Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/01/1951342-reverter-onda-populista-mundial-e-meta-do-ano-diz-human-rights-watch.shtml
CAROLINA VILA-NOVA
DE SÃO PAULO
18/01/2018 06h30
O vento começa a soprar contra o populismo no mundo.
Enquanto há um ano a onda de líderes populistas autoritários parecia incontrolável
e poucos se atreviam a contestá-los, a reação popular tomou forma e fez com que
o futuro desse movimento se tornasse incerto em vários países.
A avaliação consta do relatório anual da organização Human
Rights Watch (HRW), que coloca o "desafio populista" como a grande
luta dos direitos humanos em 2017. O texto será divulgado nesta quinta (18), em
São Paulo.
"O ano passado mostra que os direitos podem ser
protegidos dos ataques populistas. O desafio agora é fortalecer essa defesa e
reverter a onda populista", diz Kenneth Roth, diretor-executivo da HRW.
Para a ONG, não foi uma luta sem percalços. Potências
ocidentais com esse tipo de liderança se voltaram para dentro, e o resultado
foi um cenário internacional mais fragmentado. Foi o caso dos EUA, que
aumentaram seu isolacionismo, e do Reino Unido, preocupado com o
"brexit".
Alemanha e França, combatendo internamente forças racistas,
não compensaram esse vácuo, que acabou preenchido por Rússia e China.
"Focados em suprimir qualquer possibilidade de
protestos maciços contra a retração de suas economias e a corrupção
generalizada, os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin têm agressivamente
promovido uma agenda contra direitos nos fóruns multinacionais e forjado
alianças mais fortes com governos repressivos", diz o texto.
A Turquia é citada como exemplo de país onde
"populistas e outras forças contrárias a direitos prosperaram",
devido à repressão da oposição e à ausência de "preocupação
internacional".
"O presidente Recep Tayyip Erdogan dizimou o sistema
democrático da Turquia impunemente, já que a UE deslocou seu foco para garantir
sua ajuda na contenção do grande fluxo de refugiados à Europa", afirma
Roth.
"Na verdade, quando houve pouca resposta internacional
ao seu comportamento na esfera doméstica, governos repressivos se sentiram
incentivados a manipular e a obstruir as instituições internacionais que podem
defender os direitos", afirma.
O relatório também critica a "deferência indevida"
a Aung San Suu Kyi, líder de facto de Mianmar, que não tem "controle real
sobre os militares" e não demonstrou "interesse em pagar o preço
político pela defesa de uma minoria impopular".
Sob seu governo, militares expulsaram mais de 600 mil
rohingyas para Bangladesh, numa ação qualificada pela ONU como "limpeza
étnica".
SUCESSOS
O relatório aponta algumas respostas "incentivadoras
aos autocratas antidireitos". Uma delas é a reversão do êxodo em massa
articulado por países africanos do Tribunal Penal Internacional.
"Um grande apoio popular ao TPI por grupos cívicos em
toda a África ajudou a persuadir a maioria dos governos africanos a continuar
no tribunal", diz Roth.
As Filipinas aparecem como um exemplo "particularmente
cínico e letal de um desafio populista aos direitos humanos", pela
campanha de execuções sumárias, travestida de ação antidrogas, do governo
Rodrigo Duterte.
Mas a pressão externa fez com que Duterte transferisse o
comando das operações a uma agência antidrogas e, com isso, as mortes caíram.
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