Professor Fábio Adorno
Blog focado em Geografia e em fatos e notícias contemporâneas, que compõem as Atualidades.
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
domingo, 12 de agosto de 2018
Como outrora
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2018/08/como-outrora.shtml
Secretário de Defesa dos EUA vem acelerar acordos de ajuda
militar na região
12.ago.2018 às 2h00
A regressão se dá em mais vias do que vemos na política e em
outras paisagens do dia a dia brasileiro. Uma das vias não observadas tem hoje
um dia marcante, com a chegada do secretário de Defesa dos Estados Unidos ao
Brasil, sua parada inicial na América do Sul. O general James Mattis vem
acelerar o empenho americano de restabelecer os acordos "de cooperação
militar" com países da região.
O Acordo Militar Brasil-Estados Unidos foi extinto pelo
governo Geisel, em represália a atitudes do governo Jimmy Carter contra as
práticas de violência da ditadura. Em parte, Geisel aproveitava a ocasião para
encerrar uma presença de militares americanos que começava a ser perigosa para
o regime. Os militares da "missão militar americana" estavam nas
principais unidades do Exército, para uma assistência que nunca se limitou a
questões técnicas.
Os assistentes do acordo tiveram papel importante, de fato,
como doutrinadores políticos. Desde seus primeiros anos nos quartéis
brasileiros, colaboraram para reverter o nacionalismo difundido entre os
militares a partir da "batalha do petróleo", nos primeiros anos 1950,
com a decorrente criação da Petrobras.
Na mesma trilha, sua encoberta doutrinação contribuiu para a
formação, nas casernas, do movimento contra Getúlio e seu desenvolvimentismo. A
abundância atual de documentos oficiais americanos reduz ao ridículo os que
negavam a ação de americanos no preparo e na execução do golpe de 1964.
Por diferentes motivos, os acordos "de cooperação"
se extinguiram na América Latina, passada a série de golpes. A degradação e
depois o fim da União Soviética relaxaram a vigilância ativa dos Estados Unidos
na região. Até verem, já atrasados, que a China se reinventou mais uma vez.
Com Lula, o governo Obama tanto propôs a reassociação como a
encerrou em um curto-circuito inexplicado. Com Dilma, vigente ainda o
mal-estar, o governo Obama foi desmascarado em escutas clandestinas das
comunicações da presidente, espionagem cuja motivação também não foi
esclarecida. Com Temer, as portas se abriram.
Os americanos querem o controle da base de lançamento de
foguetes em Alcântara, Maranhão. As conversas a respeito, entre os dois governos,
estão adiantadas. O mesmo a respeito de maior oferta do pré-sal a empresas
privadas. Além disso, o governo Temer estuda a derrubada das restrições à
venda, pela Petrobras, de parte das suas áreas no pré-sal.
A cessão da Embraer à entrada dominante da Boeing, empresa
sob influência da Secretaria da Defesa, é outro item da reaproximação em
andamento. E, com a vinda do general Mattis, iniciam-se os entendimentos para
um plano de segurança regional, aproveitando a oportunidade implícita nos
atuais governantes de Brasil, Argentina, Colômbia e Chile, países a receberem o
secretário.
O Equador de Lenín Moreno, eleito pela esquerda e presidente
de direita, já fez com o governo Trump o acordo formulado pelo Pentágono, para
reativar a "cooperação militar" prevista no plano de segurança.
Contra que ameaças aos países procurados, isso os militares
sul-americanos vão aprender nos cursos em bases americanas, como outrora era
feito na "Escola das Américas" no Panamá, e na "assistência
técnica" em seus próprios quartéis, também como outrora.
Janio de Freitas
Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha.
General Mourão, vice de Bolsonaro, mostra ignorância sobre índios e africanos
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldojoselopes/2018/08/general-mourao-vice-de-bolsonaro-mostra-ignorancia-sobre-indios-e-africanos.shtml
Militar da reserva relacionou os amplos grupos étnicos à
indolência e malandragem
12.ago.2018 às 2h00
O general da reserva Antonio Hamilton Mourão (PRTB) iniciou
sua campanha de candidato a vice-presidente da República fazendo um diagnóstico
das mazelas hereditárias do Brasil que parece ter sido copiado de algum manual
de sociologia dos anos 1930.
“Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura
indígena”, pontificou ele em uma visita ao município de Caxias do Sul, no Rio
Grande do Sul, ressaltando as próprias origens ameríndias —“Meu pai é
amazonense”.
Completou o raciocínio dizendo que “a malandragem é oriunda
do africano”.
Quando fiquei sabendo da fala de Mourão, um texto curioso,
escrito em 1723 por outro sujeito chamado Antonio (Pires de Campos, no caso),
veio-me à cabeça. Ei-lo:
“Vivem de suas lavouras, no que são incansáveis, e as
lavouras em que mais se fundam são mandiocas, algum milho e feijão, batatas,
muitos ananases, e singulares em admirável ordem plantados (…) muito asseados e
perfeitos em tudo que até as suas estradas fazem muito direitas e largas, e as
conservam tão limpas e consertadas que se lhe não achará nem uma folha.”
Essa cena de produtividade e asseio quase germânicos não foi
vista na Baviera, mas...entre índios da fronteira sul da Amazônia, em Mato
Grosso, no lugar que Pires de Campos apelidava de “Reino dos Parecis”.
Cadê a indolência?
A arqueologia, aliás, tem mostrado que essa cena pode ter
sido a regra, e não a exceção, antes que o futuro Brasil fosse conquistado
pelos lusos.
A atual Rondônia, por exemplo, tem se revelado um dos
principais berços da agricultura nas Américas (o cultivo de plantas pode ter
começado ali há uns 9.000 anos).
Outros povos construíram os grandes monumentos funerários
conhecidos como sambaquis no litoral; e grandes aldeias fortificadas, com
densas redes de estradas, cortavam regiões amazônicas hoje consideradas
“virgens”.
Falemos, então, da malandragem africana. Seria a malandragem
que levou guerreiros negros do atual Sudão a conquistar todo o orgulhoso Egito
dos faraós por volta de 700 a.C.?
Ou foi graças à malemolência que o povo shona, na Idade
Média, construiu a poderosa cidade de pedra do Grande Zimbábue, com tamanho e
complexidade que nada deviam às maiores cidades europeias medievais?
Tudo isso, é claro, para não mencionarmos outra questão
crucial: de quais índios ele está falando? (Ainda sobraram 150 línguas
indígenas no Brasil, mais diferentes entre si do que o árabe difere do chinês.)
De quais africanos? (Há mais de mil línguas na África
moderna.) Do ponto de vista cultural, é tudo a mesma coisa? (Não, nem de
longe.)
Para ser justo com o general, ele argumentou ainda que “a
herança do privilégio é uma herança ibérica”, e isso logo no começo de sua
fala. Em outras palavras, a culpa também seria dos portugueses folgados que
pariram nossa nação.
Ocorre, porém, que culturas humanas têm uma plasticidade
admirável —do contrário, dinamarqueses e noruegueses ainda estariam enforcando
criminosos em honra de Odin e saqueando monastérios na Irlanda, enquanto
Portugal e Espanha não teriam conseguido entrar (meio claudicantes, é verdade)
no rol das nações desenvolvidas.
Mudanças culturais como essas acontecem com base em
incentivos e oportunidades.
Em vez de papagaiar essencialismo étnico, o general e seu
mítico companheiro de chapa poderiam gastar um pouco mais de tempo pensando em
como fomentar esses fatores de mudança.
Reinaldo José Lopes
Jornalista especializado em biologia e arqueologia, autor de
"1499: O Brasil Antes de Cabral".
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