Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/transformacao-de-xi-em-imperador-e-desafio-para-brasil-e-resto-do-ocidente.shtml
País decidiu acabar com limite de reeleição, abrindo espaço para líder se manter no poder
25.fev.2018 às 11h11
Igor Gielow
SÃO PAULO
A decisão do Partido Comunista Chinês de propor a manutenção indefinida no poder de seu líder, Xi Jinping, explicita um movimento que vinha ocorrendo nos últimos anos e devolve à ditadura de Pequim o caráter imperial.
A mudança, que certamente será tornada realidade, traz imensos desafios políticos ao Ocidente, Brasil extraordinariamente incluso na equação. Por maior que seja a insignificância diplomática de Brasília, o país ainda é a letra B num bloco político-econômico liderado pela China (o Brics).
Não que seja uma unidade política funcional e coesa. Cada um de seus integrantes tomou um caminho bastante distinto desde seu estabelecimento, em 2006, por Brasil, Rússia, Índia e China (o S só passou a representar a inicial inglesa de África do Sul em 2011). O denominador, contudo, é o peso econômico dos chineses, que só fez crescer: após um período de incerteza, o PIB do país voltou a crescer em 2017 em relação ao ano anterior.
Os chineses são os maiores parceiros comerciais do Brasil e começaram um movimento para investir em infraestrutura por aqui, a começar pela área de energia elétrica. Tudo isso se encaixa na visão de Xi, tornada política oficial no congresso do PC chinês no ano passado, de que o antigo “Império do Meio” precisa expandir suas fronteiras de influência de forma mais assertiva. A iniciativa econômica Um Cinturão, Uma Estrada, que visa criar corredores de trocas comerciais e de investimento estrutural, tem a pretensão de ser o braço executor desse plano.
A consolidação final do poder de Xi, propondo a abolição das amarras constitucionais que restringiram os movimentos personalistas de seus dois antecessores, sugere uma execução mais vigorosa de suas intenções. Num momento de franco isolacionismo dos Estados Unidos sob Donald Trump, o próximo presidente brasileiro provavelmente terá de fazer opções de alinhamento político complicadas. Mais do que nunca, o caráter absolutista e repressivo da ditadura chinesa será questionado.
Por óbvio, isso vale também para Washington e para o resto do Ocidente, que alimentou feliz o panda gigante abarrotado de mão-de-obra barata e consumidores cada vez mais ávidos. A hipocrisia sempre foi a régua utilizada para determinar os limites dos relacionamentos, e isso vem dos anos 1970, quando Richard Nixon abraçou Mao Tsé-tung para quebrar a retaguarda da União Soviética.
O dinheiro falou mais alto nas décadas seguintes, apesar de soluços constrangedores como o massacre da praça da Paz Celestial em 1989 —que, de todo modo, abriram caminho para as restrições ao poder absolutista dos líderes chineses até hoje.
Os soviéticos caíram, e a Rússia de Vladimir Putin hoje é o R dos Brics, bastante interligada a Pequim. Boa parte da tecnologia militar chinesa tem como ponto e origem material russo, e ambos os países já fizeram juras de auxílio mútuo na área de hidrocarbonetos.
Há óbvia desconfiança, em especial pelo fato de as fronteiras russas no Oriente serem praticamente desabitadas e sob forte influência econômica chinesa. Putin buscará sua última reeleição, garantida, no mês que vem. Resta saber se o movimento de Xi pode inspirar o presidente, que até aqui sempre jogou dentro das regras constitucionais para manter o poder que conquistou em 2000.
Com Xi tornando-se um “imperador vermelho” no estilo de Mao e Deng Xiaoping, essa volta ao século 20 será contraposta à realidade de quase estarmos nos anos 2020. Por mais que seja feroz no controle da internet, o regime não tem como isolar totalmente seu 1,4 bilhão de habitantes do resto do mundo. Demandas sociais por mais liberdade invariavelmente virão com a expansão econômica e política da ditadura, gerando pressões contraditórias a desafiar Xi, de resto hoje líder incontestável após uma série de expurgos em nome da pureza partidária.
A história ensina que uma hora o equilíbrio sob tensão desmorona, e aí será a vez de o Ocidente, Brasil incluído, decidir se vai proceder apenas utilizando o cérebro que guarda no bolso. Isso se a crescente expansão das capacidades militares da China não se tornar, nos anos a seguir, uma profecia que se cumpre sozinha e levar o império emergente a embate direto com os Estados Unidos. Este é um filme que já passou muitas vezes.
Blog focado em Geografia e em fatos e notícias contemporâneas, que compõem as Atualidades.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Boeing e Governo Federal chegam a acordo para venda da Embraer, diz jornal
15:39 25.02.2018(atualizado 13:35 27.02.2018)
A Boeing acertou com a Embraer e o Governo Federal a participação que terá na nova companhia que formará com a fabricante brasileira: 51%.
A informação é do jornal O Globo.
Leia: https://br.sputniknews.com/economia/2018022510610095-boeing-governo-federal-acordo-venda-embraer/
sábado, 24 de fevereiro de 2018
Conselho de Segurança da ONU adota resolução que pede cessar-fogo na Síria
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/conselho-de-seguranca-da-onu-adota-resolucao-que-pede-cessar-fogo-na-siria.shtml?utm_source=folha&utm_medium=site&utm_campaign=topicos?cmpid=topicos
Aliada de Damasco, Rússia finalmente aceita recomendação de trégua de 30 dias
24.fev.2018 às 17h41
O Conselho de Segurança da ONU aprovou neste sábado (24) por unanimidade uma resolução que pede uma trégua de 30 dias na Síria para permitir a entrada de ajuda humanitária e médicos no enclave rebelde de Ghouta Oriental, bombardeado há uma semana por tropas leais ao ditador Bashar al-Assad.
A Rússia, aliada de Damasco, se opunha até aqui à adoção do texto, o que levou a sua votação a ser adiada algumas vezes desde o começo das discussões nas Nações Unidas, na quinta (22).
O número de mortos desde que teve início a ofensiva do regime contra Ghouta, no domingo (18), já passa de 500 ---127 das vítimas são crianças. Há ainda mais de 2.400 feridos.
A região (formada por uma série de cidades-satélites e fazendas a leste de Damasco) está sob cerco das forças oficiais desde 2013, quando Assad foi acusado de usar gás sarin em um ataque ao local, matando cerca de 1.300 pessoas —o governo nega o emprego da arma química.
A população ali é de cerca de 400 mil habitantes.
O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, havia dito que a ideia de um cessar-fogo imediato na região não era realista —a proposta inicial era que o armistício começasse em 72 horas.
Por isso, Suécia e Kuwait alteraram o documento, que, na versão aprovada, “pede que todas as partes interrompam as hostilidades sem demora”, mas não especifica uma data exata para que isso aconteça.
Antes da votação, o embaixador sueco na ONU, Olof Skoog, afirmara que a resolução poderia ajudar a distender o clima na região e a salvar vidas: "Os comboios e equipes de evacuação da ONU estão prontos para ir para lá".
O Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres, informou que aviões de guerra alvejaram Ghouta na noite de sábado apenas alguns minutos depois da adoção da resolução pelas Nações Unidas.
O bombardeio, segundo a entidade, atingiu a cidade de Shifouniyeh.
REUTERS e ASSOCIATED PRESS
Aliada de Damasco, Rússia finalmente aceita recomendação de trégua de 30 dias
24.fev.2018 às 17h41
O Conselho de Segurança da ONU aprovou neste sábado (24) por unanimidade uma resolução que pede uma trégua de 30 dias na Síria para permitir a entrada de ajuda humanitária e médicos no enclave rebelde de Ghouta Oriental, bombardeado há uma semana por tropas leais ao ditador Bashar al-Assad.
A Rússia, aliada de Damasco, se opunha até aqui à adoção do texto, o que levou a sua votação a ser adiada algumas vezes desde o começo das discussões nas Nações Unidas, na quinta (22).
O número de mortos desde que teve início a ofensiva do regime contra Ghouta, no domingo (18), já passa de 500 ---127 das vítimas são crianças. Há ainda mais de 2.400 feridos.
A região (formada por uma série de cidades-satélites e fazendas a leste de Damasco) está sob cerco das forças oficiais desde 2013, quando Assad foi acusado de usar gás sarin em um ataque ao local, matando cerca de 1.300 pessoas —o governo nega o emprego da arma química.
A população ali é de cerca de 400 mil habitantes.
O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, havia dito que a ideia de um cessar-fogo imediato na região não era realista —a proposta inicial era que o armistício começasse em 72 horas.
Por isso, Suécia e Kuwait alteraram o documento, que, na versão aprovada, “pede que todas as partes interrompam as hostilidades sem demora”, mas não especifica uma data exata para que isso aconteça.
Antes da votação, o embaixador sueco na ONU, Olof Skoog, afirmara que a resolução poderia ajudar a distender o clima na região e a salvar vidas: "Os comboios e equipes de evacuação da ONU estão prontos para ir para lá".
O Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres, informou que aviões de guerra alvejaram Ghouta na noite de sábado apenas alguns minutos depois da adoção da resolução pelas Nações Unidas.
O bombardeio, segundo a entidade, atingiu a cidade de Shifouniyeh.
REUTERS e ASSOCIATED PRESS
Há risco de guerra entre potências internacionais na Síria?
Sebastian Usher
Editor da BBC para assuntos árabes
24 fevereiro 2018
Ver: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-43177724
Antes dos portugueses, SP teve floresta tropical, Cerrado e mini-Pantanal
Matéria interessantíssima.
http://www.bbc.com/portuguese/geral-43148025
http://www.bbc.com/portuguese/geral-43148025
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
Conheça Wayne La Pierre, o capo do lobby das armas nos EUA
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/2018/02/conheca-wayne-la-pierre-o-capo-do-lobby-das-armas-nos-eua.shtml
O líder da NRA encabeça a luta contra o controle de armas no país
23.fev.2018 às 2h00
“Estamos aqui porque minha filha não tem voz —ela foi assassinada na semana passada, levou nove tiros. Quantas escolas, quantos filhos vão ter que morrer? Deveria ter sido um massacre em escola e nós termos resolvido essa questão. Eu estou furioso, porque nunca mais vou ver minha filha.”
Quem disse isso ao presidente Donald Trump foi Andrew Pollack, pai de Meadow, 18 anos, uma das 17 pessoas mortas na semana passada no massacre da escola em Parkland, na Flórida.
Mas para Wayne LaPierre, chefão da National Rifle Association (NRA, Associação Nacional do Fuzil), o poderoso lobby das armas nos Estados Unidos, Andrew é mais um “oportunista”, que tira proveito de massacres para tentar aprovar leis de controle de armas.
Com a palavra La Pierre, em discurso na CPAC (Conferência da Ação Política Conservadora) : “Como de costume, os oportunistas não perderam nem um segundo para usar a tragédia para ganho político...as elites não estão nem aí para as escolas americanas e os alunos. Para eles, não se trata de uma questão de segurança, mas sim uma questão política.”
Segundo ele, o direito constitucional de portar armas não é “concedido pelos homens, mas garantido por Deus para todos os americanos”.
Desde o massacre de Sandy Hook, em 2012, em que 20 crianças de 5 e 6 anos morreram nas mãos de um atirador alucinado, foram apresentados mais de 100 projetos de lei de controle de armas no Congresso americano. Nenhum passou.
Essa façanha foi obra de Wayne LaPierre, que é a cara e a voz da National Rifle Association há 30 anos. A NRA tem 5 milhões de membros e um poder gigantesco. Em vídeo em 2016, La Pierre afirmou que Trump era o “candidato mais favorável à Segunda Emenda (da Constituição americana, que garante porte de armas) da história”.
A NRA doou US$ 30 milhões para a campanha de Donald Trump em 2016. O investimento valeu a pena. Após o massacre de Parkland, Trump fez concessões apenas laterais –apoiou projeto de lei que aprimora a checagem de antecedentes de compradores de armas e pediu que seja proibido o “bump stock”, que basicamente transforma fuzis semiautomáticos em metralhadoras.
Mas elogiou Wayne, um “grande patriota”, e culpou doenças mentais, e não armas, pelos seguidos massacres em solo americano. Não existe o menor perigo de Trump, por exemplo, querer reintroduzir o veto a “armas de assalto”, como o fuzil semi-automático AR-15 usado pelo atirador de Parkland. O veto expirou em 2004.
Tampouco LaPierre deve temer que Trump queira adotar um banco de dados universal para compradores de armas, ou limites para tamanho dos pentes de munição. Aliás, o presidente americano propôs que os professores estejam armados –uma das ideias defendidas por La Pierre, afinal, isso vai ajudar a vender ainda mais armas. Após o massacre de Sandy Hook, o lobista disse:
“Para deter um cara mau armado, é preciso um cara bom armado.”
A NRA mantém uma lista que classifica os legisladores americanos como mais e menos “gun friendly”. Se o senador ou deputado é A+, ele fez contribuições importantes para legislações de interesse do NRA e defende de forma vigorosa a Segunda Emenda. Se o legislador é F, ele é um verdadeiro inimigo dos direitos dos proprietários de armas e lidera esforços para aprovar legislação de controle de armas.
Nas eleições de 2008, a NRA gastou US$ 40 milhões em contribuições de campanha –e US$ 10 milhões tentando evitar a vitória do então candidato Barack Obama. “A NRA é ponderosa o suficiente para barrar qualquer projeto de lei (de controle de armas)”, diz o senador Chris Murphy, nota F na lista do grupo de lobby.
Existem 300 milhões de armas em circulação nos EUA –quase uma para cada um dos 323 milhões de habitantes. Graças ao senhor LaPierre, esse número vai continuar aumentando.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
O líder da NRA encabeça a luta contra o controle de armas no país
23.fev.2018 às 2h00
“Estamos aqui porque minha filha não tem voz —ela foi assassinada na semana passada, levou nove tiros. Quantas escolas, quantos filhos vão ter que morrer? Deveria ter sido um massacre em escola e nós termos resolvido essa questão. Eu estou furioso, porque nunca mais vou ver minha filha.”
Quem disse isso ao presidente Donald Trump foi Andrew Pollack, pai de Meadow, 18 anos, uma das 17 pessoas mortas na semana passada no massacre da escola em Parkland, na Flórida.
Mas para Wayne LaPierre, chefão da National Rifle Association (NRA, Associação Nacional do Fuzil), o poderoso lobby das armas nos Estados Unidos, Andrew é mais um “oportunista”, que tira proveito de massacres para tentar aprovar leis de controle de armas.
Com a palavra La Pierre, em discurso na CPAC (Conferência da Ação Política Conservadora) : “Como de costume, os oportunistas não perderam nem um segundo para usar a tragédia para ganho político...as elites não estão nem aí para as escolas americanas e os alunos. Para eles, não se trata de uma questão de segurança, mas sim uma questão política.”
Segundo ele, o direito constitucional de portar armas não é “concedido pelos homens, mas garantido por Deus para todos os americanos”.
Desde o massacre de Sandy Hook, em 2012, em que 20 crianças de 5 e 6 anos morreram nas mãos de um atirador alucinado, foram apresentados mais de 100 projetos de lei de controle de armas no Congresso americano. Nenhum passou.
Essa façanha foi obra de Wayne LaPierre, que é a cara e a voz da National Rifle Association há 30 anos. A NRA tem 5 milhões de membros e um poder gigantesco. Em vídeo em 2016, La Pierre afirmou que Trump era o “candidato mais favorável à Segunda Emenda (da Constituição americana, que garante porte de armas) da história”.
A NRA doou US$ 30 milhões para a campanha de Donald Trump em 2016. O investimento valeu a pena. Após o massacre de Parkland, Trump fez concessões apenas laterais –apoiou projeto de lei que aprimora a checagem de antecedentes de compradores de armas e pediu que seja proibido o “bump stock”, que basicamente transforma fuzis semiautomáticos em metralhadoras.
Mas elogiou Wayne, um “grande patriota”, e culpou doenças mentais, e não armas, pelos seguidos massacres em solo americano. Não existe o menor perigo de Trump, por exemplo, querer reintroduzir o veto a “armas de assalto”, como o fuzil semi-automático AR-15 usado pelo atirador de Parkland. O veto expirou em 2004.
Tampouco LaPierre deve temer que Trump queira adotar um banco de dados universal para compradores de armas, ou limites para tamanho dos pentes de munição. Aliás, o presidente americano propôs que os professores estejam armados –uma das ideias defendidas por La Pierre, afinal, isso vai ajudar a vender ainda mais armas. Após o massacre de Sandy Hook, o lobista disse:
“Para deter um cara mau armado, é preciso um cara bom armado.”
A NRA mantém uma lista que classifica os legisladores americanos como mais e menos “gun friendly”. Se o senador ou deputado é A+, ele fez contribuições importantes para legislações de interesse do NRA e defende de forma vigorosa a Segunda Emenda. Se o legislador é F, ele é um verdadeiro inimigo dos direitos dos proprietários de armas e lidera esforços para aprovar legislação de controle de armas.
Nas eleições de 2008, a NRA gastou US$ 40 milhões em contribuições de campanha –e US$ 10 milhões tentando evitar a vitória do então candidato Barack Obama. “A NRA é ponderosa o suficiente para barrar qualquer projeto de lei (de controle de armas)”, diz o senador Chris Murphy, nota F na lista do grupo de lobby.
Existem 300 milhões de armas em circulação nos EUA –quase uma para cada um dos 323 milhões de habitantes. Graças ao senhor LaPierre, esse número vai continuar aumentando.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Mineradora norueguesa tinha 'duto clandestino' para lançar rejeitos em nascentes amazônicas
Ricardo Senra - @ricksenra
Da BBC Brasil em Washington
23 fevereiro 2018
Além de um vazamento de restos tóxicos de mineração, que contaminou diversas comunidades de Barcarena, no Pará, a gigante norueguesa Hydro usou uma "tubulação clandestina de lançamento de efluentes não tratados" em um conjunto de nascentes do rio Muripi, aponta um laudo divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde.
Leia: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-43162472
Rússia testa caça de última geração na Síria
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nelsondesa/2018/02/russia-testa-caca-de-ultima-geracao-na-siria.shtml?utm_source=folha&utm_medium=site&utm_campaign=topicos?cmpid=topicos
Su-57 chega após aviões dos EUA matarem dezenas de russos
23.fev.2018 às 19h00
SÃO PAULO
No texto mais visto no “Guardian” ao longo da quinta, duas unidades do jato militar russo de última geração, Su-57, foram flagradas pela primeira vez na Síria e compartilhadas por mídia social (acima). Viraram notícia, creditou o jornal britânico, no “respeitado diário financeiro ‘RBC’”, da Rússia.
No início do mês, acrescentou o “Guardian”, “aviões dos EUA atacaram russos” na Síria e mataram dezenas.
Por outro lado, noticiou o mesmo “RBC”, o presidente Vladimir Putin acaba de enviar uma mensagem aos militares russos: “Caros camaradas! Os acontecimentos dos últimos anos mostram que alcançamos a vanguarda do mundo em termos de qualidade de armas e equipamentos militares”.
A indústria russa de defesa, afirmou ele, provou “sua competitividade global”.
CONCORRENTE
Segundo a “Economist”, “a China logo vai rivalizar com o poder aéreo do Ocidente”. Em algumas tecnologias, “já ultrapassou”.
VITRINE
No site do francês “Le Monde”, “Brasil, a vitrine internacional do Grupo Naval”. No título impresso, em português, “Um primeiro submarino fabricado no Brasil”.
Destaca o lançamento no canteiro naval montado pelo grupo francês em Itaguaí, no Rio, resultado de acordo firmado em 2008. O primeiro submarino é de propulsão clássica, mas na sequência virá “o primeiro submarino de energia nuclear ‘fabricado no Brasil’”.
Nelson de Sá
Na coluna Toda Mídia, jornalista aborda cobertura internacional.
Su-57 chega após aviões dos EUA matarem dezenas de russos
23.fev.2018 às 19h00
SÃO PAULO
No texto mais visto no “Guardian” ao longo da quinta, duas unidades do jato militar russo de última geração, Su-57, foram flagradas pela primeira vez na Síria e compartilhadas por mídia social (acima). Viraram notícia, creditou o jornal britânico, no “respeitado diário financeiro ‘RBC’”, da Rússia.
No início do mês, acrescentou o “Guardian”, “aviões dos EUA atacaram russos” na Síria e mataram dezenas.
Por outro lado, noticiou o mesmo “RBC”, o presidente Vladimir Putin acaba de enviar uma mensagem aos militares russos: “Caros camaradas! Os acontecimentos dos últimos anos mostram que alcançamos a vanguarda do mundo em termos de qualidade de armas e equipamentos militares”.
A indústria russa de defesa, afirmou ele, provou “sua competitividade global”.
CONCORRENTE
Segundo a “Economist”, “a China logo vai rivalizar com o poder aéreo do Ocidente”. Em algumas tecnologias, “já ultrapassou”.
VITRINE
No site do francês “Le Monde”, “Brasil, a vitrine internacional do Grupo Naval”. No título impresso, em português, “Um primeiro submarino fabricado no Brasil”.
Destaca o lançamento no canteiro naval montado pelo grupo francês em Itaguaí, no Rio, resultado de acordo firmado em 2008. O primeiro submarino é de propulsão clássica, mas na sequência virá “o primeiro submarino de energia nuclear ‘fabricado no Brasil’”.
Nelson de Sá
Na coluna Toda Mídia, jornalista aborda cobertura internacional.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Brasil fica em 96º lugar em ranking de 2017 dos países menos corruptos
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/brasil-fica-em-96-lugar-entre-180-paises-no-ranking-da-corrupcao-de-2017.ghtml
Brasil caiu 17 posições no estudo da Transparência Internacional com relação ao ano passado. Quanto melhor a colocação no ranking, menos corrupção é percebida no setor público do país.
Por G1, São Paulo
21/02/2018 14h03 Atualizado 21/02/2018 21h45
O Brasil caiu 17 posições e ficou em 96º lugar no ranking de países menos corruptos de 2017 elaborado pela Transparência Internacional. O estudo mundial avaliou a percepção da corrupção no setor público de 180 países.
Quanto melhor a posição no ranking, menos o país é considerado corrupto. A 96ª colocação é o pior resultado do Brasil nos últimos cinco anos, segundo a Transparência Internacional. Em 2016, o Brasil ficou em 79º.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/q/H/SgF7FLRWGfFBBM7N7bmA/ranking-da-corrupcao-2017-v2.png)
O Brasil ficou atrás de nações como Arábia Saudita, Burkina Faso, Sri Lanka, Ruanda e Timor-Leste, e está empatado com Colômbia, Indonésia, Panamá, Peru, Tailândia e Zâmbia.
Lideram o ranking de 2017 como os países considerados menos corruptos Nova Zelândia, Dinamarca, Finlândia e Noruega. No outro extremo, as piores colocações são de Afeganistão, Síria, Sudão do Sul e Somália.
Alerta
O Brasil vem caindo no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) desde 2014. Nesse período, passou de 69º para 96º no ranking.
Na análise da Transparência Internacional, a piora do Brasil acende o alerta de que o combate à corrupção no país pode estar em risco, e que a percepção dos brasileiros de que os fatores estruturais da corrupção nacional seguem inabalados, "tendo em vista que o Brasil não foi capaz de fazer avançar medidas para atacar de maneira sistêmica este problema".
Para o representante da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, é fato que as grandes operações de investigação e repressão dos últimos anos, como a Lava Jato e seus desdobramentos, trouxeram avanços importantes na redução da expectativa de impunidade e no estabelecimento de um novo padrão de eficiência para estas ações.
"Contudo, não houve em 2017 qualquer esboço de resposta sistêmica ao problema; ao contrário, a velha política que se aferra ao poder sabota qualquer intento neste sentido", afirma Brandão.
Para ele, se as forças que querem "estancar a sangria" se mostram bastante unidas, a população se divide na polarização cada vez mais extremada do debate público. "O que acaba anulando a pressão social e agravando ainda mais a situação", diz.
Nota
O IPC pontua e classifica os países com base no quão corrupto o setor público é percebido por especialistas e executivos de empresas. Ele analisa aspectos como propina, desvio de recursos públicos, burocracia excessiva, nepotismo e habilidade dos governos em conter a corrupção.
Os países recebem notas de 0 a 100 – sendo 0 igual a um alto grau de percepção da corrupção, e 100, um alto grau de percepção de integridade no setor público.
Na pesquisa de 2017, o IPC passou a listar 180 países e territórios, quatro a mais que na pesquisa do ano anterior. O estudo também apontou que mais de dois terços dos países avaliados tiveram nota menor que 50 – o que, no entendimento da Transparência Internacional, significa que o país tem falhado em lidar com a corrupção. A nota do Brasil em 2017 foi 37.
Brasil caiu 17 posições no estudo da Transparência Internacional com relação ao ano passado. Quanto melhor a colocação no ranking, menos corrupção é percebida no setor público do país.
Por G1, São Paulo
21/02/2018 14h03 Atualizado 21/02/2018 21h45
O Brasil caiu 17 posições e ficou em 96º lugar no ranking de países menos corruptos de 2017 elaborado pela Transparência Internacional. O estudo mundial avaliou a percepção da corrupção no setor público de 180 países.
Quanto melhor a posição no ranking, menos o país é considerado corrupto. A 96ª colocação é o pior resultado do Brasil nos últimos cinco anos, segundo a Transparência Internacional. Em 2016, o Brasil ficou em 79º.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/q/H/SgF7FLRWGfFBBM7N7bmA/ranking-da-corrupcao-2017-v2.png)
O Brasil ficou atrás de nações como Arábia Saudita, Burkina Faso, Sri Lanka, Ruanda e Timor-Leste, e está empatado com Colômbia, Indonésia, Panamá, Peru, Tailândia e Zâmbia.
Lideram o ranking de 2017 como os países considerados menos corruptos Nova Zelândia, Dinamarca, Finlândia e Noruega. No outro extremo, as piores colocações são de Afeganistão, Síria, Sudão do Sul e Somália.
Alerta
O Brasil vem caindo no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) desde 2014. Nesse período, passou de 69º para 96º no ranking.
Na análise da Transparência Internacional, a piora do Brasil acende o alerta de que o combate à corrupção no país pode estar em risco, e que a percepção dos brasileiros de que os fatores estruturais da corrupção nacional seguem inabalados, "tendo em vista que o Brasil não foi capaz de fazer avançar medidas para atacar de maneira sistêmica este problema".
Para o representante da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, é fato que as grandes operações de investigação e repressão dos últimos anos, como a Lava Jato e seus desdobramentos, trouxeram avanços importantes na redução da expectativa de impunidade e no estabelecimento de um novo padrão de eficiência para estas ações.
"Contudo, não houve em 2017 qualquer esboço de resposta sistêmica ao problema; ao contrário, a velha política que se aferra ao poder sabota qualquer intento neste sentido", afirma Brandão.
Para ele, se as forças que querem "estancar a sangria" se mostram bastante unidas, a população se divide na polarização cada vez mais extremada do debate público. "O que acaba anulando a pressão social e agravando ainda mais a situação", diz.
Nota
O IPC pontua e classifica os países com base no quão corrupto o setor público é percebido por especialistas e executivos de empresas. Ele analisa aspectos como propina, desvio de recursos públicos, burocracia excessiva, nepotismo e habilidade dos governos em conter a corrupção.
Os países recebem notas de 0 a 100 – sendo 0 igual a um alto grau de percepção da corrupção, e 100, um alto grau de percepção de integridade no setor público.
Na pesquisa de 2017, o IPC passou a listar 180 países e territórios, quatro a mais que na pesquisa do ano anterior. O estudo também apontou que mais de dois terços dos países avaliados tiveram nota menor que 50 – o que, no entendimento da Transparência Internacional, significa que o país tem falhado em lidar com a corrupção. A nota do Brasil em 2017 foi 37.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
O teor do caráter do Partido Republicano
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/2018/02/o-teor-do-carater-do-partido-republicano.shtml
Qual foi a última vez que você viu qualquer republicano importante admitir um erro?
20.fev.2018 às 12h53
Mesmo as pessoas que há muito aceitam a premissa de que Donald Trump é corrupto, egocêntrico e desonesto parecem um tanto chocadas pelas suas tiradas do último fim de semana. Usar o massacre em Parkland, Flórida, como desculpa para atacar o Serviço Federal de Investigações (FBI) por sua investigação da intervenção russa na eleição presidencial em favor de sua candidatura —e mentir sobre suas negativas passadas de que uma intervenção tenha acontecido— levam a vileza de Trump a um novo patamar, o que realmente impressiona, considerado seu retrospecto.
Mas se você parar para pensar, os mais recentes rompantes de Trump foram bem a caráter —e não estou falando apenas de seu caráter pessoal. Quando foi a última vez que você viu algum membro do governo Trump, ou, aliás, qualquer republicano importante, admitir um erro ou aceitar responsabilidade por problemas?
Não diga que as coisas sempre foram assim, porque é assim que as pessoas são. Pelo contrário: aceitar responsabilidade pelas próprias ações —ser um mensch [ter hombridade], como diziam meus pais— costumava ser visto como virtude essencial para os políticos e para os adultos em geral. E nisso como em muitas outras coisas, existe uma assimetria imensa entre os dois grandes partidos políticos norte-americanos. É claro que nem todos os democratas são honestos e retos; mas até onde vejo não resta praticamente pessoa alguma no Partido Republicano disposta a assumir a responsabilidade por... bem, qualquer coisa que seja.
E não creio que isso aconteça por acaso. O teor lamentável do moderno caráter republicano é um sintoma da corrupção e hipocrisia que aflige metade de nosso organismo político - uma doença da alma que se manifesta no comportamento pessoal tanto quanto na política.
Antes que eu discorra sobre a doença, considere alguns exemplos - além de Trump - da falta de caráter da atual administração.
Na ponta mais trivial, mas ainda reveladora, da escala, temos a história de Scott Pruitt, o diretor da Agência de Proteção Ambiental (EPA), que continua a voar em primeira classe à custa dos contribuintes. O dinheiro não é a questão importante, aqui, ainda que os gastos dele violem as diretrizes federais. O que é revelador, em lugar disso, é a suposta razão para que ele viaje em primeira classe: o fato de que passageiros da classe econômica fazem comentários críticos a seu respeito.
Lembre-se dessa história da próxima vez que alguém atacar os políticos progressistas por excesso de sensibilidade a críticas.
Mais sério é o comportamento de John Kelly, o chefe da casa civil de Trump, cujo histórico de difamação de críticos e recusa de admitir erros começa a se comparar ao de seu chefe. Você se lembra de quando Kelly fez falsas acusações contra a deputada federal Frederica Wilson e se recusou a retirar essas acusações mesmo depois que um vídeo demonstrou que elas eram falsas?
Mais recentemente, Kelly insistiu em que não estava plenamente informado sobre as acusações de abuso doméstico contra Rob Porter até - nas palavras de um funcionário da Casa Branca - "40 minutos antes de chutá-lo para fora" - uma afirmação que parece contradizer tudo que sabemos sobre o caso. Mesmo que a afirmação fosse verdade, um pedido de desculpa por sua desatenção pareceria necessário. Mas esses caras não pedem desculpas.
Oh, e aliás: Roy Moore ainda não admitiu formalmente sua derrota [na eleição ao Senado pelo Alabama em dezembro de 2017].
Ou seja, o problema não é só Trump. E não começou com Trump. Na verdade, já em 2006 eu escrevi sobre a falta de hombridade no governo Bush - sobre o fato de que os principais membros do governo se recusavam a assumir a responsabilidade pelos erros na ocupação do Iraque, pela resposta incompetente ao furacão Katrina, e mais.
E nem estamos falando apenas sobre os políticos. No meu campo, continuo atônito diante dos economistas de direita que se recusam a admitir que estavam errados ao prever que os esforços do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, para resgatar a economia causariam inflação galopante. Estar errado é uma coisa - acontece a todo mundo, e certamente já aconteceu comigo. Mas se recusar a admitir erros e aprender com eles é bem diferente.
E sejamos claros: a responsabilidade pessoal não está morta em toda parte. Hillary Clinton se desculpou por seus enganos iniciais na guerra do Iraque e por suas falhas na campanha de 2016 —e pelo menos admitiu ter cometido erros, coisa que ninguém do outro lado parece jamais fazer.
Assim, o que aconteceu ao caráter do Partido Republicano? Estou bem certo de que, nesse caso, o lado pessoal e o lado político se combinam. O Partido Republicano moderno, em dimensões jamais vistas na história dos Estados Unidos, é uma organização construída em torno da má-fé, de fingir que suas preocupações e metas são muito diferentes do que na verdade são. Eles se declaram patriotas e estão sempre acenando bandeiras, afirmam moralidade, fazem alertas severos sobre a probidade fiscal, mas tudo isso só serve para acobertar uma agenda subjacente cuja principal preocupação é tornar os plutocratas ainda mais ricos.
E as falhas de caráter do partido terminam sendo ecoadas pelas falhas de caráter de seus membros mais proeminentes. Eles são más pessoas que definiram sua afiliação política por conta de suas propensões pessoais ou são pessoas potencialmente boas corrompidas pelas companhias que escolheram? Provavelmente um pouco das duas coisas.
De qualquer forma, sejamos claros: os Estados Unidos em 2018 não são um lugar em que seja possível discordar sem discórdia, onde existem boas pessoas, dotadas de boas ideias, dos dois lados, ou onde qualquer outra homilia bipartidária que você deseje recitar se aplique. Em lugar disso, vivemos sob uma caquistocracia - uma nação governada pelos piores - e precisamos encarar essa desagradável realidade.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Paul Krugman
Prêmio Nobel de Economia (2008), é um dos mais renomados economistas da atualidade. É autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados. Escreve às terças e sábados.
Qual foi a última vez que você viu qualquer republicano importante admitir um erro?
20.fev.2018 às 12h53
Mesmo as pessoas que há muito aceitam a premissa de que Donald Trump é corrupto, egocêntrico e desonesto parecem um tanto chocadas pelas suas tiradas do último fim de semana. Usar o massacre em Parkland, Flórida, como desculpa para atacar o Serviço Federal de Investigações (FBI) por sua investigação da intervenção russa na eleição presidencial em favor de sua candidatura —e mentir sobre suas negativas passadas de que uma intervenção tenha acontecido— levam a vileza de Trump a um novo patamar, o que realmente impressiona, considerado seu retrospecto.
Mas se você parar para pensar, os mais recentes rompantes de Trump foram bem a caráter —e não estou falando apenas de seu caráter pessoal. Quando foi a última vez que você viu algum membro do governo Trump, ou, aliás, qualquer republicano importante, admitir um erro ou aceitar responsabilidade por problemas?
Não diga que as coisas sempre foram assim, porque é assim que as pessoas são. Pelo contrário: aceitar responsabilidade pelas próprias ações —ser um mensch [ter hombridade], como diziam meus pais— costumava ser visto como virtude essencial para os políticos e para os adultos em geral. E nisso como em muitas outras coisas, existe uma assimetria imensa entre os dois grandes partidos políticos norte-americanos. É claro que nem todos os democratas são honestos e retos; mas até onde vejo não resta praticamente pessoa alguma no Partido Republicano disposta a assumir a responsabilidade por... bem, qualquer coisa que seja.
E não creio que isso aconteça por acaso. O teor lamentável do moderno caráter republicano é um sintoma da corrupção e hipocrisia que aflige metade de nosso organismo político - uma doença da alma que se manifesta no comportamento pessoal tanto quanto na política.
Antes que eu discorra sobre a doença, considere alguns exemplos - além de Trump - da falta de caráter da atual administração.
Na ponta mais trivial, mas ainda reveladora, da escala, temos a história de Scott Pruitt, o diretor da Agência de Proteção Ambiental (EPA), que continua a voar em primeira classe à custa dos contribuintes. O dinheiro não é a questão importante, aqui, ainda que os gastos dele violem as diretrizes federais. O que é revelador, em lugar disso, é a suposta razão para que ele viaje em primeira classe: o fato de que passageiros da classe econômica fazem comentários críticos a seu respeito.
Lembre-se dessa história da próxima vez que alguém atacar os políticos progressistas por excesso de sensibilidade a críticas.
Mais sério é o comportamento de John Kelly, o chefe da casa civil de Trump, cujo histórico de difamação de críticos e recusa de admitir erros começa a se comparar ao de seu chefe. Você se lembra de quando Kelly fez falsas acusações contra a deputada federal Frederica Wilson e se recusou a retirar essas acusações mesmo depois que um vídeo demonstrou que elas eram falsas?
Mais recentemente, Kelly insistiu em que não estava plenamente informado sobre as acusações de abuso doméstico contra Rob Porter até - nas palavras de um funcionário da Casa Branca - "40 minutos antes de chutá-lo para fora" - uma afirmação que parece contradizer tudo que sabemos sobre o caso. Mesmo que a afirmação fosse verdade, um pedido de desculpa por sua desatenção pareceria necessário. Mas esses caras não pedem desculpas.
Oh, e aliás: Roy Moore ainda não admitiu formalmente sua derrota [na eleição ao Senado pelo Alabama em dezembro de 2017].
Ou seja, o problema não é só Trump. E não começou com Trump. Na verdade, já em 2006 eu escrevi sobre a falta de hombridade no governo Bush - sobre o fato de que os principais membros do governo se recusavam a assumir a responsabilidade pelos erros na ocupação do Iraque, pela resposta incompetente ao furacão Katrina, e mais.
E nem estamos falando apenas sobre os políticos. No meu campo, continuo atônito diante dos economistas de direita que se recusam a admitir que estavam errados ao prever que os esforços do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, para resgatar a economia causariam inflação galopante. Estar errado é uma coisa - acontece a todo mundo, e certamente já aconteceu comigo. Mas se recusar a admitir erros e aprender com eles é bem diferente.
E sejamos claros: a responsabilidade pessoal não está morta em toda parte. Hillary Clinton se desculpou por seus enganos iniciais na guerra do Iraque e por suas falhas na campanha de 2016 —e pelo menos admitiu ter cometido erros, coisa que ninguém do outro lado parece jamais fazer.
Assim, o que aconteceu ao caráter do Partido Republicano? Estou bem certo de que, nesse caso, o lado pessoal e o lado político se combinam. O Partido Republicano moderno, em dimensões jamais vistas na história dos Estados Unidos, é uma organização construída em torno da má-fé, de fingir que suas preocupações e metas são muito diferentes do que na verdade são. Eles se declaram patriotas e estão sempre acenando bandeiras, afirmam moralidade, fazem alertas severos sobre a probidade fiscal, mas tudo isso só serve para acobertar uma agenda subjacente cuja principal preocupação é tornar os plutocratas ainda mais ricos.
E as falhas de caráter do partido terminam sendo ecoadas pelas falhas de caráter de seus membros mais proeminentes. Eles são más pessoas que definiram sua afiliação política por conta de suas propensões pessoais ou são pessoas potencialmente boas corrompidas pelas companhias que escolheram? Provavelmente um pouco das duas coisas.
De qualquer forma, sejamos claros: os Estados Unidos em 2018 não são um lugar em que seja possível discordar sem discórdia, onde existem boas pessoas, dotadas de boas ideias, dos dois lados, ou onde qualquer outra homilia bipartidária que você deseje recitar se aplique. Em lugar disso, vivemos sob uma caquistocracia - uma nação governada pelos piores - e precisamos encarar essa desagradável realidade.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Paul Krugman
Prêmio Nobel de Economia (2008), é um dos mais renomados economistas da atualidade. É autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados. Escreve às terças e sábados.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
Maduro afirma que Peru não pode barrá-lo em cúpula
Folha: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/maduro-afirma-que-peru-nao-pode-barra-lo-em-cupula.shtml
Após chanceler do país-sede ameaçar impedir sua entrada no país, governo da Venezuela eleva o tom e diz que participará de evento
19.fev.2018 às 2h00
Das agências de notícias
SÃO PAULO
O governo venezuelano informou neste domingo (18) que Nicolás Maduro participará da Cúpula das Américas em 13 e 14 de abril.
A informação foi veiculada após Cayetana Aljovín, ministra de Relações Exteriores do Peru, sede do evento, pedir ao ditador que desistisse de ir à cúpula por insistir em fazer eleições presidenciais sem garantia para a oposição.
O chanceler venezuelano Jorge Arreaza enviou carta à peruana. "Não está atribuída, de forma alguma, à República do Peru, nem a nenhum outro Estado, a faculdade de decidir sobre a participação de nenhum Estado membro e fundador das reuniões da Cúpula das Américas. Confirmamos que Nicolás Maduro Moros assistirá pontualmente (...) à cidade de Lima."
Para ele, ao Peru só corresponde "estender a cortesia do convite aos dignatários". Mas a peruana retrucou e reiterou que o Peru pode barrar a entrada de Maduro. "Todo Estado tem faculdades e procedimentos administrativos para estabelecer medidas de diferente tipo quando uma pessoa não é bem-vinda", disse ao jornal "La República".
Para Caracas, o Peru atua com evidentes motivações políticas. E Maduro diz que, "chova, troveje ou relampeje, por ar, terra ou mar", chegará à cúpula com "a verdade da Venezuela".
ELEIÇÕES NA VENEZUELA
Sobre as eleições presidenciais venezuelanas, marcadas para 22 de abril, o pastor evangélico Javier Bertucci, da organização The Gospel Changes, lançou sua candidatura. "Quero trazer Jesus para esta nação."
A oposição diz que a eleição foi chamada sem tempo suficiente para prevenir fraude eleitoral ou intimidação.
A Colômbia já disse que não reconhecerá o resultado do pleito.
Após chanceler do país-sede ameaçar impedir sua entrada no país, governo da Venezuela eleva o tom e diz que participará de evento
19.fev.2018 às 2h00
Das agências de notícias
SÃO PAULO
O governo venezuelano informou neste domingo (18) que Nicolás Maduro participará da Cúpula das Américas em 13 e 14 de abril.
A informação foi veiculada após Cayetana Aljovín, ministra de Relações Exteriores do Peru, sede do evento, pedir ao ditador que desistisse de ir à cúpula por insistir em fazer eleições presidenciais sem garantia para a oposição.
O chanceler venezuelano Jorge Arreaza enviou carta à peruana. "Não está atribuída, de forma alguma, à República do Peru, nem a nenhum outro Estado, a faculdade de decidir sobre a participação de nenhum Estado membro e fundador das reuniões da Cúpula das Américas. Confirmamos que Nicolás Maduro Moros assistirá pontualmente (...) à cidade de Lima."
Para ele, ao Peru só corresponde "estender a cortesia do convite aos dignatários". Mas a peruana retrucou e reiterou que o Peru pode barrar a entrada de Maduro. "Todo Estado tem faculdades e procedimentos administrativos para estabelecer medidas de diferente tipo quando uma pessoa não é bem-vinda", disse ao jornal "La República".
Para Caracas, o Peru atua com evidentes motivações políticas. E Maduro diz que, "chova, troveje ou relampeje, por ar, terra ou mar", chegará à cúpula com "a verdade da Venezuela".
ELEIÇÕES NA VENEZUELA
Sobre as eleições presidenciais venezuelanas, marcadas para 22 de abril, o pastor evangélico Javier Bertucci, da organização The Gospel Changes, lançou sua candidatura. "Quero trazer Jesus para esta nação."
A oposição diz que a eleição foi chamada sem tempo suficiente para prevenir fraude eleitoral ou intimidação.
A Colômbia já disse que não reconhecerá o resultado do pleito.
Nenhuma favela é tão criminosa quanto o Congresso
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2018/02/nenhuma-favela-e-tao-criminosa-quanto-o-congresso.shtml
19.fev.2018 às 2h00
Viva a intervenção militar! Chegamos a tal ponto que só o Exército vai pôr fim à roubalheira. Só não entendi por que ela começou no morro do Rio de Janeiro.
Em Brasília, um terço dos congressistas está às voltas com a Justiça. De todas as favelas do Rio, nenhuma tem uma porcentagem tão grande de criminosos quanto o Congresso. Não somente em quantidade, mas em qualidade: duvido que a quantia total de furtos no Rio seja maior que a verba encontrada no apartamento de Geddel.
"Sim, mas o problema do Rio é o tráfico de drogas." Se o problema fosse exclusivamente esse, também deveriam começar por Brasília. Nenhuma favela do Rio jamais esconderá tanta cocaína quanto o helicóptero daquele senador do PSDB.
Há quem diga que a intervenção no Rio se dá por causa de um clamor popular. Pesquisa feita em 24h pelo governo federal afirma que 83% da população carioca é favorável à intervenção, noticiou o "Globo". Ora, se Temer se importasse, de fato, com o clamor popular, se retiraria imediatamente do cargo. Espanta que o presidente menos popular da história ainda esteja interessado em saber o que o povo pensa. Se a população for consultada, fica muito claro que a metástase a que ele se refere tem nome e sobrenome: o seu.
Depois, resta saber se algum favelado foi ouvido nessa pesquisa. Acho que não se encaixam na categoria "cidadãos" nem "cariocas". Vale lembrar que até o IBGE, um instituto muito mais sério que o governo Temer, ainda sustenta que a Rocinha tem 69 mil habitantes, enquanto a Light registra 120 mil e a Associação de Moradores estima em 200 mil. Se nem o censo subiu a favela, pode ter certeza de que Temer fez essa pesquisa que nem as plásticas da sua cara: a toque de caixa, pagando pra algum amigo.
A estratégia é batida. Assim como nas guerras americanas "ao terror", o governo inventa um adversário para unir a população. No caso dos americanos, escolhe-se um inimigo externo, de preferência bem longe, pro sangue não respingar. O Brasil não faz cerimônia: escolhe os iraquianos aqui mesmo, pela renda e cor de pele. Temos a sorte de ter uma parcela sub-humana da nossa própria população, de quem a morte não comove muito. Em tempos de crise, isso ainda gera economia em passagens aéreas.
Enquanto isso, o inimigo em comum continua sentado na cadeira presidencial. Já que Temer tá interessado em ganhar popularidade, fica a dica: seu desaparecimento é mais popular do que qualquer intervenção.
Gregorio Duvivier
É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.
19.fev.2018 às 2h00
Viva a intervenção militar! Chegamos a tal ponto que só o Exército vai pôr fim à roubalheira. Só não entendi por que ela começou no morro do Rio de Janeiro.
Em Brasília, um terço dos congressistas está às voltas com a Justiça. De todas as favelas do Rio, nenhuma tem uma porcentagem tão grande de criminosos quanto o Congresso. Não somente em quantidade, mas em qualidade: duvido que a quantia total de furtos no Rio seja maior que a verba encontrada no apartamento de Geddel.
"Sim, mas o problema do Rio é o tráfico de drogas." Se o problema fosse exclusivamente esse, também deveriam começar por Brasília. Nenhuma favela do Rio jamais esconderá tanta cocaína quanto o helicóptero daquele senador do PSDB.
Há quem diga que a intervenção no Rio se dá por causa de um clamor popular. Pesquisa feita em 24h pelo governo federal afirma que 83% da população carioca é favorável à intervenção, noticiou o "Globo". Ora, se Temer se importasse, de fato, com o clamor popular, se retiraria imediatamente do cargo. Espanta que o presidente menos popular da história ainda esteja interessado em saber o que o povo pensa. Se a população for consultada, fica muito claro que a metástase a que ele se refere tem nome e sobrenome: o seu.
Depois, resta saber se algum favelado foi ouvido nessa pesquisa. Acho que não se encaixam na categoria "cidadãos" nem "cariocas". Vale lembrar que até o IBGE, um instituto muito mais sério que o governo Temer, ainda sustenta que a Rocinha tem 69 mil habitantes, enquanto a Light registra 120 mil e a Associação de Moradores estima em 200 mil. Se nem o censo subiu a favela, pode ter certeza de que Temer fez essa pesquisa que nem as plásticas da sua cara: a toque de caixa, pagando pra algum amigo.
A estratégia é batida. Assim como nas guerras americanas "ao terror", o governo inventa um adversário para unir a população. No caso dos americanos, escolhe-se um inimigo externo, de preferência bem longe, pro sangue não respingar. O Brasil não faz cerimônia: escolhe os iraquianos aqui mesmo, pela renda e cor de pele. Temos a sorte de ter uma parcela sub-humana da nossa própria população, de quem a morte não comove muito. Em tempos de crise, isso ainda gera economia em passagens aéreas.
Enquanto isso, o inimigo em comum continua sentado na cadeira presidencial. Já que Temer tá interessado em ganhar popularidade, fica a dica: seu desaparecimento é mais popular do que qualquer intervenção.
Gregorio Duvivier
É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.
domingo, 18 de fevereiro de 2018
Misha Glenny: “Os grandes traficantes brasileiros não moram nas favelas”
Escritor autor de livro sobre o Nem da Rocinha critica política de guerra às drogas
Leia aqui: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/24/politica/1466791253_323836.html?id_externo_rsoc=TW_CC
Leia aqui: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/24/politica/1466791253_323836.html?id_externo_rsoc=TW_CC
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Premiê de Israel diz que pode agir contra "império" iraniano
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/premie-de-israel-diz-que-pode-agir-contra-imperio-iraniano.shtml
18.fev.2018 às 11h49
O premiê de Israel Benjamin Netanyahu chamou o Irã de "a maior ameaça ao mundo" neste domingo (18) e disse que o país não deveria "testar a determinação de Israel", em uma escalada de acusações.
"Se necessário, nós vamos agir não somente contra aliados, mas contra o próprio Irã", disse, em seu discurso na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha. Ele acrescentou que o país está tentando estabelecer um império contínuo no Oriente Médio, criando uma ponte do Irã ao Iraque, Síria, Líbano e Faixa de Gaza.
Segurando o que afirma ser um pedaço de um drone iraniano que teria invadido o espaço aéreo israelense neste mês, disse que "Israel não iria permitir que o regime colocasse o laço do terror ao redor do seu pescoço". O premiê pediu ajuda aos Estados Unidos e aos países europeus para conter a presença iraniana no Oriente Médio.
Netanyahu também criticou o acordo nuclear com o Irã, que foi recentemente estendido por mais 120 dias pelo presidente americano Donald Trump. O compromisso, firmado em 2015, levantou sanções impostas devido ao programa nuclear do país.
Tensões entre os dois países cresceram em fevereiro deste ano quando um caça israelense foi derrubado depois de atacar bases militares iranianas dentro da Síria.
Forças iranianas são aliadas do ditador Bashar al-Assad na guerra civil síria. A ação israelense foi uma resposta à interceptação do drone dentro de seu território.
PRESSÃO INTERNA
Em janeiro deste ano, o Irã passou pela pior onda de protesto dos últimos nove anos --quando, em 2009, parte da população contestou o processo eleitoral que reelegeu o conservador Mahmoud Ahmadinejad.
Manifestações contra os rumos da economia, enfraquecida pelo desemprego e inflação, se alastraram pelo país e ganharam conotação política. Protestos foram endereçados, inclusive, ao aiatolá Ali Khamenei e ao presidente Hassan Rouhani. Mais de 20 pessoas foram mortas, 500 pessoas foram presas e redes sociais foram bloqueadas.
ASSOCIATED PRESS e REUTERS
18.fev.2018 às 11h49
O premiê de Israel Benjamin Netanyahu chamou o Irã de "a maior ameaça ao mundo" neste domingo (18) e disse que o país não deveria "testar a determinação de Israel", em uma escalada de acusações.
"Se necessário, nós vamos agir não somente contra aliados, mas contra o próprio Irã", disse, em seu discurso na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha. Ele acrescentou que o país está tentando estabelecer um império contínuo no Oriente Médio, criando uma ponte do Irã ao Iraque, Síria, Líbano e Faixa de Gaza.
Segurando o que afirma ser um pedaço de um drone iraniano que teria invadido o espaço aéreo israelense neste mês, disse que "Israel não iria permitir que o regime colocasse o laço do terror ao redor do seu pescoço". O premiê pediu ajuda aos Estados Unidos e aos países europeus para conter a presença iraniana no Oriente Médio.
Netanyahu também criticou o acordo nuclear com o Irã, que foi recentemente estendido por mais 120 dias pelo presidente americano Donald Trump. O compromisso, firmado em 2015, levantou sanções impostas devido ao programa nuclear do país.
Tensões entre os dois países cresceram em fevereiro deste ano quando um caça israelense foi derrubado depois de atacar bases militares iranianas dentro da Síria.
Forças iranianas são aliadas do ditador Bashar al-Assad na guerra civil síria. A ação israelense foi uma resposta à interceptação do drone dentro de seu território.
PRESSÃO INTERNA
Em janeiro deste ano, o Irã passou pela pior onda de protesto dos últimos nove anos --quando, em 2009, parte da população contestou o processo eleitoral que reelegeu o conservador Mahmoud Ahmadinejad.
Manifestações contra os rumos da economia, enfraquecida pelo desemprego e inflação, se alastraram pelo país e ganharam conotação política. Protestos foram endereçados, inclusive, ao aiatolá Ali Khamenei e ao presidente Hassan Rouhani. Mais de 20 pessoas foram mortas, 500 pessoas foram presas e redes sociais foram bloqueadas.
ASSOCIATED PRESS e REUTERS
A Amazônia está secando, mas o Brasil só quer farra
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/02/a-amazonia-esta-secando-mas-o-brasil-so-quer-farra.shtml
Quem achar alguém preocupado com isso no Planalto ou na Faria Lima que atire a primeira fagulha
18.fev.2018 às 2h01
Um artigo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros publicado na revista Nature Communications recebeu destaque na imprensa, mas não a atenção devida fora dela.
Na esperança vã de provocá-la, vai aqui um resumo da ópera ou do funk, da marchinha, do axé, o que for preciso para cair no gosto popular: A Amazônia está secando, viu?/Queima mais que o filme do Brasil,/Mata vira fumaça sem truque/Pior que o de FHC com Huck.
Melhor parar por aí. O esboço de soneto saiu pior que emendas constitucionais aprovadas no Congresso. Alguém mais inspirado ou feliz que se arrisque a fazer Carnaval com isso.
Aqui é ciência. Então fiquemos com o que têm a dizer Luiz Aragão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de Exeter (Reino Unido), e o time de 20 especialistas com que colaborou para publicar o estudo.
Incêndios relacionados com secas do século 21 contrabalançam o declínio de emissões de carbono do desmatamento na Amazônia é uma tradução razoável do título do artigo, mas sem chance de fazer sucesso na Sapucaí ou no Anhembi.
Ele focaliza algo que deveria piscar no radar do governo federal: o cumprimento das metas de redução de gases do efeito estufa (carbono) que o país assumiu no quadro do Acordo de Paris, em 2015. Reduzir o desmatamento é crucial para isso, pois destruir floresta ainda é a principal fonte nacional de poluição climática.
As políticas para conter a devastação e as formas de medi-la estão centradas no chamado corte raso, quando as árvores são derrubadas e depois queimadas para dar lugar a pasto ou agricultura. Aragão e equipe dizem que pode ser mais complicado que isso.
Eles apontam uma cadeia complexa de fatores interligados:
- O aquecimento global induz estiagens mais fortes e frequentes na Amazônia, como a de 2015, que matam árvores e as fazem perder mais folhas;
- Clareiras abertas deixam entrar mais luz, o que resseca material vegetal sobre o solo;
- Com farto combustível presente, incêndios florestais se tornam mais comuns, que por sua vez matam mais árvores e tornam a mata ainda mais inflamável;
- A fuligem e outras partículas que a queima lança na atmosfera amazônica contribuem para diminuir a ocorrência de chuvas e assim segue o ciclo de ressecamento.
Cruzando uma montanha de dados, o grupo mostrou que tais incêndios aumentaram em anos de seca, como 2005, 2010 e 2015. Eles ocorreram também em regiões de floresta virgem sem atividade agropecuária intensa, portanto não se confundem com tradicionais queimadas para limpar o campo.
A incidência de focos de fogo aumentou 36% na seca de 2015, em comparação com a média dos 12 anos anteriores. A biomassa que virou fumaça, neste caso, equivaleu a mais que a metade do carbono emitido no período pelo desmatamento tradicional (aquele medido com satélites, anual e oficialmente, pelo sistema Prodes do Inpe).
Em outras palavras, o método atual para monitorar o desmate e calcular emissões da principal fonte de carbono brasileira está a subestimá-las. Algo terá de mudar.
Quem achar alguém preocupado com isso, no Planalto ou na Faria Lima, que atire a primeira fagulha --ou um novo candidato na fogueira.
Marcelo Leite
É repórter especial da Folha, autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ciência - Use com Cuidado' (Unicamp). Escreve aos domingos e às segundas.
Quem achar alguém preocupado com isso no Planalto ou na Faria Lima que atire a primeira fagulha
18.fev.2018 às 2h01
Um artigo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros publicado na revista Nature Communications recebeu destaque na imprensa, mas não a atenção devida fora dela.
Na esperança vã de provocá-la, vai aqui um resumo da ópera ou do funk, da marchinha, do axé, o que for preciso para cair no gosto popular: A Amazônia está secando, viu?/Queima mais que o filme do Brasil,/Mata vira fumaça sem truque/Pior que o de FHC com Huck.
Melhor parar por aí. O esboço de soneto saiu pior que emendas constitucionais aprovadas no Congresso. Alguém mais inspirado ou feliz que se arrisque a fazer Carnaval com isso.
Aqui é ciência. Então fiquemos com o que têm a dizer Luiz Aragão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de Exeter (Reino Unido), e o time de 20 especialistas com que colaborou para publicar o estudo.
Incêndios relacionados com secas do século 21 contrabalançam o declínio de emissões de carbono do desmatamento na Amazônia é uma tradução razoável do título do artigo, mas sem chance de fazer sucesso na Sapucaí ou no Anhembi.
Ele focaliza algo que deveria piscar no radar do governo federal: o cumprimento das metas de redução de gases do efeito estufa (carbono) que o país assumiu no quadro do Acordo de Paris, em 2015. Reduzir o desmatamento é crucial para isso, pois destruir floresta ainda é a principal fonte nacional de poluição climática.
As políticas para conter a devastação e as formas de medi-la estão centradas no chamado corte raso, quando as árvores são derrubadas e depois queimadas para dar lugar a pasto ou agricultura. Aragão e equipe dizem que pode ser mais complicado que isso.
Eles apontam uma cadeia complexa de fatores interligados:
- O aquecimento global induz estiagens mais fortes e frequentes na Amazônia, como a de 2015, que matam árvores e as fazem perder mais folhas;
- Clareiras abertas deixam entrar mais luz, o que resseca material vegetal sobre o solo;
- Com farto combustível presente, incêndios florestais se tornam mais comuns, que por sua vez matam mais árvores e tornam a mata ainda mais inflamável;
- A fuligem e outras partículas que a queima lança na atmosfera amazônica contribuem para diminuir a ocorrência de chuvas e assim segue o ciclo de ressecamento.
Cruzando uma montanha de dados, o grupo mostrou que tais incêndios aumentaram em anos de seca, como 2005, 2010 e 2015. Eles ocorreram também em regiões de floresta virgem sem atividade agropecuária intensa, portanto não se confundem com tradicionais queimadas para limpar o campo.
A incidência de focos de fogo aumentou 36% na seca de 2015, em comparação com a média dos 12 anos anteriores. A biomassa que virou fumaça, neste caso, equivaleu a mais que a metade do carbono emitido no período pelo desmatamento tradicional (aquele medido com satélites, anual e oficialmente, pelo sistema Prodes do Inpe).
Em outras palavras, o método atual para monitorar o desmate e calcular emissões da principal fonte de carbono brasileira está a subestimá-las. Algo terá de mudar.
Quem achar alguém preocupado com isso, no Planalto ou na Faria Lima, que atire a primeira fagulha --ou um novo candidato na fogueira.
Marcelo Leite
É repórter especial da Folha, autor dos livros 'Folha Explica Darwin' (Publifolha) e 'Ciência - Use com Cuidado' (Unicamp). Escreve aos domingos e às segundas.
Como a China se tornou uma potência militar global
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/como-a-china-se-tornou-uma-potencia-militar-global.shtml
Modernização das Forças Armadas é mais rápida do que se esperava
18.fev.2018 às 15h55
Jonathan Marcus - Correspondente de Assuntos Diplomáticos da BBC
Cada vez mais, dizem observadores do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), são os chineses (e não mais a Rússia) que estabelecem o padrão usado por Washington para avaliar a capacidade de sua própria máquina de guerra.
E esta constatação é especialmente verdadeira para a Marinha e a Aeronáutica, que são o foco do esforço de modernização da China. O IISS é sediado em Londres, no Reino Unido.
O aumento do poder chinês foi discutido na última edição do Balanço Militar, um relatório publicado anualmente pelo IISS desde o ano de 1959. O estudo é uma avaliação ampla da capacidade e dos gastos bélicos de cada país.
As mudanças nas forças armadas chinesas já estão em andamento há alguns anos. Mas agora o país asiático atingiu - ou está muito próximo de atingir - o ponto no qual se torna um rival sério para os Estados Unidos. Os americanos continuam sendo a maior potência bélica do mundo.
O aumento do poder chinês foi discutido na última edição do Balanço Militar, um relatório publicado anualmente pelo IISS desde o ano de 1959. O estudo é uma avaliação ampla da capacidade e dos gastos bélicos de cada país.
As mudanças nas forças armadas chinesas já estão em andamento há alguns anos. Mas agora o país asiático atingiu - ou está muito próximo de atingir - o ponto no qual se torna um rival sério para os Estados Unidos. Os americanos continuam sendo a maior potência bélica do mundo.
Antes da publicação do Balanço Militar (na última terça-feira), eu me reuni com pesquisadores do IISS para entender melhor os detalhes desta tendência.
O progresso técnico acumulado pela China é impressionante em várias áreas - desde mísseis balísticos de longo alcance até caças militares de quinta geração. No ano passado, por exemplo, a China colocou na água seu último navio de combate —o cruzador Type 55. O poder de fogo da embarcação não fica aquém de nenhum equipamento da Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos.
Neste momento, a China está trabalhando em um segundo navio porta-aviões (o primeiro, construído totalmente pelo país, foi lançado em abril de 2017). Também está reformando a estrutura hierárquica do comando de suas forças. E, em termos de artilharia e defesa anti-aérea, já possui alguns armamentos mais avançados que os controlados pelos Estados Unidos.
Desde o fim dos anos 1990, a Marinha chinesa passou a receber transferências de tecnologia russa, e renovou a maior parte de sua frota de navios e submarinos.
Os chineses também dizem que seu novo jato de combate para um tripulante, o J-20, já está em operação.
No jargão militar, o J-20 é o que se chama "jato de quinta geração". Significa que a aeronave traz a tecnologia "stealth" (parcialmente invisível a radares) e quebra a barreira do som quando está em velocidade de supercruzeiro (supersônica), entre outras coisas.
Os especialistas da IISS, porém, são céticos quanto às capacidades da Aeronáutica chinesa.
"A Força Aérea chinesa ainda precisa desenvolver táticas viáveis para operar com estes aviões de quinta-geração", dizem eles, "e criar doutrinas militares capazes de mesclar os novos jatos de combate com os modelos de 'quarta geração' já existentes".
"Apesar disso, o progresso chinês é muito claro", dizem os especialistas do IISS. "Além dos aviões em si, eles agora têm toda uma linha de mísseis disparados por aviões que não devem nada aos que existem nos arsenais do Ocidente", dizem.
Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e seus aliados usaram ataques aéreos em várias ocasiões, com um número muito pequeno de baixas. Mas esse domínio, segundo o IISS, será desafiado cada vez mais nos próximos anos.
A China está desenvolvendo uma linha de mísseis de longo alcance disparados por jatos contra outros aviões (no jargão, esses projetos são chamados de "míssil ar-ar"). O alvo dessas armas são aeronaves de comando e de abastecimento que hoje estão fora de alcance. Estas últimas são peças-chave - ainda que muito vulneráveis - de qualquer ataque aéreo.
De acordo com os autores do Balanço Militar, é possível que estes novos mísseis chineses ar-ar "forcem os Estados Unidos e seus aliados regionais a rever não só suas táticas, técnicas e procedimentos, mas o próprio direcionamento de seus programas de combate aeroespacial" nos próximos anos.
Já em terra, o Exército chinês está ficando para trás no esforço de modernização, segundo o relatório do IISS. Apenas metade dos equipamentos estaria atualizada e teria utilidade para o combate, diz o estudo.
Mas, mesmo nesta área, há progresso sendo feito.
A China tem um objetivo estratégico claro por trás do desenvolvimento dos novos armamentos. A ideia é que, na eventualidade de um conflito armado, o poder militar dos Estados Unidos seja empurrado o mais longe possível das fronteiras chinesas. De preferência, para o meio do Oceano Pacífico.
No jargão militar, a estratégia é conhecida como "defesa de território por negativa de acesso", ou A2AD, na sigla em inglês. A estratégia está por trás da escolha chinesa de armas aéreas e marítimas de longo alcance, capazes de colocar em risco destacamentos inteiros da Marinha dos Estados Unidos.
Então, em uma analogia com o futebol, como adversária militar, pode-se dizer que a China chegou com êxito à Premier League (divisão de elite do Campeonato Inglês). Mas esse, porém, não é o fim do impacto militar global de Pequim. O país também está perseguindo uma estratégia ambiciosa de exportação de armamentos. Com frequência, a China tem tentado vender tecnologias avançadas para outros países.
GUERRA COMERCIAL
O mercado de drones militares é um bom exemplo. Esta é uma tecnologia que está se expandindo rapidamente e que põe em questão a fronteira entre os tempos de paz e de guerra.
Os Estados Unidos, que foram pioneiros na área, recusaram-se a vender certos drones armados mais sofisticados para outros países, com exceção de aliados tradicionais, como o Reino Unido. A França, que já opera com drones Reaper, de origem americana, anunciou planos para armar os equipamentos.
Já os chineses nunca tiveram limitações parecidas: exibiram em feiras militares do mundo todo seus veículos aéreos não-tripulados, junto com os armamentos que eles podem carregar. Segundo o relatório do IISS, a China já vendeu estes drones (chamados de UAVs, na sigla em inglês) para vários países, incluindo Egito, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Miamar, entre outros.
Este é um ótimo exemplo de como uma política para a área militar trouxe resultados imprevistos: a relutância de Washington em vender tecnologia deixou o caminho aberto para Pequim.
É inegável também que a decisão política dos Estados Unidos acabou estimulando países que, até então, só usavam drones para fins de inteligência, a irem atrás da variante de combate.
Exportadores de armas dos Estados Unidos e do resto do Ocidente veem a China como uma ameaça comercial crescente. Na comparação com o cenário de dez anos atrás, houve um aumento importante da presença chinesa no mercado, oferecendo equipamentos de boa qualidade.
O país do extremo Oriente, como mostra o exemplo dos drones, está tentando entrar em mercados que os fabricantes ocidentais e seus governos consideram "sensíveis demais".
E, como me disseram os especialistas do IISS, a China tende a levar vantagem nesta disputa. Geralmente, o armamento chinês oferece algo como 75% da capacidade do concorrente ocidental, mas por 50% do preço. Uma bela oferta.
Já as exportações de armamentos de solo chinesas são menos impressionantes. Continuam restritas aos mercados de países como a Rússia e a Ucrânia.
Mas em 2014, quando o governo ucraniano perdeu o prazo de entrega de uma remessa de tanques comprados pela Tailândia, os tailandeses recorreram a um armamento chinês - o tanque VT4. E parecem ter gostado: no ano passado, a Tailândia encomendou uma nova remessa.
Os especialistas do IISS também dizem que a China está trabalhando em armas voltadas para mercados específicos - mencionam, por exemplo, um tanque de guerra leve pensado para países africanos, cujas estradas e infraestrutura não aguentam os modelos mais pesados desenvolvidos em outros países.
ARMAS DA CHINA EM MÃOS DE TERCEIROS
O papel crescente da China como fonte de armamento sofisticado é algo que aterroriza vários países e não só os vizinhos do gigante asiático.
As forças aéreas ocidentais tiveram cerca de três décadas de superioridade. Mas a estratégia de "negativa de acesso" dos chineses acabou dando origem a armas que podem ser usadas para a mesma finalidade por outros países também.
Um país da Europa Ocidental pode nunca enfrentar um conflito com a China, mas pode um dia ter de lidar com armas chineses nas mãos de outros países. Como diz um pesquisador do IISS, "a percepção de que os riscos serão baixos ao intervir num território estrangeiro agora precisa ser revista", diz.
BBC BRASIL
Modernização das Forças Armadas é mais rápida do que se esperava
18.fev.2018 às 15h55
Jonathan Marcus - Correspondente de Assuntos Diplomáticos da BBC
Cada vez mais, dizem observadores do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), são os chineses (e não mais a Rússia) que estabelecem o padrão usado por Washington para avaliar a capacidade de sua própria máquina de guerra.
E esta constatação é especialmente verdadeira para a Marinha e a Aeronáutica, que são o foco do esforço de modernização da China. O IISS é sediado em Londres, no Reino Unido.
O aumento do poder chinês foi discutido na última edição do Balanço Militar, um relatório publicado anualmente pelo IISS desde o ano de 1959. O estudo é uma avaliação ampla da capacidade e dos gastos bélicos de cada país.
As mudanças nas forças armadas chinesas já estão em andamento há alguns anos. Mas agora o país asiático atingiu - ou está muito próximo de atingir - o ponto no qual se torna um rival sério para os Estados Unidos. Os americanos continuam sendo a maior potência bélica do mundo.
O aumento do poder chinês foi discutido na última edição do Balanço Militar, um relatório publicado anualmente pelo IISS desde o ano de 1959. O estudo é uma avaliação ampla da capacidade e dos gastos bélicos de cada país.
As mudanças nas forças armadas chinesas já estão em andamento há alguns anos. Mas agora o país asiático atingiu - ou está muito próximo de atingir - o ponto no qual se torna um rival sério para os Estados Unidos. Os americanos continuam sendo a maior potência bélica do mundo.
Antes da publicação do Balanço Militar (na última terça-feira), eu me reuni com pesquisadores do IISS para entender melhor os detalhes desta tendência.
O progresso técnico acumulado pela China é impressionante em várias áreas - desde mísseis balísticos de longo alcance até caças militares de quinta geração. No ano passado, por exemplo, a China colocou na água seu último navio de combate —o cruzador Type 55. O poder de fogo da embarcação não fica aquém de nenhum equipamento da Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos.
Neste momento, a China está trabalhando em um segundo navio porta-aviões (o primeiro, construído totalmente pelo país, foi lançado em abril de 2017). Também está reformando a estrutura hierárquica do comando de suas forças. E, em termos de artilharia e defesa anti-aérea, já possui alguns armamentos mais avançados que os controlados pelos Estados Unidos.
Desde o fim dos anos 1990, a Marinha chinesa passou a receber transferências de tecnologia russa, e renovou a maior parte de sua frota de navios e submarinos.
Os chineses também dizem que seu novo jato de combate para um tripulante, o J-20, já está em operação.
No jargão militar, o J-20 é o que se chama "jato de quinta geração". Significa que a aeronave traz a tecnologia "stealth" (parcialmente invisível a radares) e quebra a barreira do som quando está em velocidade de supercruzeiro (supersônica), entre outras coisas.
Os especialistas da IISS, porém, são céticos quanto às capacidades da Aeronáutica chinesa.
"A Força Aérea chinesa ainda precisa desenvolver táticas viáveis para operar com estes aviões de quinta-geração", dizem eles, "e criar doutrinas militares capazes de mesclar os novos jatos de combate com os modelos de 'quarta geração' já existentes".
"Apesar disso, o progresso chinês é muito claro", dizem os especialistas do IISS. "Além dos aviões em si, eles agora têm toda uma linha de mísseis disparados por aviões que não devem nada aos que existem nos arsenais do Ocidente", dizem.
Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e seus aliados usaram ataques aéreos em várias ocasiões, com um número muito pequeno de baixas. Mas esse domínio, segundo o IISS, será desafiado cada vez mais nos próximos anos.
A China está desenvolvendo uma linha de mísseis de longo alcance disparados por jatos contra outros aviões (no jargão, esses projetos são chamados de "míssil ar-ar"). O alvo dessas armas são aeronaves de comando e de abastecimento que hoje estão fora de alcance. Estas últimas são peças-chave - ainda que muito vulneráveis - de qualquer ataque aéreo.
De acordo com os autores do Balanço Militar, é possível que estes novos mísseis chineses ar-ar "forcem os Estados Unidos e seus aliados regionais a rever não só suas táticas, técnicas e procedimentos, mas o próprio direcionamento de seus programas de combate aeroespacial" nos próximos anos.
Já em terra, o Exército chinês está ficando para trás no esforço de modernização, segundo o relatório do IISS. Apenas metade dos equipamentos estaria atualizada e teria utilidade para o combate, diz o estudo.
Mas, mesmo nesta área, há progresso sendo feito.
A China tem um objetivo estratégico claro por trás do desenvolvimento dos novos armamentos. A ideia é que, na eventualidade de um conflito armado, o poder militar dos Estados Unidos seja empurrado o mais longe possível das fronteiras chinesas. De preferência, para o meio do Oceano Pacífico.
No jargão militar, a estratégia é conhecida como "defesa de território por negativa de acesso", ou A2AD, na sigla em inglês. A estratégia está por trás da escolha chinesa de armas aéreas e marítimas de longo alcance, capazes de colocar em risco destacamentos inteiros da Marinha dos Estados Unidos.
Então, em uma analogia com o futebol, como adversária militar, pode-se dizer que a China chegou com êxito à Premier League (divisão de elite do Campeonato Inglês). Mas esse, porém, não é o fim do impacto militar global de Pequim. O país também está perseguindo uma estratégia ambiciosa de exportação de armamentos. Com frequência, a China tem tentado vender tecnologias avançadas para outros países.
GUERRA COMERCIAL
O mercado de drones militares é um bom exemplo. Esta é uma tecnologia que está se expandindo rapidamente e que põe em questão a fronteira entre os tempos de paz e de guerra.
Os Estados Unidos, que foram pioneiros na área, recusaram-se a vender certos drones armados mais sofisticados para outros países, com exceção de aliados tradicionais, como o Reino Unido. A França, que já opera com drones Reaper, de origem americana, anunciou planos para armar os equipamentos.
Já os chineses nunca tiveram limitações parecidas: exibiram em feiras militares do mundo todo seus veículos aéreos não-tripulados, junto com os armamentos que eles podem carregar. Segundo o relatório do IISS, a China já vendeu estes drones (chamados de UAVs, na sigla em inglês) para vários países, incluindo Egito, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Miamar, entre outros.
Este é um ótimo exemplo de como uma política para a área militar trouxe resultados imprevistos: a relutância de Washington em vender tecnologia deixou o caminho aberto para Pequim.
É inegável também que a decisão política dos Estados Unidos acabou estimulando países que, até então, só usavam drones para fins de inteligência, a irem atrás da variante de combate.
Exportadores de armas dos Estados Unidos e do resto do Ocidente veem a China como uma ameaça comercial crescente. Na comparação com o cenário de dez anos atrás, houve um aumento importante da presença chinesa no mercado, oferecendo equipamentos de boa qualidade.
O país do extremo Oriente, como mostra o exemplo dos drones, está tentando entrar em mercados que os fabricantes ocidentais e seus governos consideram "sensíveis demais".
E, como me disseram os especialistas do IISS, a China tende a levar vantagem nesta disputa. Geralmente, o armamento chinês oferece algo como 75% da capacidade do concorrente ocidental, mas por 50% do preço. Uma bela oferta.
Já as exportações de armamentos de solo chinesas são menos impressionantes. Continuam restritas aos mercados de países como a Rússia e a Ucrânia.
Mas em 2014, quando o governo ucraniano perdeu o prazo de entrega de uma remessa de tanques comprados pela Tailândia, os tailandeses recorreram a um armamento chinês - o tanque VT4. E parecem ter gostado: no ano passado, a Tailândia encomendou uma nova remessa.
Os especialistas do IISS também dizem que a China está trabalhando em armas voltadas para mercados específicos - mencionam, por exemplo, um tanque de guerra leve pensado para países africanos, cujas estradas e infraestrutura não aguentam os modelos mais pesados desenvolvidos em outros países.
ARMAS DA CHINA EM MÃOS DE TERCEIROS
O papel crescente da China como fonte de armamento sofisticado é algo que aterroriza vários países e não só os vizinhos do gigante asiático.
As forças aéreas ocidentais tiveram cerca de três décadas de superioridade. Mas a estratégia de "negativa de acesso" dos chineses acabou dando origem a armas que podem ser usadas para a mesma finalidade por outros países também.
Um país da Europa Ocidental pode nunca enfrentar um conflito com a China, mas pode um dia ter de lidar com armas chineses nas mãos de outros países. Como diz um pesquisador do IISS, "a percepção de que os riscos serão baixos ao intervir num território estrangeiro agora precisa ser revista", diz.
BBC BRASIL
Candidatura de Silvio Santos levou eleição presidencial à Justiça em 1989
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/02/candidatura-de-silvio-santos-levou-eleicao-presidencial-a-justica-em-1989.shtml
Assim como pode ocorrer neste ano com o caso Lula, pleito mergulhou em incerteza à espera decisão do TSE
18.fev.2018 às 2h00
Felipe Bächtold
SÃO PAULO
Um dos favoritos para a eleição presidencial tem a candidatura impugnada. Perto do dia da votação, com a campanha dele ativa, o clima é de incerteza.
A decisão fica então nas mãos de sete juízes do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e o país aguarda em suspense o desfecho.
Faltando menos de uma semana para o primeiro turno, os magistrados batem o martelo e acabam redefinindo o xadrez eleitoral.
Se essa situação ocorrer neste ano com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não será inédita.
Aconteceu em 1989, com o apresentador Silvio Santos, em um dos mais inusitados episódios eleitorais do país.
Naquele ano, faltando duas semanas para o primeiro turno da eleição presidencial, um grupo de congressistas se mobilizou para lançar como candidato o empresário, uma das mais populares figuras públicas do país.
Foi um terremoto na campanha, que parecia se encaminhar naquele momento para um segundo turno entre Fernando Collor, líder então pelo PRN, e o próprio Lula.
A fragilidade do registro eleitoral do dono do SBT, porém, deu fartos motivos para contestações de adversários, como Collor, e a Justiça Eleitoral foi chamada a resolver a questão.
"Quando apareceu essa candidatura, eu disse aos colegas do TSE: senhores, não merecíamos isso", lembra o então presidente do tribunal, Francisco Rezek.
"Era um problema gravíssimo: chegar à véspera do primeiro turno sem saber se tem ou não tem um candidato."
A ideia de lançar candidatura às pressas do empresário e animador de auditório havia partido de um trio de senadores do PFL (atual DEM), frustrados com o desempenho do candidato do partido, o mineiro Aureliano Chaves, ex-vice-presidente da República.
A proposta desse grupo, que incluía o atual senador Edison Lobão (MA), Marcondes Gadelha (PB) e Hugo Napoleão (PI), inicialmente era colocar Silvio Santos no lugar de Aureliano.
Silvio, que já havia tentado ser candidato a prefeito de São Paulo no ano anterior, se interessou pelo plano.
O candidato do PFL concordou inicialmente em ceder a vaga, mas acabou rejeitando a proposta.
Gadelha, Lobão e outros pefelistas então saíram à caça de alguma outra legenda para abrigar o apresentador na eleição. Tudo isso a menos de 20 dias do primeiro turno.
Encontraram uma resposta positiva no minúsculo PMB (Partido Municipalista Brasileiro), que havia lançado à Presidência o professor e pastor evangélico Armando Corrêa.
Não haveria tempo, no entanto, de Silvio ter seu nome impresso nas cédulas de papel da época. No horário eleitoral na TV, em um dos poucos programas que conseguiu levar ao ar, o dono do SBT gastou parte de seu tempo ensinando o eleitor a votar nele, identificando-o pelo número 26, do PMB: "Para votar no Silvio Santos, devem marcar no meio da cédula Corrêa".
Em meio à toda confusão, o apresentador se mostrava competitivo nas pesquisas de intenção de voto, chegando a figurar em segundo lugar, atrás do líder, Collor.
Sua plataforma política não era clara, e não chegou a haver grandes atos de campanha —a aposta era triunfar nas urnas com a popularidade obtida na TV.
Os adversários demonstravam indignação. Lula, segundo registrou a Folha na época, chamou-o de "espertinho". Leonel Brizola (PDT), ameaçado de ficar fora do segundo turno, era um dos mais exaltados.
As críticas miravam sua condição de "outsider", termo que não era usado na época e que hoje costuma definir personagens como Luciano Huck, que foi aventado como possível candidato a presidente em 2018.
FALHA BUROCRÁTICA
Logo que a candidatura de Silvio foi protocolada, partidos e rivais correram para pedir o indeferimento pela Justiça Eleitoral. O PRN de Collor era um dos mais ativos.
O vice na chapa de Silvio, Marcondes Gadelha, 74, hoje atribui um papel de destaque na mobilização do grupo de Collor a Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e atualmente preso da Operação Lava Jato.
Os adversários apostavam que o TSE barraria o empresário por ele não ter se desligado do SBT, uma concessão pública, antes da campanha.
Assim como a defesa de Lula hoje, os advogados de Silvio na época tinham uma tarefa de sucesso improvável: provar que o apresentador não tinha comando sobre a rede de televisão.
O Brasil parou para acompanhar o julgamento. Em uma época sem TV por assinatura, as emissoras abertas tentaram transmitir a sessão da corte eleitoral ao vivo, mas não foram autorizadas.
A sessão decisiva não foi longa. Depois de a acusação e defesa apresentarem seus argumentos, a candidatura de Silvio Santos foi barrada por unânimes sete votos.
O fator chave para afastá-lo da eleição acabou sendo muito mais burocrático do que a umbilical ligação do candidato com o canal de TV.
Os juízes entenderam que o partido que abrigou Silvio não tinha promovido convenções em um mínimo de Estados, como mandava a legislação. Com o registro partidário irregular, o empresário não poderia ser candidato.
Para Francisco Rezek, 74, a descoberta desse problema no PMB foi "sorte, um capricho do acaso".
"Se não fosse a irregularidade do partido, havia uma possibilidade de recurso ao Supremo e teríamos chegado à véspera da eleição com uma situação de insegurança."
Um dos mais fortes candidatos da primeira eleição presidencial no país em 29 anos era impedido de concorrer faltando apenas seis dias para o pleito. Era 9 de novembro de 1989, dia que ficou marcado também pela queda do muro de Berlim. A derrubada do símbolo da Guerra Fria, porém, acabou recebendo menos destaque em todos os grandes jornais brasileiros da época do que o episódio Silvio Santos.
"Ele iria ganhar a eleição, sem nenhuma dúvida. Foi o único candidato que conseguiu deslocar o Collor", diz Gadelha, hoje dirigente nacional do PSC.
Silvio, hoje com 87 anos, declarou em 2017, em um de seus programas no SBT, que aceitou ser candidato na época porque o convite mexeu com a sua "vaidade".
"Não deu certo, ok. Foi até bom", disse ele, na TV.
Na noite que selou sua carreira política, o empresário nada falou. Em um retrato do improviso de sua curta trajetória de presidenciável, os repórteres que acompanharam o caso relataram que a única a se manifestar na casa dele, em São Paulo, foi uma copeira, que transmitiu um recado de Íris, mulher do apresentador: "Dona Íris disse que lamentamos, mas acabou", falou ela aos jornalistas.
CONFUSÃO ELEITORAL
A curta trajetória de Silvio Santos como presidenciável
29.out.1989
Cortejado por senadores do PFL, o empresário e apresentador Silvio Santos anuncia que quer ser candidato a presidente. Restavam duas semanas até o primeiro turno
31.out
Silvio Santos se lança à Presidência. A candidatura pelo PFL não dá certo, mas os senadores conseguem convencer o candidato Armando Corrêa, do PMB, a ceder sua vaga na eleição ao dono do SBT
4.nov
O empresário faz o registro de candidatura, que é imediatamente contestada
5.nov
Silvio Santos estreia no horário eleitoral na TV. Fala de sua trajetória pessoal e em melhorar a vida da população em áreas como saúde e educação
9.nov
Por 7 a 0, o Tribunal Superior Eleitoral barra a candidatura. O empresário aceita a decisão e não recorre
15.nov
Dia do primeiro turno da eleição. Collor lidera e é eleito um mês depois, em segundo turno contra Lula
Assim como pode ocorrer neste ano com o caso Lula, pleito mergulhou em incerteza à espera decisão do TSE
18.fev.2018 às 2h00
Felipe Bächtold
SÃO PAULO
Um dos favoritos para a eleição presidencial tem a candidatura impugnada. Perto do dia da votação, com a campanha dele ativa, o clima é de incerteza.
A decisão fica então nas mãos de sete juízes do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e o país aguarda em suspense o desfecho.
Faltando menos de uma semana para o primeiro turno, os magistrados batem o martelo e acabam redefinindo o xadrez eleitoral.
Se essa situação ocorrer neste ano com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não será inédita.
Aconteceu em 1989, com o apresentador Silvio Santos, em um dos mais inusitados episódios eleitorais do país.
Naquele ano, faltando duas semanas para o primeiro turno da eleição presidencial, um grupo de congressistas se mobilizou para lançar como candidato o empresário, uma das mais populares figuras públicas do país.
Foi um terremoto na campanha, que parecia se encaminhar naquele momento para um segundo turno entre Fernando Collor, líder então pelo PRN, e o próprio Lula.
A fragilidade do registro eleitoral do dono do SBT, porém, deu fartos motivos para contestações de adversários, como Collor, e a Justiça Eleitoral foi chamada a resolver a questão.
"Quando apareceu essa candidatura, eu disse aos colegas do TSE: senhores, não merecíamos isso", lembra o então presidente do tribunal, Francisco Rezek.
"Era um problema gravíssimo: chegar à véspera do primeiro turno sem saber se tem ou não tem um candidato."
A ideia de lançar candidatura às pressas do empresário e animador de auditório havia partido de um trio de senadores do PFL (atual DEM), frustrados com o desempenho do candidato do partido, o mineiro Aureliano Chaves, ex-vice-presidente da República.
A proposta desse grupo, que incluía o atual senador Edison Lobão (MA), Marcondes Gadelha (PB) e Hugo Napoleão (PI), inicialmente era colocar Silvio Santos no lugar de Aureliano.
Silvio, que já havia tentado ser candidato a prefeito de São Paulo no ano anterior, se interessou pelo plano.
O candidato do PFL concordou inicialmente em ceder a vaga, mas acabou rejeitando a proposta.
Gadelha, Lobão e outros pefelistas então saíram à caça de alguma outra legenda para abrigar o apresentador na eleição. Tudo isso a menos de 20 dias do primeiro turno.
Encontraram uma resposta positiva no minúsculo PMB (Partido Municipalista Brasileiro), que havia lançado à Presidência o professor e pastor evangélico Armando Corrêa.
Não haveria tempo, no entanto, de Silvio ter seu nome impresso nas cédulas de papel da época. No horário eleitoral na TV, em um dos poucos programas que conseguiu levar ao ar, o dono do SBT gastou parte de seu tempo ensinando o eleitor a votar nele, identificando-o pelo número 26, do PMB: "Para votar no Silvio Santos, devem marcar no meio da cédula Corrêa".
Em meio à toda confusão, o apresentador se mostrava competitivo nas pesquisas de intenção de voto, chegando a figurar em segundo lugar, atrás do líder, Collor.
Sua plataforma política não era clara, e não chegou a haver grandes atos de campanha —a aposta era triunfar nas urnas com a popularidade obtida na TV.
Os adversários demonstravam indignação. Lula, segundo registrou a Folha na época, chamou-o de "espertinho". Leonel Brizola (PDT), ameaçado de ficar fora do segundo turno, era um dos mais exaltados.
As críticas miravam sua condição de "outsider", termo que não era usado na época e que hoje costuma definir personagens como Luciano Huck, que foi aventado como possível candidato a presidente em 2018.
FALHA BUROCRÁTICA
Logo que a candidatura de Silvio foi protocolada, partidos e rivais correram para pedir o indeferimento pela Justiça Eleitoral. O PRN de Collor era um dos mais ativos.
O vice na chapa de Silvio, Marcondes Gadelha, 74, hoje atribui um papel de destaque na mobilização do grupo de Collor a Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e atualmente preso da Operação Lava Jato.
Os adversários apostavam que o TSE barraria o empresário por ele não ter se desligado do SBT, uma concessão pública, antes da campanha.
Assim como a defesa de Lula hoje, os advogados de Silvio na época tinham uma tarefa de sucesso improvável: provar que o apresentador não tinha comando sobre a rede de televisão.
O Brasil parou para acompanhar o julgamento. Em uma época sem TV por assinatura, as emissoras abertas tentaram transmitir a sessão da corte eleitoral ao vivo, mas não foram autorizadas.
A sessão decisiva não foi longa. Depois de a acusação e defesa apresentarem seus argumentos, a candidatura de Silvio Santos foi barrada por unânimes sete votos.
O fator chave para afastá-lo da eleição acabou sendo muito mais burocrático do que a umbilical ligação do candidato com o canal de TV.
Os juízes entenderam que o partido que abrigou Silvio não tinha promovido convenções em um mínimo de Estados, como mandava a legislação. Com o registro partidário irregular, o empresário não poderia ser candidato.
Para Francisco Rezek, 74, a descoberta desse problema no PMB foi "sorte, um capricho do acaso".
"Se não fosse a irregularidade do partido, havia uma possibilidade de recurso ao Supremo e teríamos chegado à véspera da eleição com uma situação de insegurança."
Um dos mais fortes candidatos da primeira eleição presidencial no país em 29 anos era impedido de concorrer faltando apenas seis dias para o pleito. Era 9 de novembro de 1989, dia que ficou marcado também pela queda do muro de Berlim. A derrubada do símbolo da Guerra Fria, porém, acabou recebendo menos destaque em todos os grandes jornais brasileiros da época do que o episódio Silvio Santos.
"Ele iria ganhar a eleição, sem nenhuma dúvida. Foi o único candidato que conseguiu deslocar o Collor", diz Gadelha, hoje dirigente nacional do PSC.
Silvio, hoje com 87 anos, declarou em 2017, em um de seus programas no SBT, que aceitou ser candidato na época porque o convite mexeu com a sua "vaidade".
"Não deu certo, ok. Foi até bom", disse ele, na TV.
Na noite que selou sua carreira política, o empresário nada falou. Em um retrato do improviso de sua curta trajetória de presidenciável, os repórteres que acompanharam o caso relataram que a única a se manifestar na casa dele, em São Paulo, foi uma copeira, que transmitiu um recado de Íris, mulher do apresentador: "Dona Íris disse que lamentamos, mas acabou", falou ela aos jornalistas.
CONFUSÃO ELEITORAL
A curta trajetória de Silvio Santos como presidenciável
29.out.1989
Cortejado por senadores do PFL, o empresário e apresentador Silvio Santos anuncia que quer ser candidato a presidente. Restavam duas semanas até o primeiro turno
31.out
Silvio Santos se lança à Presidência. A candidatura pelo PFL não dá certo, mas os senadores conseguem convencer o candidato Armando Corrêa, do PMB, a ceder sua vaga na eleição ao dono do SBT
4.nov
O empresário faz o registro de candidatura, que é imediatamente contestada
5.nov
Silvio Santos estreia no horário eleitoral na TV. Fala de sua trajetória pessoal e em melhorar a vida da população em áreas como saúde e educação
9.nov
Por 7 a 0, o Tribunal Superior Eleitoral barra a candidatura. O empresário aceita a decisão e não recorre
15.nov
Dia do primeiro turno da eleição. Collor lidera e é eleito um mês depois, em segundo turno contra Lula
sábado, 17 de fevereiro de 2018
Atentado na Nigéria deixa ao menos 20 mortos e outros 20 feridos
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/atentado-na-nigeria-deixa-ao-menos-20-mortos-e-outros-20-feridos.shtml
Ataque aconteceu perto de cidade que é berço do grupo extremista Boko Haram
17.fev.2018 às 10h41
MAIDUGURI
Ao menos 20 pessoas morreram e outras 20 ficaram feridas depois de um ataque suicida em um mercado de peixes em Konduga, no norte da Nigéria, nesta sexta-feira (16).
Segundo a polícia local, a suspeita é que mulheres tenham deixado três bombas no centro de compras, que fica nos arredores de Maiduguri, capital do estado de Borno. Três explosões foram ouvidas na sequência por quem passava pelo local.
Apesar de nenhum grupo ter assumido a autoria, a cidade é o local onde nasceu o Boko Haram, organização extremista. A região tem sido um alvo frequente do grupo.
O Boko Haram tem a intenção de estabelecer um governo islâmico e é conhecido por atentados violentos no país e também por sequestrar e escravizar meninas e mulheres.
Cerca de 20 mil pessoas foram mortas pelo Boko Haram desde 2009; a violência do grupo também já levou mais de 2 milhões a deixarem suas casas no país.
Em 2014, o Boko Haram foi responsável pelo sequestro de quase 300 estudantes em Chibok, das quais cem ainda estão em seu poder.
Os atentados suicidas têm continuado na Nigéria apesar de o governo e o Exército dizerem que o Boko Haram foi derrotado em 2016.
O presidente Muhammadu Buhari, que assumiu em 2015, teve como uma de suas promessas de campanha melhorar a segurança no país.
Na quinta-feira (15), um ataque a tiros por uma facção criminosa deixou ao menos 18 mortos no vilarejo de Birani, no noroeste da Nigéria.
ASSOCIATED PRESS
Ataque aconteceu perto de cidade que é berço do grupo extremista Boko Haram
17.fev.2018 às 10h41
MAIDUGURI
Ao menos 20 pessoas morreram e outras 20 ficaram feridas depois de um ataque suicida em um mercado de peixes em Konduga, no norte da Nigéria, nesta sexta-feira (16).
Segundo a polícia local, a suspeita é que mulheres tenham deixado três bombas no centro de compras, que fica nos arredores de Maiduguri, capital do estado de Borno. Três explosões foram ouvidas na sequência por quem passava pelo local.
Apesar de nenhum grupo ter assumido a autoria, a cidade é o local onde nasceu o Boko Haram, organização extremista. A região tem sido um alvo frequente do grupo.
O Boko Haram tem a intenção de estabelecer um governo islâmico e é conhecido por atentados violentos no país e também por sequestrar e escravizar meninas e mulheres.
Cerca de 20 mil pessoas foram mortas pelo Boko Haram desde 2009; a violência do grupo também já levou mais de 2 milhões a deixarem suas casas no país.
Em 2014, o Boko Haram foi responsável pelo sequestro de quase 300 estudantes em Chibok, das quais cem ainda estão em seu poder.
Os atentados suicidas têm continuado na Nigéria apesar de o governo e o Exército dizerem que o Boko Haram foi derrotado em 2016.
O presidente Muhammadu Buhari, que assumiu em 2015, teve como uma de suas promessas de campanha melhorar a segurança no país.
Na quinta-feira (15), um ataque a tiros por uma facção criminosa deixou ao menos 18 mortos no vilarejo de Birani, no noroeste da Nigéria.
ASSOCIATED PRESS
Turquia fez ataques com gás tóxico na Síria, afirmam médicos
Fonte:
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/turquia-fez-ataques-com-gas-toxico-na-siria-afirmam-medicos.shtml
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/turquia-fez-ataques-com-gas-toxico-na-siria-afirmam-medicos.shtml
País realiza operação em enclave controlado por curdos
17.fev.2018 às 12h22
BEIRUTE
BEIRUTE
Seis civis apresentam indícios de intoxicação com gases venenosos depois de um ataque lançado nesta sexta-feira (16) pelo Exército turco contra Afrin, enclave controlado por curdos na Síria, afirmam médicos locais.
As vítimas foram atendidas com sintomas como falta de ar, vômito, feridas na pele e pupilas dilatadas, de acordo com profissionais que trabalham na região. Vídeos divulgados do hospital mostram pessoas usando máscaras de oxigênio.
A Sana, agência oficial de notícias síria, afirmou que a Turquia lançou diversas cápsulas contendo substâncias tóxicas em Afrin.
Em um comunicado, o Exército turco diz que não usa munição proibida internacionalmente na operação e que atingiu apenas alvos terroristas.
Em janeiro a Turquia lançou uma ofensiva em Afrin, no noroeste da Síria, contra a milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG). Segundo o país, trata-se de um grupo terrorista com ligação com os curdos insurgentes que lutam dentro da Turquia.
ASSOCIATED PRESS
Tire suas dúvidas sobre a intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/02/tire-suas-duvidas-sobre-a-intervencao-na-seguranca-publica-no-rio-de-janeiro.shtml
Entenda a medida e o que muda no estado e no comando das polícias
16.fev.2018 às 14h12
Atualizado: 16.fev.2018 às 18h25
BRASÍLIA
O que é intervenção federal?
"Juridicamente, é um ato considerado grave porque quebra a autonomia dos entes federados. Os Estados têm seus governantes, seu próprio Legislativo, capacidade de autoadministração. Quando se fala em intervenção federal, se fala na quebra dessa autonomia", diz a especialista em direito constitucional Isabel Figueiredo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
No caso do Rio, a intervenção é temática, somente sobre a área de segurança pública, e parte de um ato do presidente da República —um decreto que precisará ser avalizado pelo Congresso. "A União passa a ser responsável por todos os atos feitos pelo interventor", diz Figueiredo.
O que a intervenção muda na prática?
"Na prática, o interventor assume o controle da Secretaria de Segurança Pública e das polícias. Mas ele não é apenas um novo secretário. Ele não está subordinado ao governador do Estado e às implicações da política local. Ele tem muito mais autonomia", explica Arthur Trindade, sociólogo, professor da UnB e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal.
Para ele, há duas frentes: a de combate à criminalidade do dia a dia e a de "saneamento" das polícias estaduais. "No que diz respeito à criminalidade cotidiana, vai necessitar um planejamento amplo das Forças Armadas com ações bem definidas, metas a serem alcançadas. Como a intervenção foi decretada agora, acho pouco provável que esse plano exista, mas nessa linha o que se espera é um maior emprego das Forças Armadas nas ruas, o que vai ser um efeito de curto prazo, paliativo, mas um efeito importante", diz.
"O mais importante é que esse interventor, que não está subordinado às nuanças da política local, pode tomar uma série de medidas internas às polícias militar e civil do Rio. O interventor tem, em tese, todos os instrumentos para mexer no regramento interno das polícias para tentar sanear essas instituições da sua corrupção."
Isabel Figueiredo concorda. "Primeiro, deve haver uma intervenção nas polícias, no sentido de fazer algum tipo de 'limpeza'. E, segundo, na questão principalmente da inteligência —o caso [da violência] do Carnaval foi trágico, mostra que o Estado não tem capacidade de planejamento", afirma.
Quando a intervenção federal foi usada?
Segundo os especialistas, essa é a primeira vez sob a vigência da Constituição de 1988.
Quais situações autorizam o uso da intervenção federal?
De acordo com o professor de direito constitucional Flávio de Leão Bastos Pereira, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, há várias situações. "Para manter a integridade nacional, para repelir invasão estrangeira ou invasão de uma unidade federativa em outra [uma disputa entre Estados], para pôr termo a um grave comprometimento da ordem pública —que é o caso do Rio agora—, para reorganizar as finanças de uma unidade, e para fazer executar lei federal ou decisão judicial —quando ela não está sendo aplicada num determinado Estado", exemplifica.
"Cada uma dessas hipóteses entra numa espécie [de intervenção] diferente."
É certo falar 'intervenção militar' no caso do Rio?
Para Pereira, não. "Há uma intervenção federal por parte do Poder Executivo que, nesta modalidade, na área de segurança pública, nomeou como interventor um militar [o general Braga Netto]. Mas a ordem de intervenção vem de um governo civil", diz.
O que altera na vida de quem mora no Rio?
"A princípio, na prática, muda muito pouco para a população, porque uma intervenção muda o comando [das polícias] e pode fazer com que o novo interventor realoque as forças de segurança no Estado", diz Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da FGV-SP.
Para Trindade, "mais militares nas ruas vão transmitir uma sensação de segurança maior para a população".
Qual a diferença entre intervenção, Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e outras ações?
"Podemos lembrar três instrumentos previstos pela Constituição em situações graves: a intervenção federal, o estado de defesa e o estado de sítio. Esses dois últimos, que também nunca foram usados desde a Constituição de 1988, são chamados de estado de legalidade extraordinária", diz Pereira.
"A GLO já foi uma medida adotada, trouxe estruturas federais em apoio aos Estados do Rio, do Espírito Santo e do Rio Grande do Norte. Nela, o Estado pede ajuda ao governo federal sem que ocorra uma intervenção. A GLO não implica no exercício de poderes tipicamente civis por um militar, como vai acontecer agora. O que há agora é a formalização de um interventor militar que vai exercitar poderes tipicamente civis."
Haverá tanques e armamentos pesados nas ruas?
Segundo alguns dos especialistas, é preciso esperar o desenrolar das ações para saber.
Entenda a medida e o que muda no estado e no comando das polícias
16.fev.2018 às 14h12
Atualizado: 16.fev.2018 às 18h25
BRASÍLIA
O que é intervenção federal?
"Juridicamente, é um ato considerado grave porque quebra a autonomia dos entes federados. Os Estados têm seus governantes, seu próprio Legislativo, capacidade de autoadministração. Quando se fala em intervenção federal, se fala na quebra dessa autonomia", diz a especialista em direito constitucional Isabel Figueiredo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
No caso do Rio, a intervenção é temática, somente sobre a área de segurança pública, e parte de um ato do presidente da República —um decreto que precisará ser avalizado pelo Congresso. "A União passa a ser responsável por todos os atos feitos pelo interventor", diz Figueiredo.
O que a intervenção muda na prática?
"Na prática, o interventor assume o controle da Secretaria de Segurança Pública e das polícias. Mas ele não é apenas um novo secretário. Ele não está subordinado ao governador do Estado e às implicações da política local. Ele tem muito mais autonomia", explica Arthur Trindade, sociólogo, professor da UnB e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal.
Para ele, há duas frentes: a de combate à criminalidade do dia a dia e a de "saneamento" das polícias estaduais. "No que diz respeito à criminalidade cotidiana, vai necessitar um planejamento amplo das Forças Armadas com ações bem definidas, metas a serem alcançadas. Como a intervenção foi decretada agora, acho pouco provável que esse plano exista, mas nessa linha o que se espera é um maior emprego das Forças Armadas nas ruas, o que vai ser um efeito de curto prazo, paliativo, mas um efeito importante", diz.
"O mais importante é que esse interventor, que não está subordinado às nuanças da política local, pode tomar uma série de medidas internas às polícias militar e civil do Rio. O interventor tem, em tese, todos os instrumentos para mexer no regramento interno das polícias para tentar sanear essas instituições da sua corrupção."
Isabel Figueiredo concorda. "Primeiro, deve haver uma intervenção nas polícias, no sentido de fazer algum tipo de 'limpeza'. E, segundo, na questão principalmente da inteligência —o caso [da violência] do Carnaval foi trágico, mostra que o Estado não tem capacidade de planejamento", afirma.
Quando a intervenção federal foi usada?
Segundo os especialistas, essa é a primeira vez sob a vigência da Constituição de 1988.
Quais situações autorizam o uso da intervenção federal?
De acordo com o professor de direito constitucional Flávio de Leão Bastos Pereira, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, há várias situações. "Para manter a integridade nacional, para repelir invasão estrangeira ou invasão de uma unidade federativa em outra [uma disputa entre Estados], para pôr termo a um grave comprometimento da ordem pública —que é o caso do Rio agora—, para reorganizar as finanças de uma unidade, e para fazer executar lei federal ou decisão judicial —quando ela não está sendo aplicada num determinado Estado", exemplifica.
"Cada uma dessas hipóteses entra numa espécie [de intervenção] diferente."
É certo falar 'intervenção militar' no caso do Rio?
Para Pereira, não. "Há uma intervenção federal por parte do Poder Executivo que, nesta modalidade, na área de segurança pública, nomeou como interventor um militar [o general Braga Netto]. Mas a ordem de intervenção vem de um governo civil", diz.
O que altera na vida de quem mora no Rio?
"A princípio, na prática, muda muito pouco para a população, porque uma intervenção muda o comando [das polícias] e pode fazer com que o novo interventor realoque as forças de segurança no Estado", diz Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da FGV-SP.
Para Trindade, "mais militares nas ruas vão transmitir uma sensação de segurança maior para a população".
Qual a diferença entre intervenção, Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e outras ações?
"Podemos lembrar três instrumentos previstos pela Constituição em situações graves: a intervenção federal, o estado de defesa e o estado de sítio. Esses dois últimos, que também nunca foram usados desde a Constituição de 1988, são chamados de estado de legalidade extraordinária", diz Pereira.
"A GLO já foi uma medida adotada, trouxe estruturas federais em apoio aos Estados do Rio, do Espírito Santo e do Rio Grande do Norte. Nela, o Estado pede ajuda ao governo federal sem que ocorra uma intervenção. A GLO não implica no exercício de poderes tipicamente civis por um militar, como vai acontecer agora. O que há agora é a formalização de um interventor militar que vai exercitar poderes tipicamente civis."
Haverá tanques e armamentos pesados nas ruas?
Segundo alguns dos especialistas, é preciso esperar o desenrolar das ações para saber.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
Rio retrocedeu sete anos em segurança antes de decreto de intervenção
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/02/rio-retrocedeu-sete-anos-em-seguranca-antes-de-decreto-de-intervencao.shtml
Taxa de mortes violentas no Estado já supera a registrada em 2010
16.fev.2018 às 14h55
Luiza Franco
RIO DE JANEIRO
Em 2010, o país assistiu pela televisão à ocupação cinematográfica do Complexo do Alemão, um símbolo da suposta pacificação dos morros do Rio. Sete anos mais tarde, o Estado tem uma taxa de mortes violentas que já supera a daquele ano.
O Rio não conseguiu sustentar a diminuição da criminalidade. Os números mostram que não é de hoje a tendência de recrudescimento da violência. A crise política e financeira por que passa o Rio a exacerbou, mas não é sua única causa, dizem especialistas.
Nesse cenário, o presidente Michel Temer decidiu decretar intervenção na Segurança Pública do Rio de Janeiro —o documento foi assinado nesta sexta-feira (16).
Em 2017, a taxa de mortes violentas foi de 40 por 100 mil habitantes, o que significa que o Rio voltou no tempo, no que diz respeito à segurança, e estacionou entre 2009 (44,9) e 2010 (36,4).
O ano de 2018 parece ter começado pior ainda. Os números oficiais relativos a janeiro ainda não foram divulgados pelo governo, mas dados do aplicativo Fogo Cruzado, que mapeia de forma colaborativa a violência armada na região metropolitana, mostram que houve 688 tiroteios ou disparos de arma de fogo em janeiro deste ano, o maior número já registrado desde que a plataforma foi ao ar, em julho de 2016.
Houve um aumento de 117% desses registros em relação ao mesmo período de 2017. Em média, foram 22 por dia, mais do que a média de 2017, que foi de 16 por dia.
As cenas que o Rio viu no último ano são dignas da violência que havia na cidade anos 1990, mas em termos estatísticos, o Estado não está nesse nível ainda. A taxa de mortes violentas vê tendência de queda, ainda que com oscilações, de 1991 a 2005, quando começa a cair de forma ininterrupta até 2012. Em 2013, volta a subir, com uma pequena queda em 2015.
Para Ignacio Cano, do Laboratório da Análise de Violência, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), políticas bem-sucedidas dos anos iniciais da gestão de José Mariano Beltrame (2007-2016) na segurança pública foram reproduzidas sem avaliações e correções de rumo.
Cita como exemplos as UPPs (hoje há 38: uma inaugurada em 2008, quatro em 2009, oito em 2010, cinco em 2011, dez em 2012, oito em 2013 e duas em 2014), o programa da PM que estabeleceu metas para a redução de mortes decorrentes de intervenções policiais e a criação das delegacias especializadas na investigação de homicídios.
"Sentaram em cima de bons resultados. Houve uma ideia ingênua de que basta implementar essas iniciativas para elas funcionarem. O impacto dessas medidas se esgota e outros fatores negativos acabam gerando o quadro que temos."
As UPPs, vitrine da política de segurança, ruíram —estudo da PM cita 13 confrontos em lugares com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016—, mas elas não são a causa do descontrole, e sim um reflexo dele.
Para o coronel Ibis Pereira, que foi comandante interino da PM do Rio, as UPPs foram mais um discurso do que uma política de fato. "A UPP nunca foi institucionalizada. Ficou no plano do discurso", diz ele. Ibis cita como exemplo o fato de o decreto que regulamenta o programa só ter sido publicado em 2015, sete anos depois de a criação da primeira unidade, em dezembro de 2008, na favela Dona Marta, em Botafogo, na zona sul.
Tudo isso, dizem especialistas, foi exacerbado pela crise política e de caixa por que passa o Rio. O Estado tem um ex-governador preso e o atual, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que demonstra não ter controle da segurança.
CALAMIDADE
Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública. Entre os motivos estão as quedas drásticas da arrecadação, do preço do petróleo e dos investimentos da Petrobras. Além de precarizar serviços públicos, o buraco do orçamento deixa servidores com pagamentos atrasados e parcelados.
Não há recursos para contratar PMs aprovados em concurso. Faltam equipamentos como coletes e munição. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem gasolina nas viaturas.
Apenas em fevereiro deste ano o governo disse que quitaria dívidas do pagamento do Regime Adicional de Serviço, que permite que policiais militares e civis trabalhem na folga para as próprias polícias, complementando a falta de efetivo, e restantes do Programa Estadual de Integração na Segurança de polícias civis e militares. As gratificações referentes ao Sistema Integrado de Metas terão o pagamento feito em quatro parcelas, sempre no fim no mês, a partir de fevereiro.
Pereira diz que o problema da segurança no Rio tem suas cores locais, mas, para ele, o buraco é mais embaixo. "Isso tudo acontece porque o país não cumpre a constituição", diz.
Segundo o especialista, o documento determina que seja criado um sistema que integre todas as forças de segurança, de municipais a federais, o que nunca foi feito.
"Não tem sistema, como tem o SUS [Sistema Único de Saúde], por exemplo. Sem isso, não tem como funcionar nunca. Essa intervenção pode até reduzir alguns índices, mas provavelmente será um efeito de curtíssimo prazo".
Taxa de mortes violentas no Estado já supera a registrada em 2010
16.fev.2018 às 14h55
Luiza Franco
RIO DE JANEIRO
Em 2010, o país assistiu pela televisão à ocupação cinematográfica do Complexo do Alemão, um símbolo da suposta pacificação dos morros do Rio. Sete anos mais tarde, o Estado tem uma taxa de mortes violentas que já supera a daquele ano.
O Rio não conseguiu sustentar a diminuição da criminalidade. Os números mostram que não é de hoje a tendência de recrudescimento da violência. A crise política e financeira por que passa o Rio a exacerbou, mas não é sua única causa, dizem especialistas.
Nesse cenário, o presidente Michel Temer decidiu decretar intervenção na Segurança Pública do Rio de Janeiro —o documento foi assinado nesta sexta-feira (16).
Em 2017, a taxa de mortes violentas foi de 40 por 100 mil habitantes, o que significa que o Rio voltou no tempo, no que diz respeito à segurança, e estacionou entre 2009 (44,9) e 2010 (36,4).
O ano de 2018 parece ter começado pior ainda. Os números oficiais relativos a janeiro ainda não foram divulgados pelo governo, mas dados do aplicativo Fogo Cruzado, que mapeia de forma colaborativa a violência armada na região metropolitana, mostram que houve 688 tiroteios ou disparos de arma de fogo em janeiro deste ano, o maior número já registrado desde que a plataforma foi ao ar, em julho de 2016.
Houve um aumento de 117% desses registros em relação ao mesmo período de 2017. Em média, foram 22 por dia, mais do que a média de 2017, que foi de 16 por dia.
As cenas que o Rio viu no último ano são dignas da violência que havia na cidade anos 1990, mas em termos estatísticos, o Estado não está nesse nível ainda. A taxa de mortes violentas vê tendência de queda, ainda que com oscilações, de 1991 a 2005, quando começa a cair de forma ininterrupta até 2012. Em 2013, volta a subir, com uma pequena queda em 2015.
Para Ignacio Cano, do Laboratório da Análise de Violência, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), políticas bem-sucedidas dos anos iniciais da gestão de José Mariano Beltrame (2007-2016) na segurança pública foram reproduzidas sem avaliações e correções de rumo.
Cita como exemplos as UPPs (hoje há 38: uma inaugurada em 2008, quatro em 2009, oito em 2010, cinco em 2011, dez em 2012, oito em 2013 e duas em 2014), o programa da PM que estabeleceu metas para a redução de mortes decorrentes de intervenções policiais e a criação das delegacias especializadas na investigação de homicídios.
"Sentaram em cima de bons resultados. Houve uma ideia ingênua de que basta implementar essas iniciativas para elas funcionarem. O impacto dessas medidas se esgota e outros fatores negativos acabam gerando o quadro que temos."
As UPPs, vitrine da política de segurança, ruíram —estudo da PM cita 13 confrontos em lugares com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016—, mas elas não são a causa do descontrole, e sim um reflexo dele.
Para o coronel Ibis Pereira, que foi comandante interino da PM do Rio, as UPPs foram mais um discurso do que uma política de fato. "A UPP nunca foi institucionalizada. Ficou no plano do discurso", diz ele. Ibis cita como exemplo o fato de o decreto que regulamenta o programa só ter sido publicado em 2015, sete anos depois de a criação da primeira unidade, em dezembro de 2008, na favela Dona Marta, em Botafogo, na zona sul.
Tudo isso, dizem especialistas, foi exacerbado pela crise política e de caixa por que passa o Rio. O Estado tem um ex-governador preso e o atual, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que demonstra não ter controle da segurança.
CALAMIDADE
Desde junho de 2016, o Estado está em situação de calamidade pública. Entre os motivos estão as quedas drásticas da arrecadação, do preço do petróleo e dos investimentos da Petrobras. Além de precarizar serviços públicos, o buraco do orçamento deixa servidores com pagamentos atrasados e parcelados.
Não há recursos para contratar PMs aprovados em concurso. Faltam equipamentos como coletes e munição. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem gasolina nas viaturas.
Apenas em fevereiro deste ano o governo disse que quitaria dívidas do pagamento do Regime Adicional de Serviço, que permite que policiais militares e civis trabalhem na folga para as próprias polícias, complementando a falta de efetivo, e restantes do Programa Estadual de Integração na Segurança de polícias civis e militares. As gratificações referentes ao Sistema Integrado de Metas terão o pagamento feito em quatro parcelas, sempre no fim no mês, a partir de fevereiro.
Pereira diz que o problema da segurança no Rio tem suas cores locais, mas, para ele, o buraco é mais embaixo. "Isso tudo acontece porque o país não cumpre a constituição", diz.
Segundo o especialista, o documento determina que seja criado um sistema que integre todas as forças de segurança, de municipais a federais, o que nunca foi feito.
"Não tem sistema, como tem o SUS [Sistema Único de Saúde], por exemplo. Sem isso, não tem como funcionar nunca. Essa intervenção pode até reduzir alguns índices, mas provavelmente será um efeito de curtíssimo prazo".
Para Trump, assassino branco é doente mental, estrangeiro é terrorista
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/2018/02/para-trump-assassino-branco-e-doente-mental-estrangeiro-e-terrorista.shtml
Não se vê presidente condenar acesso a armas ou visões extremistas de brancos
16.fev.2018 às 2h00
O mundo de Donald Trump é mesmo curioso. Quando um branco é autor de um massacre, ele tem problemas mentais. Se o assassino é estrangeiro, ele é terrorista e é preciso fechar as fronteiras dos EUA.
No dia 31 de outubro de 2017, quando um imigrante do Uzbequistão atropelou corredores e ciclistas em Nova York, matando 8 pessoas e ferindo 11, o presidente Donald Trump correu para o Twitter para condenar os estrangeiros terroristas "que vêm para os Estados Unidos matar pessoas".
"O terrorista entrou no nosso país pelo programa de loteria de visto de diversidade, uma beleza do senador (democrata) Chuck Schumer. Eu quero (imigração) baseada em mérito", tuitou Trump após o ataque.
O programa de loteria dá vistos para cidadãos de nacionalidades pouco representadas nos Estados Unidos, e é um dos alvos da reforma migratória que Trump tenta implementar —ele quer acabar com a loteria, com os vistos em cadeia, que permitem trazer parentes, e construir o muro com o México.
"Migração em cadeia precisa acabar agora! Algumas pessoas entram, trazem a família toda, e alguns podem ser realmente maus", comentou no Twitter.
"Não vamos permitir que o Estado Islâmico retorne ou entre em nosso país após derrotá-lo no oriente Médio e outros lugares. Basta!", disse.
De fato, o assassino havia jurado lealdade ao Estado Islâmico. Mas isso não justifica dizer que todos os beneficiários da loteria de vistos ou da imigração em cadeia são terroristas.
O autor do massacre em Parkland, Flórida, é um jovem branco, de olhos claros, que era membro de uma organização supremacista cujo líder afirmou: "é inevitável que as pessoas enlouqueçam, porque vivemos em uma sociedade inerentemente doente" por causa do "hiperigualitarismo e feminismo".
O que Trump tinha a dizer sobre isso? Ele condenou os movimentos supremacistas brancos? Criticou a facilidade com que indivíduos violentos e potencialmente com perturbação mental compram fuzis semiautomáticos AR-15? Não.
"Tantos sinais de que o atirador da Flórida tinha distúrbios mentais: foi até expulso da escola por mau comportamento. Vizinhos e colegas de classe sabiam que ele tinha problemas. É preciso avisar as autoridades nesses casos, sempre!", disse Trump no Twitter, após a tradicional mensagem de condolências.
Segundo levantamento do site Vox, desde que Trump assumiu, mais americanos foram mortos por homens americanos brancos sem conexões com o islamismo do que por terroristas estrangeiros. Foi um homem branco de 64 anos que matou 58 pessoas em Las Vegas no ano passado.
Mas não se viu Trump condenar o acesso a armas ou visões extremistas quando os assassinos eram brancos.
Quando supremacistas brancos causaram a morte de uma mulher em um protesto em Charlottesville, em agosto do ano passado, Trump afirmou que "havia culpa dos dois lados" (neonazistas e pacifistas) dizendo que "ambos eram muito violentos".
Após o tiroteio em uma igreja do Texas, em novembro passado, Trump afirmou que o massacre, que deixou 26 mortos, "não era uma situação de armas", mas "um problema de saúde mental em seu mais alto nível".
Vale lembrar que foi o próprio Trump que, no começo do ano passado, derrubou um decreto presidencial de Barack Obama que impedia pessoas que recebiam ajuda da previdência social por doença mental de comprar armas.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Não se vê presidente condenar acesso a armas ou visões extremistas de brancos
16.fev.2018 às 2h00
O mundo de Donald Trump é mesmo curioso. Quando um branco é autor de um massacre, ele tem problemas mentais. Se o assassino é estrangeiro, ele é terrorista e é preciso fechar as fronteiras dos EUA.
No dia 31 de outubro de 2017, quando um imigrante do Uzbequistão atropelou corredores e ciclistas em Nova York, matando 8 pessoas e ferindo 11, o presidente Donald Trump correu para o Twitter para condenar os estrangeiros terroristas "que vêm para os Estados Unidos matar pessoas".
"O terrorista entrou no nosso país pelo programa de loteria de visto de diversidade, uma beleza do senador (democrata) Chuck Schumer. Eu quero (imigração) baseada em mérito", tuitou Trump após o ataque.
O programa de loteria dá vistos para cidadãos de nacionalidades pouco representadas nos Estados Unidos, e é um dos alvos da reforma migratória que Trump tenta implementar —ele quer acabar com a loteria, com os vistos em cadeia, que permitem trazer parentes, e construir o muro com o México.
"Migração em cadeia precisa acabar agora! Algumas pessoas entram, trazem a família toda, e alguns podem ser realmente maus", comentou no Twitter.
"Não vamos permitir que o Estado Islâmico retorne ou entre em nosso país após derrotá-lo no oriente Médio e outros lugares. Basta!", disse.
De fato, o assassino havia jurado lealdade ao Estado Islâmico. Mas isso não justifica dizer que todos os beneficiários da loteria de vistos ou da imigração em cadeia são terroristas.
O autor do massacre em Parkland, Flórida, é um jovem branco, de olhos claros, que era membro de uma organização supremacista cujo líder afirmou: "é inevitável que as pessoas enlouqueçam, porque vivemos em uma sociedade inerentemente doente" por causa do "hiperigualitarismo e feminismo".
O que Trump tinha a dizer sobre isso? Ele condenou os movimentos supremacistas brancos? Criticou a facilidade com que indivíduos violentos e potencialmente com perturbação mental compram fuzis semiautomáticos AR-15? Não.
"Tantos sinais de que o atirador da Flórida tinha distúrbios mentais: foi até expulso da escola por mau comportamento. Vizinhos e colegas de classe sabiam que ele tinha problemas. É preciso avisar as autoridades nesses casos, sempre!", disse Trump no Twitter, após a tradicional mensagem de condolências.
Segundo levantamento do site Vox, desde que Trump assumiu, mais americanos foram mortos por homens americanos brancos sem conexões com o islamismo do que por terroristas estrangeiros. Foi um homem branco de 64 anos que matou 58 pessoas em Las Vegas no ano passado.
Mas não se viu Trump condenar o acesso a armas ou visões extremistas quando os assassinos eram brancos.
Quando supremacistas brancos causaram a morte de uma mulher em um protesto em Charlottesville, em agosto do ano passado, Trump afirmou que "havia culpa dos dois lados" (neonazistas e pacifistas) dizendo que "ambos eram muito violentos".
Após o tiroteio em uma igreja do Texas, em novembro passado, Trump afirmou que o massacre, que deixou 26 mortos, "não era uma situação de armas", mas "um problema de saúde mental em seu mais alto nível".
Vale lembrar que foi o próprio Trump que, no começo do ano passado, derrubou um decreto presidencial de Barack Obama que impedia pessoas que recebiam ajuda da previdência social por doença mental de comprar armas.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
Quanto vale a Embraer para a Boeing? E para o Brasil?
Quanto vale a Embraer para a Boeing? E para o Brasil?
© Foto: Divulgação / Facebook Embraer
Duas gigantes estão em negociação. Terceira maior fabricante de aviões do mundo, a brasileira Embraer está acordando sua venda para a líder do setor: a estadunidense Boeing. As tratativas, entretanto, são delicadas porque a Embraer participa de projetos sensíveis do Ministério da Defesa do Brasil.
Ver: https://br.sputniknews.com/sputnik_explica/2018021510527969-embraer-boeing-negociacioes-golden-share-defesa-empresa-estrategica/
Maduro ameaça ir à Cúpula das Américas mesmo desconvidado
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/maduro-ameaca-ir-a-cupula-das-americas-mesmo-desconvidado.shtml
Peru, que sedia encontro, afirma que venezuelano não pode entrar sem convite
15.fev.2018 às 18h29
CARACAS e LIMA
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou nesta quinta-feira (15) que irá à Cúpula das Américas em Lima, no Peru, em abril, mesmo tendo sido 'desconvidado' pelo anfitrião.
"Eles estão com medo de mim? Não querem me ver em Lima? Pois me verão; mesmo que chova, troveje ou relampeie, chegarei à Cúpula das Américas por ar, terra ou mar, com a verdade", afirmou Maduro em coletiva em Caracas.
"Um chefe de Estado não chega a um país sem convite, então ele [Maduro] não pode pisar solo peruano sem um convite", respondeu a chefe de gabinete do governo peruano, Mercedes Aráoz.
"É uma atitude agressiva. Nem o solo peruano, nem o mar peruano, nem o ar peruano pode ser invadido por uma força estrangeira", acrescentou.
Na última terça (13), após reunião entre os 14 chanceleres do Grupo de Lima, o Peru anunciou que a presença de Maduro no encontro "já não era bem-vinda". O anúncio ocorreu após decisão de Maduro de antecipar as eleições presidenciais para 22 de abril, sem acordo com a oposição.
Segundo Aráoz, a decisão de retirar o convite foi "compartilhada pelo Grupo de Lima e é uma política de Estado".
A declaração final do grupo pediu que Venezuela "reconsidere a convocação de novas eleições presidenciais e apresente um novo calendário eleitoral".
"Não pode haver eleições livres e justas sem a plena participação dos partidos políticos e [com] os líderes detidos ou incapacitados arbitrariamente, com uma autoridade eleitoral sob controle do governo, sem a participação de milhares de venezuelanos no exterior, impossibilitados de votar", segundo a declaração conjunta.
Maduro afirmou que, apesar do "desconvite", ele recebeu uma carta do presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, no dia seguinte, convidando-o para a cúpula, nos dias 13 e 14 de abril.
Ele insistiu em que a eleição presidencial, na qual disputará a reeleição, irá adiante como planejado.
"Na Venezuela, venezuelanos estão no comando, não o Grupo de Lima, não Pedro Pablo Kuczynski, não [o presidente da Colômbia] Juan Manuel Santos," afirmou.
Segundo Maduro, o Grupo de Lima é composto pelos "mais impopulares governos do planeta". "Para mim é uma honra que a oligarquia da região faz o que faz contra nós", disse.
AFP
Peru, que sedia encontro, afirma que venezuelano não pode entrar sem convite
15.fev.2018 às 18h29
CARACAS e LIMA
O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou nesta quinta-feira (15) que irá à Cúpula das Américas em Lima, no Peru, em abril, mesmo tendo sido 'desconvidado' pelo anfitrião.
"Eles estão com medo de mim? Não querem me ver em Lima? Pois me verão; mesmo que chova, troveje ou relampeie, chegarei à Cúpula das Américas por ar, terra ou mar, com a verdade", afirmou Maduro em coletiva em Caracas.
"Um chefe de Estado não chega a um país sem convite, então ele [Maduro] não pode pisar solo peruano sem um convite", respondeu a chefe de gabinete do governo peruano, Mercedes Aráoz.
"É uma atitude agressiva. Nem o solo peruano, nem o mar peruano, nem o ar peruano pode ser invadido por uma força estrangeira", acrescentou.
Na última terça (13), após reunião entre os 14 chanceleres do Grupo de Lima, o Peru anunciou que a presença de Maduro no encontro "já não era bem-vinda". O anúncio ocorreu após decisão de Maduro de antecipar as eleições presidenciais para 22 de abril, sem acordo com a oposição.
Segundo Aráoz, a decisão de retirar o convite foi "compartilhada pelo Grupo de Lima e é uma política de Estado".
A declaração final do grupo pediu que Venezuela "reconsidere a convocação de novas eleições presidenciais e apresente um novo calendário eleitoral".
"Não pode haver eleições livres e justas sem a plena participação dos partidos políticos e [com] os líderes detidos ou incapacitados arbitrariamente, com uma autoridade eleitoral sob controle do governo, sem a participação de milhares de venezuelanos no exterior, impossibilitados de votar", segundo a declaração conjunta.
Maduro afirmou que, apesar do "desconvite", ele recebeu uma carta do presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, no dia seguinte, convidando-o para a cúpula, nos dias 13 e 14 de abril.
Ele insistiu em que a eleição presidencial, na qual disputará a reeleição, irá adiante como planejado.
"Na Venezuela, venezuelanos estão no comando, não o Grupo de Lima, não Pedro Pablo Kuczynski, não [o presidente da Colômbia] Juan Manuel Santos," afirmou.
Segundo Maduro, o Grupo de Lima é composto pelos "mais impopulares governos do planeta". "Para mim é uma honra que a oligarquia da região faz o que faz contra nós", disse.
AFP
Guinada de Trump afeta próximo presidente do Brasil
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/matiasspektor/2018/02/guinada-de-trump-afeta-proximo-presidente-do-brasil.shtml
Casa Branca pisou no acelerador na diplomacia para a América Latina
15.fev.2018 às 2h00
A política do governo Trump para a América Latina está em pleno movimento. Da renegociação do Nafta ao endurecimento com a Venezuela, a Casa Branca pisou no acelerador da diplomacia regional. Nos próximos nove meses, essa máquina ganhará velocidade e vida própria.
O motivo é fácil de entender: em novembro, o presidente americano enfrentará seu teste mais duro, pois o Partido Republicano disputará 435 vagas para deputado, 34 assentos no Senado, 39 governos Estaduais e uma porção de câmaras locais. O resultado da disputa definirá quão árduo será o resto do mandato presidencial e sinalizará quais as chances de Trump em uma eventual campanha pela reeleição.
Na prática, isso significa que boa parte da diplomacia latino-americana do governo Trump será feita em Estados como Flórida, Arizona e Texas, onde a diáspora latina tem presença eleitoral significativa. Entra aí boa parte da agenda em temas tais como segurança, narcotráfico, Cuba e Venezuela.
Outra parte da agenda será dominada pela necessidade que Trump tem de mobilizar o eleitor tradicional do Partido Democrata que, nas últimas eleições, virou a casaca para dar-lhe a vitória sobre Hillary Clinton. Entra aí a agenda de imigração, comércio, China e Nafta.
Para o Brasil, tais circunstâncias criam oportunidades que antes não existiam. A mais óbvia diz respeito à nova disposição americana de denunciar o aumento da presença chinesa na América Latina.
Os chineses representam o novo eixo de nossa dependência externa. Além da posição que ocupam na pauta de exportações e de investimentos, os chineses acabam de comprar um terço do setor elétrico brasileiro e prometem abocanhar parcelas significativas da geração elétrica futura.
A retórica e a realidade da competição entre Washington e Pequim na América Latina têm tudo para beneficiar o Brasil.
Só que a natureza do jogo também impõe novos riscos aos interesses brasileiros. O mais gritante refere-se à Venezuela. Como Washington fará diplomacia de olho na urna, suas chances de meter os pés pelas mãos são enormes, ao passo que nossa capacidade de conter desastres continua mínima.
Além disso, a nova diplomacia de Trump para a América Latina cria uma dinâmica competitiva entre os países da região: Juan Manuel Santos, da Colômbia, e Mauricio Macri, da Argentina, já se movem para tirar vantagem, atendendo demandas americanas em troca de recursos políticos.
Ocorre que essa dinâmica chega em um momento no qual o Brasil não consegue —devido às circunstâncias do governo Temer e ao calendário eleitoral— partir para cima.
O ônus e o bônus de um eventual ajuste diplomático ficarão para o próximo presidente brasileiro.
Matias Spektor
Ensina relações internacionais na FGV. Trabalhou para a ONU antes de completar o doutorado em Oxford.
Casa Branca pisou no acelerador na diplomacia para a América Latina
15.fev.2018 às 2h00
A política do governo Trump para a América Latina está em pleno movimento. Da renegociação do Nafta ao endurecimento com a Venezuela, a Casa Branca pisou no acelerador da diplomacia regional. Nos próximos nove meses, essa máquina ganhará velocidade e vida própria.
O motivo é fácil de entender: em novembro, o presidente americano enfrentará seu teste mais duro, pois o Partido Republicano disputará 435 vagas para deputado, 34 assentos no Senado, 39 governos Estaduais e uma porção de câmaras locais. O resultado da disputa definirá quão árduo será o resto do mandato presidencial e sinalizará quais as chances de Trump em uma eventual campanha pela reeleição.
Na prática, isso significa que boa parte da diplomacia latino-americana do governo Trump será feita em Estados como Flórida, Arizona e Texas, onde a diáspora latina tem presença eleitoral significativa. Entra aí boa parte da agenda em temas tais como segurança, narcotráfico, Cuba e Venezuela.
Outra parte da agenda será dominada pela necessidade que Trump tem de mobilizar o eleitor tradicional do Partido Democrata que, nas últimas eleições, virou a casaca para dar-lhe a vitória sobre Hillary Clinton. Entra aí a agenda de imigração, comércio, China e Nafta.
Para o Brasil, tais circunstâncias criam oportunidades que antes não existiam. A mais óbvia diz respeito à nova disposição americana de denunciar o aumento da presença chinesa na América Latina.
Os chineses representam o novo eixo de nossa dependência externa. Além da posição que ocupam na pauta de exportações e de investimentos, os chineses acabam de comprar um terço do setor elétrico brasileiro e prometem abocanhar parcelas significativas da geração elétrica futura.
A retórica e a realidade da competição entre Washington e Pequim na América Latina têm tudo para beneficiar o Brasil.
Só que a natureza do jogo também impõe novos riscos aos interesses brasileiros. O mais gritante refere-se à Venezuela. Como Washington fará diplomacia de olho na urna, suas chances de meter os pés pelas mãos são enormes, ao passo que nossa capacidade de conter desastres continua mínima.
Além disso, a nova diplomacia de Trump para a América Latina cria uma dinâmica competitiva entre os países da região: Juan Manuel Santos, da Colômbia, e Mauricio Macri, da Argentina, já se movem para tirar vantagem, atendendo demandas americanas em troca de recursos políticos.
Ocorre que essa dinâmica chega em um momento no qual o Brasil não consegue —devido às circunstâncias do governo Temer e ao calendário eleitoral— partir para cima.
O ônus e o bônus de um eventual ajuste diplomático ficarão para o próximo presidente brasileiro.
Matias Spektor
Ensina relações internacionais na FGV. Trabalhou para a ONU antes de completar o doutorado em Oxford.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
Zuma e a crônica de uma demissão anunciada
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/cronica-de-uma-demissao-anunciada.shtml
Presidente sul-africano antecipa ação de partido e sai pela porta pequena
14.fev.2018 às 19h30
Mathias Alencastro
Ao declinar a convocação oficial do seu próprio partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), para se demitir do cargo de presidente, Jacob Zuma optou por sair pela porta pequena. Sem outro recurso, o CNA ameaçou submeter um voto de desconfiança no Parlamento para destituir o presidente entrincheirado. Na calada da noite, ele preferiu antecipar o processo e anunciar a sua própria demissão.
Zuma chegou ao poder em 2009 com a promessa de reaproximar o governo das bases populares, desmobilizadas pela gestão competente, mas excessivamente tecnocrática, de Thabo Mbeki, o sucessor designado pelo fundador da África do Sul pós-apartheid, Nelson Mandela, em 1999.
Mas o Zuma exuberante e popular também tinha outra faceta. A de exímio homem de aparelho formado nos centros clandestinos do CNA, onde chegou a chefiar os serviços de espionagem nos tempos da guerrilha. Zuma desenvolveu um estilo de governar à sua imagem, baseado em manobras e sabotagens, e rapidamente se apropriou do estado e do partido.
A partir do seu segundo mandato, iniciado em 2014, as esferas publicas e privadas do poder se tornaram praticamente indissociáveis. Em troca de todo tipo de agrados, Zuma abriu as portas do estado a uma família de empresários. Num caso clássico de captura do Estado, os Gupta passaram a exercer influência ilimitada dentro do governo, indicando ministros, obtendo contratos sem licitação e alterando legislação essencial para os seus negócios.
Essa súbita e profunda involução de uma democracia tida como exemplar contribuiu para o apagamento da África do Sul a nível continental. O país perdeu o lugar de primeira potencia econômica para Nigéria, viu Ruanda e a Etiópia se tornarem nos novos meninos bonitos do mercado, e teve que aprender a conviver com as ambições regionais do petro-Estado de Angola. Em menos de uma década, a África do Sul passou de protagonista do renascimento africano a apenas mais um ator promissor e problemático.
Uma vez concluída a patética despedida de Zuma, que, quase como um símbolo, tem como última exigência que o estado continue a pagar os seus advogados depois de deixar o poder, o seu sucessor já designado, Cyril Ramaphosa, terá pela frente a tarefa colossal de re-dignificar o governo até as próximas eleições gerais de 2019, sob pena de ver o CNA perder a sua maioria histórica no Parlamento.
Eleito líder do CNA em Dezembro de 2017, Ramaphosa personifica a evolução do CNA desde Mandela. Fundador do braço sindical do partido, a poderosa Cosatu, e principal negociador do CNA durante a transição do apartheid, Ramaphosa também é um empresário milionário, que atuou, entre muitos outros cargos, como dirigente da empresa de mineração Lonmin, diretamente implicada no mais sinistro episódio da era pós-apartheid: o massacre de 17 grevistas na mina de Marikana.
Pela sua capacidade de navegar no partido e no mercado, Ramaphosa é visto como a liderança mais apta a reabilitar o CNA e, de quebra, o governo nacional. Assim, à semelhança de outros países da região, como Angola, Moçambique e Zimbabwe, a longa luta pela democratização na África do Sul continua passando pela difícil transição dos movimentos de libertação da era colonial a partidos democráticos na era pós-colonial.
Presidente sul-africano antecipa ação de partido e sai pela porta pequena
14.fev.2018 às 19h30
Mathias Alencastro
Ao declinar a convocação oficial do seu próprio partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), para se demitir do cargo de presidente, Jacob Zuma optou por sair pela porta pequena. Sem outro recurso, o CNA ameaçou submeter um voto de desconfiança no Parlamento para destituir o presidente entrincheirado. Na calada da noite, ele preferiu antecipar o processo e anunciar a sua própria demissão.
Zuma chegou ao poder em 2009 com a promessa de reaproximar o governo das bases populares, desmobilizadas pela gestão competente, mas excessivamente tecnocrática, de Thabo Mbeki, o sucessor designado pelo fundador da África do Sul pós-apartheid, Nelson Mandela, em 1999.
Mas o Zuma exuberante e popular também tinha outra faceta. A de exímio homem de aparelho formado nos centros clandestinos do CNA, onde chegou a chefiar os serviços de espionagem nos tempos da guerrilha. Zuma desenvolveu um estilo de governar à sua imagem, baseado em manobras e sabotagens, e rapidamente se apropriou do estado e do partido.
A partir do seu segundo mandato, iniciado em 2014, as esferas publicas e privadas do poder se tornaram praticamente indissociáveis. Em troca de todo tipo de agrados, Zuma abriu as portas do estado a uma família de empresários. Num caso clássico de captura do Estado, os Gupta passaram a exercer influência ilimitada dentro do governo, indicando ministros, obtendo contratos sem licitação e alterando legislação essencial para os seus negócios.
Essa súbita e profunda involução de uma democracia tida como exemplar contribuiu para o apagamento da África do Sul a nível continental. O país perdeu o lugar de primeira potencia econômica para Nigéria, viu Ruanda e a Etiópia se tornarem nos novos meninos bonitos do mercado, e teve que aprender a conviver com as ambições regionais do petro-Estado de Angola. Em menos de uma década, a África do Sul passou de protagonista do renascimento africano a apenas mais um ator promissor e problemático.
Uma vez concluída a patética despedida de Zuma, que, quase como um símbolo, tem como última exigência que o estado continue a pagar os seus advogados depois de deixar o poder, o seu sucessor já designado, Cyril Ramaphosa, terá pela frente a tarefa colossal de re-dignificar o governo até as próximas eleições gerais de 2019, sob pena de ver o CNA perder a sua maioria histórica no Parlamento.
Eleito líder do CNA em Dezembro de 2017, Ramaphosa personifica a evolução do CNA desde Mandela. Fundador do braço sindical do partido, a poderosa Cosatu, e principal negociador do CNA durante a transição do apartheid, Ramaphosa também é um empresário milionário, que atuou, entre muitos outros cargos, como dirigente da empresa de mineração Lonmin, diretamente implicada no mais sinistro episódio da era pós-apartheid: o massacre de 17 grevistas na mina de Marikana.
Pela sua capacidade de navegar no partido e no mercado, Ramaphosa é visto como a liderança mais apta a reabilitar o CNA e, de quebra, o governo nacional. Assim, à semelhança de outros países da região, como Angola, Moçambique e Zimbabwe, a longa luta pela democratização na África do Sul continua passando pela difícil transição dos movimentos de libertação da era colonial a partidos democráticos na era pós-colonial.
Venezuela é 'desconvidada' da Cúpula das Américas em abril
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/venezuela-e-desconvidada-da-cupula-das-america-em-abril.shtml
Peru, que sediará encontro, diz que Nicolás Maduro 'já não será bem-vindo'
14.fev.2018 às 0h17
Atualizado: 14.fev.2018 às 15h16
SÃO PAULO
A presença do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na próxima Cúpula das Americas 'não será bem-vinda', anunciou nesta terça-feira (13) a chanceler peruana, Cayetana Aljovín, após reunião do Grupo de Lima sobre a convocação das eleições antecipadas pelo regime chavista. O encontro será nos dias 13 e 14 de abril, no Peru.
"Dada a atual situação na Venezuela, o Peru decidiu expressar com respeito ao convite ao presidente Nicolás Maduro à 8ª Cúpula das Américas, em Lima, que sua presença já não será bem-vinda no dito encontro", disse Aljovín.
Maduro anunciou que tentará a reeleição nas eleições de 22 de abril, convocadas após o fracasso de uma negociação entre seu governo e a oposição para acordar as condições do processo eleitoral. Os países da região em peso criticaram a convocação. A oposição venezuelana, agrupada na Mesa da Unidade Democrática (MUD), ainda não decidiu se participará das eleições.
Chanceleres dos 14 países do Grupo de Lima reunidos em Lima pediram que o governo da Venezuela "reconsidere a convocação de novas eleições presidenciais e apresente um novo calendário eleitoral".
"Não podem haver eleições livres e justas sem a plena participação dos partidos políticos e [com] os líderes detidos ou incapacitados arbitrariamente, com uma autoridade eleitoral sob controle do governo, sem a participação de milhares de venezuelanos no exterior, impossibilitados de votar", segundo a declaração conjunta lida por Aljovín.
A declaração ocorre cerca de dez dias após tour do secretário de Estado do EUA, Rex Tillerson, à América Latina. Um dos assuntos tratados pelo chefe da diplomacia americana com alguns dos chefes de Estado visitados foi justamente a Venezuela.
Na Argentina, Tillerson defendeu uma solução rápida para a crise venezuelana que, segundo ele, estava "se transformando em algo cada vez mais obscuro". Antes, ele havia sugerido a possibilidade de um golpe militar para acelerar uma "mudança de regime" no país caribenho.
DETERIORAÇÃO
O comunicado do Grupo de Lima citou ainda relatório divulgado na véspera pela Comissão Intermericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da OEA, que documenta "a séria deterioração da vigência dos direitos humanos e da grave crise política, econômica e social que atravessa a Venezuela".
Diante da "crescente deterioração da situação humanitária no país", o comunicado pede ainda ao governo Maduro que "permita sem demora a abertura de um corredor humanitário que ajude a mitigar os efeitos do desabastecimento de alimentos e medicamentos".
Além disso," diante do incremento do êxodo de milhares de venezuelanos que fogem da grave crise que se vive nesse país", os 14 países concordaram em "coordenar esforços para afrontar de maneira ordenada, solidária e segura essa difícil situação". Brasil e Colômbia são dois dos principais destinatários desse êxodo. Apenas na capital de Roraima, Boa Vista, estima-se a presença de 40 mil venezuelanos.
Peru, que sediará encontro, diz que Nicolás Maduro 'já não será bem-vindo'
14.fev.2018 às 0h17
Atualizado: 14.fev.2018 às 15h16
SÃO PAULO
A presença do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na próxima Cúpula das Americas 'não será bem-vinda', anunciou nesta terça-feira (13) a chanceler peruana, Cayetana Aljovín, após reunião do Grupo de Lima sobre a convocação das eleições antecipadas pelo regime chavista. O encontro será nos dias 13 e 14 de abril, no Peru.
"Dada a atual situação na Venezuela, o Peru decidiu expressar com respeito ao convite ao presidente Nicolás Maduro à 8ª Cúpula das Américas, em Lima, que sua presença já não será bem-vinda no dito encontro", disse Aljovín.
Maduro anunciou que tentará a reeleição nas eleições de 22 de abril, convocadas após o fracasso de uma negociação entre seu governo e a oposição para acordar as condições do processo eleitoral. Os países da região em peso criticaram a convocação. A oposição venezuelana, agrupada na Mesa da Unidade Democrática (MUD), ainda não decidiu se participará das eleições.
Chanceleres dos 14 países do Grupo de Lima reunidos em Lima pediram que o governo da Venezuela "reconsidere a convocação de novas eleições presidenciais e apresente um novo calendário eleitoral".
"Não podem haver eleições livres e justas sem a plena participação dos partidos políticos e [com] os líderes detidos ou incapacitados arbitrariamente, com uma autoridade eleitoral sob controle do governo, sem a participação de milhares de venezuelanos no exterior, impossibilitados de votar", segundo a declaração conjunta lida por Aljovín.
A declaração ocorre cerca de dez dias após tour do secretário de Estado do EUA, Rex Tillerson, à América Latina. Um dos assuntos tratados pelo chefe da diplomacia americana com alguns dos chefes de Estado visitados foi justamente a Venezuela.
Na Argentina, Tillerson defendeu uma solução rápida para a crise venezuelana que, segundo ele, estava "se transformando em algo cada vez mais obscuro". Antes, ele havia sugerido a possibilidade de um golpe militar para acelerar uma "mudança de regime" no país caribenho.
DETERIORAÇÃO
O comunicado do Grupo de Lima citou ainda relatório divulgado na véspera pela Comissão Intermericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da OEA, que documenta "a séria deterioração da vigência dos direitos humanos e da grave crise política, econômica e social que atravessa a Venezuela".
Diante da "crescente deterioração da situação humanitária no país", o comunicado pede ainda ao governo Maduro que "permita sem demora a abertura de um corredor humanitário que ajude a mitigar os efeitos do desabastecimento de alimentos e medicamentos".
Além disso," diante do incremento do êxodo de milhares de venezuelanos que fogem da grave crise que se vive nesse país", os 14 países concordaram em "coordenar esforços para afrontar de maneira ordenada, solidária e segura essa difícil situação". Brasil e Colômbia são dois dos principais destinatários desse êxodo. Apenas na capital de Roraima, Boa Vista, estima-se a presença de 40 mil venezuelanos.
Venezuela definha, Brasil anuncia força-tarefa
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/2018/02/venezuela-definha-brasil-anuncia-forca-tarefa.shtml
Michel Temer quer distribuir venezuelanos por outros Estados
14.fev.2018 às 2h00
Os venezuelanos estão passando fome. Não é força de expressão. Cerca de 73% dos venezuelanos perderam peso em 2016. Eles emagreceram em média 8,7 quilos no ano, segundo pesquisa citada em relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Diante dessa catástrofe humanitária no país vizinho, o que faz o governo brasileiro? Anuncia uma força-tarefa.
Em visita a Roraima, que já recebeu mais de 40 mil venezuelanos, o presidente Michel Temer teve a fineza de não ceder a apelos populistas de gente como o senador Romero Jucá, que quer "estancar a sangria" de migrantes entrando no país.
"Não podemos deixar de receber os refugiados que vêm para cá em situação de miserabilidade absoluta", disse Temer.
O presidente anunciou que irá mandar venezuelanos para outros Estados da Federação onde há demanda por mão de obra, porque Boa Vista está sobrecarregada. O processo deve começar em breve, mas os Estados selecionados para receber os migrantes —São Paulo, Paraná, Amazonas e Mato Grosso do Sul— pouco sabem sobre isso. É preciso evitar a repetição das cenas lamentáveis de 2014, quando o governo do Acre embarcou milhares de imigrantes haitianos em ônibus, muitas vezes não voluntariamente, e os despachou para o sul do país, sem aviso prévio.
Temer não falou sobre o acúmulo de pedidos de refúgio de venezuelanos —foram protocolados 17.130 só em 2017, mas o Conare ainda não concedeu nenhum. Segundo João Akira Omoto, procurador do Ministério Público Federal, mantido o ritmo atual, o órgão levaria mais de 12 anos para julgar os pedidos só dos venezuelanos.
Os migrantes têm a opção de pedir autorização de residência pelo acordo expandido do Mercosul. Mas muitos não conseguem, por causa da exigência de apresentação de documentos em que conste sua filiação, que não possuem.
Na discussão em Boa Vista, predominou a visão dos imigrantes como caso de polícia. A governadora Suely Campos pediu atuação do Exército no policiamento, afirmando existir "conexão com o crime organizado comandado por venezuelanos", e exigiu controle na entrada dos migrantes.
O presidente anunciou que vai dobrar o efetivo do Exército na fronteira e construir um hospital de campanha. Espera-se que a inspiração não seja a Colômbia, onde recentemente foi restrita a entrada dos venezuelanos, que agora se acumulam, famélicos, na fronteira.
Em Boa Vista, Temer não visitou abrigos de refugiados e não foi à praça onde vive parte dos venezuelanos.
Talvez se tivesse visto o estado do abrigo em Tancredo Neves, onde vivem centenas de venezuelanos em condições insalubres, teria colocado mais urgência e substância na tal força-tarefa.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
Michel Temer quer distribuir venezuelanos por outros Estados
14.fev.2018 às 2h00
Os venezuelanos estão passando fome. Não é força de expressão. Cerca de 73% dos venezuelanos perderam peso em 2016. Eles emagreceram em média 8,7 quilos no ano, segundo pesquisa citada em relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Diante dessa catástrofe humanitária no país vizinho, o que faz o governo brasileiro? Anuncia uma força-tarefa.
Em visita a Roraima, que já recebeu mais de 40 mil venezuelanos, o presidente Michel Temer teve a fineza de não ceder a apelos populistas de gente como o senador Romero Jucá, que quer "estancar a sangria" de migrantes entrando no país.
"Não podemos deixar de receber os refugiados que vêm para cá em situação de miserabilidade absoluta", disse Temer.
O presidente anunciou que irá mandar venezuelanos para outros Estados da Federação onde há demanda por mão de obra, porque Boa Vista está sobrecarregada. O processo deve começar em breve, mas os Estados selecionados para receber os migrantes —São Paulo, Paraná, Amazonas e Mato Grosso do Sul— pouco sabem sobre isso. É preciso evitar a repetição das cenas lamentáveis de 2014, quando o governo do Acre embarcou milhares de imigrantes haitianos em ônibus, muitas vezes não voluntariamente, e os despachou para o sul do país, sem aviso prévio.
Temer não falou sobre o acúmulo de pedidos de refúgio de venezuelanos —foram protocolados 17.130 só em 2017, mas o Conare ainda não concedeu nenhum. Segundo João Akira Omoto, procurador do Ministério Público Federal, mantido o ritmo atual, o órgão levaria mais de 12 anos para julgar os pedidos só dos venezuelanos.
Os migrantes têm a opção de pedir autorização de residência pelo acordo expandido do Mercosul. Mas muitos não conseguem, por causa da exigência de apresentação de documentos em que conste sua filiação, que não possuem.
Na discussão em Boa Vista, predominou a visão dos imigrantes como caso de polícia. A governadora Suely Campos pediu atuação do Exército no policiamento, afirmando existir "conexão com o crime organizado comandado por venezuelanos", e exigiu controle na entrada dos migrantes.
O presidente anunciou que vai dobrar o efetivo do Exército na fronteira e construir um hospital de campanha. Espera-se que a inspiração não seja a Colômbia, onde recentemente foi restrita a entrada dos venezuelanos, que agora se acumulam, famélicos, na fronteira.
Em Boa Vista, Temer não visitou abrigos de refugiados e não foi à praça onde vive parte dos venezuelanos.
Talvez se tivesse visto o estado do abrigo em Tancredo Neves, onde vivem centenas de venezuelanos em condições insalubres, teria colocado mais urgência e substância na tal força-tarefa.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
Procurador fala de suposto plano colombiano de invadir a Venezuela
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/02/procurador-fala-de-suposto-plano-colombiano-de-invadir-a-venezuela.shtml
Tarek Saab alertou para possibilidade de bombardeio militar com apoio dos EUA
13.fev.2018 às 11h49
CARACAS
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, alertou nesta segunda-feira (12) para supostos planos de invasão de seu país pela vizinha Colômbia, com participação dos Estados Unidos.
"Da Colômbia, assim denuncio (...), estão planejando nada mais, nada menos (...) que um bombardeio militar, uma invasão militar, ocupação a sangue e fogo de um país pacífico como a Venezuela", afirmou em discurso transmitido pela televisão estatal VTV.
"Aqui vamos combater e vamos resistir. Não temos medo!", disse, sem dar detalhes.
EUA E COLÔMBIA
No domingo, a Colômbia informou que contatou organismos multilaterais de empréstimos sobre a elaboração de um plano de US$ 60 bilhões para resgate financeiro da Venezuela caso o ditador Nicolás Maduro deixe o poder.
"O que acontece quando Maduro cair? Não devemos improvisar. Deve haver um plano porque a Venezuela vai precisar de resgate financeiro", disse o ministro colombiano das Finanças, Mauricio Cardenas.
Segundo ele, funcionários do FMI, do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento estão apenas começando a entender o impacto do êxodo de venezuelanos para a região.
Na semana passada, durante uma viagem pela América Latina, o chefe da diplomacia americana, Rex Tillerson, apontou a possibilidade de aplicar sanções às exportações de petróleo da Venezuela, fonte de 96% de sua renda. Se reuniu em Bogotá com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
"A situação na Venezuela piora. Um dos aspectos a levar em conta em caso de adotar sanções petroleiras são os efeitos que teria na população e se esse seria um passo que ajudaria a chegar ao final, a acelerar o fim", disse Tillerson.
A administração de Donald Trump tomou medidas financeiras contra o país, proibindo cidadãos e empresas americanas a negociar a dívida emitida pelo governo e sua estatal petroleira Pdvsa.
Anteriormente, Washington havia estabelecido sanções individuais contra o presidente Nicolás Maduro e outros funcionários de alto escalão, acusando-os de quebrar a ordem democrática e violar os direitos humanos.
Saab recordou a advertência de agosto do ano passado feita por Trump sobre uma "possível opção militar" frente à grave crise política e socioeconômica venezuelana caso fosse "necessário".
As tensões se agravaram com o adiantamento das eleições presidenciais para 22 de abril, depois do fracasso das negociações na República Dominicana entre o governo e a oposição para acordar a data e as condições das eleições.
A oposição, que acusa o poder eleitoral de servir a Maduro, não decidiu se participará do processo no qual o presidente aspira a ser reeleito.
Após seu encontro com Tillerson, Santos afirmou que os resultados das votações "não teriam validade" para seu governo por considerar que "não dão nenhuma garantia".
AFP
Tarek Saab alertou para possibilidade de bombardeio militar com apoio dos EUA
13.fev.2018 às 11h49
CARACAS
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, alertou nesta segunda-feira (12) para supostos planos de invasão de seu país pela vizinha Colômbia, com participação dos Estados Unidos.
"Da Colômbia, assim denuncio (...), estão planejando nada mais, nada menos (...) que um bombardeio militar, uma invasão militar, ocupação a sangue e fogo de um país pacífico como a Venezuela", afirmou em discurso transmitido pela televisão estatal VTV.
"Aqui vamos combater e vamos resistir. Não temos medo!", disse, sem dar detalhes.
EUA E COLÔMBIA
No domingo, a Colômbia informou que contatou organismos multilaterais de empréstimos sobre a elaboração de um plano de US$ 60 bilhões para resgate financeiro da Venezuela caso o ditador Nicolás Maduro deixe o poder.
"O que acontece quando Maduro cair? Não devemos improvisar. Deve haver um plano porque a Venezuela vai precisar de resgate financeiro", disse o ministro colombiano das Finanças, Mauricio Cardenas.
Segundo ele, funcionários do FMI, do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento estão apenas começando a entender o impacto do êxodo de venezuelanos para a região.
Na semana passada, durante uma viagem pela América Latina, o chefe da diplomacia americana, Rex Tillerson, apontou a possibilidade de aplicar sanções às exportações de petróleo da Venezuela, fonte de 96% de sua renda. Se reuniu em Bogotá com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
"A situação na Venezuela piora. Um dos aspectos a levar em conta em caso de adotar sanções petroleiras são os efeitos que teria na população e se esse seria um passo que ajudaria a chegar ao final, a acelerar o fim", disse Tillerson.
A administração de Donald Trump tomou medidas financeiras contra o país, proibindo cidadãos e empresas americanas a negociar a dívida emitida pelo governo e sua estatal petroleira Pdvsa.
Anteriormente, Washington havia estabelecido sanções individuais contra o presidente Nicolás Maduro e outros funcionários de alto escalão, acusando-os de quebrar a ordem democrática e violar os direitos humanos.
Saab recordou a advertência de agosto do ano passado feita por Trump sobre uma "possível opção militar" frente à grave crise política e socioeconômica venezuelana caso fosse "necessário".
As tensões se agravaram com o adiantamento das eleições presidenciais para 22 de abril, depois do fracasso das negociações na República Dominicana entre o governo e a oposição para acordar a data e as condições das eleições.
A oposição, que acusa o poder eleitoral de servir a Maduro, não decidiu se participará do processo no qual o presidente aspira a ser reeleito.
Após seu encontro com Tillerson, Santos afirmou que os resultados das votações "não teriam validade" para seu governo por considerar que "não dão nenhuma garantia".
AFP
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