LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)
23/01/2018 09h24
Com um discurso todo em hindi que ecoou o tom
neonacionalista de seu governo e uma ode a um mundo multipolar, o
primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, abriu a plenária do Fórum Econômico
Mundial de Davos na manhã desta terça (23) para uma plateia lotada de
empresários, executivos e nomes proeminentes da sociedade civil abordando
dilemas da desigualdade.
O pronunciamento, porém, guardou alfinetadas aparentes ao
presidente dos EUA, Donald Trump, que falará ao público no último dos quatro
dias de fórum: "Não é hora para muros", disse, em uma referência mal
velada à insistência do americano em construir um na fronteira com o México.
"Não é o momento para isolacionismo", afirmou
Modi. "Para mim, o tema deste fórum ['Construir um futuro compartilhado em
um mundo fraturado'] é ao mesmo tempo contemporâneo e atemporal. Estamos todos
ligados como uma família", acrescentou.
"É necessário que as maiores potências do mundo
cooperem entre si, e que a competição entre essas potências não se torne uma
guerra entre elas."
Em outro contraponto ao americano, que no ano passado
anunciou a retirada de seu país do Acordo de Paris sobre o clima e da Parceria
Transpacífico, Modi defendeu as negociações comerciais multilaterais e
ressaltou o risco ambiental como uma das preocupações que, a seu ver, deveriam
ser alvo de cooperação multinacional.
"O que podemos fazer juntos que vá melhorar essa
situação? Todos falam em reduzir as emissões de carbono, mas muito poucos
respaldam suas palavras em ações e se preocupam em ajudar os países em
desenvolvimento" a lidar com o problema, afirmou.
Com a assertiva, Modi alude a um pleito persistente dos
países em desenvolvimento, que defendem que a fatia maior da conta para
controlar o aquecimento global seja paga pelas nações desenvolvidas, que poluem
há mais tempo.
O premiê indiano também usou o discurso para enumerar feitos
de seu governo na área ambiental, aproveitando o vácuo de liderança emergente
na questão aberto pela perda de protagonismo do Brasil, e para reivindicar
reformas no sistema de governança global, desenhado no pós-Segunda Guerra, que
reflitam o avanço dos países em desenvolvimento.
No cargo desde 2014, Modi adota um discurso fortemente
nacionalista combinado a reformas liberalizantes no país, equação que tem
criado alguns atritos sociais em um país já fortemente estigmatizado por eles.
Na plenária, não fez diferente: pediu investimentos, falou
de mudanças "sem precedentes" em curso, ressaltou o "soft
power" de seu país, mencionando o mahatma Gandhi (1869-1948), a difusão da
yoga e da medicina ayuvérdica e a diversidade da sociedade indiana.
A Índia deve apresentar o maior crescimento entre as grandes
economias neste ano e no próximo, com um avanço projetado pelo Fundo Monetário
Internacional de 7,4% e 7,8%, respectivamente, 0,8 e 1,4 ponto acima da China,
e, ao lado do americano Donald Trump, ocupa o centro das atenções nesta 48ª
edição do encontro anual do Fórum Econômico Mundial.
O governo Modi e as empresas indianas investiram no evento,
com uma delegação de mais de cem convidados e uma série de eventos especiais e
recepções. Em 2017, o lugar coube à China, com Xi Jinping se tornando o
primeiro chefe de Estado chinês a participar do evento.
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