Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1950805-mianmar-faz-acordo-com-bangladesh-para-repatriar-rohingyas-em-dois-anos.shtml
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
16/01/2018 09h59
O governo de Bangladesh anunciou nesta terça-feira (16) ter
entrado em acordo com Mianmar para iniciar o processo de repatriação dos
refugiados rohingya.
De acordo com o comunicado feito pelas autoridades
bengalesas, o retorno da minoria muçulmana para Mianmar deve começar na próxima
semana, em um processo que vai durar dois anos.
A ONU e ONGs de direitos humanos, porém, criticaram o acordo
e querem garantias de que os rohingyas não voltarão a serem atacados quando retornarem.
Mais de 650 mil rohingyas fugiram de Mianmar com destino ao
vizinho Bangladesh desde agosto, quando o Exército birmanês começou uma
operação em resposta a uma série de ataques contra postos policiais e militares
feito por um grupo rohingya.
Mianmar, que tem maioria budista, não reconhece a minoria
muçulmana. Estima-se que ao todo existam 1 milhão de refugiados rohingya
vivendo em Bangladesh, incluindo também aqueles que fugiram nos anos 1990, em
ondas anteriores de violência.
Por isso, os dois países anunciaram em novembro um memorando
que previa a repatriação dos rohingyas, estabelecendo uma comissão para debater
o processo. Nesta terça, foram anunciados os primeiros passos desta negociação.
Segundo o acordo, Bangladesh deverá montar cinco campos de
transição do seu lado da fronteira. De lá, os refugiados passarão para dois
centros de recepção, já do lado birmanês.
A repatriação deverá incluir todos os membros de uma mesa
família e será válida também para órfãos e "crianças nascidas de incidentes
não-intencionais" —uma referência às denúncias de estupros cometidos pelos
militares contra as mulheres rohingyas.
O governo de Mianmar não comentou o assunto, mas confirmou a
assinatura do acordo e o início do processo para a próxima terça (23).
Na semana passada, autoridades do país disseram que os
repatriados poderão pedir a cidadania após passarem por um processo de
verificação, mas não esclareceram que será o critério para isso.
A questão é importante porque atualmente os rohingyas não
são considerados cidadãos em Mianmar. Durante sua visita ao país, o papa
Francisco evitou usar o nome da minoria, já que o governo local não reconhece o
grupo.
'MASSA DE PESSOAS'
O acordo entre os dois países foi criticado por entidades de
direitos humanos. Para Phil Robertson, diretor para a Ásia da Humans Rights
Watch, o acordo trata os rohingyas "como uma massa inerte de pessoas que é
transportada para onde e quando é ordenada".
Segundo ele, o acordo não garante que os refugiados terão
liberdade quando retornarem a Mianmar e nem dá proteção para a minoria contra
os militares.
Já a ONU defendeu que os rohingyas devem ser consultados
antes de voltarem, recebendo todas as informações sobre como está o Estado de
Rakhine, que fica no norte de Mianmar e onde vive a minoria.
"Muitos desafios precisam ser vencidos", disse
Andrej Mahecic, porta-voz da Alto Comissário da ONU para os refugiados. Ele
afirmou ainda que é preciso garantir que o retorno dos rohigyas seja
voluntário.
As Nações Unidas já afirmaram que a ação militar contra os
rohingyas é uma "limpeza étnica", o que Mianmar nega.
Diversos rohingyas que vivem nos campos de refugiados em
Bangladesh disseram à agência de notícias Reuters que não pretendem voltar.
"Até eles [o governo de Mianmar] nos consideraram
cidadãos, não vamos voltar", disse Noor Alam, 37, que vive no campo de
Kutupalong, na fronteira com Mianmar.
Muitos homens temem ainda serem acusados de terrorismo pelo
governo birmanês caso retornem.
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