudo, pelo fato de o endosso partir do próprio prefeito.

"Um endosso como esse vale muito mais do que uma propaganda feita por um influenciador digital tipo Felipe Neto (é o segundo maior youtuber do país com 14,3 milhões de inscritos)", afirma.

Ao anunciar as doações em suas redes sociais, Doria costuma dizer que pratica uma forma "diferente" de gestão.

"É gestão eficiente, sem recurso público", declarou em vídeo no qual agradece a Ambev, empresa que deve R$ 76,8 mil em impostos.

A Ambev, que integra a maior cervejaria do mundo, patrocinou a reforma de 7 quadras esportivas do parque Ibirapuera, fez um investimento de R$ 229 mil. Doou também uma geladeira de R$ 1.600 para o gabinete do prefeito.

O Ministério Público investiga se a administração interferiu em uma concorrência para escolha do patrocinador oficial do Carnaval de Rua em favor de uma empresa contratada da Ambev.

Após ceder uma tonelada de pavimento seco para a cidade, a Único Asfaltos ganhou um texto elogioso no site da prefeitura no qual há menção até ao "preço competitivo" do seu produto.

"O material tem qualidade rodoviária e é instantâneo. É ideal para prefeituras, empresas de água e esgoto, empreiteiras, condomínios, residências, shoppings, estacionamentos, postos de gasolina e outros empreendimentos", diz a peça oficial.

O texto diz ainda que a empresa se interessou em fazer a doação após "ver o voluntariado de personalidades como o Roger, da banda Ultraje a Rigor, nos eventos de tapa-buraco com o prefeito."

A empresa tem uma dívida de R$ 193 mil com a cidade. A doação vale R$ 800.

Uma das maiores devedoras do município também está entre as doadoras. A Bemis Latin America, que já patrocinou um almoço-debate do Lide com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tem uma dívida de R$ 727 milhões em impostos. A contribuição da Bemis com a cidade é sensivelmente inferior: R$ 5.400 em camisetas com os logotipos dos programas "Cidade Linda" e "Calçada Nova", vitrines políticas de Doria.

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Doadoras endividadas

Após doações, prefeitura fez propaganda de empresas que devem impostos

Bemis*

Dívida com a prefeitura: R$ 727.901.181

Valor estimado doado à prefeitura: R$ 5.400

O que doou: Camisetas dos projetos Cidade Linda e Calçada Nova

Siemens
Dívida com a prefeitura: R$ 79.590.533

Valor estimado doado à prefeitura: R$ 800.000

O que doou: Empréstimo de carreta para fazer tomografia computadorizada

Único Asfaltos

Dívida com a prefeitura: R$ 193.497

Valor estimado doado à prefeitura: R$ 800

O que doou: 1.000 quilos de pavimento seco

Ambev

Dívida com a prefeitura: R$ 76.796

Valor estimado doado à prefeitura: R$ 230.706

O que doou: Reforma de quadras do parque Ibirapuera e um refrigerador

Ultrafarma

Dívida com a prefeitura: R$ 71.122

Valor estimado doado à prefeitura: R$ 325.000

O que doou: 10 min de propaganda em painéis de LED em jogos do Brasil

*No caso da empresa Bemis, divulgação foi feita apenas no site da transparência do município



Fonte: site da Prefeitura de São Paulo

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OUTRO LADO

A gestão João Doria (PSDB) afirma que a divulgação do nome das empresas doadoras não é uma propaganda, no sentido publicitário do termo, mas um ato de transparência. Diz também que as doações seguem rigorosamente as determinações legais e que as condições da empresa como contribuinte não se confundem com ações de doação.

"Se alguém [deve tributos], isso não impede que ele venha a fazer parcerias com a prefeitura", afirmou o procurador-geral do município, Ricardo Ferrari. Ele diz também que é um direito das empresas recorrer ao judiciário em questões relativas a dívidas.

Em nota, a prefeitura afirmou ainda que as doações não isentam as empresas das obrigados com o fisco. "Mais de 300 empresas/organizações já firmaram parcerias ou realizaram doações à Prefeitura -situações rigorosamente narradas e publicadas pelos canais oficiais- sem que houvesse qualquer relação com a questão fiscal e com inegáveis benefícios", diz a prefeitura.

A prefeitura afirma ainda que a rede social do prefeito é "particular" e sua manutenção não tem relação com a administração pública, sendo financiada com recursos privados do prefeito
A assessoria de imprensa também afirma, sobre as relações das empresas com o Lide, que o prefeito não atua desde o o início da gestão no grupo, "o qual também não recebe quaisquer benefícios por parcerias firmadas entre empresas e a prefeitura".

A gestão Doria afirma que duas das empresas, a Único Asfaltos e Ambev, aderiram ao Plano de Parcelamento Incentivado, para pagar suas dívidas. Já Ultrafarma, Siemens e Bemis questionam as dívidas na Justiça. As duas últimas, diz a prefeitura, apresentaram depósito judicial como garantia enquanto os casos não forem definitivamente julgados.

A Siemens diz que a cessão em comodato da carreta à prefeitura não tem relação, "seja direta ou indireta, com a discussão judicial no tocante à cobrança indevida de ISS".

"A Unidade Móvel de Tomografia Computadorizada foi projetada para realizar até mil exames por mês e, por meio do Programa Dr. Saúde, e beneficiou gratuitamente cerca de 3.700 pacientes da zona sul de São Paulo", diz nota da empresa.

A Siemens afirma ainda que contribui com iniciativas de responsabilidade social, "além de gerar desde 2013, somente na cidade de São Paulo, cerca de R$ 36,5 milhões em tributos, criando empregos diretos e indiretos".

A Ambev afirma cumprir as regras tributárias e estar entre as maiores pagadoras de impostos do país. "A companhia esclarece que o pagamento da dívida em questão já está planejada para acontecer até o fim do mês", diz nota.

A cervejeira afirma que apoia diversas práticas esportivas e por isso fez a doação da reforma das quadras do parque Ibirapuera, "sem qualquer contrapartida".

Já a Bemis afirmou que a doação de camisetas do programa Cidade Linda faz parte de "pilar de sustentabilidade, que visa ações e projetos voltados à prática do bem estar das pessoas".

A companhia argumenta que a cidade de São Paulo cobra ISS sobre impressão gráfica de embalagens, embora a empresa e as outras do setor já recolham ICMS. "A discussão legal sobre ISS versus ICMS já existe desde 1968 e atualmente a jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo é no sentido de que a venda de embalagens deve ser sujeita ao pagamento de ICMS e não ISS", diz em nota.

A Ultrafarma e a Único Asfaltos foram contatadas e não se manifestaram.