domingo, 30 de abril de 2017

Chimpanzés aprendem e transmitem cultura, e mães são essenciais para isso

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/04/1879259-chimpanzes-sao-capazes-de-aprender-e-transmitir-cultura-diz-estudo.shtml

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

27/04/2017  18h19

Animais também têm uma forma de "cultura". Vários deles aprendem a usar ferramentas e passam a técnica para os colegas. Um novo estudo sobre uma ferramenta adquirida recentemente por chimpanzés –usar musgo como uma esponja para beber água em vez de usar folhas– demonstrou agora o papel fundamental que as mães têm no aprendizado da prole.

Foi graças ao ensinamento das mães que a nova técnica, observada na natureza pela primeira vez em 2011, começou a se disseminar nos anos seguintes em um grupo de chimpanzés de Uganda.

A descoberta é da pesquisadora Noemie Lamon, da Universidade de Neuchâtel, Suíça, e da Estação de Conservação de Campo de Budongo, Uganda, e de mais três colegas. A pesquisa foi publicada na última edição da revista científica americana "Science Advances".

A técnica foi primeiro observada no macho alfa do grupo em novembro de 2011 e a princípio se disseminou por uma rede social de animais próximos a ele. Mas o estudo do mesmo grupo em 2014 revelou que a técnica tinha se espalhado, e os pesquisadores atribuem isso ao papel das mães.

"A pesquisa atual sobre a cultura animal tem focado fortemente na catalogação da diversidade de comportamentos socialmente transmitidos e nos mecanismos sociais de aprendizagem que sustentam sua disseminação. Comparativamente, sabe-se menos sobre a persistência do comportamento cultural após a inovação em grupos de animais selvagens", escreveram os autores.

A equipe, que incluiu cientistas da Suíça e Reino Unido, diz acreditar que essas descobertas podem ter implicações para a evolução da transmissão cultural nos seres humanos, apesar da sua complexidade cada vez maior.

"A cultura humana atingiu tal complexidade, especialmente devido à nossa capacidade de acumulação de mudanças ao longo do tempo, que temos de aprender parte dela fora do núcleo familiar –em escolas e instituições–, como tecnologia, linguagem, convenções. No entanto, minhas descobertas podem lançar luz sobre os padrões de transmissão dos primeiros seres humanos, usando lascas de pedra, por exemplo, e pode ajudar a compreender a transmissão cultural humana precoce", disse Lamon em entrevista à Folha.

A equipe não se limitou a observar, mas construiu um experimento para tentar entender o fenômeno do uso de musgo como ferramenta para extrair água rica em minerais de um poço de argila. O grupo de chimpanzés tem hoje cerca de 70 indivíduos.

O estudo no campo costuma ser feito por um método chamado de "exclusão"; mas a equipe agiu de outro modo.

"O método de exclusão consiste primeiro em encontrar um padrão comportamental –no nosso caso, o musgo usado como esponja–, que está presente em um grupo de animais –no nosso caso em uma comunidade de chimpanzés–, mas ausente em outro grupo da mesma espécie", afirma a cientista.

"Se a diferença, que significa a ausência em um grupo e a presença em outro grupo, com relação a esse padrão comportamental não pode ser explicada por fatores ecológicos ou genéticos, então tem que ser cultural", diz ela. "Mas para que um comportamento seja cultural, ele também tem que ser transmitido socialmente. O problema é que esse método de exclusão não pode provar que um comportamento é aprendido socialmente."

Em vez disso, a equipe usou um experimento e um modelo estatístico que permitiram provar que uso do musgo é transmitido socialmente por via "matrilinear" –as fêmeas passam o comportamento aos filhotes.

O poço de argila consiste em dois buracos de água no fundo na parte inferior de duas árvores. As cavidades foram preenchidas com água da chuva enriquecida com minerais dissolvidos a partir de uma alta concentração de argila no solo. Os cachos de musgo (da espécie Orthostichella welwitschii) foram coletados em áreas de pântano dentro da área natural dos chimpanzés e pendurados em árvores ao redor do poço. Não foram fornecidas folhas porque o local está localizado em uma área densa em árvores, com uma grande variedade delas regularmente usadas pelos chimpanzés para fabricar as "esponjas de folha".

Em 2011 o uso de musgo só foi visto em oito indivíduos; em 2014 o número era de 17, embora a esponja de folha continuasse a ser a técnica predominante.

"O tempo pode realmente ser visto como lento, mas primeiro nós demonstramos que a transmissão não segue um padrão aleatório. Em segundo lugar, este comportamento, de uso de esponja de musgo é usado principalmente em poços de argila, que são raros na floresta", declara Lamon.

A técnica também só costuma ser usada durante as estações úmidas (um mês em torno de maio e de um a dois meses em torno de novembro), quando os poços são preenchidos com água da chuva, "o que reduz consideravelmente as ocasiões de novos indivíduos para aprenderem o comportamento".

Não foi feito nenhum teste para checar as qualidades nutricionais da água dos poços de argila; "o que nós testamos em um estudo subsequente, que deve ser publicado logo, é que as esponjas de musgo podem absorver mais água do que as de folhas e sua fabricação é mais rápida", afirma a pesquisadora da universidade suíça.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Projeto para privatização de Interlagos prevê prédio residencial no autódromo

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/04/1878303-projeto-para-privatizacao-de-interlagos-preve-predio-residencial-no-autodromo.shtml

*** Exatamente como falei que iria acontecer... rsrs ***

DE SÃO PAULO

25/04/2017  02h00

A empresa que adquirir o autódromo de Interlagos poderá erguer prédios dentro do complexo. A autorização constará do projeto de privatização que deverá ser enviado em maio à Câmara Municipal pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).

A prefeitura decidiu liberar empreendimentos imobiliários em Interlagos porque concluiu que o autódromo, por si só, tem baixíssima viabilidade econômica -dificilmente seria vendido sem algum tipo de benefício extra.

Interlagos tem um alto custo de manutenção. São cerca de R$ 7 milhões por ano. Além disso, periodicamente, precisa passar por obras para se adequar às exigências da Fórmula 1. A última grande reforma custou cerca de R$ 160 milhões à prefeitura.

Com a privatização, todos esses custos passarão a ser de responsabilidade da empresa compradora, que poderá utilizar os novos empreendimentos para se rentabilizar.

Interlagos tem cerca de 1 milhão de m², dos quais cerca de 300 mil m², segundo estimativa de técnicos da prefeitura, estarão disponíveis para as novas construções.

A prefeitura entende que, preservada a pista e o parque existente (de acesso gratuito para a população), a área pode ser utilizada para a construção de imóveis residenciais, de um shopping center, de um hotel, de restaurantes com vista panorâmica e de um museu automobilístico.

Não está claro ainda se o kartódromo, situado ao lado do circuito oficial, terá de ser mantido também. Embora Doria tenha dito que pretende preservá-lo, vereadores dizem considerar que o espaço será necessário para viabilizar a privatização. Inaugurado em 1970, o equipamento foi batizado em 1996 de Kartódromo Ayrton Senna.

OPERAÇÃO URBANA

Para tornar a alienação do autódromo atraente, a prefeitura está disposta, inclusive, a alterar a legislação urbanística da região.

A ideia é liberar a construção de grandes torres no bairro, com até oito vezes a área do lote. Hoje, na cidade de São Paulo, o máximo permitido são quatro vezes.

Se o projeto for levado adiante, Interlagos, onde hoje predominam casas e prédios de baixa altura, poderá ter nos próximos anos espigões com mais de 45 andares –apenas uma pequena área estritamente residencial não seria atingida pela medida.

A alteração dependerá da aprovação na Câmara de São Paulo da chamada Operação Urbana Jurubatuba, ainda em fase de elaboração.

Em linhas gerais, trata-se de um mecanismo legal por meio do qual, mediante contrapartida financeira, os interessados ficam autorizados a construir edifícios maiores do que o estabelecido pela lei de uso e ocupação do solo.

Vereadores estimam que a venda do autódromo, somada à verba obtida pela prefeitura com os Cepacs (certificados de construção, nome técnico dado às contrapartidas), poderá dobrar o valor arrecadado com o negócio.

Tudo o que vier a ser arrecadado com os Cepacs, pela lei, teria de ser investido em melhorias na própria região, incluindo o prolongamento da marginal Pinheiros até as cercanias do autódromo.

A expectativa da base governista é aprovar a operação urbana até o final do ano.

77 ANOS

O autódromo de Interlagos foi construído em 1938 pela empresa Aesa, mas a inauguração ocorreu apenas em 12 de maio de 1940. A pista original tinha 7.960 metros, hoje são 4.309 metros.

O nome Interlagos é uma referência à região suíça de Interlaken, que significa "entre lagos", pois fica entre as represas Billings e Guarapiranga. Em 1985, o autódromo foi rebatizado para José Carlos Pace, em homenagem póstuma ao piloto.

A prefeitura comprou o complexo em 1950 por 23 cruzeiros o metros quadrado, valor bem abaixo do valor real avaliado à época (300 cruzeiros o metro quadrado).

Segundo a SPTuris (empresa municipal que administra o autódromo), a realização do Grande Prêmio de Fórmula 1 na cidade injeta atualmente cerca de R$ 260 milhões na economia local.
Os técnicos da administração municipal ainda não finalizaram os estudos para a avaliação do preço de venda do autódromo.

Em entrevista no começo do ano, Doria chegou a dizer que a cessão de Interlagos e do Anhembi juntos poderia render cerca de R$ 7 bilhões para a cidade, valor maior do que o previsto no Orçamento para investimento (obras novas) em 2017 (R$ 6,1 bilhão).

A privatização do autódromo, de qualquer modo, um dos 55 itens considerados como desestatizáveis pela gestão Doria, deve ocorrer somente no ano que vem, segundo a avaliação dos técnicos da prefeitura.

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Área total
1 milhão de m²

Custo de manutenção
R$ 7 milhões ao ano

AS OPÇÕES DE DORIA
A prefeitura quer privatizar a área. Há duas opções para tornar o negócio rentável:

1) Com espigões
Para ser mais atraente para investidores, Doria precisa enviar o projeto que cria a Operação Urbana Jurubatuba. Nesse caso, o limite de altura dos prédios seria de até oito vezes o tamanho do terreno
Contrapartida: Os investidores precisam pagar para construir mais. Os valores vão para um fundo que pode ser usado para investimentos na região

2) Com altura a definir
A prefeitura precisa fazer um projeto de intervenção urbana (PIU) por decreto (sem passar pela Câmara) para dar início ao plano de privatização. Nesse caso, o prefeito pode liberar, por exemplo, a construção de um complexo que colocaria o autódromo no meio de prédios residenciais, comerciais e hotéis. Porém, o limite de altura dependeria de estudo para definir a média da região
Contrapartida: A futura dona da área terá que pagar taxa para construir os prédios. Os valores poderiam ser revertidos em investimento para toda a cidade

Não dá mais para disfarçar danos causados por Google e Facebook Centro de Dados do Facebook

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/tec/2017/04/1878274-nao-da-mais-para-disfarcar-danos-causados-por-google-e-facebook.shtml

OPINIÃO

JONATHAN TAPLIN
ESPECIAL PARA O "NEW YORK TIMES"

25/04/2017  02h00

Em apenas dez anos, a lista das cinco maiores companhias mundiais pelo critério de capitalização de mercado mudou completamente, exceto por um nome: o da Microsoft. ExxonMobil, General Electric, Citigroup e Shell deram lugar a Apple, Alphabet (a controladora do Google), Amazon e Facebook.

São todas empresas de tecnologia, e cada qual domina seu canto do mercado. O Google tem 88% de participação no mercado de publicidade vinculada a buscas, o Facebook (e suas subsidiárias Instagram, WhatsApp e Messenger) detém 77% do tráfego nas redes sociais, e a Amazon controla 74% do mercado de livros eletrônicos. Em termos econômicos clássicos, as três empresas são monopólios.

Voltamos ao começo do século 20, quando argumentos sobre a "maldição da grandeza" eram defendidos por Louis Brandeis, assessor jurídico do presidente norte-americano Woodrow Wilson.

Ele queria eliminar os monopólios porque (segundo seu biógrafo, Martin Urofsky), "em uma sociedade democrática, a existência de grandes centros de poder privado é perigosa para a vitalidade continuada de um povo livre".

Basta olhar para a conduta dos grandes bancos na crise de 2008 e para o papel desempenhado pelo Facebook e Google no negócio de "notícias falsas" para sabermos que Brandeis estava certo.

Embora Brandeis costumasse defender o desmonte das empresas de porte muito grande, ele abria exceção para monopólios naturais, como os da telefonia e ferrovias, onde fazia sentido ter uma ou algumas poucas empresas no controle de um setor.

Teremos de decidir, em breve, se Google, Facebook e Amazon são a espécie de monopólio natural que precisa ser regulamentado ou se permitiremos que as coisas fiquem como estão, fingindo que eles não causam danos à nossa privacidade e à democracia.

É impossível negar que Facebook, Google e Amazon bloquearam a inovação em larga escala. Enquanto os lucros delas dispararam, o faturamento de negócios de mídia como jornais e música caíram em 70% de 2000 para cá. Mais de metade dos trabalhadores do setor de jornais foi demitida, entre 2001 e 2016.

Não são só os jornais que sofrem. Em 2015, dois assessores econômicos de Barack Obama, Peter Orszag e Jason Furman, publicaram estudo no qual argumentavam que a ascensão dos "retornos supranormais" sobre o capital, no caso de empresas que enfrentam concorrência limitada, estava levando a uma alta na desigualdade econômica.

Não tenho ilusões de que, dada a presença de magnatas libertários da tecnologia no círculo mais próximo de conselheiros do presidente Donald Trump, a regulamentação da internet possa vir a ser prioridade. É provável que tenhamos de esperar quatro anos e, quando o momento enfim chegar, é provável que os monopólios se tenham tornado tão dominantes que a única saída será dissolvê-los.

Wilson estava certo ao dizer, em 1913, que, "se o monopólio persistir, sempre estará no leme do governo".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

JONATHAN TAPLIN é diretor emérito do Annenberg Innovation Lab, na Universidade do Sul da Califórnia, e autor de "Move Fast and Break Things: How Google, Facebook and Amazon Cornered Culture and Undermined Democracy" [aja rápido e quebre coisas: como Google, Facebook e Amazon encurralaram a cultura e solaparam a democracia].

Servidores do Google começam a funcionar em Cuba

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/tec/2017/04/1879136-servidores-do-google-comecam-a-funcionar-em-cuba.shtml

DE SÃO PAULO

27/04/2017  15h02

A partir desta quarta-feira (26), a internet cubana conta com os servidores do Google, mais uma etapa da abertura econômica do país.

É a primeira vez que uma empresa de internet, que não seja a estatal Etecsa, opera em Cuba.

Em dezembro, o Google assinou um acordo com a estatal para melhorar a conexão local, hospedando conteúdo dentro do país. A tecnologia foi implementada agora.

Isso significa que os cubanos terão mais endereços de internet ancorados em seu país. É como se, antes, toda conexão tivesse que ser um bate e volta no exterior, o que tornava a navegação mais lenta.

O serviço não irá, por enquanto, aumentar o número de pessoas conectadas na ilha, que são menos de 2% da população, de acordo com a Open Net. O acesso ainda é feito por satélite (e não cabos subterrâneos) e, em todo o país, a velocidade de download é de apenas 124 Mb/s.

Além de poucos locais com conexão privada, é possível entrar na internet em hotéis, lanhouses, restaurantes ou em 240 locais públicos com Wi-Fi, a um custo de US$ 1,50 por hora, segundo a Associated Press.

A Etecsa planeja expandir a internet gratuitamente para 2.000 domicílios em 2017.

Humanos chegaram às Américas 100 mil anos antes do que se imaginava

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/04/1878740-cientistas-descobrem-vestigios-humanos-mais-antigos-das-americas.shtml

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

26/04/2017  14h10 - Atualizado em 27/04/2017 às 12h04

Califórnia, 130 mil anos antes do presente. Enquanto a Europa é dominada pelos neandertais e os ancestrais dos seres humanos modernos parecem confinados à África, um misterioso grupo de caçadores abate um mastodonte (Mammut americanum) e esmigalha seus ossos com ferramentas de pedra. Se os arqueólogos responsáveis por revelar o cenário acima estiverem corretos, esses são os primeiros indícios da presença da linhagem humana nas Américas, quase dez vezes mais antigos do que o que se acreditava até hoje.

À primeira vista, parece maluquice pura. "Minha primeira reação ao ler o artigo descrevendo as descobertas foi 'não, tem alguma coisa errada'. Não acreditei. Ainda não acredito totalmente", declarou à revista científica "Nature" o arqueólogo John McNabb, da Universidade de Southampton. Mesmo assim, os pesquisadores americanos responsáveis pelo achado reuniram um conjunto respeitável de pistas em favor da data antiquíssima, publicando os resultados na própria "Nature", uma das publicações especializadas mais prestigiosas do mundo.

A apresentação dos dados é "irretocável", diz o bioantropólogo Walter Neves, da USP, que estuda os primeiros passos do povoamento das Américas e costuma criticar propostas de datas muito antigas para o início do processo. "Estou quase 100% convencido de que as evidências são, de fato, resultado de atividades humanas."

DO TÚNEL DO TEMPO

O sítio arqueológico estudado por Steven Holen e seus colegas do Museu de História Natural de San Diego é conhecido desde 1992. Os ossos de mastodonte (parente extinto dos elefantes) vieram à tona durante obras numa rodovia da região de San Diego.

Inicialmente, o que chamou a atenção dos pesquisadores foi a associação entre os restos dos animais –dentes (entre elas as longas presas de marfim dos bichos), vértebras, costelas e fêmures– e a presença de pedras de vários tamanhos. Como os sedimentos em volta desses cacos pareciam ter sido depositados por águas calmas de um rio, era natural imaginar que as pedras teriam sido levadas para lá por seres humanos, já que a água não teria força para arrastá-las. A ideia é que seriam ferramentas toscas usadas para retalhar a carcaça do mastodonte.

Até aí, seria algo interessante, mas nem de longe bombástico –indícios de que os primeiros americanos caçavam os grandes mamíferos da Era do Gelo são relativamente comuns nos EUA. Praticamente todas essas evidências, porém, apontam para uma chegada dos seres humanos às Américas há apenas 15 mil anos, provavelmente cruzando a língua de terra que então unia o Alasca à Sibéria, a chamada Beríngia (nome derivado do estreito de Bering, pedaço de mar que hoje separa os dois continentes).

Isso significaria que o continente americano foi o último a ser colonizado pelo Homo sapiens moderno, explicando também as semelhanças físicas e genéticas entre os indígenas modernos e os nativos siberianos.

Ao longo dos anos, os pesquisadores tentaram datar os ossos por meio de várias técnicas, sem sucesso, até que, três anos atrás, um dos colaboradores do grupo, o geólogo James Pace, conseguiu estimar a idade dos fragmentos por meio de um método que mede as transformações sofridas pelo elemento radioativo urânio na amostra. Essas transformações acontecem a uma taxa conhecida, o que permite a estimativa da idade –no caso, muito superior à datação imaginada pela equipe inicialmente.

Uma data tão recuada exigia a comprovação de que os ossos não tinham sido quebrados por processos naturais. Para isso, os cientistas analisaram em detalhes os padrões das fraturas nos ossos e as marcas correspondentes nas pedras, descobrindo, inclusive, que pedacinhos resultantes das possíveis batidas de um material contra o outro tinham ficado espalhadas ali em volta.

A hipótese dos arqueólogos é que pedras maiores foram usadas como "bigornas", nas quais os ossos foram apoiados. Depois, pedras menores, os "martelos", serviram para quebrar fêmures e outros ossos, talvez para extrair o nutritivo tutano, talvez para usar os pedaços como matéria-prima para ferramentas. O grupo teve até a pachorra de simular o processo com ossos de elefantes e vacas modernos e suas próprias ferramentas de pedra –o padrão de fraturas e desgaste nas pedras que observaram é muito parecido com o existente no sítio arqueológico.

PERGUNTAS SEM RESPOSTA

Apesar das evidências fortes, o estudo deixa uma multidão de perguntas no ar, diz Neves. "Não entendo por que não há marcas de descarnamento, havendo apenas exploração de tutano. E a indústria lítica [o tipo de ferramenta] associada ao material é primitiva demais para a idade de 130 mil anos", assinala ele.

Também é impossível saber, por enquanto, que tipo de ser humano primitivo seria o responsável pelas ferramentas. "Algum neandertal desiludido com o Velho Mundo? Um dos primeiros homens modernos? Denisovanos, hominídeos da Sibéria sobre os quais nada sabemos?", elenca Neves.

Não seria nada fácil para nenhum desses candidatos chegar às Américas, uma vez que a ponte entre o Alasca e a Sibéria não existia há 130 mil anos –ao que parece, uma travessia transatlântica (em barcos toscos?) seria necessária. No caso dos primeiros Homo sapiens, as evidências concretas de sua presença fora da África só surgem para valer a partir de 70 mil anos atrás.

Enquanto mais dados não surgem, a pesquisa talvez dê novo fôlego às hipóteses mais ousadas da arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon, que trabalha na serra da Capivara (Piauí). Respeitada por seu trabalho com os majestosos painéis de arte rupestre da região, Niède já obteve dados sobre uma ocupação humana de 50 mil anos no Piauí, mas a maioria de seus pares ainda não aceita essas datas, em parte por não estar convencida de que as pedras toscamente talhadas que ela datou indiretamente são mesmo instrumentos feitos por pessoas. Há uma semelhança interessante entre essas pedras e as do sítio da Califórnia, aponta Neves.

Saída para crise na Síria é diplomática, não militar, diz brasileiro da ONU

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1879420-saida-para-crise-na-siria-e-diplomatica-nao-militar-diz-brasileiro-da-onu.shtml

DANIEL AVELAR
DE SÃO PAULO

28/04/2017  10h10

Para Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) que investiga as violações de direitos humanos na Síria, a única saída possível para a crise no país é a via diplomática, não a militar.

"Só há um jeito de evitar novas atrocidades e ataques químicos: acabar com a guerra civil", disse Pinheiro. "Não há solução militar para o conflito, apenas a via da negociação com todos os atores relevantes."

Recém-chegado de Genebra, onde coordena os esforços de investigação da ONU, Pinheiro deu na noite desta quinta-feira (27) uma palestra em São Paulo sobre a guerra na Síria.

O evento foi organizado pela Casa do Saber em parceria com o Irice (Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior) e também contou com a participação do embaixador Rubens Barbosa, ex-representante do Brasil em Washington (1999 – 2004).

Segundo Pinheiro, um dos principais motivos para o prolongamento da crise na Síria é o financiamento do conflito armado por atores externos –enquanto Estados Unidos, Arábia Saudita e Turquia oferecem apoio a grupos rebeldes, Rússia, Irã e a milícia xiita libanesa Hizbullah ajudam o regime do ditador Bashar al-Assad.

"Todos esses atores têm seus próprios interesses na Síria. Enquanto isso, os interesses do povo sírio são deixados de lado e quem paga a conta do conflito é a população civil", afirmou. "Infelizmente, o desastre na Síria poderia ter sido evitado no começo da guerra."

Para Pinheiro, a esperança na derrubada do regime de Assad é uma "ilusão". "Não restam forças autenticamente democráticas na Síria –estão todos presos, desaparecidos ou exilados."

Pinheiro diz que, para monitorar a situação na Síria, a ONU mantém contato com ativistas, equipes médicas e civis afetados pelo conflito. Os resultados da investigação são publicados em relatórios periódicos.

Questionado pela Folha, Pinheiro disse que o oferecimento de assistência humanitária no país é "prejudicado pela carência de fundos", existindo ainda uma "dificuldade de acesso às vilas e cidades cercadas".

Ele também lembrou que, diante da crise global de refugiados alimentada pelo conflito na Síria, o Brasil conseguiu oferecer uma resposta rápida por meio da concessão de vistos humanitários.

O embaixador Barbosa disse à Folha que as perspectivas de solução política para a guerra civil dependem, em parte, da diretriz que será adotada pelos Estados Unidos. "A política do governo de Donald Trump para a Síria permanece indefinida, pois vários cargos do Departamento de Estado seguem desocupados aguardando nomeação", afirmou.

Para Barbosa, os bombardeios americanos contra alvos do regime sírio no início do mês em resposta a um ataque químico no noroeste da Síria serviram para "enviar um recado" para Rússia e Coreia do Norte, além de seus adversários internos. O embaixador considera improvável um maior engajamento americano no conflito.

Iniciada em março de 2011, a guerra civil na Síria já deixou quase 500 mil mortos e forçou 11,2 milhões de sírios a deixar suas casas –destes, 5 milhões se refugiaram em outros países.

CONFLITO NA SÍRIAControle territorial do país está fragmentado após seis anos de guerra

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Síria acusa Israel de disparar mísseis perto de Damasco

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1879063-siria-acusa-israel-de-disparar-misseis-perto-de-damasco.shtml

DA AFP

27/04/2017  10h00

A Síria acusou seu vizinho Israel de ter provocado nesta quinta-feira (27) uma enorme explosão ao disparar mísseis contra uma posição militar, perto do aeroporto internacional de Damasco.

O Estado hebreu, que raras vezes confirma seus numerosos ataques lançados em território sírio desde o início da guerra, em 2011, deu a entender que pode ser o autor do bombardeio.

Caso o envolvimento de Israel seja confirmado, este seria o segundo ataque do país em quatro dias contra alvos na Síria, onde o Hizbullah –um dos grandes inimigos de Israel– luta ao lado do regime de Bashar al-Assad contra rebeldes e jihadistas.

"Uma posição militar a sudoeste do aeroporto internacional de Damasco foi alvo ao amanhecer de uma agressão israelense com vários mísseis disparados a partir dos territórios ocupados (Israel, no jargão do regime sírio), provocando explosões", afirmou a agência Sana citando uma fonte militar.

Os disparos provocaram "danos materiais", acrescentou, sem informar se era uma posição do exército sírio.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) informou, por sua vez, que um depósito de munições, muito provavelmente pertencente ao Hizbullah libanês, explodiu perto do aeroporto internacional, situado a 25 km de Damasco.

Segundo Al Manar, a televisão do Hizbullah, a explosão ocorreu de madrugada "em vários depósitos de combustível e um armazém do aeroporto internacional de Damasco e provavelmente foi provocada por um ataque aéreo israelense".

Em Israel, o ministro da Inteligência, Israel Katz, declarou que o suposto ataque era coerente com a política israelense, sem confirmar a responsabilidade de seu país.

BOLA DE FOGO

Uma testemunha que vive em um bairro do sudeste da capital, Dawwar al Baytara, contou à AFP ter ouvido uma grande explosão.

"Às 04h00 da manhã, ouvi uma enorme explosão, corri para a varanda e, ao olhar para o aeroporto, vi uma enorme bola de fogo", relatou Maytham, de 47 anos. "A eletricidade foi cortada. A bola de fogo era bem visível", acrescentou.

Desde o início da guerra na Síria, Israel executou vários ataques no país contra alvos sírios ou do Hizbullah libanês, aliado de Damasco.

No domingo, três milicianos leais ao regime morreram em um bombardeio israelense contra um acampamento na localidade de Quneitra, nas Colinas de Golã. O exército de Israel também se negou a comentar a informação.

Em 13 de janeiro, Damasco acusou Israel de ter bombardeado o aeroporto militar de Mazze, a oeste da capital, o que provocou incêndios. Neste aeroporto fica o serviço de inteligência da Aeronáutica.

Em 2016, vários mísseis israelenses atingiram os arredores desta base militar, segundo a imprensa estatal síria.

No ano passado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu admitiu que Israel atacou dezenas de comboios de armas destinadas ao Hizbullah.

De acordo com o regime sírio, o aeroporto de Damasco foi alvo de um ataque aéreo em dezembro de 2014.

Israel está preocupado com a presença na Síria do Hizbullah, um de seus principais adversários, que tem o apoio do Irã e das forças iranianas que respaldam o regime de Bashar al-Assad.

Em 17 de março, Israel e Síria tiveram o incidente mais grave em muitos anos. Um ataque israelense perto de Palmira (centro) contra alvos que o governo de Israel afirma que estavam relacionados com o Hizbullah provocou uma resposta antiaérea das forças sírias e um disparo de míssil, interceptado quando seguia em direção ao território israelense.

Os dois países estão oficialmente em guerra há décadas. Israel e Líbano, vizinho da Síria, tecnicamente também estão em guerra.

Em 2006 um conflito entre Israel e Hizbullah, o grupo armado mais poderoso do Líbano, deixou 1.200 mortos em território libanês, a maioria civis. Do lado israelense foram registradas 160 mortes, a maioria de soldados.

Por sua vez, a guerra na Síria deixou 320 mil mortos desde 2011. Tornou-se cada vez mais complexa, já que envolve o regime, rebeldes, extremistas e diferentes forças regionais, assim como potências internacionais

Greves, não importa a dimensão, justificam-se pelo simbolismo

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2017/04/1878975-greves-nao-importa-a-dimensao-justificam-se-pelo-simbolismo.shtml

27/04/2017  02h00
Por Janio de Freitas

"Governo Temer" é só uma expressão da preguiça mental aliada a defeitos muito piores. Trata-se, na verdade, da aberração Temer. Jamais –portanto nem na venenosa fase de Roberto Campos como ideólogo e artífice da ditadura– este país de desatinos viveu, em tão pouco tempo, um assalto tão violento e extenso a direitos de mais de quatro quintos da sua população e às potencialidades do próprio país.

Mesmo na Síria atual, nem toda em guerra, algumas coisas melhoram. Os países são composições tão complexas e contraditórias que, neles, nunca tudo segue na mesma direção. Foi o caso inegável da ditadura militar. É o caso deste transe que permite a Henrique Meirelles, Michel Temer e aos economistas do lucro fácil a comemoração, como no mês passado, de uns quantos números aparentemente consagratórios, mas já de volta à realidade torpe.

Nem poderia ser diferente. O que Meirelles tem a oferecer e a subserviência Temer subscreve, ambos a título de combate à crise, é um país manietado, com a vitalidade reprimida, aprisionado na desinteligência de um teto obrigatório de gastos que, no entanto, para baixo vai até à imoralidade de cortar gastos da educação e da saúde.

As greves e os demais protestos previstos para amanhã, não importa a dimensão alcançada, justificam-se já pelo valor simbólico: há quem se insurja, neste país de castas, contra a espoliação de pequenas e penosas conquistas que fará mais injusta e mais árdua a vida de milhões de famílias, crianças, mulheres, velhos, trabalhadores da pedra, da graxa, da carga, do lixo, do ferro –os que mantêm o Brasil de pé. E, com isso, à revelia permitem que as Bolsas, a corrupção e outras bandalheiras vicejem.

Reforma Trabalhista foi a que criou a CLT, Consolidação das Leis Trabalhistas, impondo ao patronato certo respeito ao trabalho e ao seu factor, até então apenas sucedâneos dos séculos escravocratas. O projeto de Temer, Meirelles e dos seus adquiridos na Câmara devasta 117 artigos da CLT. Devasta, pois, a CLT.

Com malandrices como, de uma parte, arruinar os sindicatos, tirando-lhes a verba de contribuição sindical (deveria acabar, mas por modo decente); de outra, estabelecer que as condições do trabalho serão acertadas entre esses sindicatos fragilizados, se ainda existentes, e o patronato. Por coerência dos autores, com esta aberração: se os "acordos" estiverem fora da lei lei, valem mais do que a lei.

Último ministro da Previdência na ditadura, Jarbas Passarinho declarou, em cadeia (quem dera) nacional, que a Previdência estava falida. Finda a ditadura, Waldir Pires assumiu a Previdência com uma equipe capaz e provou o contrário. Meirelles, dublê de ministro da Fazenda e da Previdência, o que erra na primeira não acerta na segunda. Aumentou o desemprego em 30%. Logo, reduziu a arrecadação previdenciária.

Só em março, a cada dia foram cerca de 3.000 demitidos a deixarem de contribuir. A correção Meirelles/Temer: cassar direitos de quem trabalha de fato, na fase da vida em que mais precisam deles. Com essa usurpação, diminuir o buraco que, em seguida, faz maior.

Mais direitos se vão e menos remuneração haverá por obra do desregramento aplicado à terceirização do trabalho. Se as empresas não ganhassem, em comparação a seu gasto com o empregado formal, não quereriam terceirizados.

Já se sabe, portanto, de quem a aberração Temer tira para dar a quem. É a lógica da aberração Temer: já que do povo não obtém popularidade, dele tomar o que possa.

Não só por ser uma eminência nacional, ou pelos motivos que o fazem sê-lo, Gilmar Mendes não seria esquecido aqui. Ainda mais em seguida à mais recente façanha de sua sábia independência como jurista e juiz: a concessão a Aécio Neves de só depor, no inquérito sobre improbidades em Furnas, depois de conhecer os demais depoimentos.

Assim Gilmar Mendes inventou a maneira mais simples de impedir inquéritos: como os direitos de depoentes são iguais, se todos requererem o mesmo direito dado a Aécio, não poderá haver inquérito, por falta depoimento a ser ouvido. Os acusados da Lava Jato podem usar a invenção nos respectivos inquéritos.

Antes país dos desatinos, agora é o país das aberrações. Afinal, sob protestos, que têm à disposição um futuro convidativo.

Agora presidentes, Macri e Trump se reencontram após mais de 30 anos

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1879019-agora-presidentes-macri-reencontra-trump-apos-mais-de-30-anos.shtml

*** "Quantas coincidências inocentes nesse mundo, não é mesmo amiguinhos??" ¬¬ ***

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

27/04/2017  02h00

Mauricio Macri tinha 25 anos quando se encontrou pela primeira vez com Donald Trump, então com 37, nos EUA. Era a estreia profissional no exterior de Macri, enviado pelo pai, o empresário Franco Macri, que planejava erguer com o norte-americano um empreendimento imobiliário em Nova York.

O negócio não prosperou, mas as famílias se aproximaram e se visitaram por anos.

A boa relação, porém, não se converteu em apoio de Macri à candidatura de Trump.

Eitan Abramovich - 6.abr.2017/AFP
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, discursa na edição latino-americana do Fórum Econômico
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, discursa na edição latino-americana do Fórum Econômico
Em mais de uma ocasião na campanha, o presidente argentino expressou preferência por Hillary Clinton. Afinal, a democrata seria a garantia de continuidade da aproximação política e comercial a que Macri tinha dado início com Barack Obama quando este visitou a Argentina, no ano passado.

É esse clima de estranhamento que o argentino tentará dissipar ao se reunir novamente com Trump nesta quinta (27), mais de 30 anos após a primeira visita e agora com ambos presidentes.

A visita durará 90 minutos (o dobro do que durou a do peruano Pedro Pablo Kuczynski em fevereiro), com direito a reunião privada entre os mandatários, almoço com as primeiras-damas e pronunciamento à imprensa.

A agenda argentina vai privilegiar temas comerciais.

Macri deve expressar preocupação com a barreira protecionista a produtos argentinos nos EUA, sobretudo ao limão, e insistir em mostrar a Argentina como país aberto a investimentos e à entrada de empresas americanas. Interessa ao mandatário, também, atrair petroleiras dos EUA para explorar combustíveis não convencionais em Vaca Muerta, na Patagônia.

Os dois presidentes compartilham a preocupação com a crise crescente na Venezuela, que deve ser um dos tópicos da agenda. O país anunciou nesta quarta que deixaria a Organização dos Estados Americanos (OEA).

Já Macri, que se aproxima do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, deve dizer a Trump que espera que uma renegociação do Nafta (Acordo Livre Comércio da América do Norte) seja proveitosa para ambos os países, segundo a Folha apurou.

A mídia americana informa que Trump prepara um decreto para lançar um processo de 90 dias de retirada do bloco, durante o qual tentará renegociar suas regras.

Macri, que segue depois para Japão e China, será o segundo presidente latino-americano a visitar Trump.

O primeiro foi Kuczynski. Em maio, será a vez do colombiano Juan Manuel Santos.

Há duas semanas, Trump convidou para encontro informal em Mar-a-Lago os dois principais inimigos de Santos —seus antecessores Álvaro Uribe e Andrés Pastrana, o que causou incômodo na Presidência colombiana.

Além disso, o governo Trump prevê cortar ao menos 21% da ajuda anual que envia à Colômbia para combater o narcotráfico e que, segundo o acordado entre Santos e Obama, seria usado agora na implementação da estrutura do pós-conflito.

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Turquia emite ordem de prisão contra 3.200 opositores; mil foram detidos

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1878667-turquia-emite-ordem-de-prisao-contra-3200-opositores-mil-foram-detidos.shtml

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

26/04/2017  08h30

A Turquia emitiu na quarta-feira (26) ordens de prisão contra 3.224 pessoas, ao menos 1.009 das quais já foram detidas, sob suspeitas de ligação com o clérigo dissidente Fethullah Gülen, acusado de orquestrar uma tentativa de golpe em julho de 2016 contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, informaram meios de comunicação do país.

De acordo com a agência de notícias estatal Anadolu, 8.500 policiais participam da operação em 81 províncias. O ministério do Interior afirmou que a operação tinha como alvo opositores infiltrados na força policial do país.

"É uma medida importante no interesse do Estado da República da Turquia", declarou o ministro do Interior, Süleyman Soylu.

As prisões em massa desta quarta aprofundam o expurgo realizado pelo governo desde a tentativa de golpe. Nos últimos meses, a Turquia prendeu ao menos 46 mil pessoas e exonerou 130 mil servidores. O país está em estado de emergência.

Além dos presos, 9.000 foram temporariamente afastados enquanto se investiga possíveis laços com Gülen.

As medidas provocaram uma onda de indignação entre ONGs e países europeus, que denunciam uma repressão contra os círculos pró-curdos e a imprensa.

O governo acusa Gülen, que vive em autoexílio nos Estados Unidos, de liderar uma "organização terrorista" que idealizou a tentativa de golpe. O clérigo nega envolvimento no episódio.

As novas prisões ocorrem em um momento de recrudescimento da política na Turquia. No último dia 16, Erdogan venceu por margem apertada um plebiscito que amplia os poderes presidenciais.

Durante encontro com Macri, Trump diz que Venezuela é 'uma bagunça'

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1879155-durante-encontro-com-macri-trump-diz-que-venezuela-e-uma-bagunca.shtml

*** 1. Alguém poderia me explicar o motivo de falar sobre a Venezuela num encontro entre presidentes dos EUA e da Argentina? Foi isso que eles falaram de importante??
2. A cronologia, no fina, ficou boa. ***

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

27/04/2017  15h52

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu nesta quinta-feira (27) seu colega argentino, Mauricio Macri, e disse que "a Venezuela é uma bagunça".

O conteúdo do encontro não foi divulgado, mas Trump disse que conhece Macri há 25 anos e que, na Presidência, serão "mais amigos do que nunca". "Conheço Macri muito bem, é uma grande pessoa e um grande líder."

Por sua vez, o líder argentino disse que sua visita aos EUA tinha como objetivo "construir relações mais fortes e de longo prazo entre os dois países".

Trump vinha evitando se pronunciar sobre a crise econômica e política na Venezuela. Nas últimas semanas, se intensificaram episódios de violência em protestos contra o presidente Nicolás Maduro e, na quarta-feira (26), o governo venezuelano anunciou que pretende se retirar da OEA (Organização dos Estados Americanos).

A OEA vem encabeçando a pressão internacional contra as violações de direitos humanos na Venezuela e, pouco antes de o país anunciar sua retirada, o organismo havia convocado uma reunião de chanceleres sobre a crise no país.

Sobre a saída da Venezuela da OEA, Trump disse pretende esperar para "ver o que vai acontecer". É a primeira vez que um Estado anuncia sua desvinculação da organização desde a sua criação, em 1948.

A Venezuela acusa a OEA de querer "intervir e tutelar" o país e diz que os governos de nações vizinhas que chancelam as iniciativas da entidade regional são "mercenários e lacaios dos EUA".

Subiu para 29 o número de mortos na onda de manifestações na Venezuela contra o governo Maduro.

Confrontos entre manifestantes e policiais em Chacao, na periferia de Caracas, deixaram um morto nesta quarta. A vítima foi identificada como Juan Pablo Pernalete Lovera, 20, estudante de economia que sofreu traumatismo craniano. Em San Cristóbal, no Estado de Tátchira, Efraín Sierra morreu após ser baleado na barriga durante uma tentativa de assalto em barricadas montadas durante um protesto na terça (25) à noite.

A ONG Foro Penal afirmou que, até a noite desta quarta-feira, 1.584 pessoas haviam sido detidas na série de protestos contra Maduro. Destas, 715 seguiam presas.

A oposição usa as manifestações para pressionar o governo a convocar eleições regionais, que deveriam ter sido realizadas em dezembro, mas foram adiadas. Além disso, os adversários de Maduro pedem a libertação de presos políticos e protestam contra o desabastecimento de alimentos e remédios.

CRONOLOGIA
A crise na Venezuela

mar.13
Morre o presidente Hugo Chávez; Nicolás Maduro, seu vice, assume a Presidência interinamente

abr.13
Maduro vence a eleição presidencial por margem de 1,5 ponto percentual dos votos; a oposição, liderada por Henrique Capriles, contesta o resultado

fev-mai.14
Série de protestos convocados pelo opositor Leopoldo López deixam 43 mortos; acusado de incitar a violência, López é condenado em 2015 a quase 14 anos de prisão

dez.15
Oposição conquista dois terços das cadeiras da Assembleia Nacional

jan.16
Tribunal Supremo de Justiça declara Legislativo em desacato em anula decisões

abr.16
Oposição começa a coletar assinaturas para referendo que poderia revogar mandato de Maduro

out.16
Justiça declara fraude no recolhimento das firmas, e Conselho Nacional Eleitoral suspende processo do referendo

fev.17
CNE adia pela 2ª vez as eleições regionais, que deveriam ter acontecido em dezembro

mar.17
TSJ suspende imunidade parlamentar e assume as funções do Legislativo; decisão é revertida três dias depois

abr.17
Controladoria-Geral cassa direitos políticos do opositor Henrique Capriles por 15 anos

Cem dias de Trump marcam guerra contra legado de Obama

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1878839-cem-dias-de-trump-marcam-guerra-contra-legado-de-obama.shtml

*** Poderia ser Cem dias de Doria marcam guerra contra legado de Obama! ***

ANÁLISE

AMBER PHILLIPS
DO "WASHINGTON POST"

26/04/2017  18h15

Apesar do fato de que o presidente Donald Trump e o Congresso não conseguem chegar a um acordo sobre um plano de acesso à saúde, sobre o muro na fronteira com o México ou o Orçamento federal, Trump conseguiu assinar leis que anularam mais de uma dúzia das regras promulgadas pelo ex-presidente Obama sobre educação, ambiente, saúde e trabalho.

Trump desfez tantos regulamentos que, tirando o fato de ter conduzido seu nomeado à Suprema Corte, revogar regras criadas por Obama sobre armas de fogo, despejo de carvão, privacidade na internet e outras é provavelmente a maior realização do presidente (e dos legisladores republicanos) nestes primeiros cem dias de seu governo.

Mas os dias em que os republicanos poderão sistematicamente anular regras de Obama com o voto da maioria no Congresso e uma simples canetada de Trump estão contados. E isso é má notícia para um partido que não descobriu como aprovar legislação sem recorrer a uma lei obscura e pouco usada para fazê-lo.

Veja a seguir o que é a Lei de Revisão Congressional, que o Congresso e Trump vêm utilizando para obter vitórias legislativas fáceis, e por que dentro em breve eles não poderão mais lançar mão dela.

O QUE É A LEI DE REVISÃO CONGRESSIONAL

A lei permite ao Congresso revogar um regulamento federal por maioria simples (leia-se: não há necessidade de envolver os democratas), desde que o regulamento em questão tenha sido implementado há não mais que 60 dias legislativos.

Para entender por que o Congresso poderia precisar dessa lei, é preciso entender o relacionamento entre o Congresso e as agências federais: o Congresso tem o poder de criar leis, enquanto o Executivo decide como implementar essas leis, sob a forma de regulamentos ou normas.

Mas durante a maior parte do século 20 o Congresso microgerenciou o modo como as agências implementavam essas regras, vetando coisas das quais não gostava. Em 1983 a Suprema Corte decidiu que isso constituía uma violação inconstitucional da separação entre os poderes.

O então presidente da Câmara, Newt Gingrich, e seus colegas parlamentares republicanos encontraram uma maneira de novamente conferir ao Congresso a capacidade de vetar regulamentos. Desta vez, entretanto, para revogar uma norma federal seria preciso a assinatura do presidente (eis seus freios e contrapesos, Suprema Corte). A Lei de Revisão Congressional foi aprovada em 1996.

POR QUE O PRAZO DE UTILIZAÇÃO ESTÁ CHEGANDO AO FIM

Desde que o Congresso ganhou esse poder de desfazer regulamentos federais, a Lei de Revisão Congressional só foi acionada uma vez (os parlamentares republicanos e o presidente George W. Bush anularam em um dia um programa de medidas ergonômicas em locais de trabalho criado por Bill Clinton).

A lei nunca antes foi usada do modo como os republicanos estão fazendo agora, para anular uma dúzia de regulamentos assinados pela administração anterior.

Isso porque essa lei é altamente dependente de uma janela temporal. Os presidentes não assinam legislação que revogue regulamentos que eles próprios sancionaram. Assim, a Lei de Revisão Congressional praticamente só é útil no período muito curto de transição do poder de um partido para outro —ou seja, quando o Congresso e o presidente estão unidos em oposição a uma norma que foi implementada menos de 60 dias legislativos atrás.

Ainda estamos dentro dessa janela de 60 dias legislativos, mas por pouco. Obama deixou o poder 95 dias atrás, mas o Congresso esteve em sessão cerca de 50 dias até agora este ano. Segundo nossos cálculos, os republicanos ainda têm cerca de um mês em tempo real (dez dias congressionais) para revogar normas que a administração Obama implementou quando estava a caminho da saída.

QUE REGRAS FORAM DESFEITAS ATÉ AGORA

Existem cerca de 50 regulamentos da era Obama que o Congresso poderia ter revogado rapidamente, incluindo limites à caça de aves, proteções para pacientes de enfermagem e padrões de combustíveis de caminhões. Trump sancionou 13 dessas revogações, convertendo-as em lei, e há outras 21 pendentes.

Veja as normas que os republicanos revogaram:

Eles revogaram as regras que proibiam mineradoras de carvão de despejar seus dejetos em rios.

Acabaram com uma norma que impedia os Estados de cortar as verbas para a organização Planned Parenthood e outras que oferecem abortos (agora os Estados podem legalmente cortar essas verbas; o Kentucky já o fez).

Os republicanos eliminaram novos programas de formação de professores do ensino primário e secundário.

Eles revogaram uma norma que proibia a caça em terras federais de mães ursas e seus filhotes e de mães lobas e seus filhotes, como parte de programas de controle de predadores. Agora o conselho de caça pode lançar mão desses outros métodos de controle de predadores. Grupos ambientalistas estão processando a administração Trump por essa regra, alegando que a Lei de Revisão Congressional viola a separação dos poderes. Resta ver até onde eles vão chegar.

Anularam uma norma que exigia que grandes empresas com contratos com o governo levassem a público e solucionassem violações graves das leis trabalhistas e de segurança no trabalho, antes de firmarem um contrato.

E os republicanos revogaram um regulamento que impedia provedores de internet, incluindo Verizon, AT&T e Comcast, de armazenar os hábitos de navegação dos internautas e outras informações sobre eles, para vendê-las a outras empresas. Agora esses provedores de internet podem fazer isso.

Em um momento em que Trump e os republicanos não conseguiram chegar a um acordo sobre como revogar o Obamacare nem conseguiram ainda aprovar uma lei sobre os gastos federais, a Lei de Revisão Congressional os ajudou a mostrar avanços para uma base que despreza a regulamentação federal. Infelizmente para os republicanos, o prazo para fazer uso da lei está se esgotando.

Tradução de CLARA ALLAIN

Ação militar na Coreia do Norte é improvável, diz ex-embaixador

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1879022-acao-militar-na-coreia-do-norte-e-improvavel-diz-ex-embaixador.shtml

Por IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

27/04/2017  02h00

Embaixador do Brasil na Coreia do Norte entre 2012 e 2016, Roberto Colin se diz "surpreso" com a mudança na retórica americana sobre o país asiático.

"Eu creio, contudo, que uma ação militar é uma impossibilidade de lado a lado, mas uma falha humana, um erro de avaliação, pode levar a uma tragédia", afirmou.

O presidente do país, Xi Jinping, vem pressionando o ditador Kim Jong-un desde que reuniu-se com seu colega americano há duas semanas. A partir daquele momento, os EUA passaram a ameaçar mais abertamente Pyongyang e os sinais públicos da ditadura chinesa contra Kim se intensificaram.

"É preciso entender que garantia Xi recebeu. A China sempre preferiu o statu quo como está, tolerando uma Coreia do Norte nuclear, do que ver uma guerra que a inundaria de refugiados ou uma unificação sob o comando do Sul capitalista, que traria soldados americanos para suas fronteiras", afirma.

Os Estados Unidos têm estacionados na Coreia do Sul 28,5 mil militares. Na prática, o regime comunista do Norte, estabelecido após o cessar-fogo inconcluso da Guerra da Coreia em 1953, serve de tampão para Pequim.

O embaixador concorda, contudo, que algo mudou na posição chinesa. "Não acho que eles vão querer aniquilar economicamente o regime, mas são os únicos que podem fazer isso", diz, lembrando que todo o petróleo e quase todo o fluxo comercial do regime vêm do aliado ao norte.

Desde que mandou executar um tio, militar de alto escalão que representava um polo alternativo de poder, em 2013, Kim parece ter eliminado oposição potencial interna, que poderia ascender com apoio chinês.

"Agora a elite local vive amedrontada, pois não parece haver possibilidade de um pouso suave para o regime", diz o diplomata.

Isso dito, afirma Colin, o interesse dos norte-coreanos é negociar diretamente com os EUA, e não com prepostos. "São os americanos que podem levantar as sanções contra o regime", diz.

Hoje titular da embaixada em Tallinn, na Estônia, Colin teve no posto uma posição privilegiada para observar a ditadura, e destoa dos lugares-comuns geralmente associados ao país.

"A Coreia do Norte é de fato atrasada no campo, mas Pyongyang vive um boom imobiliário, por exemplo", afirma ele. "A única coisa realmente socialista lá é o nome do país. Está tudo mais para uma seita religiosa, embora de natureza laica."

Segundo ele, "40% da economia está nas mãos privadas, e há gente com dinheiro, uma elite tolerada pela liderança e que não quer a queda do regime porque todos perderiam com isso".

Em sua avaliação, também é incorreta a ideia de que o regime seja liderado por loucos. "São tudo, menos irracionais ou suicidas. Ação militar não faz nenhum sentido. Há preocupação com o líder, pois é jovem (33 anos), afoito, e pode cometer erros", diz.

As armas nucleares de Pyongyang servem, na visão do diplomata, mais para manter coesão interna e apoio à ditadura numa sociedade empobrecida do que para de fato ameaçar os vizinhos.

Macron derrapa na campanha do segundo turno francês, diz pesquisa

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1879091-macron-derrapa-na-campanha-do-segundo-turno-frances-diz-pesquisa.shtml

*** peguei apenas para destacar o último parágrafo! ***

DIOGO BERCITO
DE MADRI

27/04/2017  12h21

(...)
SATISFAÇÃO

A pesquisa que avaliou os inícios de campanha foi realizada pelo instituto Elabe, ouvindo 1.002 pessoas em 25 e 26 de abril. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais em ambas as direções.

O estudo mostrou ainda que apenas 31% dos franceses estão satisfeitos com a escolha entre Macron e Le Pen no segundo turno.

Houve protestos de estudantes de ensino médio nesta quinta-feira rejeitando os dois candidatos, vistos como parte de um mesmo sistema.

Centenas de alunos entraram em embate com a polícia em Paris. Cerca de 20 escolas foram bloqueadas durante o dia por essas manifestações com o lema "Nem Macron, Nem Le Pen".

Entenda a decisão de Theresa May de antecipar as eleições no Reino Unido

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1876545-entenda-a-decisao-de-theresa-may-de-antecipar-as-eleicoes-no-reino-unido.shtml

DE SÃO PAULO

18/04/2017  16h25

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, anunciou nesta terça-feira (18) a antecipação das eleições no país.

Entenda, por meio de perguntas e respostas, o que aconteceu e qual a importância disso.

*

O QUE ACONTECEU?

May, anunciou que quer adiantar as eleições no país para 8 de junho —pelo calendário original, elas deveriam acontecer em maio de 2020, respeitando um intervalo de cinco anos entre eleições. A mudança surpreendeu, pois May vinha dizendo que não pretendia adiantar as eleições.

QUAIS FORAM AS REAÇÕES?

Aliados de May no governista Partido Conservador saudaram o anúncio da primeira-ministra. Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, principal legenda da oposição, disse que também apoia a decisão. Com isso, o governo deve atingir os votos necessários (dois terços da Câmara dos Comuns, ou 434 votos) para antecipar as eleições.

POR QUE AGORA?

Neste momento, os conservadores aparecem nas pesquisas com até 20 pontos de vantagem sobre a oposição trabalhista, mais do que na eleição passada, em 2016, quando o partido obteve apenas cinco cadeiras a mais que a metade do Parlamento.

Caso elas ocorressem apenas em 2020, o desempenho do governo nas eleições poderia ser prejudicado por uma queda de popularidade diante da expectativa de perdas econômicas devido à saída da União Europeia.

O QUE MAY QUER COM ISSO?

May, que chegou ao poder em junho de 2016 depois da renúncia de David Cameron devido à derrota no plebiscito do "brexit", busca um apoio político mais claro para negociar a saída britânica do bloco regional. Atualmente, sua base de apoio no Parlamento é frágil.

E COMO FICA O 'BREXIT'?

May deflagrou há algumas semanas o início do divórcio com a UE, o qual deve se completar após cerca de dois anos de negociação. Caso a primeira-ministra saia vitoriosa nas eleições, ela terá mais força para negociar os termos de separação com o bloco regional e conseguir um acordo mais favorável ao Reino Unido.

Brasil vai cruzar os braços

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/04/1879336-brasil-vai-cruzar-os-bracos.shtml

Por GUILHERME BOULOS E RAIMUNDO BONFIM

28/04/2017  02h00

O país vai parar nesta sexta (28). Milhões de trabalhadores -entre motoristas, professores, metroviários e bancários- cruzarão os braços nesta que promete ser a maior greve dos últimos 30 anos -e isso exatamente no centenário das históricas greves de 1917.

Na última quarta-feira (26), a Câmara aprovou o projeto da reforma trabalhista. Trata-se do mais grave ataque aos direitos dos trabalhadores assegurados há mais de 70 anos pela CLT. A votação foi feita a toque de caixa, após manobra do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que fez lembrar o descaramento de seu antecessor, Eduardo Cunha.

Sem discussão com a sociedade, a proposta altera mais de cem pontos da lei. Dentre as aberrações estão a liberação para grávidas trabalharem em locais insalubres, a contratação do trabalhador por hora (trabalho intermitente) e a autorização de que acordos entre empresa e empregados estejam acima da lei.

Este último ponto abre brecha, por exemplo, para jornadas de 12 horas sem pagamento de hora extra. A isso se soma ainda o "libera geral" da terceirização.

A greve geral de hoje também será um grito contra a reforma da Previdência proposta pelo governo. Aliás, chamemos a coisa pelo nome: não se trata de reforma, mas de um desmonte do direito à aposentadoria. Os principais pontos já são bem conhecidos, como a idade mínima de 65 anos e a exigência de contribuição de 40 anos para aposentadoria integral, além do ataque à aposentadoria rural.

Ao mesmo tempo, curiosamente, a proposta não mexe nos verdadeiros privilégios, os recebidos por oficiais militares e os próprios parlamentares. Não por acaso, mais de 90% do povo está contra a reforma, segundo pesquisa Vox Populi.

O mais espantoso é que esse pacote amargo contra a maioria é apresentado por um governo ilegítimo, que conta com apenas 8% de aprovação. Como se não bastasse, oito de seus ministros são investigados por corrupção, e suspeitas recaem sobre o próprio presidente.

Quem pretende aprovar esses retrocessos é o Congresso Nacional mais desmoralizado da história da República, sem credibilidade e com os chefes das duas casas igualmente investigados. Qual é a autoridade dessa turma para decidir o futuro do povo brasileiro?

Michel Temer e a maioria do Congresso agem de costas para a sociedade. Acreditam que não precisam prestar contas a ninguém, a não ser ao 1% do grande empresariado e da banca que se beneficiam com essas medidas acintosas.

Nossa resposta será parar o país hoje, com greves, bloqueios de vias e mobilizações. Em São Paulo haverá uma manifestação no largo da Batata, às 17h, organizada pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular. A passeata seguirá até a casa de Temer. O grito das ruas será um não categórico à retirada de direitos e a este governo.

Caso os ouvidos de Brasília permaneçam surdos à vontade da maioria, mesmo com o forte recado de hoje, o país poderá entrar de forma mais profunda na rota do conflito social. O ensinamento histórico é claro: quando se forma um abismo entre o povo e quem deveria representá-lo, abre-se o caminho para convulsões e desobediência civil.

Ainda há tempo de tomar as ruas e barrar os retrocessos. Aos parlamentares, ainda há tempo de escutar a maioria.

Caso insistam em aprovar medidas rejeitadas por 90% do povo, devem estar preparados para enfrentar esses 90% nas ruas e nas urnas. Nenhum direito a menos! Fora Temer!

GUILHERME BOULOS é coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e da Frente Povo Sem Medo

RAIMUNDO BONFIM é coordenador geral da CMP (Central de Movimentos Populares) e da coordenação nacional da Frente Brasil Popular

Suicídios adolescentes

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2017/04/1878793-suicidios-adolescentes.shtml

27/04/2017  02h20
Por Contardo Calligaris

"Você, que é terapeuta de adolescentes, por que não comenta a Baleia Azul?" Recebo essa pergunta a cada dia.

Baleia Azul é um jogo, na internet, que seduziria os adolescentes propondo-lhes desafios arriscados até um final em que, para "ganhar", o jogador deve se matar. Na Rússia, já seriam mais de cem mortos.

Acho bizarro que nenhum repórter consiga se inscrever, jogar e nos contar tudo. A Baleia me parece ser sobretudo um boato (veja-se snopes.com, que investiga espalhafatos, migre.me/wuZPH).

Que opinião temos dos nossos adolescentes para acreditarmos que eles sejam burros a ponto de se matar para terminar uma gincana? Se imaginamos que eles sejam presas fáceis para a Baleia, é porque nós mesmos talvez sejamos seduzidos pelo jogo: dispostos a qualquer besteira para animar a nossa vida e lhe dar algum sentido.

Junto com a Baleia, um seriado da Netflix, "13 Reasons Why", também preocupa os adultos. Nele, uma menina, para explicar seu suicídio, deixa 13 fitas gravadas, que circulam entre amigos e inimigos.

Quando eu era menino, sonhava estar presente no meu velório, para ver quem choraria e quem dançaria. O seriado, dando crédito a esse sonho (banal), poderia produzir uma epidemia de suicídios?

Reza a lenda que o romance de Goethe "Os Sofrimentos do Jovem Werther" (1774) teria glamorizado o suicídio por amor e produzido suicídios em massa.

Logo o "Werther", que consegue a façanha de ser curto e chato e cujo maior mérito é de ter sido o pretexto para Roland Barthes escrever seus "Fragmentos de um Discurso Amoroso".

Enfim, "O Efeito Werther" é um livro de David Phillips (1982) que trata de verificar se há suicídios induzidos pelos relatos na mídia dos suicídios de pessoas famosas, de Marylin Monroe a Kurt Cobain. Resultado: o efeito, se existe, é mínimo.

Mas, por mínimo que seja, como evitá-lo? Plutarco (46 - 120 d.C.), em "As Virtudes das Mulheres", conta que, em Mileto, por alguma maldição divina, as mulheres foram tomadas pela vontade de se enforcar. Não havia palavras ou lágrimas que adiantassem: elas se matavam. Enfim, alguém propôs que os cadáveres nus das enforcadas fossem expostos na praça. E o que aconteceu?

Num delicioso livrinho, publicado em Paris em 1772 (ensaio sobre o caráter, os costumes e o espírito das mulheres nos diferentes séculos), Antoine Thomas conclui com Plutarco. Essas jovens encaravam a morte, mas nenhuma ousou encarar a vergonha depois da morte: os suicídios pararam.

Quanto às mulheres de Mileto, Thomas explica: elas deviam estar naquela idade em que a natureza, alimentando desejos inquietos e vagos, abala a imaginação e em que a alma, surpreendida por suas novas necessidades, sente que a melancolia será sucessora da calma dos jogos da infância. Difícil descrever melhor a desordem da adolescência.

E talvez haja mesmo, na adolescência, um interesse especial pelo suicídio. Para Durkheim, o suicídio pode ser atribuído a níveis excessivamente baixos ou altos de integração social. Integração baixa demais significa ter a impressão de não pertencer a nada, e integração alta demais significa descobrir que o custo da integração é excessivo: uma domesticação de nosso desejo. É um resumo do drama do adolescente.

Seja como for, o interesse do adolescente pelo suicídio é intolerável para nós –porque amamos o suicida e porque sua morte sancionaria nosso fracasso: o suicídio de um adolescente é a demonstração cabal de que nosso amor não é (não foi) uma razão suficiente para ele viver.

Mas atenção: Plutarco é uma leitura recomendada, porque ele lembra que de nada adiantam os encorajamentos a viver e as manifestações de carinho.

De fato, diante do propósito suicida, não há cura milagrosa, e o primeiro passo é reconhecer o desejo de se matar e levá-lo a sério –porque é um desejo sério, não menos fundamentado do que nossa posição em favor da vida.

Podemos discordar e nos opormos à vontade de se suicidar de alguém que nos importe, mas só seremos escutados se primeiro reconhecermos seu direito de querer morrer.

Nota: logo nesses tempos de inquietudes pela Baleia e pelo seriado "13 Reasons Why", foi ao ar, pela HBO, a primeira história de "Psi" sobre o suicídio assistido de uma adolescente. A história, que resume minha atitude diante de um outro que prezo e que quer morrer, está agora na Net Now.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Dirigente regional do MST de Minas é assassinado no Vale do Rio Doce

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/04/1878541-dirigente-regional-do-mst-de-minas-e-assassinado-no-vale-do-rio-doce.shtml

DE SÃO PAULO

25/04/2017  18h33

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) de Minas Gerais informou que um dos seus dirigentes regionais, Silvino Nunes Gouveia, 51, foi morto com dez tiros no domingo (23).

Segundo o MST, Gouveia estava em casa quando foi chamado por volta das 20h. Ao sair, foi recebido com os tiros.

O crime aconteceu no Assentamento Liberdade, no município de Periquito, no Vale do Rio Doce, região com mais de 1.200 famílias em cinco acampamentos, de acordo com o MST.

A entidade afirmou ainda que os conflitos por terra têm se intensificado no Vale do Rio Doce e que Gouveia já tinha sido alvo de ameaças.

"A solução destes conflitos só será possível com medidas concretas do Estado: assentar nossas famílias e punir os responsáveis por estas atrocidades. A impunidade é uma das principais causas destes crimes, por isso exigimos a imediata apuração e prisão dos criminosos", afirmou a direção do MST de Minas em nota.

O MST estima que o Estado tenha 47 acampamentos com aproximadamente 7.000 famílias acampadas em nove regiões.

EUA iniciam instalação de sistema antimíssil na Coreia do Sul

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1878679-eua-iniciam-instalacao-de-sistema-antimissil-na-coreia-do-sul.shtml

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

26/04/2017  08h54

Um dia depois de a Coreia do Norte realizar uma nova demonstração de força com exercícios militares, os Estados Unidos começaram nesta quarta-feira (26) a instalar partes de um sistema antimíssil na Coreia do Sul. Segundo o governo de Seul, a instalação estará completa para operação total até o final deste ano.

A instalação do sistema, chamado Thaad, é uma resposta às ameaças do regime do ditador norte-coreano, Kim Jong-un, que nos últimos anos vem desenvolvendo seu programa nuclear e seu arsenal de mísseis balísticos.

Nas últimas semanas, cresceram as tensões na península Coreana, com trocas de acusações e ameaças praticamente diárias entre a Coreia do Norte e os EUA.

Em meio às provocações, os EUA enviaram um porta-aviões e um submarino militar para a região e tem realizado exercícios militares com a Coreia do Sul e o Japão.

A Casa Branca convocou todos os senadores dos EUA para uma reunião nesta quarta-feira com membros do alto escalão do governo para discutir a situação da Coreia do Norte.

A instalação do sistema antimíssil incomoda a Coreia do Norte e também a China, principal aliada de Pyongyang. O porta-voz da chancelaria de Pequim, Geng Shang, disse nesta quarta que o sistema "irá romper o equilíbrio estratégico regional e agravar ainda mais as tensões na península".

"A China tomará, de maneira firme, as medidas necessárias para defender seus interesses", completou o porta-voz, sem especificar que medidas seriam essas.

A declaração da chancelaria demonstra um endurecimento de tom da China, que até então vinha pedido que os EUA e a Coreia do Norte contenham sua retórica belicosa para evitar a eclosão de um conflito na região.

'Outsiderismo', a nova onda política no Ocidente

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2017/04/1878440-outsiderismo-a-nova-onda-politica-no-ocidente.shtml

26/04/2017  02h00

Por: Marcos Troyjo

Donald Trump, candidato alheio à elite democrata ou republicana, é eleito presidente nos EUA, democracia das mais consolidadas no mundo.

Emmanuel Macron e Marine Le Pen disputam o Eliseu sem a sustentação dos pilares partidários clássicos da política francesa.

Nigel Farage, do UKIP (sigla em inglês para Partido de Independência do Reino Unido), foi protagonista do 'brexit', evento geopolítico na Europa mais importante desde a Queda do Muro de Berlim.

Na Áustria e na Holanda, recentes eleições transcorreram com um forte sentimento "anti-mainstream".

No Ocidente, estamos testemunhando uma ojeriza a líderes e ideias afeitos ao establishment. Tudo o que parecia até há pouco inabalável —bipartidarismo norte-americano, dinâmica de integração na União Europeia, sacralidade dos comícios presenciais— é eclipsado por aquilo que contrasta com a política tradicional.

O mundo é dos "outsiders". O momento é daqueles que se opõem "àquilo que está aí". Esse "outsiderismo", portanto, tem muitas faces.

Nesse contexto, a política metamorfoseou-se. O ideal romântico de revolução não faz mais parte do elenco de aspirações.

Ao contrário do que se poderia imaginar como efeito das redes sociais, as agendas propositivas e críticas estão mais locais. Sabe-se o que quer e como fazer no seu bairro, cidade. Menos, porém, no nível de uma unidade federativa (Estado) ou país. Muito menos para o mundo.

Ao contrário dos muitos consensos que emergiram durante a "globalização profunda" —como o ideal de circulação mais livre de bens, serviços, capitais e pessoas—, essa tendência "outsiderista", nos EUA e na Europa, responde mais ao particular que ao geral, mais ao imediato que ao estratégico.

Claro que Trump, eleições presidenciais na França e 'brexit' são macro-exemplos de outsiderismo, mas tal tendência é ainda mais sentida no nível do Poder Executivo ou casas legislativas em âmbito municipal ou estadual/provincial.

Em seu debate cotidiano, a política outsiderista não é mais a dos grandes sistemas ou soluções globais. Além desse caráter de proximidade "epidérmica", há a questão da política como espaço de defesa da voz de afinidades estéticas ou profissionais.

Daí em eleições aos mais variados cargos observarmos o êxito de candidatos dos taxistas, esportistas, celebridades de TV ou dirigentes de clubes de futebol. E aqui, sem dúvida, tecnologia e redes sociais também exponenciam o vetor outsiderista.

Afinidades estéticas, como diria o grande sociólogo francês Michel Maffesoli, turbinam as "células" de proximidades dos outsiders com suas comunidades no Facebook ou no Twitter.

Em muitos desses casos, os canais entre outsiders e aqueles que compõem suas "nuvens" substituem mídias jornalisticas tradicionais. Nesse fluxo, mais importante que "informação" é "confirmação".

Houve aqui, portanto, uma transformação. A origem da notícia ou análise, há um tempo restrita à redação própria de cada veículo jornalístico, hoje está na multidão de sites, agências de notícias, blogs, universidades, nas empresas de qualquer ramo. Circula, enfim, no ciberespaço.

O destino, na mesma medida, que segmentava por mídia o tipo de consumidor em suas várias formas (leitor, ouvinte, telespectador, internauta), condensa-se progressivamente graças à convergência tecnológica.

A mídia, como sinônimo de imprensa, é irmã gêmea da Liberdade de Expressão. Esta identidade sempre se alimentou pela noção de que o livre debate de idéias (exposto pela mídia) constrói agendas críticas ou propositivas —objetivo eminentemente político.

E a questão da sobrevivência das empresas de mídia também permitiu um deslocamento do eixo jornalístico para o do entretenimento, sublinhando assim a relação "interesse público x interesse do público". Quanto a este último, é patente a tendencia ao mórbido, à vulgarização, à TV trash e aos sites de ódio. Ecossistema perfeito para alguns outsiders.

Com efeito, na política de cargos eletivos,o que vemos é o decréscimo relativo da importância dos discursos programáticos e a construção de candidatos a partir de marketings de empatia.

As redes sociais, dado seu caráter instantâneo e superficial, ajudam nessa "efemeridade". As novas tecnologias aproximam. Isto se faz para o bem e para o mal.

A proximidade desvenda identidades, mas também realça diferenças, sobretudo civilizacionais. Este o principal combustível para os conflitos contemporâneos conforme a ainda atual formulação de Samuel Huntington.

O advento dessa fase outsiderista no Ocidente e o impacto que ela projeta para as relações internacionais é marcante. As fronteiras, claro, não deixaram de existir. Tornaram-se, no entanto, mais porosas. O Estado-Nação, que sustenta sua existência na dualidade interno-externo, vê-se desorientado com sua vulnerabilidade física, macroeconômica e cultural.

Suas delimitações são vazadas tecnológica, financeira e culturalmente, o que produz novas sínteses —por vezes enriquecedoras, por vezes fragmentárias.

Geram como contrapartida bandeiras preservacionistas de tradições e especificidades —o que, se empunhadas com o valor maior da tolerância, deve ser bem-vindo num mundo que se quer plural.

Impossível não reconhecer tais marcas, na sua versão potencialmente perigosa, em Trump, Le Pen e mesmo nas motivações mais nativistas que levaram ao 'brexit'.

Como o Brasil, em tantas momentos históricos, gosta de andar na contramão de tendências internacionais, aqui há talvez uma boa notícia.

"Outsider" pode querer dizer mais do que apenas o "não tradicionalmente político", ou aquele "não vinculado a partidos consolidados". Pode significar também aquele contrário ao que é tristemente convencional no país.

Repudiar populismo, experimentalismo macroeconômico e uma economia política de compadrio é ser outsider, pois esta é, há muito tempo, a tríade "mainstream" no Brasil.

Em nosso país, ser "contra o que está aí" significa sobretudo permitir o amplo desencadeamento de criatividade e forças produtivas. Nesse sentido, a emergência de um outsider pode ser uma ótima novidade para o Brasil.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Antes de criticar os índios, presidente da Funai deveria estudar arqueologia

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldojoselopes/2017/04/1877358-antes-de-criticar-os-indios-presidente-da-funai-deveria-estudar-arqueologia.shtml

23/04/2017  02h00 - Atualizado em 24/04/2017 às 15h19

Quem acha que arqueologia não serve para nada certamente não teve o (duvidoso) prazer de ler a entrevista concedida recentemente pelo novo presidente da Funai, o dentista e pastor batista Antônio Costa, à BBC. Entre outras coisas, Costa afirmou que os indígenas brasileiros precisam ser produtivos, como os índios dos EUA, que os guaranis são "coletores" e que as tribos moradoras de Estados férteis, como Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, não podem "ficar paradas no tempo".

O escriba que se dirige ao insigne leitor neste momento está prestes a publicar um livro inteiramente dedicado aos feitos dos indígenas brasileiros antes da chegada de Cabral. Portanto, ler as pérolas acima foi tão agradável quanto receber uma joelhada nas partes pudendas. Permita-me colocar alguns pingos nos is.

Primeiro, é curioso que o chefe da Funai tenha citado o Mato Grosso, pois é justamente naquelas bandas, no Alto Xingu, que os arqueólogos têm desencavado os vestígios de uma sociedade urbana que floresceu em plena Idade Média, a partir do ano 1200, mais ou menos na mesma época em que cristãos e muçulmanos estavam trocando sopapos para ver quem virava dono da Terra Santa.

Até onde sabemos, os antigos xinguanos não eram adeptos desse negócio de guerra religiosa. Em vez disso, construíram aldeias gigantescas (ao menos dez vezes maiores que atuais), estradas com quilômetros de extensão e até 50 metros de largura (organizadas de acordo com os pontos cardeais), diques e paliçadas defensivas, implantaram o manejo intensivo da mandioca e dos recursos pesqueiros e, provavelmente, forjaram um sistema de alianças multiétnico. Era um tipo de urbanismo "disperso", com uma gradação sutil entre áreas habitadas, roças e mata manejada, que talvez nos lembrasse Brasília (sem Lava Jato). Parados no tempo? Não mesmo.

Coisas parecidas estão aparecendo em quase qualquer lugar da Amazônia no qual as pessoas se dignem a enfiar uma pá no solo. A ilha de Marajó, por exemplo, hoje famosa por seus búfalos, foi lar de uma civilização que construiu represas para apanhar os peixes trazidos pela época da inundação, grandes tesos - plataformas que nunca inundavam, onde ficavam as casas e os cemitérios da elite - e uma arte em cerâmica de fazer os pintores de vasos negros e vermelhos da Grécia Antiga arrancarem seus cachos helênicos de inveja.

Quanto aos guaranis, poucos agricultores da América do Sul pré-histórica foram tão bem-sucedidos quanto eles. Trocando em miúdos, a aparente falta de produtividade das tribos modernas tem muito mais a ver com o impacto da conquista do que com uma suposta incapacidade de evoluir e se modernizar.

É dolorosamente irônico, ademais, que o raciocínio expresso na entrevista venha da boca de um evangélico, membro de uma denominação cristã que coloca a Bíblia no centro de sua religiosidade. Os estudos mais recentes da origem das Escrituras, que avançaram muito na tentativa de recolocá-las em seu contexto histórico original, demonstram cabalmente que elas são uma resposta (tanto espiritual quanto política) da minúscula etnia israelita ao avanço do poderio imperial - do Egito, da Assíria, de Roma - sobre sua independência.

Para quem conhece bem o texto bíblico, o paralelo com a situação indígena deveria, no mínimo, soar familiar. Fica aqui a minha prece para que o pastor Costa perceba que, no duelo entre os israelitas e o Faraó, Deus se colocou do lado dos pequenos.

*

PS - Quando este texto estava prestes a ser impresso, começaram a circular informações de bastidores sobre uma possível exoneração do presidente da Funai, que teria desagradado a bancada ruralista do Congresso ao se negar a colocar apaniguados dela em cargos técnicos do órgão. Se for verdade, resta a Costa o consolo de ter cumprido, ao menos em parte, o mandato de sua fé bíblica. Não seria pouca coisa.

'Foi você que escreveu isso?': conheça bióloga brasileira que ganhou prêmio global de ciência

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39636723

Daniela Fernandes
De Paris para a BBC Brasil
25 abril 2017

"Foi você mesmo quem escreveu isso? Está tão bem escrito." "Esse projeto é audacioso demais. Você tem certeza de que vai conseguir dar conta?"

Foram perguntas ouvidas ao longo da carreira pela jovem bióloga Fernanda de Pinho Werneck, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), agraciada recentemente com um importante prêmio científico internacional.

O "Rising Talents" ("Talentos Promissores", em tradução livre) - concedido pela Fundação L'Oréal em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) - é dado às 15 jovens cientistas de todo o mundo.

Elas foram selecionadas por um júri de cientistas entre as 250 vencedoras das edições nacionais do programa "Para Mulheres na Ciência", também realizado em todas as regiões do mundo. Fernanda tinha sido uma das sete cientistas brasileiras escolhidas no "Para Mulheres na Ciência" na edição de 2016.

Pelo "Rising Talents", ela recebeu uma bolsa de 15 mil euros (cerca de R$ 50 mil) para suas pesquisas.

A brasileira, de 35 anos, estuda os efeitos das mudanças climáticas na vida animal, sobretudo répteis, como lagartos, e também anfíbios, mais sensíveis às alterações de temperaturas.

Suas pesquisas buscam estimar os riscos de extinção e capacidade de adaptação de espécies que vivem na Amazônia e no Cerrado brasileiro, como também na área de transição entre esses dois biomas.

Nascida em Goiânia e formada pela Universidade Federal de Brasília, com doutorado em biologia integrativa pela Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, Fernanda lembra que "sempre gostou de ciências na escola", onde se interessou pela evolução animal.

Apesar de ter encontrado em seu trabalho algumas pessoas que duvidaram de suas competências pelo fato de ser mulher, Fernanda conta que, em geral, desde o início teve apoio em suas atividades, ao participar de estágios para trabalhos de campo na Amazônia.

A brasileira representa uma minoria em sua profissão. Segundo um estudo do Boston Consulting Group (BCG) para a Fundação L'Oréal, apenas 30% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres.

O percurso acadêmico de Fernanda é uma exceção à regra: segundo o relatório do BCG, uma estudante do ensino médio tem, em geral, 35% de chances de se inscrever em um curso universitário científico. No caso dos homens, o índice é de 77%.

Já a probabilidade de uma mulher se formar na área científica seria de apenas 18%, com 8% de chances de cursar um mestrado (19% no caso dos homens) e apenas 2% de ser doutora em ciências.
Assim como em outros setores, elas enfrentam desigualdade, como salários menores e há pouco encorajamento durante os estudos - e têm de conciliar o trabalho com o desejo de ter filhos.
É melhor fazer exercício físico antes ou depois do café da manhã?

Nesse campo, os clichês são fortes, inclusive em países desenvolvidos: uma pesquisa realizada pelo instituto OpinionWay em vários países da Europa em 2015 revelou que 67% dos europeus consideram que as mulheres não teriam capacidade para "se tornarem cientistas de alto nível".
O total de mulheres com essa opinião é de 66%, quase o mesmo dos homens.

Não é de de estranhar que apenas cerca de 3% dos prêmios Nobel na área científica foram atribuídos a mulheres desde sua criação, em 1901. Desse total, a grande maioria foi no campo da medicina.
Até hoje, apenas duas mulheres ganharam prêmios Nobel de física: a franco-polonesa Marie Curie, em 1903, a americana Maria Goeppert-Mayer, em 1963.

Na área de química foram apenas quatro: a última delas foi a israelense Ada Yonath, em 2009, após 45 anos de intervalo em relação à predecessora.

No Brasil, há avanços. O número de mulheres que publicam artigos científicos, a principal forma de avaliação da carreira acadêmica, cresceu 11% nos últimos 20 anos, segundo estudo da Gender in Global Research Landscape (Gênero no Cenário Global de Pesquisa, em tradução literal).

As pesquisadoras no Brasil que publicam artigos científicos somam 49% do total, ou seja, quase a mesma proporção dos homens.

Entre os países pesquisados, Brasil e Portugal são os que apresentam maior número de autoras de trabalhos científicos.

Desafios

Fernanda diz que a carreira de cientista apresenta vários desafios que vão além, no caso do Brasil, da dificuldade para conseguir financiamentos.

"Não é um trabalho com horário comercial. Ele exige muitas horas de dedicação. A primeira coisa que faço quando volto para casa é ligar o computador", afirma.

A bióloga conta ainda que teve de "aprender a conciliar a maternidade" com as pesquisas, que precisam prosseguir. Seu marido também é pesquisador e os casal compartilha os cuidados da filha.

Além disso, os trabalhos em campo da bióloga podem levá-la a passar até um mês fora de casa, em áreas isoladas da Amazônia, com pouco contato com a família.

Para a L'Oréal e a Unesco, as vencedoras do "Rising Talents" são mulheres "com o poder de mudar o mundo".

Fernanda espera que o reconhecimento internacional trazido pelo prêmio atraia atenção para a presença das mulheres no mundo das ciências.

E, ao mesmo tempo, alertar para a necessidade de preservação da biodiversidade, onde, segundo ela, estão "as respostas de muitos problemas da humanidade".

O fenômeno da coluna de luz violeta flagrado pela 1ª vez nos céus do Canadá

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39703373

25 abril 2017

Um grupo de cientistas amadores fãs de auroras boreais descobriu um novo fenômeno atmosférico nos céus do norte do Canadá.

Eric Donovan, professor da Universidade de Calgary, identificou a coluna de luz violeta em uma série de fotos compartilhadas no Facebook. A princípio, foi definido como um arco de prótons. Mas Donovan descartou a hipótese ao avaliar que não seria possível ver isso a olho nu.

Diante do mistério, Donovan e seus colegas recorreram a um conjunto de satélites da Agência Espacial Europeia (ESA na sigla em inglês) que estuda o campo magnético da Terra para obter mais informações.

Assim, descobriram que a coluna de luz é uma corrente de gás que flui em grande velocidade nas partes mais elevadas da atmosfera terrestre.

Cientistas analisaram o fenômeno usando satélites localizados a uma altitude de 300 km e notaram que o ar dentro da coluna era 3.000ºC mais quente e circulava a uma velocidade 600 vezes maior do que o ar do entorno.

Pouco se sabe, além disso, sobre a enorme linha de luz violeta. Acredita-se que não seja uma aurora boreal, porque não resulta da característica interação de partículas solares com o campo magnético da Terra.

O novo fenômeno foi batizado de "Steve", em referência à animação Os Sem-Floresta (2006), em que os personagens usam esse nome para falar de uma criatura que nunca tinham visto antes.

"É um fenômeno natural lindo, observado primeiro por cientistas amadores e que despertou o interesse de cientistas profissionais", destaca Roger Haagmans, pesquisador da ESA.

"No final das contas, é bastante comum, mas ainda não o havíamos notado. Isso só foi possível graças a uma soma de esforços."

Irã, 70°C: os mistérios do deserto de Lut, o lugar mais quente da Terra

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39490013

4 abril 2017

Uma expedição de cientistas foi ao lugar mais quente do planeta, o deserto de Lut, no Irã, investigar como é possível existir vida animal ali, mas não vegetação. Na área, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, as temperaturas chegam a até 70°C.

Em persa, a região é chamada Dasht-e-Loot, o que significa algo como "deserto do vazio". Mas apesar desse nome, foram descobertos ali água, insetos, répteis e raposas do deserto.

"Há espécies de animais que não são encontradas em nenhum outro lugar do planeta", explica à BBC Amir AghaKouchak, professor de Hidrologia da Universidade da Califórnia em Irvine e um dos cientistas a participar da expedição.

No entanto, curiosamente não há registro de vegetação em nenhum ponto dos 52 mil quilômetros quadrados de deserto, localizado no sudeste do país, próximo às fronteiras do Paquistão e Afeganistão.

E o que cientistas querem entender é exatamente como existe uma cadeia alimentar numa região tão árida e sem plantas.

"Nossa maior pergunta é como um ambiente tão inóspito pode manter vida, especialmente se não há vida vegetal. Como as raposas do deserto podem sobreviver nesse ambiente tão hostil? E de onde vem a água", explica o professor sobre a expedição.

Pássaros como alimento

AghaKouchak viajou ao coração do deserto de Lut com um grupo de pesquisadores de diferentes áreas que trabalham nos Estados Unidos, Irã e países europeus.

Uma das hipóteses dos cientistas é que pássaros que morrem na área são parte importante da cadeia alimentar.

"Frequentemente avistamos pássaros mortos no deserto. A maioria são aves migratórias que provavelmente se perderam durante seu trajeto e terminaram chegando a Lut."

Para comprovar ou descartar a teoria, os pesquisadores coletaram amostras das aves mortas durante a expedição.

70°C?

Imagens de satélite mostraram o recorde de 70,7ºC em 2005. Temperatura que, segundo o pesquisador, não foi um caso isolado - outras observações registraram números semelhantes.
AghaKouchak explica ainda que a geografia da região é o que provoca temperaturas tão altas - algumas áreas são compostas de rochas vulcânicas, que absorvem calor, e outras, de dunas e vento forte.

"A combinação dessas circunstâncias, de superfície muito quente e muito vento, é o que provoca o calor extremo. É como ter um secador de cabelo funcionando o tempo todo", compara o cientista.
Apesar de a região parecer pouco atraente, o pesquisador a descreve como um deserto de "dunas elegantes" que ganham "padrões incríveis" criados pelo vento. E que é repleto de "kaluts", formações de rocha criadas pela erosão do vento.

'Mar escondido'

Imagens de satélite também mostraram padrões de umidade no terreno.

Inicialmente, os pesquisadores não acreditaram nas informações transmitidas - pensaram que as rochas da região estavam enviando sinais distorcidos.

"Mas quando chegamos ao lugar onde as imagens mostravam umidade, nossos veículos ficaram presos em vários centímetros de lodo", contou o pesquisador.

"Essa foi a confirmação de que existia de fato água ali. E não se trata de um lugar pequeno. Acreditamos que se trata de uma área grande, a qual decidimos chamar de 'o mar escondido de Lut'. Porque a água é salgada", acrescenta.

O pesquisador sugere que a umidade surge das distantes montanhas que rodeiam a zona plana - as águas das ocasionais chuvas da primavera e do início do outono seriam drenadas até ali.

Brasil tem maior diversidade de árvores do planeta, diz estudo inédito

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/geral-39500957

Mark Kinver
Repórter de Meio Ambiente da BBC News

5 abril 2017

O Brasil é o país com a maior biodiversidade de árvores do mundo, aponta um levantamento inédito.
Há 8.715 espécies de árvores no território brasileiro, 14% das 60.065 que existem no planeta. Em segundo na lista vem a Colômbia, com 5.776 espécies, e a Indonésia, com 5.142.

Publicado no periódico Journal of SustainableForestry, o estudo foi realizado pela Botanical Gardens Conservation International (BGCI na sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos, com base nos dados de sua rede de 500 jardins botânicos ao redor do mundo.

A expectativa é que a lista, elaborada a partir de 375,5 mil registros e ao longo de dois anos, seja usada para identificar espécies raras e ameaçadas e prevenir sua extinção.

Ameaça

A pesquisa mostrou que mais da metade das espécies (58%) são encontradas em apenas um país, ou seja, há países que abrigam com exclusividade, certas espécies - podem ser centenas ou milhares -, o que indica que estão vulneráveis ao desmatamento gerado por atividade humana e pelo impacto de eventos climáticos extremos.

Trezentas espécies foram consideradas seriamente ameaçadas, por terem menos de 50 exemplares na natureza.

Também foi identificado que, com exceção dos polos, onde não há árvores, a região próxima do Ártico na América do Norte tem o menor número de espécies, com menos de 1,4 mil.

Trezentas espécies estão seriamente ameaçadas, por terem menos de 50 exemplares na natureza
O secretário-geral da BGCI, Paul Smit, disse que não era possível estimar com precisão o número de árvores existentes no mundo até agora porque os dados acabam de ser digitalizados.

"Estamos em uma posição privilegiada, porque temos 500 instituições botânicas entre nossos membros, e muitos dos dados não estão disponíveis ao público", afirma.

"A digitalização destes dados é o auge de séculos de trabalho."

Uma parte importante do estudo foi estabelecer referências e coordenadas geográficas para as espécies de árvores, o que permite a conservacionistas localizá-las, explica Smith.

Pesquisa mostrou que mais da metade das espécies de árvores são encontradas em um único país
"Obter informações sobre a localização dessas espécies, como os países em que elas existem, é chave para sua conservação", diz o especialista.

"Isso é muito útil para determinar quais devemos priorizar em nossas ações e quais demandam avaliações sobre a situação em que se encontram."

Conservação

Entre as espécies em extinção identificadas pela BGCI está a Karoma gigas, nativa em uma região remota da Tanzânia. No fim de 2016, uma equipe de cientistas encontrou apenas um único conjunto formado por seis exemplares.

Base de dados será fundamental para conservar espécies, diz especialista

Eles recrutaram habitantes da área para proteger essas árvores e monitorá-las para que sejam alertados caso produzam sementes.

Assim, as sementes poderão serão levadas para jardins botânicos da Tanzânia, o que abre caminho para sejam reintroduzidas na natureza depois.

A BGCI diz esperar que o número de árvores da lista cresça, já que cerca de 2 mil novas plantas são descritas todos os anos.

A GlobalTreeSearch, uma base de dados online criada a partir do levantamento, será atualizada toda vez que uma nova espécie for descoberta.

Marginal Tietê tem primeira morte por atropelamento após 25 meses

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/04/1878414-homem-de-76-anos-morre-apos-ser-atropelado-2-vezes-na-marginal-tiete.shtml

DE SÃO PAULO

25/04/2017  15h10 - Atualizado às 17h05

Um homem de 76 anos morreu após ser atropelado duas vezes na marginal Tietê na madrugada desta terça-feira (25). Esse é o primeiro atropelamento com morte registrado na via desde março de 2015.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o acidente aconteceu por volta das 3h na pista expressa, próximo à ponte da Casa Verde, no sentido da rodovia Ayrton Senna.

De acordo com informações do boletim de ocorrência, Manoel Eurípedes de Sousa atravessava a pista quando uma caminhonete o atropelou e fugiu. Com o impacto, Sousa foi arremessado na frente de outro carro que não teve tempo de frear ou desviar.

O motorista do segundo veículo parou para pedir socorro para a vítima, que, de acordo com a CET, foi atendida pelo Samu mas morreu ainda no local.

O caso foi registrado como homicídio culposo na direção de veículo automotor no 2º DP (Bom Retiro), onde será investigado.

Entre maio de 2014 e julho de 2015, antes da redução de velocidade das marginais pela gestão Fernando Haddad (PT), os atropelamentos com morte chegaram a 18. Desde então, não havia novos registros, inclusive com o aumento das velocidades novamente, pelo governo João Doria (PSDB), em janeiro deste ano.

Mortes em acidentes diversos, porém, já foram registradas outras quatro na marginal Tietê neste ano, sendo todas as vítimas motociclistas. Na marginal Pinheiros houve mais três, totalizando sete nas duas marginais desde o aumento das velocidades.

A CET, porém, afirma que "nenhum desses acidentes [com motos] teve relação com a velocidade dos veículos envolvidos" e a companhia "está estudando medidas que possam melhorar a segurança dos motociclistas".

sábado, 22 de abril de 2017

Na disputa com a Coreia do Norte, Trump acerta também os chineses

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/04/1876573-na-disputa-com-a-coreia-do-norte-trump-acerta-tambem-os-chineses.shtml

IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

18/04/2017  16h42

Grande novidade da fase "macho man" do presidente Donald Trump, a escalada nas ameaças contra o regime ditatorial da Coreia do Norte tem cumprido um objetivo mais estratégico do que tático: enquadrar os irmãos maiores de Pyongyang, a ditadura de Pequim. O problema é que a situação pode sair do controle, tantos são os elementos voláteis envolvidos.

Depois de passar sua campanha eleitoral fustigando as táticas comerciais chinesas, Trump foi além e conversou com a presidente de Taiwan em termos iguais antes mesmo de assumir o cargo, deixando os comissários chineses enfurecidos. Em um de seus vários recuos, o republicano voltou atrás e se disse fiel ao princípio que rege a relação com a China desde os anos 1970: a indivisibilidade da nação asiática, incluindo aí a ilha considerada rebelde pelo governo de Xi Jinping.

Agora, Trump volta suas baterias retóricas e militares contra Pyongyang, logo depois de soltar a "mãe de todas as bombas" Afeganistão e atacar a Síria aliada de Vladimir Putin. Ao mesmo tempo, cobra que os chineses usem sua influência para conter o ditador Kim Jong-un. O faz pelos métodos conhecidos, de tuítes ao envio de um grupo de ataque de porta-aviões, e inicialmente parece obter sucesso.

De fato, os chineses endureceram sua retórica. Se irão mesmo cortar o fornecimento de petróleo e outros produtos que fazem girar a economia norte-coreana, é algo ainda a ver. Mas para quem comemorou em jornais oficiais que Trump era o proverbial "tigre de papel", é uma mudança sensível aceitar tal pressão.

O cenário, contudo, é muito perigoso. Kim poderá resolver testar o grau de bravata das declarações de altos funcionários americanos e do próprio presidente, e acabar por fazer um teste de mísseis ou explodir um artefato nuclear. Como Trump praticamente desenhou isso como limite para agir militarmente contra os norte-coreanos, o impasse prossegue.

No desfile patriótico de sábado (15), se a celebração personalista de uma dinastia permite tal qualificação, os norte-coreanos sinalizaram para os especialistas em armas do lado adversário que avançaram em sua promessa de desenvolver um programa de mísseis capaz de ameaçar EUA, Coreia do Sul e Japão com eficácia.

Céticos dirão que os grandes transportadores do que seriam mísseis intercontinentais poderiam estar simplesmente vazios, o que é uma possibilidade. Até aqui, contudo, toda a evolução dos testes norte-coreanos aponta que eles cumprem suas intenções propagandísticas. Houve também o aparente fracasso de um lançamento, algo normal. Hoje há poucos analistas sérios que não consideram que as redondezas do país correm risco de serem bombardeadas, talvez até com uma arma nuclear –embora aqui a discussão técnica seja mais complexa, e faltam dados confiáveis.

O desenvolvimento de uma capacidade intercontinental ainda não foi testado plenamente, mas aí o limite ultrapassado talvez até supere o das bravatas: qual presidente americano, ainda mais um tipo mercurial como Trump, permitiria que os EUA ficassem reféns de um regime aberrante com capacidade de destruir alguma de suas cidades?

Por isso, é bom para a paz mundial que a pressão sobre a China funcione duplamente, sobre ela e sobre seus aliados norte-coreanos. A alternativa só comporta cenários impensáveis, por mais possíveis que sejam hoje.