Fonte: https://noticias.terra.com.br/origem-da-tragedia-quimica-na-siria-ainda-e-misterio,5675fc2af10f39e416e9a36b78f0be3480nvntz5.html
7 ABR 2017 13h20 atualizado às 13h36
Apesar das acusações do Ocidente, culpa por mortes em Idlib não foi plenamente esclarecida. Regime de Assad não teria motivos para emprego gás tóxico quando governo está em vantagem no conflito, diz especialista.
Mais de 80 pessoas foram mortas, vítimas de substâncias químicas, em Khan Cheikhoun, na província de Idlib, na Síria. Essa é uma das poucas certezas existentes sobre a tragédia que motivou a intervenção militar lançada pelos Estados Unidos nesta sexta-feira (07/04).
Potências ocidentais, testemunhas, ONGs que atuam no terreno e rebeldes sírios culpam exclusivamente o ditador Bashar al-Assad pelo que teria sido um bombardeio químico. A acusação é rechaçada por Damasco e sua aliada Rússia.
"O regime sírio parece não ter um motivo convincente", acredita Günther Meyer, diretor do Centro de Pesquisa para o Mundo Árabe na Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz. "Somente grupos de oposição armados poderiam lucrar com um ataque com armas químicas", avalia. "Com as costas contra a parede, eles não têm quase nenhuma chance de se opor militarmente ao regime."
"Tais empregos de armas químicas só favorecem os grupos anti-Assad", acrescenta o especialista. Declarações e decisões recentes do presidente americano, como o ataque de retaliação dos EUA contra uma base militar síria nesta sexta-feira, podem ser um indício disso.
Em 2012, Barack Obama traçou uma "linha vermelha": "Temos sido muito claros em relação ao regime de Assad, mas também com relação a outros partidos do conflito, que uma linha vermelha para nós é quando começarmos a ver um monte de armas químicas se movendo ou sendo utilizadas. Isso mudaria meu cálculo", disse o então presidente americano. Meyer considera a declaração um convite para os adversários de Assad empregarem armas químicas, responsabilizando o regime Assad.
Ataque de 2013: lógica a favor de Assad
Em 2014, o jornalista investigativo Seymour Hersh relatou sobre a capacidade das forças oposicionistas de usarem armas químicas. Em artigo para o periódico britânico London Review of Books, Hersh citava documentos da Agência de Inteligência de Defesa (DIA), a organização de espionagem própria do Pentágono.
Eles sugeriam que a Frente al-Nusra, então braço sírio da rede terrorista Al Qaeda, tinha acesso ao gás sarin, que afeta o sistema nervoso e é altamente tóxico. De acordo com Hershm, o ataque com armas químicas no subúrbio de Damasco, Ghouta, em agosto de 2013, que fora atribuído a Assad, foi realizado por rebeldes. Eles queriam que Washington presumisse que Assad havia cruzado a "linha vermelha" de Obama, atraindo os EUA para uma guerra.
O então diretor de Inteligência Nacional de Obama, James Clapper, conseguiu dissuadir o presidente de ordenar um ataque com mísseis de cruzeiro, segundo consta de um livro recém-publicado pelo especialista em Oriente Médio Michael Lüders. Presumivelmente, um fator decisivo foi uma análise das armas químicas usadas em Ghouta, conduzidas por um laboratório militar britânico, que descobriu que o gás era de uma composição diferente da substância que o Exército sírio possuía.
"O ataque ocorreu enquanto os inspetores de armas da ONU estavam no país a convite de Assad", lembra Meyer. O líder sírio lhes pediu que investigassem um ataque de armas químicas de março de 2013 fora de Aleppo, que matou soldados sírios. "Não faz sentido o regime executar um ataque tendo os inspetores no país", deduz o especialista.
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