DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE (SUÍÇA)LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)
23/01/2018 16h58
A visita do presidente americano, Donald Trump, à Suíça foi
tomada por um grande número de manifestantes como um símbolo daquilo que lhes
desagrada no Fórum Econômico Mundial, realizado nesta semana no resort alpino
de Davos. Eles o receberam nesta terça-feira (23) com protestos em diversas
cidades do país bradando o mote de "você não é bem-vindo".
Trump representa para grupos anti-capitalismo a exclusão
social e a desigualdade econômica que não serão resolvidas em Davos, mas ele
não é o único alvo de protestos. Há também desgosto pela passagem da
primeira-ministra britânica, Theresa May, e do presidente francês, Emmanuel
Macron.
Segundo os organizadores, os protestos reuniram cerca de
4.000 pessoas apenas em Zurique. A polícia não divulgou uma estimativa oficial
dos presentes.
"O fórum serve só para que os mais ricos se reúnam e se
organizem entre si", diz à Folha Michael Zahn, do grupo Sozialismus, que
organizou um protesto no centro de Zurique.
"Os líderes mundiais reunidos em Davos não vão
conseguir encontrar as melhores soluções para a crise financeira", diz.
Pelo contrário: "Trump representa a própria exploração econômica".
Por essa mesma razão Andreas Freimüller promoveu nos últimos
dias um abaixo-assinado contra o presidente americano, já com 70 mil inscritos.
"Somos muito críticos ao governo de Trump e nos
surpreende que, um ano depois da posse, as coisas ainda continuem a
piorar", ele afirma. "Quando soubemos que ele vinha à Suíça, pareceu
ser uma oportunidade para dizermos que os suíços não concordam com o que ele
está fazendo."
O americano-suíço Edward McCreight também aproveitou o ensejo
para demonstrar o que diz ser sua "vergonha" diante do presidente que
lhe representa no exterior. Dias antes, seus conterrâneos marcharam na Suíça
com placas de "desculpem-me". "O estado do meu país hoje me
deprime", afirma.
Os protestos desta terça-feira foram menores do que aqueles
registrados em Hamburgo em 2017, quando dezenas de milhares bloquearam ruas na
cúpula do G20. Outras edições do próprio fórum também atraíram mais
manifestantes.
"Temos testemunhado uma marginalização das forças de
esquerda, o que explica essa diminuição", diz Zahn.
Segundo a Oxfam, o 1% mais rico do mundo concentra desde
2015 mais riqueza do que o restante do planeta. O cálculo feito naquele ano era
de que 62 indivíduos tinham a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas.
Para os manifestantes, essa é a elite reunida em Davos, um
resort nos Alpes cuja população de 10 mil pessoas triplica durante o fórum. As
reservas nos hotéis são feitas com meses de antecedência, e comitivas
presidenciais são obrigadas a se hospedar em Zurique, como a de Michel Temer. A
viagem dessa cidade até Davos dura pouco mais de duas horas.
BOBO
Em Davos, o presidente americano era aguardado com um misto
de excitação e angústia. Seu discurso, marcado para a tarde de sexta-feira
(26), às 11h de Brasília, era aguardado por empresários, executivos e
governantes estrangeiros como uma sinalização de que o republicano sabe o que
está fazendo com a economia de seu país.
Também havia interesse para entender se, apesar dos atritos
em outras áreas, o crescimento registrado nos últimos meses e o corte de
impostos no curto prazo para estimular investimento e consumo serão
sustentáveis.
Na avaliação de economistas do Fundo Monetário
Internacional, o avanço da economia - e da demanda - americana são o principal
motor da recuperação econômica global, que ganha tração. Mas entre os
americanos a sensação era de uma gafe iminente.
"Acho que ele vai fazer papel de bobo", disse
Tracy, empresária do Vale do Silício, antes de completar: "Ainda bem que
na sexta-feira muita gente já vai ter ido embora".
O temor de Tracy, ecoado nos corredores, era respaldado
pelos recentes comentários pejorativos de Trump sobre países que enviam
imigrantes aos EUA e por sua insistência em vender a ideia de "EUA em
primeiro lugar" em um fórum no qual estão mais de 70 governantes –
incluindo o presidente Michel Temer – e mais de mil executivos e empresários.
Há sessões no fórum sobre como lidar com o novo imperativo americano.
Trump é o segundo presidente dos Estados Unidos no cargo e o
primeiro desde o democrata Bill Clinton, em 2000, a participar em pessoa do
evento - no passado, Ronald Reagan participou por meio de um telão.
Sua presença atraiu a atenção dos americanos para um evento
que sempre foi essencialmente europeu, e a delegação dos convidados americanos,
neste ano, alcançou a casa das centenas de integrantes.
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