Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/2018/01/1954613-bitcoin-e-bolha-envolta-em-misticismo-tecnologico-e-terminara-em-desastre.shtml?mobile
30.jan.2018 às 23h22
Um dia desses, meu barbeiro perguntou se deveria investir todo o seu dinheiro em bitcoins. E a verdade é que, se ele tivesse comprado bitcoins, digamos, um ano atrás, estaria se sentindo muito bem agora. Por outro lado, os especuladores holandeses que adquiriram bulbos de tulipas em 1635 também se sentiram muito bem —até que os preços das tulipas despencassem, em 1637.
Quer dizer que o bitcoin é uma gigantesca bolha, que terminará em desastre? Sim. Mas é uma bolha envolta em misticismo tecnológico, que cresceu dentro de um casulo de ideologia libertária. E remover o invólucro desse casulo nos ensina alguma coisa sobre os tempos em que vivemos.
Se você por acaso mora em uma caverna e nunca ouviu falar do bitcoin, ele é o maior e mais conhecido exemplo de criptomoeda: um ativo que não tem existência física e consiste apenas de um registro digital armazenado em computadores. O que torna as criptomoedas diferentes de uma conta bancária comum, que também não passa de um registro digital, é que elas não residem nos servidores de uma dada instituição financeira. Em lugar disso, a existência dos bitcoins é registrada por meio de registros distribuídos por muitos lugares.
E a propriedade de bitcoins não é verificada pela comprovação (e com isso revelação) da identidade de quem os detenha. Em lugar disso, ela é verificada por uma senha secreta que —usando técnicas derivadas da criptografia, a arte de criar e resolver códigos —permite acesso à moeda virtual sem que seu detentor revele quaisquer informações que não deseje revelar.
É um truque bacana. Mas a que serve?
Em princípio, você pode usar bitcoins para realizar pagamentos eletrônicos por suas aquisições. Mas também é possível usar cartões de débito e serviços como o PayPal, Venmo e outros para o mesmo fim —e o bitcoin é um meio complicado, lento e dispendioso de pagamento, na realidade. Na prática, até mesmo conferências sobre bitcoins às vezes se recusam a aceitar pagamentos em bitcoins de seus participantes. Não existe motivo real para usar o bitcoin em transações —a não que você deseje que ninguém veja o que está comprando ou vendendo, e isso explica porque boa parte do uso prático do bitcoin envolve drogas, sexo e outros bens do mercado negro.
Assim, o bitcoin na verdade não deve ser visto como dinheiro digital. O que ele é, mais ou menos, é um equivalente digital de uma nota de US$ 100.
Como o bitcoin, notas de US$ 100 não são muito úteis para transações comuns. A maioria das lojas não as aceitam. Mas os "benjamins" são populares junto a ladrões, traficantes de drogas e sonegadores de impostos. E embora muitos de nós possamos passar anos sem ver uma cédula de US$ 100, há muitas delas em circulação - o equivalente a mais de US$ 1 trilhão, ou 78% do valor do dinheiro norte-americano que circula em espécie.
Quer dizer que o bitcoin deve ser visto como uma alternativa superior às notas de US$ 100, por permitir que você realize transações secretas sem ter de carregar valises repletas de dinheiro? Nem tanto, porque lhe falta um traço essencial: uma conexão com a realidade.
Ainda que o dólar moderno não seja lastreado por outro ativo, como o ouro, seu valor último está no fato de que o governo dos Estados Unidos o aceita, e na verdade o exige, como meio de pagamento de impostos. O poder aquisitivo do dólar também é estabilizado pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, que reduzirá o montante de dinheiro em circulação se a inflação subir demais, ou elevará sua oferta de moeda para impedir uma deflação. E uma nota de US$ 100, evidentemente, vale 100 unidades de uma moeda basicamente estável.
O bitcoin, em contraste, não tem valor intrínseco. Combine a isso a falta de conexão com a realidade e a extensão muito limitada na qual a criptomoeda é usada para qualquer coisa, e você terá um ativo cujo preço é quase puramente especulativo. O bitcoin perdeu quase 40% de seu valor nas últimas seis semanas; se ele fosse uma moeda de verdade, a queda equivaleria a uma taxa anual de inflação de 8.000%.
E a falta de vínculo entre o bitcoin e a realidade também o expõe a manipulações de mercado. Em 2013, as atividades fraudulentas de um único operador resultaram em alta de 700% no preço do bitcoin. Quem está conduzindo a alta atual? Ninguém sabe. Alguns observadores acreditam que a Coreia do Norte possa estar envolvida.
Mas e o fato de que as pessoas que compraram bitcoins cedo ganharam muito dinheiro? Bem, as pessoas que investiram seu capital com Bernie Madoff também ganharam muito dinheiro, ou pareciam tê-lo feito, por muito tempo.
Como aponta Robert Shiller, o maior especialista mundial em bolhas de mercado, as bolhas de ativos "são como esquemas de pirâmide que ocorrem naturalmente". Os primeiros investidores em uma bolha ganham muito dinheiro porque novos investidores são atraídos ao mercado, e o lucro que os investidores iniciais realizam atrai ainda mais gente. O processo pode continuar por anos antes que algo —um teste de realidade ou a simples exaustão do pool de otários potenciais— provoque o fim súbito e doloroso da festa.
E quando se trata de criptomoedas, há um fator adicional. Elas são uma bolha, mas também uma espécie de culto, cujos iniciados são dados a fantasias paranoicas sobre o roubo de todo o seu dinheiro pelo governo (em oposição aos roubos reais praticados por hackers, que embolsaram proporção notavelmente alta dos bitcoins existentes). Jornalistas que escrevem ceticamente sobre o bitcoin dizem que não existe assunto que atraia tanta correspondência hostil.
Portanto, não, meu barbeiro não deveria comprar bitcoins. Isso vai acabar mal, e quanto mais rápido o fim vier, melhor.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Paul Krugman
É prêmio Nobel de Economia e colunista do 'NYT'. É um dos mais renomados economistas da atualidade.
Blog focado em Geografia e em fatos e notícias contemporâneas, que compõem as Atualidades.
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
UE aprova estratégia do 'brexit' com transição dura para o Reino Unido
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1954138-ue-aprova-estrategia-do-brexit-com-transicao-dura-para-o-reino-unido.shtml
DIOGO BERCITO
DE MADRI
29/01/2018 15h21
A União Europeia aprovou nesta segunda-feira (29) sua estratégia de negociação com o Reino Unido para um período de transição após o "brexit", nome dado à saída britânica do bloco econômico.
A proposta é que, durante a transição, o Reino Unido continue sujeito às regras da União Europeia —mas perca seu poder de decisão, sendo incapaz, por exemplo, de bloquear novas leis.
O "brexit" está previsto para ocorrer no fim de março de 2019 e a transição se alongaria até 31 de dezembro de 2020, segundo a proposta europeia. A ideia não agrada o Reino Unido, que vem sofrendo sucessivas derrotas na mesa de negociação.
Os 27 países restantes da União Europeia têm negociado em uma frente unificada, representados por Michel Barnier. Do lado britânico, negocia o ministro David Davis, em um gabinete fracionado. Barnier e Davis podem se reunir já nesta semana para conversar sobre a transição.
Um porta-voz do governo britânico reagiu às diretrizes europeias dizendo apenas que as negociações para a transição "serão duras". A ideia de permanecer na União Europeia mas sem direito a voto desagrada governo e simpatizantes do "brexit", que consideram essa solução uma abdicação de soberania —justo o oposto daquilo que defendem.
O Reino Unido aprovou o "brexit" em um plebiscito em junho de 2016. Um dos argumentos dos separatistas é de que Londres errou ao transferir suas prerrogativas a Bruxelas, capital da burocracia europeia, incluindo suas decisões de política migratória.
Como outras derrotas da primeira-ministra britânica, Theresa May, aceitar um período de transição sem poder de voto poderá enfraquecê-la ainda mais. May já foi obrigada a garantir no fim do ano passado que não haverá uma fronteira física entre a Irlanda do Norte (território britânico) e a Irlanda (membro da UE).
Ofuscada no cenário global, May tem sido alvo de chacota por como tem lidado com as negociações. O jornalista britânico Robert Peston disse em uma rede social que a chanceler alemã, Angela Merkel, ridicularizou a britânica durante um encontro com a imprensa no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, na semana passada.
Merkel disse, segundo o relato de Peston, que a Europa constantemente pergunta a May o que ela quer das negociações, mas a britânica continua a repetir "faça uma oferta". "Mas você está saindo, não temos de fazer ofertas. O que você quer?". "Faça uma oferta."
DIOGO BERCITO
DE MADRI
29/01/2018 15h21
A União Europeia aprovou nesta segunda-feira (29) sua estratégia de negociação com o Reino Unido para um período de transição após o "brexit", nome dado à saída britânica do bloco econômico.
A proposta é que, durante a transição, o Reino Unido continue sujeito às regras da União Europeia —mas perca seu poder de decisão, sendo incapaz, por exemplo, de bloquear novas leis.
O "brexit" está previsto para ocorrer no fim de março de 2019 e a transição se alongaria até 31 de dezembro de 2020, segundo a proposta europeia. A ideia não agrada o Reino Unido, que vem sofrendo sucessivas derrotas na mesa de negociação.
Os 27 países restantes da União Europeia têm negociado em uma frente unificada, representados por Michel Barnier. Do lado britânico, negocia o ministro David Davis, em um gabinete fracionado. Barnier e Davis podem se reunir já nesta semana para conversar sobre a transição.
Um porta-voz do governo britânico reagiu às diretrizes europeias dizendo apenas que as negociações para a transição "serão duras". A ideia de permanecer na União Europeia mas sem direito a voto desagrada governo e simpatizantes do "brexit", que consideram essa solução uma abdicação de soberania —justo o oposto daquilo que defendem.
O Reino Unido aprovou o "brexit" em um plebiscito em junho de 2016. Um dos argumentos dos separatistas é de que Londres errou ao transferir suas prerrogativas a Bruxelas, capital da burocracia europeia, incluindo suas decisões de política migratória.
Como outras derrotas da primeira-ministra britânica, Theresa May, aceitar um período de transição sem poder de voto poderá enfraquecê-la ainda mais. May já foi obrigada a garantir no fim do ano passado que não haverá uma fronteira física entre a Irlanda do Norte (território britânico) e a Irlanda (membro da UE).
Ofuscada no cenário global, May tem sido alvo de chacota por como tem lidado com as negociações. O jornalista britânico Robert Peston disse em uma rede social que a chanceler alemã, Angela Merkel, ridicularizou a britânica durante um encontro com a imprensa no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, na semana passada.
Merkel disse, segundo o relato de Peston, que a Europa constantemente pergunta a May o que ela quer das negociações, mas a britânica continua a repetir "faça uma oferta". "Mas você está saindo, não temos de fazer ofertas. O que você quer?". "Faça uma oferta."
domingo, 28 de janeiro de 2018
Boeing-Embraer opõe necessidade de mercado a soberania nacional
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/01/1953933-boeing-embraer-opoe-necessidade-de-mercado-a-soberania-nacional.shtml
28.jan.2018 às 2h00
IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO
A negociação entre as fabricantes de aviões Boeing e Embraer, na qual o governo brasileiro é parte e mediador, opõe uma necessidade imperativa de mercado a dúvidas sérias sobre questões de soberania nacional.
Desde que as conversas sobre a intenção de a americana comprar a brasileira vazaram pelo diário americano "The Wall Street Journal", em 21 de dezembro, uma versão tropical da "shuttle diplomacy" tomou forma, com executivos e autoridades intensificando visitas e consultas.
Isso foi motivado pela política: como a Folha antecipou, o presidente Michel Temer apressou-se em dizer que usaria o poder de veto que a União possui sobre a sua ex-estatal para evitar a "perda de controle nacional".
De lá para cá, as conversas ocorrem em base quase diária. Só na semana que passou, executivos americanos estiveram em Brasília, Rio e São Paulo explicando suas intenções. O grupo de trabalho montado pelo Ministério da Defesa passou a sexta-feira (26) conhecendo as instalações da área de defesa da Embraer em Gavião Peixoto (SP).
E isso ocorreu um dia depois de o grupo e seu chefe, o ministro Raul Jungmann, receberem uma comitiva sueca preocupada com seu quinhão na história: o caça Gripen, comprado pela Força Aérea Brasileira, será montado pela empresa paulista que pode virar parte da gigante americana com a qual concorre.
É possível dizer, a partir de sondagens com envolvidos de todos lados da mesa, que as conversas avançaram, mas há uma resiliente desconfiança sobre seu sucesso.
Abaixo, a Folha alinhava alguns dos pontos em negociação, que é informal até tomar corpo e ser apresentada ao conselho de administração da Embraer.
O MERCADO
Visões díspares sobre o futuro da Embraer permeiam as conversas. Ela está entrando naquilo que internamente chama de "terceira onda", após a fase estatal (e militar) e os 20 anos pós-privatização (em que virou líder do mercado de aviação regional, com 46% das vendas).
Agora, a Embraer tem três produtos com o desenvolvimento praticamente encerrado: a nova linha regional (E2), o cargueiro militar KC-390 e a família de jatos executivos Legacy completa.
Só que há um ambiente externo desfavorável, como, aliás, é a regra de um mercado no qual 25% dos custos são ditados pelo volátil preço do petróleo, para começar.
Nos últimos anos, o setor de aviação adensou-se. No Ocidente, cadeias produtivas foram organizadas em dois ramos: o da Boeing e o da sua rival europeia, a Airbus.
Rússia, China e Índia cooperam entre si, e o Japão ensaia passos no nicho regional.
Empresa ocidental globalizada, a Embraer teme ficar isolada no processo. Como sua maior rival, a canadense Bombardier, teve sua nova família regional CSeries comprada pelos europeus em outubro, resta a Boeing para conversar sobre o futuro.
A brasileira é líder, mas é pequena em comparação com as gigantes -vale algo como US$ 5 bilhões, ante US$ 204 bilhões da Boeing. Quando viu seu maior rival ganhar a musculatura da Airbus para promover suas vendas, o sinal amarelo piscou.
Já a americana, que hoje está no momento de maior valorização de sua história e com apostas certeiras no mercado de aviões grandes, viu a adversária municiar-se de um produto do qual não dispõe: um avião na faixa de 70 a 130 lugares. Justamente o que a Embraer tem pronto.
Além disso, por uma questão de envelhecimento de geração, ela está com problemas na sua área de engenharia. Seus últimos programas enfrentaram atrasos que não foram vistos nas empreitadas recentes da Embraer, que tem um time mais jovem em ação.
Essa lógica aproximou as duas empresas. Mas o governo hoje tende a considerar a Boeing em situação mais crítica do que a Embraer em termos de necessidades, algo que não é compartilhado pelas fabricantes.
Há cálculo político nisso, já que com seu poder de veto o Planalto pode usar a visão da "Boeing fraca" como carta nas conversas. A americana já percebeu e não se mostra confortável com isso.
Já a Embraer sua frio, pois sabe que seu voo será mais turbulento sem apoio externo -a decisão de agência regulatória americana de negar uma taxação de quase 300% sobre o CSeries no país abriu uma avenida para a venda do produto canadense da Airbus no maior mercado regional do mundo.
SOBERANIA
De Temer ao soldado que saúda quem entra no Ministério da Defesa, a ideia de que "a Embraer não pode ter controle estrangeiro" é corrente. A questão da soberania é central na discussão.
Há mitos na praça. Primeiro, o governo não é dono da Embraer, ainda que tenha poder de vetar seus negócios. A empresa tem controle pulverizado, com 85% das ações já nas mãos de estrangeiros.
Além disso, como seus aviões são talvez 80% feitos com peças americanas, o Brasil financia a exportação de produtos "made in USA" para os Estados Unidos por meio do BNDES (US$ 14 bilhões de 2001 a 2016).
Isso estabelecido, o controle operacional da empresa é de brasileiros. Isso pode ser replicado num acordo, segundo os envolvidos -é o que o Reino Unido obriga, por exemplo, para a Boeing operar por lá.
Mas o problema é mais complexo. Se virar uma empresa da Boeing, a Embraer passará a se sujeitar a regulações de Washington sobre a produção de armamentos.
Hipoteticamente, a FAB poderia ter vetado pelo Congresso americano o desenvolvimento de algum tipo de aeronave que só a Embraer tem capacidade de fazer no país.
O contra-argumento vem de uma obviedade: todo avião que a Embraer faz depende de autorizações dos países que fornecem suas partes, e o veto americano à venda de Super Tucanos para a Venezuela chavista é o exemplo de manual a ser citado no caso.
Sobre isso, a produção conjunta com a Saab sueca do caça Gripen e os contratos de subsidiárias da Embraer que lhe facultam o monitoramento de fronteiras e do espaço aéreo, além de participação no submarino nuclear em desenvolvimento, a resposta da Boeing vem na forma de salvaguardas.
No caso do Gripen, por exemplo, já estão colocados diversos "firewalls" em Gavião Peixoto. Até a entrada de funcionários é segregada, além de acesso a níveis de informação. Engenheiros envolvidos com o KC-390 não têm acesso a questões do Gripen, nem vice-versa.
O governo brasileiro ainda não se convenceu disso, e é aqui que a negociação tende a ser mais espinhosa.
EXPORTAÇÃO
A Embraer é a maior exportadora brasileira de produtos de alto valor agregado. O argumento central dos negociadores pró-acordo é que a enorme estrutura de vendas e marketing da Boeing poderá alavancar a venda de novos produtos das quais ela não dispõe: o KC-390, o Super Tucano, jatos executivos e a linha E2, hoje.
Além disso, o que foi ofertado até aqui pela Boeing prevê a Embraer como parte ativa de sua cadeia produtiva.
Além de empregar engenheiros brasileiros em projetos de seus novos aviões, e ela precisa trabalhar em um modelo de tamanho médio que já está com seu desenvolvimento atrasado, o Brasil poderia virar exportador de componentes de aviões da Boeing, como ocorre hoje com Austrália e Reino Unido
No governo, isso esbarra novamente na questão do controle: os americanos podem tentar acordos pontuais, como muitos na Esplanada dos Ministérios acreditam que acabará a novela, mas insistem na ideia do controle total sobre a brasileira.
28.jan.2018 às 2h00
IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO
A negociação entre as fabricantes de aviões Boeing e Embraer, na qual o governo brasileiro é parte e mediador, opõe uma necessidade imperativa de mercado a dúvidas sérias sobre questões de soberania nacional.
Desde que as conversas sobre a intenção de a americana comprar a brasileira vazaram pelo diário americano "The Wall Street Journal", em 21 de dezembro, uma versão tropical da "shuttle diplomacy" tomou forma, com executivos e autoridades intensificando visitas e consultas.
Isso foi motivado pela política: como a Folha antecipou, o presidente Michel Temer apressou-se em dizer que usaria o poder de veto que a União possui sobre a sua ex-estatal para evitar a "perda de controle nacional".
De lá para cá, as conversas ocorrem em base quase diária. Só na semana que passou, executivos americanos estiveram em Brasília, Rio e São Paulo explicando suas intenções. O grupo de trabalho montado pelo Ministério da Defesa passou a sexta-feira (26) conhecendo as instalações da área de defesa da Embraer em Gavião Peixoto (SP).
E isso ocorreu um dia depois de o grupo e seu chefe, o ministro Raul Jungmann, receberem uma comitiva sueca preocupada com seu quinhão na história: o caça Gripen, comprado pela Força Aérea Brasileira, será montado pela empresa paulista que pode virar parte da gigante americana com a qual concorre.
É possível dizer, a partir de sondagens com envolvidos de todos lados da mesa, que as conversas avançaram, mas há uma resiliente desconfiança sobre seu sucesso.
Abaixo, a Folha alinhava alguns dos pontos em negociação, que é informal até tomar corpo e ser apresentada ao conselho de administração da Embraer.
O MERCADO
Visões díspares sobre o futuro da Embraer permeiam as conversas. Ela está entrando naquilo que internamente chama de "terceira onda", após a fase estatal (e militar) e os 20 anos pós-privatização (em que virou líder do mercado de aviação regional, com 46% das vendas).
Agora, a Embraer tem três produtos com o desenvolvimento praticamente encerrado: a nova linha regional (E2), o cargueiro militar KC-390 e a família de jatos executivos Legacy completa.
Só que há um ambiente externo desfavorável, como, aliás, é a regra de um mercado no qual 25% dos custos são ditados pelo volátil preço do petróleo, para começar.
Nos últimos anos, o setor de aviação adensou-se. No Ocidente, cadeias produtivas foram organizadas em dois ramos: o da Boeing e o da sua rival europeia, a Airbus.
Rússia, China e Índia cooperam entre si, e o Japão ensaia passos no nicho regional.
Empresa ocidental globalizada, a Embraer teme ficar isolada no processo. Como sua maior rival, a canadense Bombardier, teve sua nova família regional CSeries comprada pelos europeus em outubro, resta a Boeing para conversar sobre o futuro.
A brasileira é líder, mas é pequena em comparação com as gigantes -vale algo como US$ 5 bilhões, ante US$ 204 bilhões da Boeing. Quando viu seu maior rival ganhar a musculatura da Airbus para promover suas vendas, o sinal amarelo piscou.
Já a americana, que hoje está no momento de maior valorização de sua história e com apostas certeiras no mercado de aviões grandes, viu a adversária municiar-se de um produto do qual não dispõe: um avião na faixa de 70 a 130 lugares. Justamente o que a Embraer tem pronto.
Além disso, por uma questão de envelhecimento de geração, ela está com problemas na sua área de engenharia. Seus últimos programas enfrentaram atrasos que não foram vistos nas empreitadas recentes da Embraer, que tem um time mais jovem em ação.
Essa lógica aproximou as duas empresas. Mas o governo hoje tende a considerar a Boeing em situação mais crítica do que a Embraer em termos de necessidades, algo que não é compartilhado pelas fabricantes.
Há cálculo político nisso, já que com seu poder de veto o Planalto pode usar a visão da "Boeing fraca" como carta nas conversas. A americana já percebeu e não se mostra confortável com isso.
Já a Embraer sua frio, pois sabe que seu voo será mais turbulento sem apoio externo -a decisão de agência regulatória americana de negar uma taxação de quase 300% sobre o CSeries no país abriu uma avenida para a venda do produto canadense da Airbus no maior mercado regional do mundo.
SOBERANIA
De Temer ao soldado que saúda quem entra no Ministério da Defesa, a ideia de que "a Embraer não pode ter controle estrangeiro" é corrente. A questão da soberania é central na discussão.
Há mitos na praça. Primeiro, o governo não é dono da Embraer, ainda que tenha poder de vetar seus negócios. A empresa tem controle pulverizado, com 85% das ações já nas mãos de estrangeiros.
Além disso, como seus aviões são talvez 80% feitos com peças americanas, o Brasil financia a exportação de produtos "made in USA" para os Estados Unidos por meio do BNDES (US$ 14 bilhões de 2001 a 2016).
Isso estabelecido, o controle operacional da empresa é de brasileiros. Isso pode ser replicado num acordo, segundo os envolvidos -é o que o Reino Unido obriga, por exemplo, para a Boeing operar por lá.
Mas o problema é mais complexo. Se virar uma empresa da Boeing, a Embraer passará a se sujeitar a regulações de Washington sobre a produção de armamentos.
Hipoteticamente, a FAB poderia ter vetado pelo Congresso americano o desenvolvimento de algum tipo de aeronave que só a Embraer tem capacidade de fazer no país.
O contra-argumento vem de uma obviedade: todo avião que a Embraer faz depende de autorizações dos países que fornecem suas partes, e o veto americano à venda de Super Tucanos para a Venezuela chavista é o exemplo de manual a ser citado no caso.
Sobre isso, a produção conjunta com a Saab sueca do caça Gripen e os contratos de subsidiárias da Embraer que lhe facultam o monitoramento de fronteiras e do espaço aéreo, além de participação no submarino nuclear em desenvolvimento, a resposta da Boeing vem na forma de salvaguardas.
No caso do Gripen, por exemplo, já estão colocados diversos "firewalls" em Gavião Peixoto. Até a entrada de funcionários é segregada, além de acesso a níveis de informação. Engenheiros envolvidos com o KC-390 não têm acesso a questões do Gripen, nem vice-versa.
O governo brasileiro ainda não se convenceu disso, e é aqui que a negociação tende a ser mais espinhosa.
EXPORTAÇÃO
A Embraer é a maior exportadora brasileira de produtos de alto valor agregado. O argumento central dos negociadores pró-acordo é que a enorme estrutura de vendas e marketing da Boeing poderá alavancar a venda de novos produtos das quais ela não dispõe: o KC-390, o Super Tucano, jatos executivos e a linha E2, hoje.
Além disso, o que foi ofertado até aqui pela Boeing prevê a Embraer como parte ativa de sua cadeia produtiva.
Além de empregar engenheiros brasileiros em projetos de seus novos aviões, e ela precisa trabalhar em um modelo de tamanho médio que já está com seu desenvolvimento atrasado, o Brasil poderia virar exportador de componentes de aviões da Boeing, como ocorre hoje com Austrália e Reino Unido
No governo, isso esbarra novamente na questão do controle: os americanos podem tentar acordos pontuais, como muitos na Esplanada dos Ministérios acreditam que acabará a novela, mas insistem na ideia do controle total sobre a brasileira.
sábado, 27 de janeiro de 2018
Turquia ameaça ampliar ofensiva na Síria até a fronteira com o Iraque
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1953805-turquia-ameaca-ampliar-ofensiva-na-siria-ate-a-fronteira-com-o-iraque.shtml
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
27/01/2018 02h00
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta sexta-feira (26) que vai ampliar sua ofensiva contra os curdos na Síria até a fronteira com o Iraque, aumentando o risco de um confronto com as forças americanas presentes na região.
Os comentários foram interpretados como uma resposta aos EUA, que haviam conclamado os turcos a manter sua ofensiva "limitada em duração e magnitude".
A Turquia começou a investir contra os curdos em Afrin, no noroeste da Síria, no último dia 20, abrindo um novo front na guerra síria, que começou em 2011 e já causou mais de 350 mil mortes. O governo turco afirma que a milícia curda síria é terrorista. Os EUA se aliaram à milícia curda YPG para combater a facção terrorista Estado Islâmico na Síria, fornecendo armas e treinamento.
O governo turco já havia anunciado que iria mover sua ofensiva para a cidade de Manbij, a 100 km de Afrin. Lá estão baseados cerca de 2.000 soldados americanos.
Uma operação turca em Manbij traria risco de choques diretos com forças americanas, em um confronto envolvendo dois membros da Otan, aliança militar ocidental.
"A Operação Ramo de Oliveira vai continuar até atingir seus objetivos. Nós vamos limpar Manbij de terroristasnão se preocupem, os donos reais de Manbij não são esses terroristas [curdos], são nossos irmãos árabes", disse Erdogan. "De Manbij, vamos continuar a batalha até que não sobre nenhum terrorista até a fronteira com o Iraque."
"Qualquer um que apoie a organização terrorista será um alvo nesta batalha", disse o vice-premiê turco, Bekir Bozdag, referindo-se às milícias curdas YPG na Síria. "Os EUA precisam rever seus soldados na área e seu apoio a terroristas, para evitar um confronto com a Turquia."
Um erro de cálculo dos EUA precipitou a invasão turca em Afrin. Em discurso, o secretário de Estado, Rex Tillerson, afirmou que os americanos manteriam presença na Síria no longo prazo. Pouco antes, os EUA haviam anunciado que patrocinariam uma força de fronteira com 30 mil homens.
Como os EUA estão aliados aos curdos, a Turquia encarou o anúncio como a constituição de um Exército curdo permanente com apoio e armamentos americanos.
A Rússia, que mantinha soldados e controlava o espaço aéreo em Afrin, em colaboração com os curdos, irritou-se e abriu caminho para os bombardeios turcos.
Com isso, a Turquia aprofundou a aliança estratégica que vem selando com Moscou. O regime do ditador sírio Bashar al-Assad, embora condene a ação turca, não quer que a autonomia curda se consolide na região, por isso não agiu.
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
27/01/2018 02h00
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta sexta-feira (26) que vai ampliar sua ofensiva contra os curdos na Síria até a fronteira com o Iraque, aumentando o risco de um confronto com as forças americanas presentes na região.
Os comentários foram interpretados como uma resposta aos EUA, que haviam conclamado os turcos a manter sua ofensiva "limitada em duração e magnitude".
A Turquia começou a investir contra os curdos em Afrin, no noroeste da Síria, no último dia 20, abrindo um novo front na guerra síria, que começou em 2011 e já causou mais de 350 mil mortes. O governo turco afirma que a milícia curda síria é terrorista. Os EUA se aliaram à milícia curda YPG para combater a facção terrorista Estado Islâmico na Síria, fornecendo armas e treinamento.
O governo turco já havia anunciado que iria mover sua ofensiva para a cidade de Manbij, a 100 km de Afrin. Lá estão baseados cerca de 2.000 soldados americanos.
Uma operação turca em Manbij traria risco de choques diretos com forças americanas, em um confronto envolvendo dois membros da Otan, aliança militar ocidental.
"A Operação Ramo de Oliveira vai continuar até atingir seus objetivos. Nós vamos limpar Manbij de terroristasnão se preocupem, os donos reais de Manbij não são esses terroristas [curdos], são nossos irmãos árabes", disse Erdogan. "De Manbij, vamos continuar a batalha até que não sobre nenhum terrorista até a fronteira com o Iraque."
"Qualquer um que apoie a organização terrorista será um alvo nesta batalha", disse o vice-premiê turco, Bekir Bozdag, referindo-se às milícias curdas YPG na Síria. "Os EUA precisam rever seus soldados na área e seu apoio a terroristas, para evitar um confronto com a Turquia."
Um erro de cálculo dos EUA precipitou a invasão turca em Afrin. Em discurso, o secretário de Estado, Rex Tillerson, afirmou que os americanos manteriam presença na Síria no longo prazo. Pouco antes, os EUA haviam anunciado que patrocinariam uma força de fronteira com 30 mil homens.
Como os EUA estão aliados aos curdos, a Turquia encarou o anúncio como a constituição de um Exército curdo permanente com apoio e armamentos americanos.
A Rússia, que mantinha soldados e controlava o espaço aéreo em Afrin, em colaboração com os curdos, irritou-se e abriu caminho para os bombardeios turcos.
Com isso, a Turquia aprofundou a aliança estratégica que vem selando com Moscou. O regime do ditador sírio Bashar al-Assad, embora condene a ação turca, não quer que a autonomia curda se consolide na região, por isso não agiu.
Passa de 100 o número de mortos em Cabul; Taleban assumiu o atentado
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1953816-taleban-assume-atentado-em-cabul-que-matou-ao-menos-17-pessoas.shtml
27.jan.2018 às 8h23
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Passa de 100 o número de mortos depois que uma escondida em uma ambulância explodiu próxima a um ponto de controle da polícia na capital afegã, Cabul, neste sábado (27), em uma área próxima a embaixadas e edifícios governamentais, informou o Ministério da Saúde Pública.
O atentado terrorista deixou ao menos 235 pessoas, entre civis e policiais afegãos.
O Taleban assumiu a responsabilidade pela explosão, uma semana depois de reivindicar o ataque ao Hotel Intercontinental, também em Cabul, quando 18 pessoas morreram.
"É um massacre", disse Dejan Panic, coordenador da ONG italiana Emergência, que administra um hospital de trauma localizado nas proximidades.
Edifícios a centenas de metros de distância foram abalados pela força da explosão, que deixou vários corpos espalhados pela rua, perto de escombros e detritos.
O porta-voz do Ministério da Saúde Pública, Wahid Majroh, confirmou o número de mortos e informou que os feridos estavam sendo levados para hospitais da cidade.
Mirwais Yasini, membro do Parlamento afegão, estava próximo ao local quando o estouro ocorreu. Segundo ele, a ambulância se aproximou de um escritório do Conselho da Alta Paz e de várias embaixadas estrangeiras antes do abalo.
Nasrat Rahimi, porta-voz do Ministério do Interior, confirmou o atentado.
ESTADOS UNIDOS
O ataque aumenta a pressão sobre o presidente Ashraf Ghani e sobre os Estados Unidos, que expressaram confiança de que uma nova estratégia militar conseguiria expulsar os insurgentes dos principais centros provinciais.
Recentemente, os EUA intensificaram sua assistência ao Afeganistão e aumentaram os ataques contra outros grupos terroristas.
Com o atentado, o Taleban refuta o diagnóstico de que estaria enfraquecido e mostra que ainda é capaz de planejar e executar ataques mortais e de alto perfil.
27.jan.2018 às 8h23
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Passa de 100 o número de mortos depois que uma escondida em uma ambulância explodiu próxima a um ponto de controle da polícia na capital afegã, Cabul, neste sábado (27), em uma área próxima a embaixadas e edifícios governamentais, informou o Ministério da Saúde Pública.
O atentado terrorista deixou ao menos 235 pessoas, entre civis e policiais afegãos.
O Taleban assumiu a responsabilidade pela explosão, uma semana depois de reivindicar o ataque ao Hotel Intercontinental, também em Cabul, quando 18 pessoas morreram.
"É um massacre", disse Dejan Panic, coordenador da ONG italiana Emergência, que administra um hospital de trauma localizado nas proximidades.
Edifícios a centenas de metros de distância foram abalados pela força da explosão, que deixou vários corpos espalhados pela rua, perto de escombros e detritos.
O porta-voz do Ministério da Saúde Pública, Wahid Majroh, confirmou o número de mortos e informou que os feridos estavam sendo levados para hospitais da cidade.
Mirwais Yasini, membro do Parlamento afegão, estava próximo ao local quando o estouro ocorreu. Segundo ele, a ambulância se aproximou de um escritório do Conselho da Alta Paz e de várias embaixadas estrangeiras antes do abalo.
Nasrat Rahimi, porta-voz do Ministério do Interior, confirmou o atentado.
ESTADOS UNIDOS
O ataque aumenta a pressão sobre o presidente Ashraf Ghani e sobre os Estados Unidos, que expressaram confiança de que uma nova estratégia militar conseguiria expulsar os insurgentes dos principais centros provinciais.
Recentemente, os EUA intensificaram sua assistência ao Afeganistão e aumentaram os ataques contra outros grupos terroristas.
Com o atentado, o Taleban refuta o diagnóstico de que estaria enfraquecido e mostra que ainda é capaz de planejar e executar ataques mortais e de alto perfil.
Presidente de Honduras inicia novo mandato em meio a protestos
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1953885-presidente-de-honduras-assume-novo-mandato-em-meio-a-protestos.shtml
27.jan.2018 às 17h52
Atualizado: 27.jan.2018 às 18h14
GUSTAVO PALENCIA
DA REUTERS
O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, assumiu neste sábado (27) um novo mandato de quatro anos, depois de uma polêmica reeleição em novembro, em meio a denúncias de fraude pela oposição e protestos.
Hernández, um advogado conservador aliado aos Estados Unidos, deve governar em um ambiente de alta tensão devido às ameaças da oposição de que seguirá indo às ruas protestar.
A vitória apertada de Hernández por 1,53% dos votos foi majoritariamente reconhecida pela comunidade internacional, incluindo por México e EUA, apesar de a OEA (Organização dos Estados Americanos) ter declarado ser impossível ter certeza sobre o resultado e recomendado novas eleições.
Hernández tomou posse em uma cerimônia curta em um estádio de Tegucigalpa e prometeu "reconciliação".
"Quero agradecer aos hondurenhos, e não importa em quem votaram. Meu compromisso é trabalhar para todos", disse, durante o primeiro discurso como presidente reeleito.
"Me comprometo a realizar um processo de reconciliação entre todos os hondurenhos", acrescentou.
A cerca de quatro quilômetros do estádio onde Hernández tomou posse, manifestantes jogavam pedras contra militares e policiais, que respondiam com gás lacrimogêneo para dispersar a marcha.
A manifestação era comandada pelo ex-candidato da oposição Salvador Nasralla, um apresentador de tevê, e seu aliado, o ex-presidente de esquerda Manuel Zelaya
27.jan.2018 às 17h52
Atualizado: 27.jan.2018 às 18h14
GUSTAVO PALENCIA
DA REUTERS
O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, assumiu neste sábado (27) um novo mandato de quatro anos, depois de uma polêmica reeleição em novembro, em meio a denúncias de fraude pela oposição e protestos.
Hernández, um advogado conservador aliado aos Estados Unidos, deve governar em um ambiente de alta tensão devido às ameaças da oposição de que seguirá indo às ruas protestar.
A vitória apertada de Hernández por 1,53% dos votos foi majoritariamente reconhecida pela comunidade internacional, incluindo por México e EUA, apesar de a OEA (Organização dos Estados Americanos) ter declarado ser impossível ter certeza sobre o resultado e recomendado novas eleições.
Hernández tomou posse em uma cerimônia curta em um estádio de Tegucigalpa e prometeu "reconciliação".
"Quero agradecer aos hondurenhos, e não importa em quem votaram. Meu compromisso é trabalhar para todos", disse, durante o primeiro discurso como presidente reeleito.
"Me comprometo a realizar um processo de reconciliação entre todos os hondurenhos", acrescentou.
A cerca de quatro quilômetros do estádio onde Hernández tomou posse, manifestantes jogavam pedras contra militares e policiais, que respondiam com gás lacrimogêneo para dispersar a marcha.
A manifestação era comandada pelo ex-candidato da oposição Salvador Nasralla, um apresentador de tevê, e seu aliado, o ex-presidente de esquerda Manuel Zelaya
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Turquia adverte os EUA sobre risco de conflito no norte da Síria
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1953498-turquia-adverte-os-eua-sobre-risco-de-conflito-no-norte-da-siria.shtml
26.jan.2018 às 2h36
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
A Turquia advertiu nesta quinta-feira (25) que os Estados Unidos devem suspender o apoio às milícias curdas na Síria, ou arriscam-se a entrar em confronto com forças turcas na região. As afirmações apontam para a possibilidade de conflito entre os dois membros da Otan (aliança militar ocidental).
"Qualquer um que apoie a organização terrorista será um alvo nesta batalha", disse o vice-premiê turco, Bekir Bozdag, que também é porta-voz do presidente Recep Tayyip Erdogan, referindo-se às milícias curdas YPG na Síria. "Os EUA precisam rever seus soldados na área e seu apoio a terroristas, para evitar um confronto com a Turquia."
A Turquia lançou uma ofensiva contra os curdos em Afrin, no norte da Síria, em 20 de janeiro. O governo turco afirma que a milícia curda síria é aliada do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), que lidera uma insurgência separatista na Turquia e é considerado terrorista por Ancara, pela União Europeia e pelos EUA.
Os EUA se aliaram à milícia curda YPG para combater o Estado Islâmico na Síria, fornecendo armas e treinamento nos últimos anos. Os americanos pediram à Turquia que limite sua ofensiva, mas afirmaram que só apoiam a YPG no combate ao EI e não se mobilizaram para defender os curdos em Afrin.
O problema é que a Turquia anunciou que irá mover sua ofensiva para a cidade de Manbij, a 100km de Afrin, e lá estão baseados cerca de 2.000 soldados americanos. Uma operação turca em Manbij traria risco de choques diretos com forças americanas.
Segundo a Casa Branca, o presidente Donald Trump telefonou para Erdogan na quarta-feira (24) e manifestou sua preocupação com sua ofensiva. "Ele exortou a Turquia a recuar, limitar suas ações militares e evitar mortes de civis e o deslocamento de refugiados, além de apontar para a presença americana em Manbij."
A transcrição do telefonema, divulgada pela Casa Branca, foi contestada pelo governo turco, que afirmou que Trump não manifestou nenhuma preocupação com o aumento da violência.
O ataque da Turquia contra os curdos abriu um novo front na guerra síria, que começou em 2011 e já causou mais de 350 mil mortes.
Um erro de cálculo dos EUA precipitou a invasão turca em Afrin. Em discurso, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou que os americanos manteriam presença na Síria no longo prazo. Pouco antes, os EUA haviam anunciado que patrocinariam uma força de fronteira de cerca de 30 mil homens.
Como os EUA estão aliados aos curdos, a Turquia encarou o anúncio como a constituição de um Exército curdo permanente na fronteira turca, com apoio e armamentos americanos, para evitar o avanço da Síria e do Irã.
A Rússia, que mantinha soldados e controlava o espaço aéreo em Afrin, em colaboração com os curdos, irritou-se com a aparente aliança permanente das milícias curdas com os EUA e abriu caminho para que a Turquia fizesse bombardeios.
Com isso, a Turquia aprofundou a aliança estratégica que vem selando com Moscou, desde que se agravaram seus atritos com os EUA, por causa do apoio aos curdos e da recusa do governo americano em extraditar o clérigo turco acusado por Erdogan de armar a tentativa de golpe de Estado de 2016. O governo sírio, embora condene a ação turca, não quer que a autonomia curda se consolide na região, por isso não agiu.
A ofensiva se transformou em uma guerra por procuração entre Rússia e EUA que, em apenas cinco dias, causou a morte de cerca de 25 civis, dezenas de militares, e a fuga de 5.000 pessoas.
26.jan.2018 às 2h36
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
A Turquia advertiu nesta quinta-feira (25) que os Estados Unidos devem suspender o apoio às milícias curdas na Síria, ou arriscam-se a entrar em confronto com forças turcas na região. As afirmações apontam para a possibilidade de conflito entre os dois membros da Otan (aliança militar ocidental).
"Qualquer um que apoie a organização terrorista será um alvo nesta batalha", disse o vice-premiê turco, Bekir Bozdag, que também é porta-voz do presidente Recep Tayyip Erdogan, referindo-se às milícias curdas YPG na Síria. "Os EUA precisam rever seus soldados na área e seu apoio a terroristas, para evitar um confronto com a Turquia."
A Turquia lançou uma ofensiva contra os curdos em Afrin, no norte da Síria, em 20 de janeiro. O governo turco afirma que a milícia curda síria é aliada do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), que lidera uma insurgência separatista na Turquia e é considerado terrorista por Ancara, pela União Europeia e pelos EUA.
Os EUA se aliaram à milícia curda YPG para combater o Estado Islâmico na Síria, fornecendo armas e treinamento nos últimos anos. Os americanos pediram à Turquia que limite sua ofensiva, mas afirmaram que só apoiam a YPG no combate ao EI e não se mobilizaram para defender os curdos em Afrin.
O problema é que a Turquia anunciou que irá mover sua ofensiva para a cidade de Manbij, a 100km de Afrin, e lá estão baseados cerca de 2.000 soldados americanos. Uma operação turca em Manbij traria risco de choques diretos com forças americanas.
Segundo a Casa Branca, o presidente Donald Trump telefonou para Erdogan na quarta-feira (24) e manifestou sua preocupação com sua ofensiva. "Ele exortou a Turquia a recuar, limitar suas ações militares e evitar mortes de civis e o deslocamento de refugiados, além de apontar para a presença americana em Manbij."
A transcrição do telefonema, divulgada pela Casa Branca, foi contestada pelo governo turco, que afirmou que Trump não manifestou nenhuma preocupação com o aumento da violência.
O ataque da Turquia contra os curdos abriu um novo front na guerra síria, que começou em 2011 e já causou mais de 350 mil mortes.
Um erro de cálculo dos EUA precipitou a invasão turca em Afrin. Em discurso, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou que os americanos manteriam presença na Síria no longo prazo. Pouco antes, os EUA haviam anunciado que patrocinariam uma força de fronteira de cerca de 30 mil homens.
Como os EUA estão aliados aos curdos, a Turquia encarou o anúncio como a constituição de um Exército curdo permanente na fronteira turca, com apoio e armamentos americanos, para evitar o avanço da Síria e do Irã.
A Rússia, que mantinha soldados e controlava o espaço aéreo em Afrin, em colaboração com os curdos, irritou-se com a aparente aliança permanente das milícias curdas com os EUA e abriu caminho para que a Turquia fizesse bombardeios.
Com isso, a Turquia aprofundou a aliança estratégica que vem selando com Moscou, desde que se agravaram seus atritos com os EUA, por causa do apoio aos curdos e da recusa do governo americano em extraditar o clérigo turco acusado por Erdogan de armar a tentativa de golpe de Estado de 2016. O governo sírio, embora condene a ação turca, não quer que a autonomia curda se consolide na região, por isso não agiu.
A ofensiva se transformou em uma guerra por procuração entre Rússia e EUA que, em apenas cinco dias, causou a morte de cerca de 25 civis, dezenas de militares, e a fuga de 5.000 pessoas.
Em Davos, Trump e Temer vendem peixe que ninguém quer comprar
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/2018/01/1953414-em-davos-trump-e-temer-vendem-peixe-que-ninguem-quer-comprar.shtml
26.jan.2018 às 2h03
O presidente Michel Temer e seu companheiro do norte, o americano Donald Trump, tentam vender para o clube de Davos um peixe que ninguém quer comprar.
Temer insiste que "o Brasil está de volta", enquanto Trump tenta convencer a arquibancada que a política "América em Primeiro Lugar" é genial.
O presidente brasileiro chegou festejando o Brasil, "país das reformas", que aprovou as novas regras trabalhistas, o teto de gastos, e indicou que a mudança na Previdência está próxima (sic).
Como Trump, Temer tem alguns indicadores econômicos vistosos para mostrar —investimento estrangeiro direto de US$ 75 bilhões em 2017, juros no menor patamar histórico, 7%, inflação abaixo do piso de 3%, superávit da balança comercial de US$ 67 bilhões.
Temer falou até das "perspectivas realistas" de concluir o acordo EU-Mercosul (que começou a ser negociado em, pasmem, 1999, portanto um grão de ceticismo vai bem), o acesso à OCDE (faltou mencionar o veto dos EUA, a Argentina na nossa frente, a real utilidade de entrar na organização, etc etc), o combate ao aquecimento global (omissão estratégica das medidas pró-bancada do boi adotadas em seu governo).
Mas isso não parece suficiente para convencer a Davoslândia que o Brasil voltou, e que vai ficar tudo bem, a eleição de 2018 não é um "big deal", ninguém precisa prestar atenção na situação política absolutamente bizarra em vigor no país.
Na sessão de perguntas e respostas após o discurso de Temer, o criador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, não conseguiu ignorar o bode na sala.
"O senhor não mencionou explicitamente a corrupção, vocês têm alguns casos de corrupção que estão pairando, o senhor acha que eles podem influenciar as próximas eleições?"
(A pergunta foi omitida na transcrição que a Presidência fez da sessão de perguntas e respostas, substituída por Professor Klaus Schwab (em inglês))
A pergunta não se referia diretamente a acusações a Temer, mas o presidente acusou o golpe, ao ser indagado por jornalistas a respeito:
"Quero dizer que agora não vou mais tolerar essas coisas. Já houve a tentativa de desmoralização, os meus detratores estão na cadeia, e quem não está desmoralizado, desmascarados pelos fatos. Foi uma oportunidade que tive, até agradeci a pergunta, de esclarecer a Europa sobre essa questão" afirmou Temer.
Trump, como Temer, ostenta nível recorde de baixa popularidade. Temer tem 5% no último Datafolha, Trump ficou com 36% no último Gallup, índice mais baixo da história para um presidente americano nesta altura do mandato.
O americano chegou com a mensagem de que "América em Primeiro Lugar" não significa "América Sozinha".
Segundo Trump, os números não mentem, sua política populista-protecionista é um sucesso —PIB cresceu acima de 3% em dois trimestres consecutivos, desemprego está em baixa, há sinais de repatriação de investimentos.
Mas, como no caso de Temer, a comunidade de Davos se permite discordar.
OK, a bolsa de valores reflete o otimismo do empresariado com os EUA. Mas talvez esse otimismo se deva à reforma tributária e à desregulamentação promovidas por Trump, e se mantenha apesar da política de "América em Primeiro Lugar", a despeito da saída dos EUA da Parceria Transpacífico e do acordo global do clima, das tarifas que o país acaba de impor sobre painéis solares e maquinas de lavar importadas da China, etc, etc.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
26.jan.2018 às 2h03
O presidente Michel Temer e seu companheiro do norte, o americano Donald Trump, tentam vender para o clube de Davos um peixe que ninguém quer comprar.
Temer insiste que "o Brasil está de volta", enquanto Trump tenta convencer a arquibancada que a política "América em Primeiro Lugar" é genial.
O presidente brasileiro chegou festejando o Brasil, "país das reformas", que aprovou as novas regras trabalhistas, o teto de gastos, e indicou que a mudança na Previdência está próxima (sic).
Como Trump, Temer tem alguns indicadores econômicos vistosos para mostrar —investimento estrangeiro direto de US$ 75 bilhões em 2017, juros no menor patamar histórico, 7%, inflação abaixo do piso de 3%, superávit da balança comercial de US$ 67 bilhões.
Temer falou até das "perspectivas realistas" de concluir o acordo EU-Mercosul (que começou a ser negociado em, pasmem, 1999, portanto um grão de ceticismo vai bem), o acesso à OCDE (faltou mencionar o veto dos EUA, a Argentina na nossa frente, a real utilidade de entrar na organização, etc etc), o combate ao aquecimento global (omissão estratégica das medidas pró-bancada do boi adotadas em seu governo).
Mas isso não parece suficiente para convencer a Davoslândia que o Brasil voltou, e que vai ficar tudo bem, a eleição de 2018 não é um "big deal", ninguém precisa prestar atenção na situação política absolutamente bizarra em vigor no país.
Na sessão de perguntas e respostas após o discurso de Temer, o criador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, não conseguiu ignorar o bode na sala.
"O senhor não mencionou explicitamente a corrupção, vocês têm alguns casos de corrupção que estão pairando, o senhor acha que eles podem influenciar as próximas eleições?"
(A pergunta foi omitida na transcrição que a Presidência fez da sessão de perguntas e respostas, substituída por Professor Klaus Schwab (em inglês))
A pergunta não se referia diretamente a acusações a Temer, mas o presidente acusou o golpe, ao ser indagado por jornalistas a respeito:
"Quero dizer que agora não vou mais tolerar essas coisas. Já houve a tentativa de desmoralização, os meus detratores estão na cadeia, e quem não está desmoralizado, desmascarados pelos fatos. Foi uma oportunidade que tive, até agradeci a pergunta, de esclarecer a Europa sobre essa questão" afirmou Temer.
Trump, como Temer, ostenta nível recorde de baixa popularidade. Temer tem 5% no último Datafolha, Trump ficou com 36% no último Gallup, índice mais baixo da história para um presidente americano nesta altura do mandato.
O americano chegou com a mensagem de que "América em Primeiro Lugar" não significa "América Sozinha".
Segundo Trump, os números não mentem, sua política populista-protecionista é um sucesso —PIB cresceu acima de 3% em dois trimestres consecutivos, desemprego está em baixa, há sinais de repatriação de investimentos.
Mas, como no caso de Temer, a comunidade de Davos se permite discordar.
OK, a bolsa de valores reflete o otimismo do empresariado com os EUA. Mas talvez esse otimismo se deva à reforma tributária e à desregulamentação promovidas por Trump, e se mantenha apesar da política de "América em Primeiro Lugar", a despeito da saída dos EUA da Parceria Transpacífico e do acordo global do clima, das tarifas que o país acaba de impor sobre painéis solares e maquinas de lavar importadas da China, etc, etc.
Patrícia Campos Mello
Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre política e economia internacional. Escreve às sextas-feiras.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
Negociação Boeing-Embraer preocupa muito, diz fabricante de caça da FAB
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/01/1953308-negociacao-boeing-embraer-preocupa-muito-diz-fabricante-de-caca-da-fab.shtml
25.jan.2018 às 15h25
Atualizado: 25.jan.2018 às 18h46
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A empresa sueca Saab, fabricante do novo caça da FAB, disse ao governo brasileiro estar "muito preocupada" com a negociação entre Boeing e Embraer –empresa que participará da produção do seu avião no Brasil.
O contrato pode ser revisto se a Saab entender que segredos industriais seus podem cair na mão da concorrente americana.
Conforme a Folha adiantou na terça (23), uma comitiva de executivos suecos encabeçada pelo presidente da Saab, Hakan Buskhe, transmitiu a preocupação ao ministro Raul Jungmann (Defesa) e a autoridades que monitoram as conversas.
Buskhe evitou falar explicitamente em risco ao contrato de 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 15,7 bilhões) na reunião, mas o recado ficou implícito aos presentes.
"Essa discussão criou uma preocupação muito grande na Suécia, pois a Saab é tão estratégica para o país quanto a Embraer é para o Brasil", disse Buskhe a jornalistas ao fim do encontro.
Segundo Jungmann, um comitê composto pela Defesa, pela FAB e pelo Ministério da Fazenda irá informar os suecos de quaisquer implicações ao programa do caça Gripen e usará seu poder de veto sobre negócios da Embraer para assegurar que "todas as salvaguardas sejam respeitadas, se houver acordo".
O presidente da Saab se disse satisfeito com as conversas. "Queremos continuar essa parceria de qualquer forma. Nunca fizemos uma transferência tecnológica tão completa quanto a oferecida no Brasil", afirmou Buskhe.
Dos 36 caças Gripen comprados pelo Brasil em acordo de 2013 e operacionalizado em 2015, 23 serão feitos parcialmente ou integralmente no Brasil. A FAB escolheu a Embraer como principal beneficiada da absorção de tecnologias do caça supersônico, que podem no futuro ser aplicadas a aviões civis.
A preocupação dos suecos é óbvia. A Boeing é sua rival no mercado de caças, tanto que o F-18 da americana foi preterido na disputa com o Gripen e ambos os aparelhos estão em diversas concorrências mundo afora.
Embora boa parte do Gripen seja composta por peças americanas, todo o seu "cérebro" eletrônico e sistemas de fusão de dados essenciais para garantir seu desempenho são produtos suecos –e a Saab quer proteger seus segredos industriais.
A primeira proposta da Boeing, extraoficial pois não foi formalizada junto ao Conselho de Administração da Embraer, previa a compra de 100% do controle acionário da empresa brasileira, que vale aproximadamente US$ 6 bilhões.
O governo brasileiro negou a possibilidade, acenando com o uso de sua "golden share" –uma ação especial herdada do processo de privatização da Embraer em 1994.
Uma segunda alternativa apresentada sugeria a cisão da divisão comercial da Embraer, seu principal interesse, e a área de defesa, que hoje responde por cerca de 20% do lucro líquido da brasileira.
O governo novamente disse não. O problema é que a fonte da inovação tecnológica da área civil da Embraer é o setor militar. Ele recebe investimento público em pesquisa e desenvolvimento sem as restrições que divisão civil tem sob regras da Organização Mundial do Comércio.
Além disso, a Boeing apresentou como exemplos de salvaguarda de soberania nacional de terceiros sua operação na Austrália e no Reino Unido. "São coisas incomparáveis. Lá há linhas de manutenção e suprimento, aqui a Embraer é peça central da indústria", disse Flavio Basilio, secretário de Produtos de Defesa brasileiro.
Além disso, ressaltou, a área militar não pode ficar sob gestão americana porque a legislação dos EUA determina amplo controle sobre esse tipo de produção. "Novos desenvolvimentos não poderiam ser feitos no Brasil sem autorização do Congresso americano", diz.
Tanto ele quanto Jungmann e o representante da Fazenda, Mansueto Almeida, disseram que o Brasil não é contra a parceria Boeing-Embraer, mas que ainda esperam novas propostas para avaliar que negócio poderá ser feito.
A Embraer precisa da Boeing para ampliar a sua penetração de vendas. Os americanos querem a brasileira porque ela tem pronta uma família nova de jatos regionais que eles não produzem, e a concorrente europeia Airbus acaba de adquirir uma linha desse tipo da canadense Bombardier.
Além disso, os brasileiros têm uma geração nova e eficaz de engenheiros, algo que falta hoje à Boeing –empresa gigantesca, que vale quase US$ 200 bilhões.
Procurada, a Boeing não se pronunciou sobre o assunto.
Segundo a Folha apurou, a empresa já disse aos interlocutores da questão que está disposta a negociar quaisquer condições que o governo brasileiro e a Embraer tiverem sobre pontos sensíveis da conversa —como o caso do Gripen.
25.jan.2018 às 15h25
Atualizado: 25.jan.2018 às 18h46
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A empresa sueca Saab, fabricante do novo caça da FAB, disse ao governo brasileiro estar "muito preocupada" com a negociação entre Boeing e Embraer –empresa que participará da produção do seu avião no Brasil.
O contrato pode ser revisto se a Saab entender que segredos industriais seus podem cair na mão da concorrente americana.
Conforme a Folha adiantou na terça (23), uma comitiva de executivos suecos encabeçada pelo presidente da Saab, Hakan Buskhe, transmitiu a preocupação ao ministro Raul Jungmann (Defesa) e a autoridades que monitoram as conversas.
Buskhe evitou falar explicitamente em risco ao contrato de 39,3 bilhões de coroas suecas (R$ 15,7 bilhões) na reunião, mas o recado ficou implícito aos presentes.
"Essa discussão criou uma preocupação muito grande na Suécia, pois a Saab é tão estratégica para o país quanto a Embraer é para o Brasil", disse Buskhe a jornalistas ao fim do encontro.
Segundo Jungmann, um comitê composto pela Defesa, pela FAB e pelo Ministério da Fazenda irá informar os suecos de quaisquer implicações ao programa do caça Gripen e usará seu poder de veto sobre negócios da Embraer para assegurar que "todas as salvaguardas sejam respeitadas, se houver acordo".
O presidente da Saab se disse satisfeito com as conversas. "Queremos continuar essa parceria de qualquer forma. Nunca fizemos uma transferência tecnológica tão completa quanto a oferecida no Brasil", afirmou Buskhe.
Dos 36 caças Gripen comprados pelo Brasil em acordo de 2013 e operacionalizado em 2015, 23 serão feitos parcialmente ou integralmente no Brasil. A FAB escolheu a Embraer como principal beneficiada da absorção de tecnologias do caça supersônico, que podem no futuro ser aplicadas a aviões civis.
A preocupação dos suecos é óbvia. A Boeing é sua rival no mercado de caças, tanto que o F-18 da americana foi preterido na disputa com o Gripen e ambos os aparelhos estão em diversas concorrências mundo afora.
Embora boa parte do Gripen seja composta por peças americanas, todo o seu "cérebro" eletrônico e sistemas de fusão de dados essenciais para garantir seu desempenho são produtos suecos –e a Saab quer proteger seus segredos industriais.
A primeira proposta da Boeing, extraoficial pois não foi formalizada junto ao Conselho de Administração da Embraer, previa a compra de 100% do controle acionário da empresa brasileira, que vale aproximadamente US$ 6 bilhões.
O governo brasileiro negou a possibilidade, acenando com o uso de sua "golden share" –uma ação especial herdada do processo de privatização da Embraer em 1994.
Uma segunda alternativa apresentada sugeria a cisão da divisão comercial da Embraer, seu principal interesse, e a área de defesa, que hoje responde por cerca de 20% do lucro líquido da brasileira.
O governo novamente disse não. O problema é que a fonte da inovação tecnológica da área civil da Embraer é o setor militar. Ele recebe investimento público em pesquisa e desenvolvimento sem as restrições que divisão civil tem sob regras da Organização Mundial do Comércio.
Além disso, a Boeing apresentou como exemplos de salvaguarda de soberania nacional de terceiros sua operação na Austrália e no Reino Unido. "São coisas incomparáveis. Lá há linhas de manutenção e suprimento, aqui a Embraer é peça central da indústria", disse Flavio Basilio, secretário de Produtos de Defesa brasileiro.
Além disso, ressaltou, a área militar não pode ficar sob gestão americana porque a legislação dos EUA determina amplo controle sobre esse tipo de produção. "Novos desenvolvimentos não poderiam ser feitos no Brasil sem autorização do Congresso americano", diz.
Tanto ele quanto Jungmann e o representante da Fazenda, Mansueto Almeida, disseram que o Brasil não é contra a parceria Boeing-Embraer, mas que ainda esperam novas propostas para avaliar que negócio poderá ser feito.
A Embraer precisa da Boeing para ampliar a sua penetração de vendas. Os americanos querem a brasileira porque ela tem pronta uma família nova de jatos regionais que eles não produzem, e a concorrente europeia Airbus acaba de adquirir uma linha desse tipo da canadense Bombardier.
Além disso, os brasileiros têm uma geração nova e eficaz de engenheiros, algo que falta hoje à Boeing –empresa gigantesca, que vale quase US$ 200 bilhões.
Procurada, a Boeing não se pronunciou sobre o assunto.
Segundo a Folha apurou, a empresa já disse aos interlocutores da questão que está disposta a negociar quaisquer condições que o governo brasileiro e a Embraer tiverem sobre pontos sensíveis da conversa —como o caso do Gripen.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
EUA acusam Assad de usar armas químicas contra rebeldes e Síria nega
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1952933-eua-acusam-assad-de-usar-armas-quimicas-contra-rebeldes-e-siria-nega.shtml
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
24/01/2018 10h57
O governo dos Estados Unidos voltou a acusar a Síria de usar armas químicas para atacar sua própria população, levando Damasco a responder dizendo que a afirmação é uma "mentira".
Na terça-feira (23), o secretário de Estado dos EUA Rex Tillerson disse que o governo sírio provavelmente usou gás cloro em um ataque feito na segunda-feira (22) contra o enclave rebelde de Ghouta Oriental, vizinho a capital Damasco, onde vivem 390 mil pessoas.
Agentes de saúde que trabalharam no resgate das vítimas disseram que o gás foi usado no local. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, ONG com sede no Reino Unido, afirmou que 13 pessoas sofreram intoxicação no ataque.
"Só ontem [segunda] mais de 20 civis, a maioria crianças, foram vítimas de um ataque com gás cloro", disse Tillerson durante uma conferência em Paris para debater o uso de armas químicas.
"Os recentes ataques em Ghouta Oriental levanta sérias preocupações de que Bashar al-Assad possa continuar usando armas químicas contra seu próprio povo", afirmou ele.
Não foi a primeira vez que o ditador foi acusado de usar este tipo de arma. Nos últimos dois anos, um inquérito conjunto da ONU e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) concluiu que o governo sírio usou o agente nervoso sarin e diversas vezes o gás cloro como armas. Damasco nega as acusações.
Em 2013, Assad assinou um acordo intermediado pela Rússia no qual abriu mão de usar as armas químicas.
Nesta quarta-feira (24), o Ministério de Relações Exteriores sírio negou que tenha voltado a usar as armas e disse que as acusações têm como objetivo "obstruir qualquer esforço para encontrar uma saída para a crise na Síria".
"A Síria tem sempre demonstrado cooperação e fornecido as condições necessárias para uma investigação imparcial, objetiva e profissional sobre o uso de armas químicas", disse a pasta em comunicado divulgado pela agência estatal Sana.
Já a Rússia, que Tillerson disse ser a responsável pelo uso das armas químicas por Damasco, pediu que o Conselho de Segurança da ONU investigue as acusações.
Washington respondeu afirmando que a proposta é uma tentativa de Moscou para distrair a comunidade internacional.
O governo russo apoia o ditador Assad e vetou em novembro uma ampliação do prazo dado a comissão da ONU que investigava o uso de armas químicas na Síria, na prática acabando com o inquérito, que Moscou classificou como uma "falha completa".
A acusação americana acontece em um momento que cresce a tensão com o conflito na Síria devido a ação da Turquia contra a minoria curda.
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
24/01/2018 10h57
O governo dos Estados Unidos voltou a acusar a Síria de usar armas químicas para atacar sua própria população, levando Damasco a responder dizendo que a afirmação é uma "mentira".
Na terça-feira (23), o secretário de Estado dos EUA Rex Tillerson disse que o governo sírio provavelmente usou gás cloro em um ataque feito na segunda-feira (22) contra o enclave rebelde de Ghouta Oriental, vizinho a capital Damasco, onde vivem 390 mil pessoas.
Agentes de saúde que trabalharam no resgate das vítimas disseram que o gás foi usado no local. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, ONG com sede no Reino Unido, afirmou que 13 pessoas sofreram intoxicação no ataque.
"Só ontem [segunda] mais de 20 civis, a maioria crianças, foram vítimas de um ataque com gás cloro", disse Tillerson durante uma conferência em Paris para debater o uso de armas químicas.
"Os recentes ataques em Ghouta Oriental levanta sérias preocupações de que Bashar al-Assad possa continuar usando armas químicas contra seu próprio povo", afirmou ele.
Não foi a primeira vez que o ditador foi acusado de usar este tipo de arma. Nos últimos dois anos, um inquérito conjunto da ONU e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) concluiu que o governo sírio usou o agente nervoso sarin e diversas vezes o gás cloro como armas. Damasco nega as acusações.
Em 2013, Assad assinou um acordo intermediado pela Rússia no qual abriu mão de usar as armas químicas.
Nesta quarta-feira (24), o Ministério de Relações Exteriores sírio negou que tenha voltado a usar as armas e disse que as acusações têm como objetivo "obstruir qualquer esforço para encontrar uma saída para a crise na Síria".
"A Síria tem sempre demonstrado cooperação e fornecido as condições necessárias para uma investigação imparcial, objetiva e profissional sobre o uso de armas químicas", disse a pasta em comunicado divulgado pela agência estatal Sana.
Já a Rússia, que Tillerson disse ser a responsável pelo uso das armas químicas por Damasco, pediu que o Conselho de Segurança da ONU investigue as acusações.
Washington respondeu afirmando que a proposta é uma tentativa de Moscou para distrair a comunidade internacional.
O governo russo apoia o ditador Assad e vetou em novembro uma ampliação do prazo dado a comissão da ONU que investigava o uso de armas químicas na Síria, na prática acabando com o inquérito, que Moscou classificou como uma "falha completa".
A acusação americana acontece em um momento que cresce a tensão com o conflito na Síria devido a ação da Turquia contra a minoria curda.
Em Davos, premiê da Índia contrapõe-se a Trump e exorta cooperação
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1952611-em-davos-premie-da-india-contrapoe-se-a-trump-e-exorta-cooperacao.shtml
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)
23/01/2018 09h24
Com um discurso todo em hindi que ecoou o tom
neonacionalista de seu governo e uma ode a um mundo multipolar, o
primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, abriu a plenária do Fórum Econômico
Mundial de Davos na manhã desta terça (23) para uma plateia lotada de
empresários, executivos e nomes proeminentes da sociedade civil abordando
dilemas da desigualdade.
O pronunciamento, porém, guardou alfinetadas aparentes ao
presidente dos EUA, Donald Trump, que falará ao público no último dos quatro
dias de fórum: "Não é hora para muros", disse, em uma referência mal
velada à insistência do americano em construir um na fronteira com o México.
"Não é o momento para isolacionismo", afirmou
Modi. "Para mim, o tema deste fórum ['Construir um futuro compartilhado em
um mundo fraturado'] é ao mesmo tempo contemporâneo e atemporal. Estamos todos
ligados como uma família", acrescentou.
"É necessário que as maiores potências do mundo
cooperem entre si, e que a competição entre essas potências não se torne uma
guerra entre elas."
Em outro contraponto ao americano, que no ano passado
anunciou a retirada de seu país do Acordo de Paris sobre o clima e da Parceria
Transpacífico, Modi defendeu as negociações comerciais multilaterais e
ressaltou o risco ambiental como uma das preocupações que, a seu ver, deveriam
ser alvo de cooperação multinacional.
"O que podemos fazer juntos que vá melhorar essa
situação? Todos falam em reduzir as emissões de carbono, mas muito poucos
respaldam suas palavras em ações e se preocupam em ajudar os países em
desenvolvimento" a lidar com o problema, afirmou.
Com a assertiva, Modi alude a um pleito persistente dos
países em desenvolvimento, que defendem que a fatia maior da conta para
controlar o aquecimento global seja paga pelas nações desenvolvidas, que poluem
há mais tempo.
O premiê indiano também usou o discurso para enumerar feitos
de seu governo na área ambiental, aproveitando o vácuo de liderança emergente
na questão aberto pela perda de protagonismo do Brasil, e para reivindicar
reformas no sistema de governança global, desenhado no pós-Segunda Guerra, que
reflitam o avanço dos países em desenvolvimento.
No cargo desde 2014, Modi adota um discurso fortemente
nacionalista combinado a reformas liberalizantes no país, equação que tem
criado alguns atritos sociais em um país já fortemente estigmatizado por eles.
Na plenária, não fez diferente: pediu investimentos, falou
de mudanças "sem precedentes" em curso, ressaltou o "soft
power" de seu país, mencionando o mahatma Gandhi (1869-1948), a difusão da
yoga e da medicina ayuvérdica e a diversidade da sociedade indiana.
A Índia deve apresentar o maior crescimento entre as grandes
economias neste ano e no próximo, com um avanço projetado pelo Fundo Monetário
Internacional de 7,4% e 7,8%, respectivamente, 0,8 e 1,4 ponto acima da China,
e, ao lado do americano Donald Trump, ocupa o centro das atenções nesta 48ª
edição do encontro anual do Fórum Econômico Mundial.
O governo Modi e as empresas indianas investiram no evento,
com uma delegação de mais de cem convidados e uma série de eventos especiais e
recepções. Em 2017, o lugar coube à China, com Xi Jinping se tornando o
primeiro chefe de Estado chinês a participar do evento.
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
'Briga de família' faz o Qatar ficar isolado no Golfo Pérsico
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1952651-briga-de-familia-faz-o-qatar-ficar-isolado-no-golfo-persico.shtml
O boicote revelou ser o primeiro golpe de uma campanha ampla lançada pelo príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, que está eletrizando o Oriente Médio. Determinado a remodelar seu país tradicional e preconceituoso e a refrear as ambições regionais de seu arqui-inimigo, o Irã, o jovem e enérgico saudita prendeu centenas de rivais em um hotel cinco estrelas em Riad, imprensou o primeiro-ministro do Líbano numa tentativa fracassada de atingir o Irã e intensificou a guerra saudita devastadora no Iêmen.
O Qatar apoiou os islâmicos.
A aliança entre o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e seu colega dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed, foi celebrada cerimonialmente com uma caçada com falcões, um rito tradicional e respeitado da realeza do Golfo que envolve grandes cortejos e grandes despesas. Um único falcão caçador pode custar US$ 250 mil.
Em Riad, Trump assinalou o relacionamento crescente, posando ao lado do rei Salman, de 81 anos, com as mãos de ambos sobre um globo reluzente. A imagem visava projetar solidariedade, mas lhes deu a aparência de vilões do cinema e inspirou inúmeros memes na internet.
"Em minha viagem recente ao Oriente Médio, declarei que não pode mais haver financiamento da Ideologia Radical", ele escreveu em um tuite no dia seguinte. "Líderes apontaram para o Qatar - vejam!"
DECLAN WALSH
DO "NEW YORK TIMES", EM DOHA (QATAR)
23/01/2018 13h07
Para o emir do Qatar, existe pouco que o dinheiro não possa
comprar.
Adolescente, ele sonhava em tornar-se o Boris Becker do
mundo árabe. Seus pais chamaram o tenista alemão ao Qatar para lhe dar aulas.
Fanático por esportes desde sempre, ele mais tarde comprou um time de futebol
francês, o Paris Saint-Germain, que no ano passado desembolsou US$ 263 milhões
pelo jogador brasileiro Neymar –o maior valor pago na história do esporte pelo
passe de um jogador.
Por um custo estimado em US$ 200 bilhões, o emir ajudou a
levar a Copa do Mundo de 2022 ao Qatar. Foi uma conquista enorme para um país
que nunca antes se qualificara para sediar um torneio.
Agora, aos 37 anos, o emir, xeque Tamim bin Hamad al-Thani,
se depara com um problema que não pode ser resolvido apenas com dinheiro.
Desde junho de 2017 o pequeno Qatar virou alvo de um rígido
boicote aéreo e marítimo liderado por seus maiores vizinhos, Arábia Saudita e
Emirados Árabes Unidos. Da noite para o dia, aviões e navios cargueiros com
destino ao Qatar foram obrigados a mudar de rumo, laços diplomáticos foram
cortados e a única fronteira terrestre do Qatar, um trecho de 65 km de deserto
que separa o país da Arábia Saudita, foi fechada.
Nem mesmo animais foram poupados. Cerca de 12 mil camelos
qatarianos que pastavam pacificamente em terras sauditas foram expulsos,
provocando um estouro na fronteira.
Os adversários do Qatar acusam o país de financiar
terrorismo, cooperar com o Irã e abrigar dissidentes fugitivos. Eles detestam a
Al Jazeera, emissora qatariana altamente influente e avessa a ser controlada.
E, embora poucos o digam abertamente, parecem estar determinados a arrancar o
jovem líder qatariano, Tamim, do trono.
Tamim nega as acusações e atribui a hostilidade a pura
inveja.
"Eles não gostam do fato de sermos tão independentes",
ele disse em entrevista em Nova York em setembro. "Enxergam isso como
ameaça."
O boicote revelou ser o primeiro golpe de uma campanha ampla lançada pelo príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, que está eletrizando o Oriente Médio. Determinado a remodelar seu país tradicional e preconceituoso e a refrear as ambições regionais de seu arqui-inimigo, o Irã, o jovem e enérgico saudita prendeu centenas de rivais em um hotel cinco estrelas em Riad, imprensou o primeiro-ministro do Líbano numa tentativa fracassada de atingir o Irã e intensificou a guerra saudita devastadora no Iêmen.
O príncipe saudita moldou a abordagem da administração Trump
ao Oriente Médio. Seus esforços podem ter consequências de longo alcance,
potencialmente elevando os preços da energia, turvando os esforços de paz
israelo-palestinos e elevando as chances de uma guerra com o Irã.
A disputa com o Qatar talvez seja a parte menos compreendida
da ação, mas tem um lado particularmente perverso.
Em setembro, numa reunião da Liga Árabe no Cairo, diplomatas
sauditas e qatarianos trocaram insultos como "cão raivoso" e
acusações furiosas de traição e até mesmo crueldade no trato de camelos.
"Cale a boca quando eu falo!" gritou o ministro de Estado das
Relações Exteriores qatariano, sultão Bin Saad al-Muraihkhi.
"Não, quem tem que calar a boca é você!" retrucou
seu colega saudita.
O rancor altamente personalizado tem o cheiro inconfundível
de uma vendeta familiar. Qatarianos, sauditas e árabes (dos Emirados Árabes
Unidos) descendem das mesmas tribos nômades, compartilham a mesma religião e
seguem a mesma alimentação. Sua disputa parece uma briga entre primos, embora
sejam primos armados com bilhões de dólares e aviões de combate de fabricação
americana.
A crise tomou um rumo preocupante na semana passada, quando
os Emirados acusaram aviões de guerra qatarianos de assediar dois aviões
comerciais quando atravessavam os céus do Golfo Pérsico. Mentira, disse o
Qatar, retrucando com outra acusação: que aviões de guerra dos Emirados teriam
invadido seu espaço aéreo em duas ocasiões.
PETRÓLEO
O fato de os outros países do Golfo se importarem com o
Qatar a ponto de rejeitá-lo constitui uma relativa novidade.
Durante boa parte do século 20, o país não passou de uma
área desértica do Golfo Pérsico antes atravessada por piratas. Seus habitantes
eram paupérrimos; ganhavam a vida mergulhando para buscar pérolas, no verão, e
pastoreando camelos no inverno. Durante décadas os qatarianos estiveram muito
atrás de seus vizinhos sauditas, que viviam um boom petrolífero intenso. A
família reinante, al-Thani, era dividida por rixas internas acirradas e sujeita
a periódicos golpes de Estado.
Mas em 1971 o Qatar encontrou gás.
Num primeiro momento, a descoberta da maior reserva mundial
de gás foi uma decepção enorme. "As pessoas esperavam por petróleo",
explicou Ahmed bin Hamad al-Attiyah, um ex-ministro da Energia. Na década de
1990, porém, novas tecnologias passaram a possibilitar a liquefação do gás e
sua exportação em navios-tanque.
O pai de Tamim, que era o emir na época, xeque Hamad bin
Khalifa al-Thani, apostou altíssimo. Ignorando os conselhos de céticos,
investiu US$ 20 bilhões numa enorme usina de liquefação de gás em Ras Laffan,
na costa norte do Qatar, com ajuda da gigante energética Exxon Mobil. A empresa
era presidida na época por Rex Tillerson, hoje secretário de Estado dos EUA.
Os resultados foram espetaculares. O gás viveu um boom, e em
2010 o Qatar era responsável por 30% do mercado global.
Desde então os cidadãos do Qatar, que hoje são 300 mil,
enriqueceram muitíssimo e em pouquíssimo tempo. A renda média per capita do
país é US$ 125 mil, a mais alta do mundo, mais que o dobro dos EUA ou Arábia
Saudita. O Estado provê os cidadãos de terrenos gratuitos, empregos bem pagos e
universidades americanas. Limusines e automóveis de luxo circulam pela avenida
de beira-mar de Doha, ladeada por palmeiras. É muito difícil encontrar um
qatariano que seja pobre.
Para a Arábia Saudita e os Emirados –além do Bahrein e do
Egito, que se uniram a eles no boicote–, o Qatar é uma nação de intrometidos
irritantes, embriagada com sua própria riqueza e que precisa ser podada para as
dimensões às quais faz jus.
Três figuras reais obstinadas estão ao centro da disputa.
O saudita Mohammed bin Salman, 32 anos, lidera uma campanha
para reformar e energizar a entorpecida e rígida sociedade saudita; seu esforço
inclui propostas esdrúxulas como a construção de uma cidade de US$ 500 bilhões
às margens do mar Vermelho a ser administrada por robôs. Salman tem um aliado
leal no xeque Mohammed bin Zayed al-Nahyan, 56, o agressivo príncipe herdeiro
dos Emirados, que reforçou o poderio militar de seu pais e compartilha a
hostilidade profunda de seu colega saudita em relação ao Irã.
Os dois príncipes estão unidos contra Tamim, o emir do
Qatar. Figura eminente e dotada de modos diplomáticos, Tamim é sob muitos
aspectos um soberano clássico do Golfo: formado na Real Academia Militar de
Sandhurst, na Inglaterra, como seu pai, ele tem três esposas e dez filhos. Vive
em vários palácios luxuosos em Doha, cidade futurista feita de altos edifícios
envidraçados e avenidas sinuosas.
Sua ascensão ao poder em 2013, aos 33 anos, formou um
contraste marcante com a gerontrocracia da Arábia Saudita, onde os governantes
costumam continuar no trono até estar perto de morrer. E seus modos corteses
escondem um caráter obstinado que seus vizinhos enxergam como sinal de uma
figura perigosa, que cria problemas.
A disputa entre os três líderes é uma história tortuosa,
repleta de ciberespionagem, propaganda política, intrigas palacianas e caçadas
no deserto -algo digno de um drama de poder da antiguidade do Golfo. Travada
entre homens riquíssimos trajando as vestes brancas longas conhecidas como
"thobes", já foi descrita como "Game of Thobes". Mas também
representa um profundo acerto de contas entre as ricas cidades-Estado do Golfo.
Tendo em grande medida escapado da turbulência da Primavera
Árabe, em 2011, eles hoje se encaminham para uma ordem econômica e política
nova e incerta. Ao centro dessa turbulência se encontra o Qatar, o concorrente
minúsculo que há anos participa de uma disputa com adversários mais fortes que
ele e hoje se descobre lutando por sua própria sobrevivência.
EXIBICIONISMO
Durante mais de um século os governantes do Qatar sofreram
insegurança constante, geralmente provocada por seus próprios parentes.
O avô de Tamim derrubou um primo do cargo de emir em 1972,
mas foi deposto do trono em 1995 por seu próprio filho, Hamad. O emir afastado
tomou conhecimento do que lhe acontecera enquanto estava de férias na Suíça.
Denunciou seu filho como "homem ignorante" e foi para o exílio.
Quando o dinheiro do gás começou a chegar aos bilhões, a
partir de cerca de 2000, as tensões familiares se acalmaram, abrindo o caminho
para a chegada de um elenco de figuras reais reformistas e cheias de ambições.
A mãe de Tamim, Mozah bint Nasser al-Missned, 58, é uma das
pessoas mais famosas do mundo árabe, conhecida por seus vestidos reluzentes,
beleza atemporal e defesa de questões educacionais e sociais. Sheikha Mozah,
como ela é conhecida, se comporta como uma primeira-dama ao estilo ocidental,
discursando em conferências da ONU e visitando campos de refugiados usando
roupas de safári, com a cabeça coberta por um lenço amarrado apenas levemente.
Ela criou sua própria base de poder por meio de uma fundação
multibilionária que fundou uma orquestra filarmônica, contratando músicos de 30
países. Construiu um hospital de pesquisas de US$ 8 bilhões e ergueu
subsidiárias de várias universidades americanas no Qatar, incluindo Georgetown,
Northwestern, Carnegie Mellon e Texas A&M.
A irmã mais jovem de Tamim, Mayassa, é a czarina da cultura
do país –uma gigante no mundo das artes, alguém que, aos 30 anos de idade,
conta com orçamento anual estimado em US$ 1 bilhão (a título de comparação, o
Metropolitan Museum of Art, de Nova York, normalmente gasta cerca de US$ 30
milhões por ano na aquisição de obras novas).
Em 2008 Mayassa convenceu o arquiteto I.M. Pei a abandonar a
aposentadoria para erguer o aclamado Museu de Arte Islâmica em Doha, e mais
tarde ela arrematou grandes obras de Gauguin, Francis Bacon e Damien Hirst.
Em 2011, quando ela adquiriu "Jogadores de
Baralho", de Cézanne, com sua cena nada islâmica de pessoas bebendo e
jogando, por estimados US$ 250 milhões, o quadro se tornou a pintura mais cara
do mundo.
Mas no Oriente Médio os governantes do Qatar vêm utilizando
sua riqueza para afirmar a independência qatariana de seus vizinhos maiores.
Durante décadas a Arábia Saudita, 186 vezes maior que o
Qatar, tratou o Qatar com praticamente um Estado-vassalo. Nos anos 1940 os
governantes sauditas tomaram uma parte da modesta receita petrolífera
qatariana; mais tarde, tomaram posse de uma pequena parte do território do país
e ditaram sua política externa e de defesa.
Hamad, o pai de Tamim, acusou os sauditas de tentar
arrancá-lo do poder em um golpe fracassado em 1996 –um episódio amargo que
marcou as décadas de rivalidade fervilhante desde então.
Atuando por conta própria, o Qatar primeiro exerceu o papel
de pacificador regional, convertendo Doha em uma espécie de "Genebra à
margem do Golfo Pérsico", um lugar onde protagonistas de guerras no Sudão,
Líbano e Somália podiam debater suas divergências em hotéis cinco estrelas.
O país abraçou os Estados Unidos, e desde 2003, o ano da
Guerra do Iraque, abriga uma enorme base aérea americana. Além disso,
conquistou influência popular com a emissora Al Jazeera, cujo estilo provocante
desagradou a praticamente todos os governos árabes.
Os qatarianos receberam líderes do grupo militante palestino
Hamas, levando autoridades israelenses a descrever Doha como um "Club Med
para terroristas".
Mas foi a Primavera Árabe, em 2011, que realmente
diferenciou o Qatar dos países em volta. Com movimentos de base contra a ordem
estabelecida se alastrando por todo o Oriente Média, os sauditas e os Emirados
ficaram alarmados com a força crescente dos islâmicos políticos, como a
Irmandade Muçulmana egípcia, que eles temiam que pudessem disseminar o caos em
seus próprios países.
O Qatar apoiou os islâmicos.
"Nós nos posicionamos do lado do povo", disse
Tamim ao programa de TV norte-americano "60 Minutes" em outubro.
"Eles ficaram do lado dos regimes. Achei que nós escolhemos o lado
certo."
O emir podia se dar ao luxo de ser ousado. Seu país possuía
riqueza imensa, uma grande base aérea americana a poucos quilômetros de seu
palácio e praticamente nenhuma oposição interna.
"A ideia prevalente era que os governantes do Qatar
podiam fazer o que quisessem, desde que desembolsassem o suficiente",
disse Kristian Coates Ulrichsen, autor de "Qatar and the Arab
Spring". "A autoconfiança deles estava no auge."
Mas em Riad e Abu Dhabi, a frustração era crescente.
DOIS PRÍNCIPES
A aliança entre o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e seu colega dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed, foi celebrada cerimonialmente com uma caçada com falcões, um rito tradicional e respeitado da realeza do Golfo que envolve grandes cortejos e grandes despesas. Um único falcão caçador pode custar US$ 250 mil.
Em fevereiro de 2016, os dois príncipes viajaram ao deserto
oriental da Arábia Saudita num safári de caça, seguido por expedições de caça
no verão na França e no País de Gales. As aventuras selaram a aliança entre o
hiperativo príncipe saudita de 32 anos e o líder mais velho dos Emirados. Além
de uma visão modernizadora para seus dois países, eles compartilham um apreço
por drama shakespeareano.
Depois de Mohammed bin Sultan ter afastado seu rival ao
trono, em junho, fotógrafos reais filmaram o príncipe beijando a mão e depois o
joelho de seu rival, em sinal de respeito. Horas mais tarde o rival estava
trancado em seu palácio.
A aliança militar entre Salman e Zayed lhes valeu acusações
de excessos. No Iêmen, onde eles lideram uma guerra aérea devastadora, mas
ineficaz, contra a facção houthi, aliada do Irã, suas forças são acusadas de
cometer crimes de guerra e provocar a fome generalizada.
"Eles são duas figuras iguais. Ambos enxergam a
necessidade de ações incomuns em tempos incomuns", comentou David B.
Roberts, especialista no Golfo no King's College London.
Outro elemento que os une é o desejo de colocar Tamim em seu
devido lugar.
A rivalidade é fundamentalmente de natureza política. Não
importa que o Qatar tenha perdido suas apostas em relação à Primavera Árabe: em
toda a região, forças islâmicas financiadas por Doha foram derrotadas ou estão
recuando. Mesmo assim, os países vizinhos encaram o Qatar com desconfiança
quase patológica.
Essa desconfiança explodiu em 2014, quando Arábia Saudita e
Emirados Árabes Unidos retiraram seus embaixadores de Doha, desencadeando uma
crise diplomática que terminaria nove meses mais tarde com uma garantia de
Tamim de que ele responderia às preocupações sauditas e árabes.
No ano passado, inesperadamente, as tensões voltaram a se
acirrar.
DISPUTA
A crise que desencadeou o maior confronto no Golfo em
décadas começou com uma série de acontecimentos aleatórios e aparentemente não
ligados. E, de maneira típica de 2017, envolveram fake news e o novo presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em março explodiu uma disputa acirrada em torno do destino
de Alaa Alsiddiq, dissidente dos Emirados que vive em Doha desde 2013. Depois
de ela publicar no site da Al Jazeera um artigo sobre os direitos das mulheres
no Golfo, os Emirados, que tinham cancelado seu passaporte, voltaram a exigir
que Tamim a enviasse para casa.
O emir não atendeu o pedido, dizendo a um embaixador
ocidental que temia que Alsiddiq pudesse ser torturada ou morta. A fúria dos
Emirados cresceu.
Um segundo caso envolveu um resgate enorme. Em abril um jato
particular qatariano transportando US$ 300 milhões aterrissou no Iraque para
libertar um grupo de 26 caçadores qatarianos com falcões, incluindo nove
membros da família real, sequestrados por uma milícia pró-iraniana. Embora
ainda não se saiba quem acabou sendo beneficiado, os críticos de Tamim
apontaram para o episódio como prova de sua disposição insensata de ceder às
exigências de extremistas.
O incidente também forneceu um argumento poderoso a ser
apresentado ao novo presidente dos EUA.
Mesmo antes de Trump aterrissar na Arábia Saudita, em maio,
na primeira viagem internacional de sua Presidência, ele já parecia ter tomado
inequivocamente o partido dos sauditas. As lideranças saudita e dos Emirados
vinham há meses cultivando laços estreitos com Jared Kushner, assessor e genro
do presidente.
Neófito em política externa, Kushner absorveu a visão dos
príncipes sobre a região, incluindo a hostilidade deles em relação ao Qatar,
disse um funcionário sênior do Departamento de Estado, que descreveu os
relacionamentos como sendo muito próximos.
Em Riad, Trump assinalou o relacionamento crescente, posando ao lado do rei Salman, de 81 anos, com as mãos de ambos sobre um globo reluzente. A imagem visava projetar solidariedade, mas lhes deu a aparência de vilões do cinema e inspirou inúmeros memes na internet.
Trump também se reuniu com Tamim, e o líder qatariano pensou
que o encontro tivesse sido positivo. Mas dois dias mais tarde, de volta a
Doha, o emir foi despertado com uma notícia preocupante: alguém tinha invadido
o site da agência de notícias estatal Qatar e postado uma reportagem sobre o
emir descrevendo o Irã como superpotência, elogiando o Hamas e especulando que
Trump poderia não continuar no poder por muito tempo.
A reportagem era pura ficção, mas os vizinhos do Qatar a
descreveram como sendo verdadeira. Em questão de minutos, analistas de
emissoras de televisão dos EUA e sauditas estavam falando da perfídia do Qatar
e fazendo críticas acaloradas. Tamim telefonou a seus ministros e mandou tirar
a reportagem do site imediatamente.
Pensando que o problema tivesse sido resolvido, acomodou-se
para assistir a uma partida de basquete da NBA entre os Golden State Warriors e
os San Antonio Spurs. Na realidade, seus problemas mal tinham começado.
Nas semanas seguintes, emissoras sauditas e dos EUA
intensificaram os ataques ao Qatar, acusando o país de ameaçar a estabilidade
no Golfo. Vários "think tanks" conservadores de Washington
engrossaram o coro. E então, no dia 5 de junho, sem qualquer aviso prévio, o
Qatar foi atingido pelo boicote de quatro países.
Trump se mostrou ansioso por levar o crédito.
"Em minha viagem recente ao Oriente Médio, declarei que não pode mais haver financiamento da Ideologia Radical", ele escreveu em um tuite no dia seguinte. "Líderes apontaram para o Qatar - vejam!"
Autoridades de inteligência dos EUA determinaram que a
reportagem falsa tinha sido orquestrada pelos Emirados, que vinham defendendo
um boicote do Qatar desde 2016, segundo um funcionário americano disse ao
"New York Times".
Citando briefings de autoridades de inteligência, ele disse
que as provas contundentes apontavam para Abu Dhabi, sede do príncipe herdeiro
Mohammed bin Zayed. "Não há ambiguidade." E, segundo o funcionário, o
príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, tivera conhecimento anterior da
manobra e assinalara sua aprovação.
Yousef al-Otaiba, embaixador dos Emirados em Washington,
disse que seu país "negava categoricamente" qualquer envolvimento na
manobra. O governo saudita não respondeu a um pedido de declarações sobre o
assunto.
BOICOTE
O boicote prejudicou o Qatar. Com sua única fronteira
terrestre fechada, seus navios impedidos de passar por portos dos Emirados e
seus aviões impedidos de sobrevoar o espaço aéreo vizinho, os custos dos
produtos importados subiram vertiginosamente.
A bolsa de valores perdeu um quinto de seu valor no ano
passado. Trabalhadores estrangeiros, sem poder fazer festa em Dubai nos fins de
semana, se queixam de sentir claustrofobia na comportada Doha. E as dificuldades
para viajar vêm separando famílias cujos membros há séculos habitam nos dois
lados da fronteira.
Mas o cotidiano em Doha não mudou muito. Vinhos caros
continuam a ser servidos nos hotéis cinco estrelas, as obras do novo metrô
continuam, e o belo Museu Nacional, na forma de uma série de discos gigantes
que se interseccionam, se prepara para tornar-se a mais recente maravilha
arquitetônica da cidade.
Nos fins de semana os rapazes qatarianos se divertem
praticando o chamado "dune bashing" –pilotando veículos de tração nas
quatro rodas "envenenados" em corridas em alta velocidade no topo de
dunas montanhosas, com capotamentos ocasionais. O banco central qatariano diz
que tem reservas de US$ 340 bilhões para ajudar o país a suportar a crise.
E o boicote vem tendo alguns resultados contrários aos
pretendidos. As restrições comerciais obrigaram o Qatar a aprofundar seus laços
econômicos com o Irã, e Tamim virou objeto de admiração intensa. Sua imagem
enfeita outdoors pendurados de arranha-céus e ele é louvado em canções que
saúdam sua liderança firme. "Ele é a encarnação do rei filósofo",
disse Dana al-Fardan, autor de uma dessas baladas.
Convertendo uma necessidade em vantagem, seus ministros
estão desenvolvendo novos laços comerciais e de transportes. Para compensar
pelo leite saudita perdido, criaram uma nova indústria leiteira no deserto a
partir do zero. Numa cena surreal vista um dia em julho, vacas alemãs desceram
a rampa de um Airbus da Qatar Airways no aeroporto de Doha, os primeiros
animais de cerca de 4.000 cabeças de gado trazidas ao país da Europa, Austrália
e Califórnia.
Um nacionalismo acirrado tomou o lugar do discurso antigo
sobre laços "fraternos" entre os países. Peregrinos qatarianos
disseram que foram impedidos de fazer a viagem a Meca, na Arábia Saudita.
Demonstrar simpatia pelo Qatar virou um delito criminal no Bahrein, Arábia
Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Qualquer esperança de que a administração Trump pudesse
encerrar a crise foram descartadas pela política externa caótica dos EUA. Os
esforços de mediação de Rex Tillerson, que teve décadas de experiência no Qatar
como executivo do setor energético, foram repetidamente boicotados por Trump,
que, em um evento de levantamento de fundos em Washington, chegou a zombar da
pronúncia da palavra "Qatar".
Embora Trump tenha parado de atacar o país desde então e
tenha se caracterizado como mediador, alguns de seus assessores seniores
continuam com a postura negativa. A Breitbart News Network, até recentemente
comandada pelo ex-assessor incendiário de Trump Stephen Bannon, publicou
dezenas de artigos atacando o Qatar como suposto aliado irresponsável.
GUERRA FRIA NO DESERTO
Para Tamim, o objetivo último de seus vizinhos é afastá-lo
do poder. Na entrevista ao "New York Times", ele citou como
precedente a tentativa de golpe de 1996 contra seu pai patrocinada pelos
sauditas. "Esse sempre foi o aviso que continuava na nossa cabeça",
ele disse.
É possível que seus temores sejam justificados. No início do
boicote, disseram dois funcionários dos EUA, os líderes sauditas e dos EAU
estudaram a possibilidade de ação militar contra o Qatar. Os detalhes precisos
não ficaram claros, mas a discussão foi séria o suficiente para levar Rex
Tillersona a intervir pessoalmente, aconselhando os líderes dos EAU e Arábia
Saudita a não adotarem ações precipitadas. Trump reiteraria o conselho em um
telefonema aos líderes sauditas.
Yousef al-Otaiba, o embaixador dos EAU em Washington, negou
em entrevista que tivesse existido qualquer plano militar. "Nunca
cogitamos disso", falou.
Mas a simples sugestão de ação militar mostrou até que ponto
as regras antigas foram jogadas por terra no Golfo. O Conselho de Cooperação do
Golfo, órgão regional formado por seis países e que deveria supostamente
resolver esse tipo de disputas, tem estado invisível durante a crise. Em lugar
disso, os sauditas vêm promovendo uma sucessão de empresários qatarianos exilados
como possíveis rivais políticos de Tamim.
Os qatarianos parecem ter lançado fogo contra fogo no front
do hacking. Órgãos de mídia dos EUA vêm há meses recebendo e-mails roubados que
visam causar constrangiment a Otaiba, o embaixador dos Emirados. Os e-mails
aparentam ter origem na Rússia, mas relatos na mídia saudita atribuem a
responsabilidade ao Qatar.
O Qatar nega qualquer envolvimento no roubo dos e-mails.
"Por política e por princío o Qatar não pratica crimes cibernéticos nem
promove o 'fake news'", disse o governo no domingo em comunicado ao
"New York Times".
Os dois lados estão fortalecendo sua capacidade militar.
Desde junho, Tamim encomendou 36 aviões de combate F-15 dos Estados Unidos, 24
jatos Typhoon do Reino Unido e 24 caças Rafale da França –multiplicando por
sete uma força aérea dotada de apenas 12 aeronaves.
Em dezembro seus adversários anunciaram uma nova aliança
militar e econômica entre Arábia Saudita e EAU. A iniciativa coloca ainda mais
de escanteio o Conselho de Cooperação do Golfo, que inclui o Qatar.
Dias mais tarde, Tamim promoveu um banquete para o
presidente francês, Emmanuel Macron, no Idam, restaurante francês no último
andar do Museu de Arte Islâmica, com vista deslumbrante do horizonte de Doha.
No banquete suntuoso preparado pelo chef celebridade Alain
Ducasse, os dois líderes brindaram os acordos que tinham firmado pela manhã. O
emir tinha encomendado mais 12 caças franceses.
Tradução de CLARA ALLAIN
Tradução de CLARA ALLAIN
Protestos na Suíça dão 'boas-vindas ao inferno' a Trump
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1952704-protestos-na-suica-dao-boas-vindas-ao-inferno-a-trump.shtml
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)
DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE (SUÍÇA)LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)
23/01/2018 16h58
A visita do presidente americano, Donald Trump, à Suíça foi
tomada por um grande número de manifestantes como um símbolo daquilo que lhes
desagrada no Fórum Econômico Mundial, realizado nesta semana no resort alpino
de Davos. Eles o receberam nesta terça-feira (23) com protestos em diversas
cidades do país bradando o mote de "você não é bem-vindo".
Trump representa para grupos anti-capitalismo a exclusão
social e a desigualdade econômica que não serão resolvidas em Davos, mas ele
não é o único alvo de protestos. Há também desgosto pela passagem da
primeira-ministra britânica, Theresa May, e do presidente francês, Emmanuel
Macron.
Segundo os organizadores, os protestos reuniram cerca de
4.000 pessoas apenas em Zurique. A polícia não divulgou uma estimativa oficial
dos presentes.
"O fórum serve só para que os mais ricos se reúnam e se
organizem entre si", diz à Folha Michael Zahn, do grupo Sozialismus, que
organizou um protesto no centro de Zurique.
"Os líderes mundiais reunidos em Davos não vão
conseguir encontrar as melhores soluções para a crise financeira", diz.
Pelo contrário: "Trump representa a própria exploração econômica".
Por essa mesma razão Andreas Freimüller promoveu nos últimos
dias um abaixo-assinado contra o presidente americano, já com 70 mil inscritos.
"Somos muito críticos ao governo de Trump e nos
surpreende que, um ano depois da posse, as coisas ainda continuem a
piorar", ele afirma. "Quando soubemos que ele vinha à Suíça, pareceu
ser uma oportunidade para dizermos que os suíços não concordam com o que ele
está fazendo."
O americano-suíço Edward McCreight também aproveitou o ensejo
para demonstrar o que diz ser sua "vergonha" diante do presidente que
lhe representa no exterior. Dias antes, seus conterrâneos marcharam na Suíça
com placas de "desculpem-me". "O estado do meu país hoje me
deprime", afirma.
Os protestos desta terça-feira foram menores do que aqueles
registrados em Hamburgo em 2017, quando dezenas de milhares bloquearam ruas na
cúpula do G20. Outras edições do próprio fórum também atraíram mais
manifestantes.
"Temos testemunhado uma marginalização das forças de
esquerda, o que explica essa diminuição", diz Zahn.
Segundo a Oxfam, o 1% mais rico do mundo concentra desde
2015 mais riqueza do que o restante do planeta. O cálculo feito naquele ano era
de que 62 indivíduos tinham a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas.
Para os manifestantes, essa é a elite reunida em Davos, um
resort nos Alpes cuja população de 10 mil pessoas triplica durante o fórum. As
reservas nos hotéis são feitas com meses de antecedência, e comitivas
presidenciais são obrigadas a se hospedar em Zurique, como a de Michel Temer. A
viagem dessa cidade até Davos dura pouco mais de duas horas.
BOBO
Em Davos, o presidente americano era aguardado com um misto
de excitação e angústia. Seu discurso, marcado para a tarde de sexta-feira
(26), às 11h de Brasília, era aguardado por empresários, executivos e
governantes estrangeiros como uma sinalização de que o republicano sabe o que
está fazendo com a economia de seu país.
Também havia interesse para entender se, apesar dos atritos
em outras áreas, o crescimento registrado nos últimos meses e o corte de
impostos no curto prazo para estimular investimento e consumo serão
sustentáveis.
Na avaliação de economistas do Fundo Monetário
Internacional, o avanço da economia - e da demanda - americana são o principal
motor da recuperação econômica global, que ganha tração. Mas entre os
americanos a sensação era de uma gafe iminente.
"Acho que ele vai fazer papel de bobo", disse
Tracy, empresária do Vale do Silício, antes de completar: "Ainda bem que
na sexta-feira muita gente já vai ter ido embora".
O temor de Tracy, ecoado nos corredores, era respaldado
pelos recentes comentários pejorativos de Trump sobre países que enviam
imigrantes aos EUA e por sua insistência em vender a ideia de "EUA em
primeiro lugar" em um fórum no qual estão mais de 70 governantes –
incluindo o presidente Michel Temer – e mais de mil executivos e empresários.
Há sessões no fórum sobre como lidar com o novo imperativo americano.
Trump é o segundo presidente dos Estados Unidos no cargo e o
primeiro desde o democrata Bill Clinton, em 2000, a participar em pessoa do
evento - no passado, Ronald Reagan participou por meio de um telão.
Sua presença atraiu a atenção dos americanos para um evento
que sempre foi essencialmente europeu, e a delegação dos convidados americanos,
neste ano, alcançou a casa das centenas de integrantes.
Pence diz que paz no Oriente Médio só depende dos palestinos
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1952634-pence-diz-que-paz-no-oriente-medio-so-depende-dos-palestinos.shtml
23/01/2018 11h17
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
23/01/2018 11h17
O vice-presidente americano, Mike Pence, disse nesta
terça-feira (23) durante sua viagem para Israel que o início das negociações de
paz para o Oriente Médio depende apenas dos palestinos.
"A Casa Branca está trabalhando com nossos parceiros na
região para conseguirmos desenvolver um plano para a paz", disse ele em
Jerusalém. "Agora tudo depende de quando os palestinos vão voltar para a
mesa [de negociações]."
Depois de o presidente americano Donald Trump ter
reconhecido Jerusalém como capital de Israel em 6 de dezembro, os líderes
palestinos afirmaram que não aceitam mais a intermediação do país nas
negociações.
"Nós queremos que eles [palestinos] saibam que a porta
está aberta. Entendemos que não gostaram da decisão, mas o presidente quis que
eu transmitisse nossa vontade e desejo de ser parte do processo de paz",
afirmou Pence.
A decisão americana sobre Jerusalém irritou aliados dos
americanos no Oriente Médio e levou a uma série de manifestações dos palestinos
na região. Nesta terça, o Fatah, que comanda a Cisjordânia, ordenou uma greve
geral contra a presença de Pence e um protesto próximo a Ramallah contra os
Estados Unidos terminou em confronto com a polícia.
Em outra decisão que pode aumentar a tensão na região, Pence
disse que Trump deve anunciar nas próximas semanas seu plano para transferir a
embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém em 2019.
IRÃ
Em seu último dia de viagem pelo Oriente Médio —ele passou
também por Egito e Jordânia— Pence visitou nesta terça um memorial em homenagem
aos judeus mortos no Holocausto e o Muro das Lamentações.
Ele também se se encontrou com o presidente israelense, Reuven
Rivlin, com quem debateu o acordo nuclear com o Irã.
"Estamos mandando um sinal para nossos aliados europeus
que chegou a hora de mudar o acordo nuclear com o Irã", afirmou Pence.
Na sequência, o israelense disse que o americano era um
"mensch", expressão que siginifica pessoa honrada.
Nos anos 1960, um ex-presidente era investigado por causa de apartamento
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1952824-nos-anos-1960-um-ex-presidente-era-investigado-por-causa-de-apartamento.shtml
PAULO CÉSAR DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Naquela manhã de domingo, o ex-presidente tomou seu café saboreando também a primeira página do jornal com pesquisa do Ibope que o colocava na liderança à Presidência da República, com 43,7% das intenções de voto.
E tudo isto servia de combustível para quem desejava tirá-lo da disputa à presidência em 1965, e para a qual ele abraçara o discurso das reformas sociais. "Reformas com paz e desenvolvimento", seria o mote da campanha de JK.
Carlos Lacerda –que naquela pesquisa do Ibope figurava em segundo lugar–, elogiou a decisão contra JK. Disse que foi "um ato de coragem política, de visão, embora preferisse batê-lo nas urnas".
PAULO CÉSAR DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA A FOLHA
23/01/2018 20h09
Naquela manhã de domingo, o ex-presidente tomou seu café saboreando também a primeira página do jornal com pesquisa do Ibope que o colocava na liderança à Presidência da República, com 43,7% das intenções de voto.
Meses depois, a candidatura dele seria homologada, por
unanimidade, por seu partido, num evento com a presença de vários artistas.
Parecia mesmo apenas uma questão de tempo para Juscelino
Kubitschek voltar a governar o Brasil.
"JK venceria se eleição fosse hoje", dizia o
"Correio da Manhã" com os números da pesquisa, em setembro de 1963.
Mas aí veio o golpe civil-militar, em março do ano seguinte,
e a candidatura dele ficou seriamente ameaçada. Iria se iniciar a caçada ao
ex-presidente, que na época, aos 62 anos, era senador da República.
O golpe foi realizado sob o pretexto de combater a corrupção
e livrar o país dos comunistas. Num primeiro momento, os militares procuravam
guardar algum sinal de legitimidade, prevalecendo aquilo que Elio Gaspari
chamou de "ditadura envergonhada".
Eleito pelo Congresso Nacional –inclusive com o voto de JK–,
o primeiro general-presidente, Castelo Branco, disse que manteria as eleições
presidenciais de outubro de 1965 e daria posse ao eleito. O seu governo seria
de transição, prometendo fazer uma espécie de limpeza geral no país,
especialmente da corrupção.
PRESIDENTE E JUIZ
"Até o problema do comunismo perde expressão diante da
corrupção administrativa nos últimos anos", afirmava o marechal Taurino de
Resende, presidente da Comissão Geral de Investigação (CGI).
A este órgão cabia investigar, reunir documentos e indicar
quem deveria ser cassado por corrupção ou subversão. A lista era levada ao
Conselho de Segurança Nacional que podia acatar ou não a denúncia, mas o
julgamento final era do presidente (e neste caso, juiz), Castelo Branco - que
defendia, em discurso, não apenas punição aos malfeitores, mas também
"reformas de profundidade na estrutura orgânica da administração
pública" para curar "a enfermidade da corrupção no país".
Como Getúlio Vargas já havia morrido e lideranças como João
Goulart e Leonel Brizola estavam no exilio, os golpistas se voltaram contra
Juscelino Kubistchek, o erigindo a símbolo do que não podia mais prosperar na
política nacional.
Diziam que sempre se roubou no Brasil, porém, num nível
imensamente maior a partir do governo JK –que seria culpado também pela
inflação e a recessão econômica.
Com sua fúria punitiva o governo militar iniciou então uma
devassa na vida do ex-presidente. Foram vasculhadas empresas e bancos
nacionais, americanos e suíços na tentativa de localizar investimentos em nome
dele ou de familiares.
"Não tenho um centavo em banco estrangeiro. Deveria ter
para qualquer eventualidade. Mas não tenho nada, rigorosamente nada", se
defendia.
Foi também investigado quanto o ex-presidente havia recebido
por viagens de conferências no exterior, na suposição de que ele não teria pago
o imposto de renda.
Documentos sobre supostos atos de corrupção em seu governo
eram liberados para a imprensa pela Secretaria do Conselho de Segurança
Nacional. "Não havia dia em que não se verificasse algum tipo de imputação
contra sua honra para justificar a punição iminente", afirma seu biógrafo
Claudio Bojunga.
TRÍPLEX EM IPANEMA
A denúncia que se tonaria mais rumorosa envolveu um
novíssimo prédio de cinco andares, na avenida Vieira Souto, em Ipanema, onde JK
foi morar, pouco depois de deixar a Presidência. Ele residia no segundo andar
e, oficialmente, pagava aluguel ao seu amigo (e ex-ministro da Fazenda)
Sebastião Paes de Almeida.
Mas, segundo a denúncia, o amigo, embora milionário, era um
"laranja" do ex-presidente, usado para encobrir o real proprietário
do edifício construído com dinheiro doado por empreiteiros de grandes obras no
governo JK.
No processo afirmava-se que a localização, o projeto
arquitetônico, a decoração do prédio, tudo teria sido feito ao gosto de
Juscelino Kubistchek e de sua esposa Sarah.
Testemunhas teriam visto o ex-presidente visitando as obras;
outros afirmavam que dona Sarah era quem determinava alterações nos pavimentos.
Dizia-se ainda que inicialmente eles iriam morar num tríplex nos andares
superior mas "quando começaram rumores sobre a propriedade do edifício, o
ex-presidente abandonou a ideia do tríplex e resolveu habitar apenas no 2º
pavimento".
Outro indício estaria no nome do edifício -
"Ciamar" -, interpretado como anagrama de Márcia, filha de Juscelino
Kubitschek.
Esta denúncia não prosperaria na Justiça comum, sendo
arquivada por falta de provas, em maio de 1968. Mas até lá, muita tinta foi
gasta em reportagens sobre "o edifício de Kubitschek" –chancelando
nas manchetes o que o ex-presidente negava.
E tudo isto servia de combustível para quem desejava tirá-lo da disputa à presidência em 1965, e para a qual ele abraçara o discurso das reformas sociais. "Reformas com paz e desenvolvimento", seria o mote da campanha de JK.
NA IMPRENSA
"A Revolução estará sendo traída enquanto o rei da
corrupção permanecer impune", cobrava o deputado e repórter Amaral Neto,
enfatizando "que há muito tempo esse moço já deveria estar na
cadeia".
Por sua vez, "O Estado de S. Paulo" dizia que
"pelos crimes cometidos contra o erário público" durante o governo de
JK com a "deslavada conivência dele" era "perfeitamente justa e
merecida" a sua cassação. E o "Jornal do Commercio" sentenciava
que "o sr. Kubitschek é incompatível com a nova era que se iniciou".
Após investigações da CGI, em maio de 1964 o Conselho de
Segurança Nacional opinou pela cassação de JK por corrupção e alianças com
comunistas. Caberia agora, portanto, ao presidente (e juiz) Castelo Branco
condená-lo ou absolvê-lo.
A partir daí o drama de Juscelino Kubitschek empolgou o
país, gerando suspense no mercado e em todos os círculos políticos.
O seu partido, o PSD, sofria junto porque não tinha um plano
B sem JK –que fez no Senado um discurso de repercussão, afirmando que estava
sendo perseguido, não pelos seus defeitos, mas por jamais "compactuar com
qualquer atentado à liberdade e agir sempre com dignidade administrativa".
Em meio à expectativa da condenação surgiram boatos de que o
ex-presidente poderia ter também sua prisão preventiva decretada –algo que o
próprio Palácio do Planalto tratou de desmentir.
Porém, o suspense continuava; afinal, tratava-se do destino
da maior liderança política do país após Getúlio Vargas e o líder das pesquisas
eleitorais. Àquela altura, o telefone do ex-presidente já estava grampeado pelo
recém-criado SNI e Castelo Branco ouviu uma das conversas em que JK se referia
a ele como "filho da puta".
DEFENSORES
Apesar do clima policialesco e repressivo, vozes saiam em
defesa do ex-presidente.
"Por que, sr. general, cassar o mandato de Juscelino
Kubistchek?", indagava o jurista Sobral Pinto, e ele próprio respondia que
"na impossibilidade de vencer o ex-presidente nas urnas, seus adversários
querem arrancar-lhe o direito da cidadania, único expediente capaz de afastá-lo
da luta eleitoral".
Dias antes, Danton Jobim também escreveu artigo direcionado
ao presidente Castelo Branco, convidando o "supremo juiz" à reflexão.
"O país não vai lembrar-se amanhã dos coronéis que
instruíram o inquérito ou dos políticos odientos que instigam essa caçada
humana, no qual um dos maiores brasileiros do nosso tempo é perseguido como
criminoso vulgar. Mas o nome de Vossa Excelência ficará indissoluvelmente
ligado à cassação do mandato de Juscelino Kubitschek".
No último dia de maio, lia-se na coluna de Carlos Castelo
Branco que a candidatura de JK se sustentava "apegada apenas a um fio de
esperança".
Uma semana depois não restaria mais nada.
A DECISÃO
Às 19h27, de segunda-feira, dia 8 de junho, o programa A voz
do Brasil irradiou o decreto do marechal Castelo Branco, que cassava o mandato
de JK e suspendia seus direitos políticos por dez anos.
Para alegria dos adversários, o grande favorito às eleições
presidenciais de 1965 estava banido da disputa.
Carlos Lacerda –que naquela pesquisa do Ibope figurava em segundo lugar–, elogiou a decisão contra JK. Disse que foi "um ato de coragem política, de visão, embora preferisse batê-lo nas urnas".
Seu colega udenista Edson Guimarães também afirmou que a
decisão de Castelo Branco "veio na hora exata" para mostrar "que
a Revolução não foi feita para manter privilégios, mas realmente para mudar o
cenário da política nacional".
A ditadura era envergonhada mas não se avexou de banir o
ex-presidente com justificativas frágeis –fato destacado no editorial do
"Diário Carioca": "Sem provas de espécie alguma, absolutamente
sem provas, baseando-se apenas em indícios e suposições, cortou-se sumariamente
o curso de uma vida púbica dedicada desde os seus primórdios aos interesses da
nação, negando-se com isso ao povo o direito de votar num de seus líderes mais
representativos, dono de um passado de realizações tão importantes quando
internacionalmente consagradas".
Concluía o editorial dizendo que se JK "hoje não é mais
candidato à Presidência da República, é muito mais que isto: é o símbolo vivo e
fremente da vontade de um povo".
O "Correio da Manhã" também criticou a cassação
"sem provas convincentes". No mesmo jornal, Carlos Heitor Cony
desabafou: "Afinal, foi consumada a grande estupidez", prevendo que
com aquele ato o presidente Castelo Branco "selou seu destino perante a
nação e perante a história: é um homem mesquinho".
O "Correio da Manhã" e o "Diário
Carioca" foram exceções entre os principais jornais do país, porque a
grande imprensa, em sua quase totalidade, apoiou a cassação de Juscelino
Kubitschek.
A Folha de S.Paulo, "O Estado de S. Paulo",
"O Dia", a "Tribuna da Imprensa", o "Jornal do
Commercio", o "Jornal do Brasil" e, principalmente, "O
Globo", com um editorial intitulado "Uma lição para o futuro",
afirmando que "as medidas excepcionais e enérgicas que estão sento tomadas
pelo governo, visando à punição dos responsáveis pela corrupção" teria
"o mérito maior de mostrar a todo o mundo que desta vez se realizou algo
para valer".
A Folha de S.Paulo também justificou que ao ex-presidente
foi concedido "o direito de defender-se amplamente e com a máxima
ressonância".
CRÍTICAS
A condenação de JK foi destaque na mídia internacional –mas
lá numa visão favorável ao criador de Brasília.
O jornal "Le Monde", o "New York Post",
a "Time" e a "Newsweek", por exemplo, criticaram a decisão
do marechal Castelo Branco.
E o matutino El Espectador, de Bogotá, refletiu que
"antes que uma garantia de paz política e social no Brasil" aquele
ato seria "destinado a causar mais sérios e talvez irreparáveis
traumatismos no presente e no futuro do pais".
Juscelino Kubistchek recebeu a notícia da cassação cercado
de amigos e familiares em seu apartamento, na Vieira Souto.
Dona Sarah mostrava-se muito abatida e revelou ter tomado
tranquilizantes. "Isso tudo foi uma barbaridade", desabafou.
Lá fora, uma multidão se aglomerava nas imediações do
Edifício Ciamar (hoje, JK) e o tráfego ficou congestionado nas duas pistas da
avenida.
Algumas senhoras choravam pelo ex-presidente, enquanto um
grupo de golpistas e lacerdistas gritava "ladrão! ladrão!". Houve
então um início de briga, foram acionadas tropas da Policia Militar e algumas
pessoas ficaram levemente feridas.
O tumulto só terminou quando os manifestantes anti-JK
bateram em retirada pela praia de Ipanema. Por volta das 22 horas, Juscelino
Kubitschek apareceu à janela abraçado com sua esposa, ocasião em que os
populares deram vivas à democracia e cantaram o Hino Nacional e o Peixe vivo.
Pouco depois, com a voz embargada o ex-presidente ditou um
manifesto em que afirmava: "Sei que os meus inimigos me temem porque temem
a manifestação do povo, e assim, com esse ato brutal, me afastam do caminho das
urnas, única manifestação válida num regime verdadeiramente democrático".
Disse também que embora "silenciado pela tirania,
restarão documentos irrefragáveis, restará a reparação que a história oferece,
dignificando os que forem sacrificados pela má fé, pela incompreensão, pelo
ódio".
E ele então concluía com um vaticínio certeiro e profético.
"Este ato não marcará o fim do arbítrio. O vendaval de insânias arrastará
na sua violenta arrancada mesmo os meus mais rancorosos desafetos. Um por um,
eles sentirão os efeitos da tirania que ajudaram a instalar no poder."
PAULO CESAR DE ARAÚJO, historiador e jornalista, é professor
do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, e autor, entre outros, de
"O réu e o rei - minha história com Roberto Carlos em detalhes"
(Companhia das Letras)
Turquia intensifica ataques a curdos e agrava tensão na Síria
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1952560-turquia-intensifica-ataques-a-curdos-e-agravam-tensao-na-siria.shtml
23.jan.2018 às 2h00
IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO
A Turquia intensificou nesta segunda (22) o ataque à província síria de Afrin, buscando estabelecer uma zona de segurança na região de maioria curda.
Com isso, Ancara amplia sua divergência com os Estados Unidos e pode inaugurar uma nova fase da guerra que devasta o país árabe desde 2011 -matando mais de 350 mil pessoas, segundo as estimativas disponíveis.
Tropas turcas invadiram Afrin, buscando chegar à capital homônima. Relatos dizem que a YPG (Unidades de Proteção Popular), principal milícia curda, está recebendo reforço de rebeldes árabes contrários à ditadura de Bashar al-Assad, prometendo assim uma luta encarniçada.
A YPG era a principal força apoiada por Washington no combate ao EI (Estado Islâmico) na Síria. Durante anos, foi armada e financiada pelos Estados Unidos, que a reconhecem como principal força pró-Ocidental no combate ao EI no país.
Para a Turquia, os curdos são apenas aliados dos separatistas da mesma etnia que há décadas travam uma disputa com o governo em Ancara. O PKK, o principal grupo curdo na Turquia, é historicamente acusado de terrorismo no país -e também por EUA e União Europeia.
Na esteira da derrota da versão "califado" do EI, no ano passado, a YPG se consolidou no norte sírio.
Na semana passada, os EUA sugeriram que a região poderia ser patrulhada por uma "força de fronteira" com 30 mil homens, basicamente o embrião de um Exército curdo. Foi o mais recente de uma longa série de erros dos americanos na Síria, que abriram espaço para o aumento da influência russa na região.
O presidente turco, Racip Tayyip Erdogan, considerou o movimento inaceitável e ordenou a operação militar, que busca criar um bolsão até 30 km dentro de território sírio.
Os EUA alegara um mal-entendido, mas a desculpa estava dada e no domingo (21) as tropas cruzaram a fronteira. Na segunda, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, tentou pôr panos quentes e disse compreender as preocupações tanto de curdos quanto de turcos.
Para armar sua ofensiva, a Turquia precisou de anuência da Rússia, que emergiu como a principal potência estrangeira na região ao intervir na guerra em 2015 e salvar o aliado Assad.
O espaço aéreo sobre Afrin, controlado por Moscou, foi liberado para aviões turcos, e 300 soldados russos foram retirados da região para evitar incidentes com os invasores.
A YPG estabeleceu uma reputação de eficácia em combates e possui cerca de 10 mil soldados na região de Afrin, segundo estimativas da própria Turquia -que não revelou o tamanho da força envolvida na invasão, chamada Operação Ramo de Oliveira.
O intrincado mapa de lealdades locais sugere que essa concessão de Moscou visa garantir passe livre para um ataque renovado a focos de resistência contra o regime de Assad em áreas da região de Iblid -cujos rebeldes são teoricamente apoiados pelo governo da Turquia.
Se quebrar o que resta de resistência rebelde árabe a Assad, a Rússia e seu aliado Irã garantem ainda mais sua posição na discussão sobre o futuro desenho do governo da Síria, em negociações de paz que já estão em curso.
O modelo de ação de Ancara não é inédito. Em 2016, os turcos já haviam criado um desses bolsões na Síria a oeste do rio Eufrates, visando evitar isolar seus curdos daqueles do outro lado da fronteira. Deu certo, mas agora a força estimada dos oponentes é bem mais significativa.
A luta contra o separatismo curdo representa uma agenda popular na Turquia, que abriga talvez metade dos estimados 30 milhões a 45 milhões de membros da etnia no mundo e está na linha de frente dos embates em busca de um Curdistão independente -a população está espalhada entre os vizinhos regionais.
A Turquia tem o segundo maior Exército da Otan, aliança liderada pelos EUA. Sedia a principal base aérea ocidental na região e, até por sua posição geográfica, é ponto focal da estratégia americana para o Oriente Médio.
Só que está cada vez mais isolada, em especial após uma tentativa de golpe em 2016 ter sido usada por Erdogan para ampliar seus poderes com mão de ferro.
Sua aliança de conveniência com Moscou e com Teerã é um efeito colateral desse afastamento do Ocidente nos anos recentes. Historicamente, contudo, tanto Rússia quanto Irã são rivais geopolíticos da Turquia.
Com agências de notícias
23.jan.2018 às 2h00
IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO
A Turquia intensificou nesta segunda (22) o ataque à província síria de Afrin, buscando estabelecer uma zona de segurança na região de maioria curda.
Com isso, Ancara amplia sua divergência com os Estados Unidos e pode inaugurar uma nova fase da guerra que devasta o país árabe desde 2011 -matando mais de 350 mil pessoas, segundo as estimativas disponíveis.
Tropas turcas invadiram Afrin, buscando chegar à capital homônima. Relatos dizem que a YPG (Unidades de Proteção Popular), principal milícia curda, está recebendo reforço de rebeldes árabes contrários à ditadura de Bashar al-Assad, prometendo assim uma luta encarniçada.
A YPG era a principal força apoiada por Washington no combate ao EI (Estado Islâmico) na Síria. Durante anos, foi armada e financiada pelos Estados Unidos, que a reconhecem como principal força pró-Ocidental no combate ao EI no país.
Para a Turquia, os curdos são apenas aliados dos separatistas da mesma etnia que há décadas travam uma disputa com o governo em Ancara. O PKK, o principal grupo curdo na Turquia, é historicamente acusado de terrorismo no país -e também por EUA e União Europeia.
Na esteira da derrota da versão "califado" do EI, no ano passado, a YPG se consolidou no norte sírio.
Na semana passada, os EUA sugeriram que a região poderia ser patrulhada por uma "força de fronteira" com 30 mil homens, basicamente o embrião de um Exército curdo. Foi o mais recente de uma longa série de erros dos americanos na Síria, que abriram espaço para o aumento da influência russa na região.
O presidente turco, Racip Tayyip Erdogan, considerou o movimento inaceitável e ordenou a operação militar, que busca criar um bolsão até 30 km dentro de território sírio.
Os EUA alegara um mal-entendido, mas a desculpa estava dada e no domingo (21) as tropas cruzaram a fronteira. Na segunda, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, tentou pôr panos quentes e disse compreender as preocupações tanto de curdos quanto de turcos.
Para armar sua ofensiva, a Turquia precisou de anuência da Rússia, que emergiu como a principal potência estrangeira na região ao intervir na guerra em 2015 e salvar o aliado Assad.
O espaço aéreo sobre Afrin, controlado por Moscou, foi liberado para aviões turcos, e 300 soldados russos foram retirados da região para evitar incidentes com os invasores.
A YPG estabeleceu uma reputação de eficácia em combates e possui cerca de 10 mil soldados na região de Afrin, segundo estimativas da própria Turquia -que não revelou o tamanho da força envolvida na invasão, chamada Operação Ramo de Oliveira.
O intrincado mapa de lealdades locais sugere que essa concessão de Moscou visa garantir passe livre para um ataque renovado a focos de resistência contra o regime de Assad em áreas da região de Iblid -cujos rebeldes são teoricamente apoiados pelo governo da Turquia.
Se quebrar o que resta de resistência rebelde árabe a Assad, a Rússia e seu aliado Irã garantem ainda mais sua posição na discussão sobre o futuro desenho do governo da Síria, em negociações de paz que já estão em curso.
O modelo de ação de Ancara não é inédito. Em 2016, os turcos já haviam criado um desses bolsões na Síria a oeste do rio Eufrates, visando evitar isolar seus curdos daqueles do outro lado da fronteira. Deu certo, mas agora a força estimada dos oponentes é bem mais significativa.
A luta contra o separatismo curdo representa uma agenda popular na Turquia, que abriga talvez metade dos estimados 30 milhões a 45 milhões de membros da etnia no mundo e está na linha de frente dos embates em busca de um Curdistão independente -a população está espalhada entre os vizinhos regionais.
A Turquia tem o segundo maior Exército da Otan, aliança liderada pelos EUA. Sedia a principal base aérea ocidental na região e, até por sua posição geográfica, é ponto focal da estratégia americana para o Oriente Médio.
Só que está cada vez mais isolada, em especial após uma tentativa de golpe em 2016 ter sido usada por Erdogan para ampliar seus poderes com mão de ferro.
Sua aliança de conveniência com Moscou e com Teerã é um efeito colateral desse afastamento do Ocidente nos anos recentes. Historicamente, contudo, tanto Rússia quanto Irã são rivais geopolíticos da Turquia.
Com agências de notícias
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